Copo de 3: setembro 2008

30 setembro 2008

Tinto da Talha Grande Escolha 2004

Do conhecido produtor de vinhos ali bem perto da vila de Redondo, a Roquevale teve fundação no ano de 1989, lançando para o mercado vinhos bem conhecidos dos consumidores, destacando-se entre eles o Tinto da Talha, que nos primeiros anos tinha direito a passagem pelas antigas talhas de barro pertencentes à adega. Hoje em dia apenas se tem memória disso mesmo, os vinhos deixaram a veia antiga e passaram a página da história, ou direi antes, progresso. É sob a alçada de Joana Roque do Vale, que se assiste ao aparecimento de uma nova vaga de vinhos na Roquevale, entre os quais o Tinto da Talha Grande Escolha, cuja colheita 2004 colocamos agora em prova.

Tinto da Talha Grande Escolha 2004
Castas: Syrah e Touriga Nacional. - Estágio: 3 meses em barricas de carvalho novo, francês e americano - 14% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração média/alta.

Nariz reveladora de um vinho com aromas de boa intensidade, sente-se frescura sem esconder no entanto a alma Alentejana que nele fervilha, toque de fruta bem madura acompanhada por ligeiro bafo morno e compotado.
Conjunto harmonioso e algo compacto, amparado por leve balsâmico, com toque de chocolate, brisa floral e ervas de cheiro (rosmaninho, alecrim) com uma pitada especiada (cravinho, canela) em fundo.

Boca de bela estrutura, redondo e com uma bela espacialidade, tem frescura durante a passagem de boca, fruta com compota presente, balsâmico e torrado, final terroso de persistência média. Elegante e harmonioso, o tempo em garrafa não lhe fez mal, antes pelo contrário, tornando bastante ainda mais apetecível este vinho.

É um vinho muito bem feito, com os seus encantos e recantos, com uma evolução muito positiva, está num belo momento de forma. São 24.323 garrafas a cerca de 8€ cada, que revela uma bela relação preço/qualidade.
16

Crasto branco 2007

Já la vai o tempo em que tive a oportunidade de provar aquele que talvez tenha sido o primeiro Castro em versão branco, a ser colocado em prova num evento. Foi num Dão e Douro que em jeito de curiosidade apareceu uma colheita, ainda que em formato de ensaio, daquele que seria o primeiro branco a ser produzido pela Quinta do Crasto.
O tempo foi passando, e eis que da colheita de 2007 nos chega a versão final do dito branco.

Crasto branco 2007
Castas: Gouveio, Roupeiro, Cercial e Rabigato. - Estágio - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de ligeiro toque esverdeado.

Nariz de boa intensidade, a variar entre uma fruta bem madura (citrinos e melão branco) e um toque fresco e floral, com o tempo a dar lugar a um travo de espargo verde e relva fresca. Ligeira sensação de untuosidade em segundo plano, num vinho que se mostra jovem e aprumado com certa dose de delicadeza, em final mineral.

Boca de corpo médio, bem estruturado e com uma acidez a aportar uma frescura que percorre toda a passagem de boca. Fruta presente ao mesmo nível do nariz, segundo plano com toque vegetal (espargo), a sentir-se alguma untuosidade/acomodação ao palato, na espacialidade que ocupa de forma fresca e jovem, com mineralidade em fundo.

É uma bela estreia deste produtor, mostrando-se um vinho de perfil bastante fresco, com a fruta em destaque no plano citrino. A alma do Douro está presente num vinho com produção a rondar as 25.000 garrafas com um preço a rondar os 10€
16

Coop. Borba Reserva ''Rótulo de Cortiça'' 2005

Volto a provar mais um dos grandes clássicos do Alentejo, um vinho que sem sombra de dúvidas é o ex-líbris da cinquentenária Adega Coop. Borba, o Adega Coop. Borba Reserva ou bem mais conhecido como o Rótulo de Cortiça.
Nos seus primeiros anos chegou a conviver com uma versão em branco, chegando aos dias de hoje apenas na versão que fez dele um verdadeiro ícone.
Apenas sendo lançado para o mercado em anos cuja qualidade das uvas atinge os níveis de excelência na região, este é um vinho cuja evolução ao longo do tempo, leia-se anos, pode ser uma autêntica surpresa para o provador mais descuidado.
O estigma que tantos anos carregou o nome Cooperativa, fez com que estes mesmos vinhos ficassem preteridos e encostados em detrimento de outros supostamente mais cotados, sem obviamente desmerecerem o mérito e riqueza que encerram.
Poder provar um Rótulo de Cortiça dos anos 70 ou 80, é uma experiência que recomendo bastante, e dentro dos mais recentes, destaco sem dúvidas o 1996 e o 1999.

