Copo de 3: fevereiro 2010

22 fevereiro 2010

DOMAINE DE BEAURENARD Chateauneuf-du-Pape 2004

O Domaine de Beaurenard (Châteauneuf-du-Pape), está na família há 7 gerações, uma acta notarial datada de 1695 menciona "Bois Renard", que com o tempo se tornou Beaurenard. Nos dias de hoje são os irmãos Coulon (Daniel e Frédéric) que estão encarregados de manter a tradição da casa, seguindo as pisadas dos seus pais (Paul e Régine) e dos seus antepassados. Controlam 32 ha de vinha em Châteauneuf-du-Pape e 25 ha in em Côtes du Rhône Villages Rasteau AOC, saindo destes últimos os vinhos Cotes-du-Rhone e Cotes-du-Rhone Villages Rasteau. A agricultura é levada de maneira sustentável, e as uvas são escolhidas e colhidas à mão. Um produtor do qual já tive a oportunidade de provar alguns vinhos recentemente, alguns deles em conversa com um dos irmãos Coulon, neste caso com Daniel, que em conversa bastante animada mostrou a paixão com que dá a conhecer os seus vinhos. Já no meu recanto decidi por abrir um Domaine de Beaurenard Chateauneuf-du-Pape 2004, cujo preço rondou os 34€ em Portugal e que se mostrou após a prova um pouco alto para a qualidade. Mas que culpa tem um vinho que é vendido bem mais barato lá fora, ver o seu preço ser aumentado cá dentro e sabe-se lá porque razão ? Obviamente que o consumidor que quer provar, que quer beber, tem de pagar e calar quando a oferta é pequena e neste caso única, mas não se pense que foi barrete... nada disso. Se bem que com mais uns trocos prefiro muito mais apostar num Boisrenard (o topo de gama da casa) pois a ligeira subida de preço é compensada por um considerável aumento da qualidade.

Domaine de Beaurenard Chateauneuf-du-Pape 2004
Castas: 70% Grenache, 10% Syrah, 10% Mourvèdre, and 10% Cinsault e outras - Estágio: 12 meses em barrica - 14,5% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração média alta.

Nariz coeso, com boa complexidade a mostrar fruta negra bem fresca e limpa (cereja, amora e groselha) com ligeira nota de licor de groselha a dar uma sensação adocicada muito ténue, especiarias (pimenta), tabaco, leve floral acompanha a madeira que embala todo o conjunto, diga-se que a madeira nem faz por se notar, está mas não está. Equilíbrio e harmonia de conjunto, leve tosta com sensação de vegetal seco e boa mineralidade em fundo, num todo elegante, algo arredondado com misto entre a frescura da fruta e o toque mineral de fundo.

Boca bastante elegante e de corpo mediano, guloso no sentido em que apetece beber, com boa frescura a balancear a leve doçura da fruta, tudo com uma boa intensidade juntamente com um bom comprimento no palato, especiarias (pimenta), tosta da madeira, tabaco, novamente o toque de licor de groselha, fundo entre o mineral e o leve bálsamo vegetal. Mostra ao mesmo tempo uns taninos que lhe dão vigor e auguram boa estadia em garrafa, por agora já se bebe com bastante prazer, tem presença, harmonia, boa espacialidade e final de persistência média.

A mais valia num vinho destes é maneira como permite uma fácil abordagem, fácil de gostar e com o conveniente de que se pode guardar sem problemas que envelhece ou sabe manter a postura durante mais alguns bons anos. Muito virado para a mesa, gostei bastante da maneira como se comportou com um assado de borrego. A qualidade é bem patente, apesar de não ser daqueles vinhos que nos enchem a alma, é sim um bom exemplar, direi mesmo uma compra segura no que a Châteauneuf-du-Pape diz respeito. Obviamente que o preço de compra pode afastar muita gente, mas para quem procura uma entrada firme e sem grandes gastos por este caminho, o exemplo em prova serve perfeitamente. 16 - 90 pts

