Copo de 3: QUINTA DOS ROQUES RESERVA 2005

11 dezembro 2009

QUINTA DOS ROQUES RESERVA 2005

Cada vez mais me afasto de tudo o que é vinho pastoso e mandrião, vinhos que acabam por ficar na garrafa após um jantar de amigos, porque não se consegue beber mais do que um copo... fartam, enjoam, enchem, saturam. Do outro lado moram os vinhos elegantes, frescos, apelativos, vinhos com quem dá prazer estar e partilhar com os amigos, essencialmente são aqueles vinhos que nos tratam bem durante toda uma refeição, que ligam bem com comida, que em variados locais são apelidados de vinhos gastronómicos.
Os vinhos da Quinta dos Roques (Dão) são um claro exemplo do que falo e enquadram-se perfeitamente no conceito de vinho gastronómico, um conceito que define à partida a qualidade de um vinho, ou dá ou não dá, e os da Quinta dos Roques Dão todos. Conheci estes vinhos, graças a um grande amigo e companheiro de blogosfera (Pingas no Copo), nascido e criado na da dita região e que tanto defende os aromas e sabores da terra que o viu nascer, foi com ele que fui conhecendo um pouco melhor os primeiros vinhos dos novos produtores que dali iam surgindo. Passados todos estes anos, o bichinho ficou, e a Quinta dos Roques é um dos produtores que faz as minhas delícias à mesa, e nada melhor para acompanhar uma Chanfana de Vitela que este Quinta dos Roques Reserva 2005... e tão bem que se deram:

Quinta dos Roques Reserva 2005
Castas: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz, Jaen e Tinto Cão - Estágio: 14 meses em barricas carvalho francês de 1º e 2º ano - 14% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração mediana.

Nariz ligeiramente fechado de inicio, ganha com algum tempo no copo, mostrando uma boa complexidade de conjunto. Sente-se um vinho fresco, com notas de vegetal seco (mato, esteva), flores, algum balsâmico e toques de fumo, fruta (cereja, groselha preta, amora) bem madura e de qualidade com ligeiro toque a licor de cereja. Madeira a mostrar uma boa integração no conjunto, com leve especiado no final, em perfil elegante e fresco.

Boca a revelar entrada fresca e estruturada, fruta madura bem presente, tal como a frescura que envolve toda a prova do princípio ao fim. A passagem é bastante agradável e harmoniosa, com a madeira por onde passou, a conferir a harmonia necessária e calma necessária ao conjunto; especiaria, cacau e algum mato seco complementam o final de boca, em boa persistência.

É um belíssimo exemplar dos vinhos do Dão, sem máscaras nem tiques de pop star. Aqui tal como noutros exemplares da região respira-se qualidade e acima de tudo identidade. Se a qualidade é um pouco mais fácil de encontrar, a identidade cada vez mais aparece transfigurada à medida que os progressos enológicos tomam conta da cabeça dos produtores... será isto o preço a pagar pelo progresso ? Ainda bem que nem todos caminham pelos mesmos trilhos e que nos dias de hoje me continuo a deliciar com vinhos como este Quinta dos Roques Reserva 2005. O preço ronda os 25€, e a longevidade em cave está assegurada. 16,5 - 91 pts

8 comentários:

Hugo Mendes disse...

Caro,
gostei do post. Também gostei muito do vinho, concordo com os 16,5 pontos (não entendo de onde vêm esses 91 pts. já procurei no blog a ver se explicas, mas não está cá nada! o que são?

João de Carvalho disse...

Olá Hugo, os 91 pontos são apenas o equivalente à escala de 50-100, e aparecem explicados onde diz Classificação Qualitativa.

Mas deixo aqui a tabela para veres:
0 a 100-------0 a 20-------50 a 100
0-1-2-----------0-------50
...
24-25-26-------5-------62-63
...
44-45-46-------9-------72-73
47-48----------9.5-------74
49-50-51-------10-------75
52-53----------10.5-------76
54-55-56-------11-------77-78
57-58----------11.5-------79
59-60-61-------12-------80
62-63----------12.5-------81
64-65-66-------13-------82-83
67-68----------13.5-------84
69-70-71-------14-------85
72-73----------14.5-------86
74-75-76-------15-------87-88
77-78----------15.5-------89
79-80-81-------16-------90
82-83----------16.5-------91
84-85-86-------17-------92-93
87-88----------17.5-------94
89-90-91-------18-------95
92-93----------18.5-------96
94-95-96-------19-------97-98
97-98----------19.5-------99
99-100---------20-------100

Grande abraço

Pratos de Ouro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pratos de Ouro disse...

Bom vinho que trazes aos teus leitores. A Quinta dos Roques é quase que a mascote do Dão (espero não exagerar), mas é o que acho. Onde estão sitiados, têm o privilegio do clima tipico da zona "sopé" da Serra da Estrela, dá aos vinhos singularidades...

João, forte abraço

Pedro Sousa P.T. disse...

Caro amigo, se possível ,podias dar uns exemplos de vinhos " pastosos e mandriões", pois desconfio bem que já passaram alguns pelo meu copo, e por comparação, gostava de ter uma bitola para ver se realmente ando a beber algum deles.
Não leves este pedido como uma coisa despropositada, mas já que a maioria dos posts de todos os blogs, é sobre bons vinhos, ou bastante aceitáveis, estava na hora de um pouco de "bota baixismo" sincero e sem preconceito, ou seja o que é bom, é bom, e o que é mau, é mesmo mau.
Não fico desanpontado se não fizeres o meu pedido, estás no teu direito, também não quero ferir suceptibilidades, pois cada um tem o seu gosto, e há que assumi-lo e rspeitá-lo.

Abraço

Pingas no Copo disse...

Companheiro, estamos cá para partilhar.

Um abraço amigo

João de Carvalho disse...

Pedro, os vinhos que falo são na sua essência todos aqueles que entre tantos outros em prova num jantar, chegam ao fim com a garrafa mais cheia que as restantes.
São os vinhos com extracção, fruta doce, com uma colher de compota a mais, onde ao acompanhar um prato nos fartamos primeiro do vinho do que da comida. São mono-blocos ultra sólidos que enchem um copo, enchem a boca e que não dão lugar a mais nada.

Não que sejam maus vinhos, mas não os vejo como vinhos para acompanhar uma refeição, talvez vinhos para beber um copo com os amigos, porque mais que um... pesa.

São os vinhos onde a madeira tapa a fruta, onde a fruta é sempre doce até morrer, onde o conjunto de tão redondo e doce acaba por enjoar, são vinhos onde os taninos secos nunca vão sair, são vinhos que não conseguem acompanhar uma refeição.

Não é preciso apontar o dedo, basta na altura da prova relembrar e dizer, é este.

Pedro Sousa P.T. disse...

Ok. Foste correcto e sucinto. Realmente andam por aí uns vinhos desses...

Abraço

 
Powered By Blogger Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Noncommercial-No Derivative Works 2.5 Portugal License.