Coop. Borba Rótulo de Cortiça Reserva 2005
Castas: Aragonez, Trincadeira, Castelão e Alicante Bouschet - Estágio: 12 meses em barricas de 2º e 3º ano, de carvalho francês, e em tonéis de madeira exótica, com envelhecimento de 6 meses em garrafa. - 13,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz de boa intensidade, fruta (amora e ameixa) presente e madura, com algumas notas de compota e fruta passificada (ameixa). A passagem por madeira complementa muito bem o conjunto, dando mais complexidade a nivel de empireumáticos, aportando baunilhas, cacau, café torrado, caramelo e especiarias. Ramo de cheiros pendurado ao fundo acompanhado por um toque envernizado em fundo com ligeiro toque alicorado.

Boca de estrutura média, bem equilibrado em toda a passagem de boca, quase redondo, com algumas ligeiras arestas por limar, frescura bem presente durante toda a passagem de boca, fruta madura com compota, cacau, em final de ligeira secura vegetal com nuance especiada de persistência média.

São 150.000 garrafas que entram no mercado com preço a rondar os 8€, um vinho pronto a ser consumido desde já, mas que certamente irá melhorar com algum tempo em garrafa. Por momentos relembrei a colheita de 1996 deste mesmo vinho, a qualidade está presente e recomenda-se. Um Rótulo de Cortiça em grande forma.
16,5

29 setembro 2008

Reguengos Reserva 2005

Estou de volta a um clássico dos vinhos do Alentejo, o Reserva daquela que durante anos a fio foi chamada de Carm e depois passou a ser Carmim, leia-se Coop. Agrícola de Reguengos de Monsaraz. Certo é que este produtor, um dos maiores do Alentejo, tem entre os seus vinhos, alguns daqueles rótulos que sempre me acostumei a ver em cima das mesas lá em casa, o Garrafeira dos Sócios e este Reguengos Reserva, outrora com outra apresentação a nível de garrafa e mesmo do rótulo.
De um momento para o outro estes vinhos que eram referências do consumidor, cairam num ligeiro esquecimento, facto resultante do tal boom de novos produtores com novos produtos mais apelativos, que vieram a distrair o consumidor, resultante num normal afastamento.
Recentemente foi lançada para o mercado a nova colheita do Reguengos Reserva, destaque para a sua relação preço/qualidade, coisa que sempre tiveram e que parece ter ficado quase esquecida durante algumas colheitas. Mais cedo ou mais tarde a tal mudança acontece, e nos dias de hoje este Reserva pode-se dizer que mudou.

Reguengos Reserva 2005
Castas: Trincadeira, Aragonês, Tinta Caiada e Alicante Bouschet - Estágio: barricas de carvalho português e francês durante 12 meses - 14% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração média.

Nariz mediano de intensidade, compartem o copo a fruta vermelha (ameixa, framboesa) bem madura e em ligeira compota, com toque de vegetal seco bem condimentado por lote especiado. Surgem em suporte as notas de cacau morno e tabaco, que contrabalançam com alguma austeridade em fundo balsâmico e toque fumado, num todo bem equilibrado, fino e prazenteiro.

Boca de estrutura média, fruta madura presente com os seus toques compotados, deambulante entre o vegetal seco e as especiarias. Passagem de boca a mostrar um vinho polido e arredondado, em final de ligeira secura vegetal, de mediana persistência.

Um vinho que junta claramente o toque revivalista de um clássico, com algum rejuvenescimento em jeito de ajuste. O resultado é um vinho mais apelativo e mais actual, pronto a beber e a proporcionar uma prova bastante satisfatória. Uma coisa é certa, tem pouco que ver com os antigos Reserva, faltando saber se a sua evolução em cave, lhe vai permitir aguentar o mesmo que os seus antepassados. O preço, 3,99€ no Pingo Doce, faz dele uma opção mais que válida para um consumo diário com qualidade, permitindo ao mesmo tempo alguma margem de manobra no que toca à passagem de tempo.
15,5