18 fevereiro 2010

Château Monbousquet 2001

Nos dias que correm cada vez mais é preciso saber onde investir o dinheiro no que toca a vinho de qualidade. Digo isto porque na realidade há cada vez mais gato por lebre e vinhos que custam pequenas fortunas revelam-se com a idade, autênticos flops bafejados muitas vezes por "publicidade" enganadora. Ninguém duvidará que é o factor tempo que define um grande vinho de um vinho que supostamente deveria ser grande, até porque pelo preço a isso obrigava. Em Portugal também se corre cada vez mais esse risco, alguns dos vinhos parecem querer andar na moda e de vez em quando lá se "inventa" uma qualquer maravilha enológica carregada de madeira e/ou de fruta confitada com uma boa injecção de acidez para castigar aquele açúcar residual que teima em sair das marcas... resultado ? Vinhos que após o segundo copo está tudo farto, vinhos que em vez de ganharem atributos perdem-nos, mesmo quando alguns teimam em dizer que refinou afinou e melhorou, onde claramente a fruta perdeu vigor ou quando não entra logo em modo compota, confitado, e a boca já foi deixando metade das coisas boas que tinha pelo caminho. Faz alguma confusão verificar que em sites internacionais alguns desses nossos vinhos aparecem com a indicação de PAST MATURITY, enquanto outros do mesmo ano e vindos lá de fora, em que o preço muitas das vezes é igual ou inferior a indicação é Mature ou Not Ready... será que lá fora entendem de tudo menos dos nossos vinhos ? Será que cá dentro é que temos razão e lá fora anda tudo enganado ? Porque é que as notas cá dentro são de 18 valores (95 pontos) e lá fora não passam dos 91 pontos (16,5 valores) ? Afinal o que falha no meio disto tudo ?
Um dos vinhos que me levou a escrever tudo isto foi um Château Monbousquet 2001, que pelo preço que pedem por ele e pela prova que deu, é sem dúvida uma aposta mais que segura para se beber agora ou daqui a mais uns anos, a garantia de que vai estar melhor é o que o distingue de tantos outros do mesmo preço e ano que já ficaram pelo caminho. Em jeito de pequena apresentação, as origens do Chateau Monbousquet remontam a 1540, mudou de mão várias vezes, tendo sido construído definitivamente em 1779, ganhou fama no século 19 e quando esteve na posse do Conde de Vassa-Monviel que deteve a propriedade entre os anos 1858 e 1877, viu a área de vinha ser aumentada tal como a produção.
É em 1993 que Gerard Perse (Chateau Pavie) toma conta do Chateau Monbousquet, levando a cabo uma renovação de fundo no que toca ao sistema de drenagem, cave de envelhecimento e equipamento topo de gama, colocando os seus vinhos cada vez mais em lugares de destaque, tendo passado para Grand Cru classé em 2006. A idade média das vinhas rondará os 28 anos e a enologia está a cargo de Michel Rolland, produzindo-se deste 2001 cerca de 150 mil garrafas.

Château Monbousquet 2001
Castas: Merlot (60%), Cabernet Franc (30%) e Cabernet Sauvignon (10%) - Estágio: 18 meses em barricas novas - 13,5% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração média/alta.

Nariz que nos invade com notas de fruta negra bem fresca e madura (groselha, cereja e amora), com toque de licor de groselha presente com o tal "regaliz". Um vinho que se mostra algo fechado de início, mesmo com ligeira nota terrosa a dissipar com tempo de copo, mostra boa complexidade e profundidade, vegetal seco a lembrar caruma de pinheiro, grão de café, especiaria (pimenta preta), tabaco, toque fumado com a madeira plenamente integrada, num conjunto que mostra harmonia, frescura e complexidade.

Boca com boa estrutura, sente-se um vinho fresco e levemente encorpado, mas ao mesmo tempo a mostrar sinais evidentes de nobreza. A fruta marca presença ao mesmo nível do sentido no nariz, fresca, bem madura, fruta que quase nos sentimos a trincar na boca, tudo isto acompanhado por um travo de pimenta preta, vegetal seco, café e pontinha de licor de groselha perdido no meio de tanta coisa boa. Sente-se ainda um leve fumado, uma leve tosta, a madeira está toda ela discreta mas a fazer o que lhe compete, num todo que mostra um belíssimo equilíbrio entre a força (no sentido de que tudo se sente muito vivo e com vontade de se mostrar) e a harmonia do conjunto, tal como a frescura que acompanha o vinho de uma ponta à outra, que juntamente com uns taninos finos e ainda com algumas pontas por limar lhe conferem certamente mais uns bons anos pela frente. Tudo em final de boca onde se realça a fruta em persistência média/alta.