Comenda Grande rosé 2007

O vinho rosé deixou de estar na moda, entenda-se com isto que o vinho rosé, já passou a andar entre nós consumidores. Os preconceitos que poderiam existir (se é que realmente existiam) foram colocados de lado, e a rendição aos encantos frescos, leves e ligeiramente adocicados, tornou o vinho rosé, mais amigo da mesa e do consumidor.
À vontade de se beber, juntou-se a vontade e necessidade de grande parte dos produtores, colocarem no seu portfólio um vinho rosé, o boom verificou-se numa escala nacional como nunca antes se tinha visto, desde o Algarve ao Minho foram sendo lançando novos vinhos rosé.
Nos seus mais variados estilos e preços, entre aqueles que jogam com mais doce na alma, aos mais secos e aprumados, desde os mais aos menos concentrados, a variedade é muita e pode a certa altura dificultar e baralhar a decisão de quem compra.
Em prova um exemplar que prima pela seriedade, e ao mesmo tempo pela frescura, juventude e elegância. Sem dúvida alguma, um dos rosés que mais prazer me deu durante a prova, no corrente ano de 2008.

Comenda Grande rosé 2007
Castas: Alfrocheiro e Aragonez - 13,5% Vol.

Tonalidade ruby muito intenso.

Nariz de boa intensidade, a chamar claramente a fruta vermelha (framboesa, morango, amora) bem madura e fresca com ligeira ponta de rebuçado, em bom entrosamento com notas de hortelã fresca e chá verde em fundo.

Boca de entrada bem frutada, estruturado o suficiente e de modo equilibrado, passagem de boca sem precalços pelo caminho, acaba integro com boa frescura que se mostra presente durante toda a prova. Final de boa persistência.

Custa cerca de 5€, este rosé que claramente nos indica um plano mais sério, diga-se que é mais indicado para acompanhar uma maior panóplia de propostas gastronómicas, do que um rosé simples e ligeiro que fica bem como acompanhante de entradas.
Pode parecer pesado mas não o é, a acidez está muito bem balanceada entre fruta e ligeiro adocicado ( longe de cair em tentações de enjoar), transformam este Rosé em algo mais.
16

Crasto 2007

Crasto 2007
Castas: Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Franca e Touriga Nacional - 13,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz a indicar um vinho jovem, fresco e bastante aprumado, que transpira fruta vermelha (cereja e bagas) bem madura e de grande qualidade. Alia ao seu conjunto um toque especiado e fumado que lhe confere um pouco mais de diálogo, sendo que a frescura a ele inerente é colmatada com fundo frio e xistoso.

Boca de entrada convidativa e prazenteira, redondo com taninos educado e ligeiros, bem frutado na sua passagem de boca, com boa espacialidade. Frescura associada com ligeiro travo a vegetal seco (esteva seca) com rasto especiado, em final de boca de persistência mediana.

Este Crasto dá novamente uma prova consistente, onde a harmonia entre nariz e boca são de salutar. Melhor que a anterior colheita (2006) mostra-se bastante pronto a ser consumido desde já. São 450.000 garrafas que entram no mercado nesta colheita de 2007, com um preço a rondar os 9€.
15,5

26 setembro 2008

Montes Claros Reserva 2006

Após toda a tinta que correu sobre o Montes Claros Reserva 2004, principalmente depois dos 18 valores atribuídos pela revista Blue Wine, a correria às prateleiras foi imediata, a procura aumentou e toda a gente queria ter e provar o Montes Claros que tinha tido 18 valores.
É certo que nessa mesma casa, a fasquia ficou muito alta, abriu-se talvez um precedente perigoso, pois se o Montes Claros 2004 teve 18 valores, então e se a nova versão do Montes Claros estiver melhor ou igual ? Neste caso será de esperar que no mesmo local apareçam de novo os 18 valores para a nova colheita.
A bem da verdade, é que depois de tanto falar, ficou tudo na expectavita de como seria a próxima colheita, seria melhor ou pior, será que iria manter o mesmo nível ? Será que o 2004 foi obra do acaso ?
Recentemente foi lançado no mercado a nova colheita, o Montes Claros Reserva tinto 2006, e pela prova que deu, posso dizer que fico à espera e em conformidade com a minha anterior avaliação do 2004, com os respectivos 18 valores da dita revista.

Montes Claros Reserva tinto 2006
Castas: Aragonez, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Tinta Caiada - 12 meses barrica de 2º e 3º ano, de carvalho francês e americano, mais 6 meses em garrafa. - 14% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz de boa intensidade, a revelar fruta bem madura com toque especiado, alguma austeridade no toque químico que surge inicialmente e que se dissipa com o tempo. Complementam o conjunto a baunilha fina com toque de geleia, canela, cacau morno, vegetal seco (ramo de cheiros) e alguma folha de tabaco. Em fundo uma certeza de que o balsâmico por lá andava, tudo isto com uma boa complexidade, sem ser exageradamente carregado nas quantidades, mostra e sabe mostrar, de maneira elegante, serena e concisa.

Boca a mostrar um vinho bem estruturado, médio de corpo, com a fruta bem presente na componente de frutos negros bem maduros, evoluindo para alguma compota, vegetal seco, cacau e baunilha. Especiarias e balsâmico completam um conjunto, que mostra uma passagem de boca com boa dose de frescura, sensato na espacialidade, afinado e redondo, pronto a dar prazer a quem dele se aproximar neste momento, com final de boca de persistência média/alta.

Um vinho que está pronto a consumir quando sai para o mercado, mas que não vira cara a uns anos de cave. Tem a sua dose de elegância muito convidativa, pleno de harmonia e encantos, com uma boa dose de complexidade.
São 100.000 garrafas com preço a rondar os 5,30€ na loja da Cooperativa de Borba, que novamente o colocam como uma belíssima relação preço qualidade. Comparativamente com a versão 2004, apresenta-se menos guloso e com um pouco mais de seriedade nos argumentos que disponibiliza.
16

Montes Claros Reserva branco 2007

Montes Claros Reserva branco 2007
Castas: Arinto, Antão Vaz e Roupeiro - Estágio: carvalho francês com batônnage e 3 meses em garrafa - 13% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de toque esverdeado.

Nariz a mostrar um vinho leve de aromas, fruta madura com sugestões de citrinos (limão, lima), tropical (ananás) e melão branco, com fundo de cariz vegetal e algum rebuçado. Sente-se um toque de ligeira geleia, com baunilha e um toque fumado.

Boca a mostrar-se fresco na entrada de boca, corpo mediano com acidez presente, fruto na vertente citrina e leve tropical presente, toque de vegetal presente. Equilibrado, redondo e afinado com final de boca de persistência média.

Este Montes Claros Reserva branco mostrou-se um pouco mais delgado tanto a nível de aromas como de corpo, do que a anterior colheita já aqui provada. São 20.000 garrafas com o preço a rondar os 3,80€, num vinho que alia uma boa prova tanto de boca como de nariz, mostrando nesta colheita uma relação preço/qualidade bastante aceitável.
15

25 setembro 2008

EA branco 2007

Há certos vinhos que por mais que se provem e tornem a provar, colheita após colheita, nunca nos conseguem convencer da mesma maneira que convencem tanta gente que os compra.
São certamente aqueles casos crónicos, que quando os encontramos já sabemos o que nos espera, por mais que tentemos pensar que algo mudou, eis que durante a prova tudo se repete.
Pessoalmente nunca fui de encantos com este branco da Fundação Eugénio de Almeida, que num tempo não muito distante mudou todos os seus rótulos, uma imagem mais arrojada, inovadora e jovem.
É um vinho com uma produção considerável, são aproximadamente cerca de 160.000 garrafas que entram para o mercado. O preço não é dos mais apetecíveis, e com uma rápida pesquisa na internet podemos ver preços desde os 3,90€ até aos 6,75€.
Quero pensar que o que leva as pessoas a comprar este vinho, não seja a sua qualidade (que a tem, mas pouca) mas sim o peso que transmite o nome da Fundação Eugénio de Almeida e o nome da Cartuxa. Não fossem estes nomes, e este vinho certamente seria visto com outros olhos pelo consumidor.

EA branco 2007
Castas: Roupeiro e Perrum - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de rebordo esverdeado

Nariz de aroma distante, é com esforço que se entende a fruta na vertente tropical com algum citrino pelo meio, dando toque limonado ao perfil que se mostra parco em complexidade e com alguma flor de limoeiro a diluir-se no fundo.

Boca tem uma entrada fresca, estrutura na mediania com fruta presente e sem grandes concentrações. Bem melhor que no nariz, não deixa de pecar pela escassez daquilo que tem para oferecer. Final de boca médio/curto e que não deixa saudade.

É nitidamente um vinho caro demais para aquilo que tem a oferecer a quem nele aposta. Comparando com a prova temática dos brancos a menos de 2,5€ podemos verificar que há no mercado vinhos bem mais apetecíveis e a preços mais convidativos.
Como nota, convém dizer que este vinho foi provado em conjunto com os outros 5 brancos, tendo sido posteriormente provada outra garrafa sendo a nota final coincidente.
13,5

Monte da Cal Reserva 2003

Monte da Cal Reserva 2003
Castas: Trincadeira, Syrah, Alicante Bouschet - Estágio: 8 meses em barricas de carvalho francês - 14,5% Vol.

Tonalidade ruby muito escuro e de boa concentração.