É certamente um valor mais que seguro e que merece estar na garrafeira de todos os apreciadores de bom vinho, o preço pode não ajudar na altura da compra pois falo de um vinho que pedem em Portugal cerca de 45€ por garrafa, encontra-se lá fora mais barato, mas há por aí tanto vinho que não merece o preço e continua a ser vendido. Este certamente é aquilo que podemos apelidar de um vinho sério, com alto pendor gastronómico. Certamente se irá pensar que há vinhos com a mesma nota que custam bem menos €€€ que este, certo, mas neste caso falamos de França - Bordéus - Grand Cru - Longevidade - Qualidade - Prazer - Mesa. 17 - 93 pts

15 fevereiro 2010

ALONSO DEL YERRO 2007

O projecto que passo a apresentar para os mais distraídos, e mesmo aqueles mais atentos é normal que lhes tenha passado ao lado, está situado na vizinha Espanha, mais propriamente na prestigiada região da Ribera del Duero. Um projecto muito especial, eu pelo menos tenho tido a sorte de o ir conhecendo desde os primeiros lançamentos e são vinhos apaixonantes. Tudo começa na Finca Santa Marta, situada em Roa (Burgos, D.O. Ribera del Duero) com o casal Javier Alonso e María del Yerro, que em 2002 criam os Viñedos Alonso del Yerro. Um projecto assente numa filosofia muito própria baseada na importância da vinha, em que o objectivo é produzir vinhos distintos e com um critério de máxima qualidade. No total dispõem de 26,5 ha de vinha plantada em 1989 e situada entre os 800 e 840 metros de altitude, repartida por 4 parcelas cujos nomes são os dos filhos do casal, e tendo a perfeita noção de que iriam precisar de uma equipa de excelentes profissionais, foram buscar a assessoria do prestigiado enólogo Francês, Stephane Derenoncourt (La Mondotte, Château Canon La Gaffelière, Domaine de L´A... ) e dada a grande importância que dão à vinha, pediram um estudo exaustivo dos solos das parcelas que possuem. Deste estudo verificou-se que nas 4 parcelas existiam 6 tipos de solo bem diferenciados pelo que das 4 parcelas iniciais ficaram no total com 27 sub-parcelas de vinha. Em 2004 começam a trabalhar com um dos grandes especialistas do mundo no que toca a terroirs, Claude Bourguignon (Romanée Conti, Leflaive, Ausone, Dujac, Drouhin, Selosse, Graillot, Beaucastel, Dagueneau, Vega Sicilia...), formando assim uma equipa de luxo em que o vinho se começa a desenhar no próprio solo e na própria vinha.

"Dedicamos nuestro proyecto a todos aquellos que se atreven a soñar y a todos los que poseen el conocimiento, la generosidad y el corazón para ayudar a otros a alcanzar sus sueños."

O resultado final são vinhos de elevada qualidade, fruto de uma enorme dedicação e procura pela mais alta qualidade. Mistura-se a tudo isto, valores como a amizade, respeito pelo meio ambiente, talento, conhecimento, experiência, a procura da excelência, a paixão pelo vinho e temos como resultado vinhos que não nos deixam indiferentes e que acima de tudo conquistam quem neles aposta.

Alonso del Yerro 2007
Castas: 100% Tempranillo - Estágio: 12 meses em carvalho francês - 14,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz com aroma de boa complexidade e intensidade, conquista de imediato pela diferença e pela elegância, frescura, a fruta em tons de vermelho sente-se madura mas fora daqueles jogos compotados ou de querer entrar nesses jogos que nunca auguram nada de bom. Aqui a conversa é outra e sente-se fruta vermelha fresca e bem madura, entusiasma na boa profundidade com a madeira muito bem trabalhada, sábias mãos, sem exageros talvez um pouco presente mas nada que o tempo não cure, pede um prato mais puxado para não se fazer notar tanto, sim é vinho de mesa e de muitos amigos à sua volta. Especiarias finas, cacau, algum floral, mineralidade suave e delicada em fundo, com aquele aroma de "regaliz" que tanto gosto.

Boca a mostrar conjunto com uma bela estrutura, muito no encontro do encontrado no nariz, fruta vermelha madura e fresca com toque floral, especiaria ligeira e a barrica aqui bem mais integrada, o suficiente para o vinho dar uma prova de boca bastante agradável desde já. Complexidade, frescura, fruta madura bem delineada, barrica a dar amparo a todo o conjunto, tem uma boa espacialidade, bebe-se com muito prazer e sobretudo tem pernas para andar. Nota-se claramente um vinho que foge das tentações da concentração que alguns dos novos Ribera del Duero seguem teimosamente, para se notar aqui um registo mais na elegância. A sua persistência é média/alta num vinho que recomendo vivamente.