Nariz de perfil inicialmente fresco, com baunilha e especiarias a interligar com toda a fruta (frutos silvestres bem maduros) que tem para dar, com toque de compota bem patente, e um ligeiro travo químico que se mistura com balsâmico.
Na evolução que a sua mediana complexidade permite apreciar ainda o toque morno do cacau, especiaria suave e couro.

Boca com entrada estruturada, mediano no corpo, ligeira secura vegetal contrabalança com alguma doçura da fruta presente em boa dose. Apesar de um notável equilíbrio entre partes, é de salientar a notória falta de presença com que nos brinda durante quase toda a passagem de boca, sendo verdade que tem a sua dose de finesse aliada a um travo de vegetal seco em final mediano.

Com nova colheita já no mercado, este vinho acabou meio perdido na garrafeira. Pecando um pouco pela sua performance face a algumas expectativas, não muito altas, que se foram formando à sua volta. A prova no seu todo é bastante agradável, o vinho denota bastante equilíbrio e boa qualidade, apenas e só que a plaina do tempo passou com um pouco de força a mais.
15,5

19 setembro 2008

5 BRANCOS A MENOS DE 2,5€

Esta é a primeira das provas temáticas mensais que a partir de Setembro o Copo de 3 vai começar a apresentar.
A primeira prova que poderia muito bem ser com vinhos sonantes quer a nível de preço quer a nível de nome, seria bem vinda para encher a vista mas optou-se por algo mais dentro na normalidade, algo que muitos procuram e ficam a pensar será que vale a pena arriscar ?
Foram escolhidos 5 vinhos brancos da colheita de 2007, com um target muito bem definido, o consumo do dia a dia.

Foi naquela procura intensa e quase interminável de qual o vinho que consiga proporcionar a melhor companhia ao mais baixo preço, que foi colocada a questão em jeito de desafio.
A missão seria escolher 5 vinhos brancos sem passagem por madeira com um preço nunca superior a 2,5€, e disponíveis nas prateleiras das grandes superfícies.
Verdade seja dita, nos dias que correm a oferta no que toca a marcas de vinhos é cada vez maior, a constante entrada e saída de marcas e as constantes mudanças de visual por parte de alguns rótulos, torna cada vez mais confusa a cabeça de quem vive alheado de tudo isso e tem apenas e só como objectivo o comprar um vinho para acompanhar a refeição no dia a dia.

Os vinhos
Duas regras que foram impostas, teriam de ser da colheita 2007 e que não tivessem qualquer passagem por madeira. Os vinhos foram escolhidos (excepto novidades) pelas boas prestações que têm vindo a dar durante as colheitas anteriores, vinhos sobejamente conhecidos e cujo preço de prateleira está situado abaixo dos 2,5€ (comprovado em todos os casos no acto da compra).
Os cinco escolhidos foram:


A prova
Servidos em prova cega, os 5 vinhos foram servidos por ordem aleatória, a nível visual todos eles mostram em grande parte a tonalidade citrina de rebordo esverdeado, sendo o exemplar Duriense o que apresentou uma tonalidade com um ligeiro toque dourado.
A colheita de 2007 foi como que mágica para os vinhos brancos em Portugal, a qualidade é alta e até mesmo os vinhos de segmento mais barato saem beneficiados com isso mesmo, o mesmo digo em relação ao consumidor claro está. São na sua grande maioria vinhos onde a acidez presente confere uma bela dose de frescura ao vinho, com fruta de grande qualidade, dando um produto final de aromas vivos e harmoniosos numa prova de boca fresca, frutada e com bom equilíbrio.
De todos os vinhos presentes, apenas o exemplar do Douro se mostrou com 13,5% Vol. , com os restantes a apresentarem uns sempre louváveis 12,5% Vol.
Os mais expressivos em nariz, Gadiva e Serras de Azeitão, destacaram-se claramente dos restantes, o Gadiva com um nariz a denotar uma boa dose daquela tipicidade Duriense que encontramos noutros brancos da região, e um Serras de Azeitão a cair mais no exotismo dos trópicos, permitindo umas ligações ao nível da gastronomia bastante interessantes.
O Couteiro Mor branco é aquilo a que se pode chamar de um clássico quando toca a falar em relação preço/qualidade, mostrou-se no mesmo nível que vem mostrando desde sempre, sempre muito certinho, bem feito e um valor mais que seguro para o consumo diário.
Por outro lado e ficando bastante áquem do esperado, o Vila dos Gamas Antão Vaz, o único varietal em prova que se mostrou envergonhado e muito pouco conversador durante toda a prova, com aromas de parto difícil e quase tirados a ferros, sendo que na prova de boca volta a quebrar quase sem deixar rasto da sua presença.
O que menos agradou, foi uma novidade no mercado, o Figueirinha Reserva branco, onde pelos atributos apresentados pouco ou nada se nota, nem se entende a razão pela qual ostenta o nome Reserva. Correcto, jovem introvertido e com um ligeiro toque de fruta fresca que o torna simples e directo naquilo que tem a dizer, na boca é uma cesta vazia e alongar-me mais seria dizer aquilo que o vinho em causa não tem.