A produção deverá rondar as 60.000 garrafas, o preço mais que justo a que se pode comprar ronda os 20€ mas é uma aposta segura num vinho com qualidade bem acima da média e de acentuada componente gastronómica. O produtor em causa ainda tem o topo de gama da casa, Alonso del Yerro Maria, cujo preço será ligeiramente mais do dobro, mas a qualidade e o prazer são bem proporcionais. Um vinho que foi muito cuidado mesmo antes de nascer, em que tudo foi cuidadosamente planeado e pensado, e os resultados estão à distância de um copo. 17 - 92 pts

09 fevereiro 2010

ENCONTRO 1 2007

O projecto da Quinta do Encontro, surge, com um novo conceito no ano 2000, tendo como filosofia de base a produção diferenciada em relação à imagem a que está associada esta região. Produzem-se vinhos essencialmente com a denominação Bairrada num estilo moderno e actual. Situada em S. Lourenço do Bairro, Anadia, a Quinta do Encontro deve o seu nome à sua localização próxima da Cruz do Encontro. Iniciou a produção de vinhos em 1930, numa pequena adega situada em Paredes do Bairro. Com a entrada da Dão Sul no projecto, foi realizada uma reestruturação de 10 hectares de vinha, dos 20 que compõem a propriedade. Os solos são de características argilo-calcárias, têm plantadas as castas tintas Baga, Touriga Nacional, Merlot, Cabernet Sauvignon, Tinta Roriz e Castelão e as brancas Bical, Maria Gomes e Arinto. Em 2005, com a necessidade de dinamizar o projecto e aumentar e melhorar a capacidade de vinificação foi iniciada a construção de uma nova adega, continuando o conceito de promoção do Enoturismo, numa perspectiva de Adega de design, com um estilo moderno e inovador. Neste espaço é possível estabelecer um contacto com as várias fases do processo produtivo, desde a vinha à prova. Implantada na paisagem vitícola, a forma cilíndrica da Adega permite ao visitante ter uma perspectiva global do meio circundante, tornando-o parte integrante desse espaço, em plena harmonia com a Natureza. A adega, equipada com as tecnologias de ponta de vinificação, é o local seguinte da visita, onde impera o betão luminoso que arma todo o edifício. Aqui o enófilo poderá contactar com o espaço onde são produzidos os vinhos de qualidade, que já se encontram no mercado e os que serão lançados nos próximos meses. Lançado que foi para o mercado, foi o topo de gama da Quinta do Encontro, o Encontro 1 tinto da colheita de 2007 (também existe em versão branco e merece uma prova atenta), que agora aqui coloco em prova.

Encontro 1 2007
Castas: Baga e Touriga Nacional - Estágio: 12 meses carvalho francês - 14% Vol.


Tonalidade granada escuro de concentração alta.

Nariz de boa intensidade, mostra-se complexo e a mostrar notas de baunilha, cedro, torrado, especiaria. A madeira mostra desde já querer fazer parte de um conjunto harmonioso e equilibrado, todo ele fresco com a fruta negra (groselha, amora, framboesa) igualmente fresca, madura e limpa, quase que se mastiga, leve licor com floral e bálsamo vegetal em segundo plano. Conjunto coeso, com bela presença e a mostrar que vai afinar e refinar com o tempo em garrafa.

Boca muito bem estruturada, um vinho cheio que preenche muito bem toda a boca/boa espacialidade e mostra boa complexidade. Algo bruto na forma como se apresenta, num conjunto que mostra raça/vigor, ao mesmo tempo com boa acidez a amparar, quer a fruta madura quer a madeira com toque torrado, especiaria, algum terroso e os taninos a reclamarem vida longa, num todo harmonioso com belo final de boca.

É um dos novos pesos pesados da Bairrada, a monumental garrafa contribui para isso, mas no que ao vinho toca é um Bairrada a fugir ao conceito Clássico e alia a Baga à Touriga Nacional. É um vinho para guardar ou beber agora com Gastronomia Regional, por exemplo um Cabrito, Xanfana, Feijoada de Javali... pratos pesados para um peso pesado, mas que ao mesmo tempo se mostra fresco. A pouquíssima produção faz com que o preço dispare e se torne tudo menos convidativo, talvez o único senão no que toca a este vinho, pois facilmente se pede 60€ ou mais. Não lhe revejo grande relação preço/qualidade, e pessoalmente apostaria noutros exemplares mais fiéis ao estilo Bairradino, que certamente se aproximam ou mesmo ultrapassam este Encontro em qualidade mas nunca em preço. 17,5 - 94 pts

08 fevereiro 2010

Vinha de Saturno 2006

Segundo o que se pode ler no site da Dão Sul, a Herdade Monte da Cal é uma propriedade localizada em São Saturnino, perto de Fronteira, encontra-se no norte do Alentejo, com uma área de 100ha. Os solos são fortemente dominados pela argila com xisto à mistura e o clima muito quente no Verão, obriga a que a mão mágica do homem restabeleça o equilíbrio e abra caminho à harmonia e ao equilíbrio da natureza.
É da colheita de 2006 que a conversa se repete e em prova se coloca o novo topo de gama deste produtor por terras Alentejanas, baptizado com o nome da vinha que lhe deu origem, a Vinha de Saturno.
Como refere o rótulo, Saturno é o sexto planeta do Sistema Solar e, antes da invenção do telescópio, era o mais distante dos planetas conhecidos. A olho nu não parecia ser luminoso. O primeiro a observar os seus anéis foi Galileu em 1610; porem a baixa resolução do seu telescópio, fizeram-no pensar que se tratava de grandes luas.
É o segundo maior planeta do Sistema Solar, faz parte dos denominados planetas exteriores e o seu nome deriva do deus romano, Saturno.
Considerado como Deus da Agricultura e do Tempo, tem como dia consagrado o Sábado, que no tempo dos romanos seria chamado de dies Saturni, enquanto que os anglo-saxónicos chamavam de Saeterndaeg ou Saterndaeg, que iria derivar para o Saturday dos dias de hoje.
Tal como Saturno e as suas qualidades saturninas, será caracterizado pela escuridão, frio e peso.

Vinha de Saturno
Castas: Trincadeira, Aragonês, Alicante Bouschet e Baga - Estágio: 12 meses barricas novas de carvalho francês - 14,5%Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz de aroma inicialmente fechado e com um ligeiro travo químico, pede que o deixem arejar no copo, surgem depois apara de lápis acompanhadas de bálsamo vegetal, especiaria e tosta da barrica a mostrar boa integração com a fruta que se cheira madura (cereja, amora, ameixa) de qualidade com compota bem fresca. Um conjunto que encerra uma boa complexidade, com segundo plano marcado por travo vegetal seco, onde tudo parece querer buscar ainda o melhor sítio para se mostrar, com fundo mineral.

Boca de estrutura coesa, amplo na presença e conquistador nas sensações que transmite. Equilibrado e sem devaneios, a frescura acompanha a prova de início ao fim, sente-se a fruta bem fresca com balsâmico, vegetal seco, torrados, chocolate preto, compota ligeira, especiarias e toque mineral fresco em fundo, mostrando boa persistência final, num conjunto que precisa de algum tempo para melhorar a prova que dá.

É sem dúvida um belo vinho, com uma garrafa que pelo seu peso quase que invoca o próprio Saturno. Um vinho que tem o seu toque muito pessoal fugindo um pouco da grande maioria dos vinhos da região. Agora ou daqui a uns anos, merece ser provado não a solo mas à mesa e em boa companhia. O preço deverá rondar os 35-40€.
17 - 92 pts

04 fevereiro 2010

Medalhas de papel

Começo este texto a propor um teste, vamos supor que durante uns tempos andaram a treinar para falar sobre determinado assunto durante 3 minutos, sucintamente apenas tinham que dizer o vosso nome a idade e onde moram, depois a determinada altura são encaminhados para uma sala cheia de público onde vão ter de dizer durante os tais 3 minutos o que aprenderam. Obviamente que os melhores desempenhos até vão ter direito a um prémio pois foram os que melhor disseram em tão pouco tempo. Agora imaginem que vão para a mesma sala, mas afinal já não são 3 minutos que vão ter de falar mas sim durante 1 hora. É nessa altura que a vossa conversa se vai tornar repetitiva, enfadonha e muita gente vai sair da sala por já não aguentar mais a ladainha do nome, idade e morada. Resolvem então aprender mais algo que dizer, para que da próxima vez que forem à dita sala, já irem prevenidos e caso vos seja dado mais tempo, já vão saber dizer o tamanho da rua, como são as casas, o número da porta... Voltam então à dita sala cheios de expectativas e para vossa surpresa apenas têm os tais 3 minutos, pelo que são apanhados de surpresa e de tão envergonhados que ficam nem sabem por onde começar, nesse mesmo dia acabou por vencer um dos tais concorrentes que só tinha treinado para os 3 minutos. Agora façam este exercício como se em vez de vocês, estivesse um vinho.