O destaque
O merecido destaque desta prova vai para a entrada no mercado com o pé direito do vinho GADIVA 2007, do produtor Lavradores de Feitoria num exclusivo para o grupo Jerónimo Martins.
Foi de todos os vinhos em prova aquele que conseguiu desmarcar-se um pouco mais, quer a nível da rede de aromas que colocou à disposição, como principalmente na prova de boca, onde se revelou com uma maior presença a nível da espacialidade e mesmo de persistência.
É um vinho que pelo que custa, é bastante interessante, dentro do perfil duriense sabe e consegue cativar a quem ele se aproxima, convém não entrar em entusiasmos pois estamos num patamar onde o que se procura é a melhor qualidade ao mais baixo preço, e nisso este Gadiva é uma aposta mais que segura.

As classificações:
Gadiva - Lavradores de Feitoria branco 2007 - 15,5
Serras de Azeitão branco 2007 - 15
Couteiro Mor branco 2007 - 15
Vila dos Gamas - Antão Vaz 2007 - 14,5
Figueirinha Reserva branco 2007 - 14

Gadiva - Lavradores de Feitoria - branco 2007

Gadiva - Lavradores de Feitoria - branco 2007
Castas: Malvasia Fina, Gouveio e Códega - 13,5% Vol.


Tonalidade amarelo citrino com leve dourado.

Nariz de boa intensidade com aroma de ligeira complexidade, saltitante entre aromas frutados e aromas vegetais. A fruta de boa qualidade e madura, predominantemente citrina, alguma meloa e toque tropical em calda pelo meio. Desperta florais e um toque mineral com fumado em fundo.

Boca com boa frescura logo de entrada, bem frutado com a acidez presente e muito bem colocada, harmonia de conjunto entenda-se. Jovem, fresco e muito convidativo à prova, é ligeiro e ao mesmo tempo com certa sensação de untuosidade a meio palato. A passagem de boca é bastante prazenteira com o final a ser mineral e ligeiramente limonado.

Ora aqui está uma grande novidade e estreia, um vinho feito em exclusivo para o grupo Jerónimo Martins, leia-se Feira Nova e Pingo Doce. O objectivo desta parceria seria dois vinhos típicos do Douro mas com identidade própria e uma relação preço/qualidade irrepreensível.
Diga-se de passagem que se o perfil duriense se faz sentir na prova, também é certo que a qualidade para o preço está num patamar muito alto, parece uma aposta ganha principalmente para o consumidor. É um branco que dentro da sua ''simplicidade'' se mostra com uns belos argumentos, quer a nível de estrutura quer a nível de complexidade aromática.
15,5

Serras de Azeitão branco 2007

Serras de Azeitão branco 2007
Castas: Fernão Pires, Chardonnay e Moscatel de Setúbal - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de laivo esverdeado.

Nariz de boa intensidade, remetendo de imediato para um perfil fresco, jovem e a despontar algum exotismo no seu conjunto. A fruta bem madura e fresca, por entre ananás, citrinos, maçã verde, aliada a um toque guloso e adocicado, por entre a calda das diversas frutas, rapidamente é socorrido por uma aragem bem fresca com forro vegetal/floral e que acaba num suave toque mineral de fundo.

Boca bem estruturada, ligeiro de corpo e frutado, na mesma onda da prova de nariz, complementando a mesma. Acidez presente confere uma acidez que contrabalança com alguma doçura mais atrevida que poderia surgir do Moscatel. Passagem correcta e sem grandes percalços ou esquecimentos, acabando com ligeiro toque mineral em fundo.

Sem grandes complexidades ou estruturas, honra o compromisso e consegue cativar pela prova de nariz, mostrando empenho e qualidade acima da média para um vinho deste preço. Bem melhor que a anterior versão aqui provada, se bem que mantém o mesmo perfil. Interessante que este vinho no Continente tem um preço a rondar os 2,40€ e no Pingo Doce compra-se por 1,99€. Não envergonha ninguém e permite ligações interessantes com um alargado número de pratos.
15

Couteiro Mor branco 2007

Couteiro Mor branco 2007
Castas: Antão Vaz, Chardonnay, Roupeiro, Arinto e Fernão Pires - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino com ligeiro toque esverdeado.