Um concurso de vinhos é essencialmente uma prova onde os provadores tentam provar o maior número possível de vinhos num tempo determinado que por norma é sempre limitado e reduzido. Ou seja, é quase uma corrida contra o tempo onde os vinhos vão sendo literalmente empurrados, espezinhados e esmagados uns contra os outros. Isto para não falar no provador e na saturação do mesmo após provar digamos, 25 vinhos de seguida. O provador tem que num tempo recorde, conseguir avaliar os vinhos que lhe vão caindo no copo, o que contraria e de que maneira aquela indicação de que alguns vinhos antes de consumidos precisam de algum tempo para melhor se mostrarem.
Mas então quem fica a ganhar com isto ? Focando apenas nos brancos, tintos e rosés, apenas e só os vinhos de gatilho rápido, muitos deles feitos para este "negócio" das medalhas e prémios, que raramente mostram grandes dotes quando provados com muito mais tempo do que aquele que foram feitos para durar. Sim é exactamente a conversa do tornarem-se monótonos, chatos, repetitivos, cansativos...
A realidade é que todo e qualquer vinho que beneficie de uma prévia decantação, e todos sabemos que há vinhos que 30 minutos é pouco para dito efeito, acabam por ser claramente prejudicados nestas orgias do vinho, que são os famosos concursos.
Das vezes em que fui júri, sempre me fez confusão aquela roda viva que se monta no vai e vem de vinhos, acabando quase por os ditos cujos nem terem o tempo necessário para se mostrarem. É sempre invocado que há muito vinho para ser provado e como tal não se pode perder muito tempo... somos olhados de lado se dedicamos mais tempo a um vinho do que o necessário para a ocasião. Ali não interessa se determinado vinho vai ganhar algo com o tempo no copo, ali o que interessa são os números finais, o que nós achamos que aquele vinho que ainda mal "comunicou" connosco, vale. E mais uma vez a pergunta surge, quem tem a ganhar com isto ? Os tais vinhos de concurso, os vinhos que se escarrapacham todos no copo, bombas de fruta e madeira, mas que numa mesa a sério nos saturam ao segundo copo ou acabam por ficar sem conversa passado os tais minutos para que foram preparados.

Obviamente que os vinhos medalhados não são maus vinhos por Natureza, são apenas vinhos que despertam um interesse momentâneo, o que não chega a ser suficiente para chegar a outros níveis que uma medalha de ouro supostamente teria que premiar. Tudo isto não quer dizer que não mereçam aquelas medalhas de papel que lhes são atribuídas, pelos menos tem o mérito pois foram os que melhor dissertaram durante aqueles breves minutos. No entanto e como tudo na vida, temos também os exemplares que não pertencendo à categoria do gatilho rápido, pela sua qualidade bem acima da média, conseguem amealhar sem grande espanto medalhas aqui e ali, lembrando aqueles atletas de alta competição, com qualidade reconhecida por todos, mas que vão a vários meetings apenas e só para se irem mostrando ao público.
Hoje em dia as medalhas e os prémios atribuídos são cada vez mais, há vinhos que num desespero de causa chegam a ter colados 3 e 4 papelinhos a dizer olhem para mim que sou um campeão do gatilho rápido, perdendo-se um pouco aquela noção do que é a verdadeira noção de excelência. Hoje em dia por dá cá aquela palha, aparecem vinhos medalhados em tudo quanto é prateleira de hiper ou garrafeira, o consumidor menos prevenido compra porque tem medalha pensando que o tal Ouro premiou a excelência enquanto vinho, puro engano. Afinal quantos vinhos desses que ostentam medalhas são na realidade Grandes Vinhos ?

Portanto se procura vinhos que no imediato, digamos nos primeiros minutos depois de abertos, lhe causem boa impressão, mas que depois são mais do mesmo e que seguramente nunca vão chegar ao tal patamar de excelência, aposte em força nas medalhas de papel.

03 fevereiro 2010

VALE D´ALGARES SELECTION branco 2008

O produtor Vale D`Algares lançou recentemente um novo segmento dentro do seu portfolio de vinhos. Denominado “Selection” este segmento situa-se entre o já conhecido Guarda Rios e o patamar mais elevado Vale D’Algares (Viognier). Numa primeira fase foi lançado o “Selection” branco, colheita de 2008, proveniente de uvas dos talhões que mais se destacaram no conjunto da vinha (9A+9B). Viognier e Alvarinho foram as castas que neste ano atingiram maior complexidade, elegância e frescura, características pilar desta gama “Selection”, um produto Super-Premium concebido pelo enólogo Pedro Pereira Gonçalves, produzido em solos argilo-calcários, sob um clima de influência Mediterrânico com influência do rio Tejo. Sujeito a uma colheita manual para caixas de 12 quilos, transportadas sob protecção de gelo seco, e vinificação em tapete de escolha de cachos. As castas – Viognier (55%) e Alvarinho (45%) – são sujeitas a prensagem 100% com engaço e fermentação alcoólica em barricas de carvalho francês (90%) e cubas de inox (10%). É comercializado nos pontos de venda a um P.V.P. recomendado de 8,5€.