Nariz a mostrar uma boa intensidade inicial, jovem e com frescura presente, sente-se a boa harmonia do lote que o constitui. Por entre aromas de ananás, citrinos e algum melão maduro, deambula por entre vegetal ligeiro a lembrar folhas de laranjeira. Sintonia muito bem afinada, com recordação ligeiramente mineral em fundo.

Boca de entrada fresca e frutada, com ananás e citrinos, ligeiro e harmonioso, com a acidez a transmitir frescura bem colocada e suficiente para permitir uma prova equilibrada dentro das suas capacidades e ensinamentos transmitidos na adega. Final de boca de persistência média/baixa, num vinho bastante agradável durante toda a passagem de boca.

Este vinho sobejamente conhecido dos consumidores, ganhou merecidamente lugar nas escolhas do dia a dia, conseguindo aliar baixo preço a qualidade, tornando a sua relação preço/qualidade imbatível nos dias que correm.
É caso para dizer, que se procura um vinho branco e barato para consumo diário e sem muitas preocupações, este é um crónico no que toca à compra obrigatória. Se conhecer melhor e mais barato avise...
15

Vila dos Gamas - Antão Vaz 2007

Vila dos Gamas - Antão Vaz 2007
Castas: Antão Vaz - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino com ligeiro toque esverdeado.

Nariz pouco exuberante para a casta que o suporta, fechado em si e quase sem grandes manifestações de vida. Mostra com algum tempo o seu toque varietal mais tímido e algo disfarçado, se de início uma brisa nos remete para ananás e ligeira calda do mesmo com apontamento limonado, de imediato se refugia numa amalgama vegetal que parece querer perdurar até ao final da prova.

Boca de entrada delgada, ligeiro e com acidez a proporcionar uma boa dose de frescura, ainda que ligeira na sua passagem. Fruta pouca mas com qualidade suficiente para se saber que por ali passou ananás e limão. Falta-lhe um pouco mais de presença na boca, mais sabor e mais alma, o final é curto e esquecido.

É sabido que a casta Antão Vaz teve as suas origens na Vidigueira, foi daqui que esta casta que se vende em tempo de vindimas ao peso do ouro, se espalhou por todo o Alentejo. Assumidamente estava à espera de algo mais, de um varietal que nasceu em ano abençoado e na terra mãe da casta com que é feito. Obviamente que tendo em atenção o preço não se pode pedir o topo do mundo, mas se outros no mesmo patamar conseguem melhores prestações, porque não este ?
14,5

Figueirinha Reserva branco 2007

Figueirinha Reserva branco 2007
Castas: Roupeiro e Antão Vaz - 12,5% Vol.


Tonalidade amarelo citrino esbatido com rebordo esverdeado.

Nariz com aroma pouco esclarecedor e de fraca intensidade na maneira como se mostra inicialmente. Vislumbra-se ligeira fruta na vertente citrina e tropical com ananás presente, dando um soluço de cariz vegetal em fundo. Vago, distante e sem conseguir cativar minimamente a atenção, faltando-lhe presença e acima de tudo alma.

Boca a mostrar mais do mesmo em relação à prova de nariz, a fruta em jeito de limonada fresquinha mostra-se um pouco melhor é certo, com acidez suficiente para permitir uma frescura que quer aparecer. Tem pouca presença durante a sua passagem, curto na espacialidade e quase mudo naquilo que quer transmitir. Final curto e sem saudade.

Este vinho provado às cegas foi um desalento quando se mostrou a garrafa, primeiro porque estou acostumado a que os tintos que surgem desta casa sejam caracterizados por uma boa relação preço/qualidade mostrando todos eles boa forma. Penso que este branco não é feliz, provadas que foram 3 garrafas todas elas mostraram o mesmo nível, um vinho que apesar de certinho e pulido, até demais diga-se, mas murcho e quase sem alma, faltando alguma vivacidade e alegria na maneira como se manifesta perante quem prova. Chego a perguntar se o termo Reserva que ostenta no rótulo lhe fez melhor ou pior...
14

17 setembro 2008

PROVAS TEMÁTICAS - O INÍCIO

De volta ao activo, anuncio que a partir do mês de Setembro (incluído), o Copo de 3 irá apresentar uma prova temática mensal.
Prova essa que será sempre realizada às cegas, e com um número de vinhos que poderá variar num mínimo de 5 a um máximo de 10. A prova poderá ser feita a solo ou juntamente com um painel de provadores que se dará a conhecer a quando da afixação da mesma.