VALE D´ALGARES SELECTION branco 2008
Castas: Viognier (55%) e Alvarinho (45%) - Estágio: barricas de carvalho francês com battonage, durante seis meses - 14% Vol.

Tonalidade amarelo citrino com dourado ligeiro em média concentração.

Nariz de boa intensidade, dominado por abundante fruta madura (pêssego, maçã verde, manga, lima, tangerina) acompanhada por tosta, algum melado, flores laranjeira, chá verde e mineralidade sentida em fundo. Boa frescura de conjunto, com toque de vegetal fresco, sentindo-se uma boa untuosidade dada pela barrica, com boa harmonia entre fruta/barrica/acidez num vinho que se sabe mostrar desde o início.

Boca de perfil bem estruturado, a mostrar desde logo um vinho fresco e com fruta bem presente em harmonia com leve cremosidade que confere algum arredondamento ao vinho. Além do bom volume na boca, tem também algum peso, jogando em pleno com o encontrado anteriormente na prova de nariz, sente-se a fruta bem madura, leve toque de calda, algum vegetal e travo mineral em pano de fundo, com final de persistência média/alta.

É um vinho também ele resultante de um lote improvável na região onde nasceu, digo improvável porque é fruto de uma casta estrangeira (Viognier) e de uma casta natural da região dos vinhos verdes (Alvarinho). Aqui o resultado é bastante satisfatório, destacando-se uma boa harmonia entre fruta/barrica/acidez/álcool, o vinho facilita e de que maneira a aproximação de quem o prova, mostra tudo o que tem e sabe manter-se assim durante o tempo suficiente para se terminar a refeição. É uma belíssima aposta, ainda por mais tendo em conta o preço que pedem por ele. 16,5 - 91 pts

Monte da Peceguina branco 2008

Dando continuidade às provas de alguns brancos de 2008, rumo ao Baixo Alentejo mais propriamente à Albernoa onde fica situada a Herdade da Malhadinha Nova. É de lá que sai este Monte da Peceguina branco 2008. De invejável consistência qualitativa ano após ano, este vinho confirma-se como um valor seguro para o dia a dia com qualidade acima da média. O preço neste caso ronda os 7€, num vinho que se mostra mais apelativo e apetecível que outros de igual ou superior valor que podemos encontrar nas prateleiras.

Monte da Peceguina branco 2008
Castas: Antão Vaz, Roupeiro e Verdelho - 14% Vol.

Tonalidade amarelo citrino em rebordo esverdeado

Nariz de boa intensidade, cheira a pêssegos e alperces bem maduros e frescos, com algum ananás e citrinos. Complementa-se com a correspondente calda que lhe confere um suave toque melado, floral e travo vegetal fresco em segundo plano. Tudo bem delineado e muito aprumado, em conjunto fresco e harmonioso.

Boca de entrada fresca e frutada, gentil no trato, sentindo-se por vezes como que um certo arredondamento suave e frescura a marcar toda a passagem pela boca, com espacialidade mediana em boa persistência final.

O vinho de 2008 vem na linha do que esta marca nos tem acostumado, apesar de o álcool se apresentar algo exagerado, ainda que bem integrado, para o perfil de branco apresentado, falamos de 14% Vol. É um branco bastante aprumado, com a prova de boca a complementar a provar de nariz, revelando-se fresco e com certa dose de elegância. Transmite uma prova sólida e bastante coesa, num perfil que se torna muito apetecível nos tempos mais quentes. É um vinho que ganha bastante se consumido durante o seu primeiro ano de vida, com preço a rondar os 7€. 15,5 - 89 pts

CRASTO branco 2008

É a segunda colheita deste vinho, nesta colheita de 2008 perdeu o Cercial (pelo menos na ficha técnica deixou de constar) e viu aumentar quase para o dobro a sua produção, foram 25000 garrafas em 2007 e agora em 2008 chegou-se às 41600 garrafas.

Crasto branco 2008
Castas: Gouveio, Roupeiro e Rabigato - Estágio: Inox - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de ligeiro toque esverdeado.

Nariz de boa intensidade, a variar entre uma fruta bem madura (citrinos, pêssego, fruta branca) em ambiente fresco com um travo de espargo verde, relva cortada e flores brancas. Um vinho que se mostra jovem e aprumado com certa dose de delicadeza, em final mineral.

Boca de corpo médio, bem estruturado com frescura a percorrer toda a boca, do principio ao fim. Sente-se a fruta madura presente ao mesmo nível do nariz, segundo plano com toque vegetal (espargo), a sentir-se alguma untuosidade que dá certa envolvência ao conjunto. O álcool nem se dá por ele, agrada bastante, um vinho que se bebe e torna a beber, com final mineral de persistência média/alta.

Segue a mesma onda/perfil da colheita anterior, embora com um pouco menos de chama quer no nariz quer na boca. Sente-se aquilo que se cheira, nada está escondido ou difuso, muito menos aglomerado, direi que o aroma está limpo e bastante "palpável". O preço ronda os 10€ num vinho que não nega a terra que o viu nascer, e claramente para se ir bebendo calmamente até à chegada da nova colheita. 15,5 - 89 pts

01 fevereiro 2010

Bétula branco 2008

A nota faz algum tempo que estava lançada, face ao que já tinha constatado noutras provas resolvi dar-lhe mais algum tempo, queria provar para comparar com a primeira impressão que me tinha sido transmitida, a verdade é que apenas me restava tirar a limpo uma pequena dúvida. Passado algum tempo, direi 2 ou 3 meses, voltei novamente a ele, coloquei o respectivo vinho em prova cega perante 4 amigos, todos eles presenças assíduas dos fóruns, blogs e eventos de cariz vínico que se fazem um pouco por todo o Portugal, para que provassem e numa tabela colocada à disposição, atribuíssem a nota correspondente. De início notou-se alguma tensão no ar, o vinho foi servido a temperatura adequada, dando o tempo necessário para que cada um dos provadores fosse tecendo as suas opiniões sobre o mesmo, no final e num pleno de harmonia as considerações de cada um dos presentes foram unânimes, a minha dúvida estava esclarecida. Durante largos minutos, discutiu-se sobre aquele vinho, se seria o mesmo que anteriormente já se tinha provado, aquele que alguns elogiaram e que ali não passava de apenas mais um entre tantos. Alguns dos que antes o elogiaram, estavam agora incrédulos, até a nota final era diferente... bem mais baixa do que antes tinha sido apregoado. Ainda voltámos a ele durante o resto da noite, as esperanças de que algo fosse melhorar ainda existiam... mas no final, nada de novo. O vinho em causa dá pelo nome de Bétula, surge na Quinta do Torgal (Douro), Freguesia de Barrô, margem esquerda do Douro e é da colheita de 2008.Vinhas plantadas em 2006, produção total de 3000 garrafas com a enologia a cargo de Francisco Montenegro (conhecido pelos seus belos vinhos Aneto), num lote 50/50 de Viognier/Sauvignon Blanc. Um lote improvável no Douro, talvez um risco em fazer um vinho com duas castas tão "mal" habituadas à dita região. O preço recomendado ronda os 14€, algo desajustado face à qualidade apresentada.

Bétula branco 2008
Castas: Viognier e Sauvignon Blanc - Estágio: Viognier (fermentado em barrica carvalho francês) e Sauvignon Blanc apenas em inox - 13,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino dourado em média/baixa concentração.

Nariz de parca intensidade e complexidade, não nos conquista nem com um aroma exuberante nem sequer com uma limpidez de aroma. Pelo contrário, o vinho mostra-se pouco comunicativo, com os aromas empilhados uns em cima de outros, não dando para entender muito bem as castas que dele fazem parte... sim com algum esforço ainda se chega lá, mas às cegas patinadela certa. Alguma fruta madura (maçã, pêssego, citrino) com toque vegetal fresco e mineralidade de fundo. Com o tempo em copo desdobra para um toque de calda de fruta (pêssego) e leve memória da madeira por onde passou.

Boca com entrada a mostrar uma ligeira untuosidade, a saber a fruta fresca e madura, maçã verde e novamente o pêssego com algum citrino, para depois descarrilar encosta abaixo, entre o vegetal fresco e o mineral e o vegetal fresco e o mineral... quebrando a meio... para voltar com travo de frescura em final médio.

Recentemente tive a oportunidade de provar alguns exemplares de Viognier e de Sauvignon Blanc dignos representantes de cada casta. Neles sempre foi visível o bom comportamento das castas, tanto a nível de aromas como a nível da prova de boca. O vinho em causa, apenas é um BOM vinho e não me lembrou minimamente esses tais vinhos que provei, nem tem que lembrar obviamente mas também não me lembra o Douro, nem as castas com que foi feito. Podem dizer que é um vinho mais virado para a mineralidade, para a secura, para o que entenderem, a mim não me convenceu minimamente, ficando a léguas dos seus primos ANETO. Um vinho atípico, sem despertar grandes emoções , sem identidade marcada...
15 - 87 pts
 
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