Que tipo de provas vão aparecer ?
É um novo desafio no Copo de 3, que irá tentar englobar desde as provas mais esperadas e tradicionais (Touriga Nacional, Alvarinho/Albariño, Vinhos Verdes... ), até mesmo aquelas provas que por uma razão ou por outra gostariamos de ver e nunca aparecem.

Como são realizadas as provas ?
Todas as provas são feitas às cegas, omitindo-se desta maneira toda a informação possível sobre a ordem dos vinhos em prova. Nos casos em que a prova em causa assim o exija, será formado um painel de provadores escolhidos pelo Copo de 3, que será dado a conhecer a quando da afixação da respectiva prova. Todos os copos e temperaturas de serviço estão afixados nas regras de prova do Copo de 3.

O que se pretende com esta iniciativa ?
Pretende-se com isto tentar facilitar um pouco mais a vida ao consumidor, que perante um mar de vinhos cada vez maior, torna a escolha num acto de pura aventura.

Obviamente que se espera a participação de quem lê, querendo saber a opinião sobre este ou aquele vinho e se concordou ou não com determinada classificação atribuida.

Com os melhores cumprimentos
João de Carvalho

16 setembro 2008

Olho de Mocho Rosé 2006

Olho de Mocho Rosé 2006
Castas: Touriga Nacional e Syrah - Estágio: 6 meses antes de comercialização - 13,5% Vol.

Tonalidade ruby de média intensidade com nuance salmonada.

Nariz frutado em onda vermelha com cereja, framboesa e amoras, tudo bem madura e de perfil jovem, com a frescura bem presente ao lado de toque vegetal que recorda a certa alguma alguma hortelã em fundo.

Boca de entrada bem composta, fino e elegante, ainda jovem com frescura a aparecer um pouco já caída, mas mesmo assim ainda capaz de contrabalançar com o restante conjunto. O vegetal surge novamente em segundo plano, dando um pouco mais de complexidade ao vinho.

Este vinho já se encontra na sua nova versão 2007 à venda no mercado, com um preço recomendado a rondar os 8,5€.
No caso do vinho em prova, a sua evolução não foi tão má como se poderia pensar quando toca a um vinho rosé, e o resultado foi bastante positivo, levando a pensar que estamos perante um rosé que pode aguentar algo mais que um ano em garrafa.
15,5

Vale do Rico Homem Rosé 2007

Vale do Rico Homem Rosé 2007
12,5% Vol.

Tonalidade ruby com toque salmonado de concentração média.

Nariz de boa intensidade, directo na fruta vermelha bem madura e com toques de ligeira compota presente. A mesma compota que lhe confere uma ligeira sensação de doçura, que por sua vez se interliga entre sugestões vegetais em fundo.

Boca de entrada elegante com bastante presença de fruta madura e a sua correspondente compota. Acidez presente suficiente para compensar o toque guloso que apresenta, dando frescura a toda a passagem de boca, em final com presença vegetal, de mediana persistência final.

Um vinho feito pela Granacer (Monte dos Perdigões), mesmo produtor do vinho Tapada do Barão, em exclusivo para o grupo Jerónimo Martins. Preço indicado de 3,5€
15

Tapada do Barão Rosé 2007

Tapada do Barão Rosé 2007
Castas: Merlot 17%, Aragonez 10% e Castelão 73% - 12,5% Vol.


Tonalidade ruby escuro com toque rosa salmão de média intensidade.

Nariz de boa intensidade, directo e muito franco, onde a fruta com destaque para morango, framboesa e alguma ameixa se alia a um conjunto com boa dose de frescura e um certo travo vegetal em segundo plano, com toque de fumo em fundo.

Boca com entrada prazenteira, a dominar com fruta bem madura e muito perceptível. Macio e sem complicar, directo na maneira de se mostrar, tem frescura muito ligeira a contrabalançar com o suave toque de açúcar no final. Remata com uma ligeira sensação vegetal, em final de boca de persistência ligeira.

É mais um bom rosé vindo do Alentejo, o preço indicado ronda os 5,5€ o que não o transforma na compra mais apetecível do mercado, procurando o consumidor nestes casos, sempre a melhor compra ao melhor preço.
De salientar os sempre bem vindos 12,5% Vol. com que se apresenta no copo, uma mais valia nos tempos que correm. Bem melhor que a colheita anteriormente provada.
15
 
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