Copo de 3: janeiro 2013

30 janeiro 2013

O Chefe recomenda...

Tomei a decisão de começar a abordar ainda que de forma ligeira a temática da gastronomia, considero natural que o encontro de dois mundos seja feito aqui, apesar de uma forma que quero suave e nunca com a capacidade de desvirtuar o espaço a que todos já se acostumaram. Quem abraça o mundo da Enofilia não pode ficar indiferente ao mundo da Gastronomia, como tal também gosto de cozinhar, gosto de aprender sobre cozinha e tenho andado nos últimos anos bastante entretido neste misto de Vinhos & Comida. Considero que Vinho e Livros combinam bem, gosto enquanto vou bebendo um bom vinho ir folheando um bom livro que aborda a gastronomia de Marrocos, Tailândia, Itália, França, Espanha...tentar encontrar algo que permita um casamento feliz entre vinho e prato, deambulo por aromas e sabores, coisas loucas dirão alguns, mas gosto tanto.

Irei de maneira simples falar sobre livros que gosto e que costumo consultar, livros que servem de inspiração para me divertir na cozinha. Entendo que aprofundar o lado da Gastronomia explorando as suas variadíssimas vertentes por este mundo fora é uma maneira de tirar melhor partido dos vinhos que gostamos e temos no copo. Espero que as minhas sugestões sejam janelas abertas para um mundo de sensações e novas harmonizações. 

Não vi melhor maneira que começar tudo isto questionando de forma simples três grandes Chefes de Cozinha da nossa praça, três nomes que dispensam muitas apresentações, pedi a cada um deles que indicasse 3 livros que de certa maneira os tivessem influenciado ou que fossem livros que achassem interessantes, juntando a cada um deles um breve comentário. O resultado é o que se segue, tendo continuidade na próxima edição com outros nomes.

Alexandre Silva (Chefe do LOCO Restaurante )

Pela primeira vez alguém mostra sem medos o que realmente se fazia num restaurante, sem segredos, sem manipulação de receitas.
Foram marcantes no meu percurso como cozinheiro.

2- Cozinha Tradicional Portuguesa (Maria Lurdes Modesto):
Um purista da cozinha regional, receitas bem feitas, um livro de bases da cozinha regional, qualquer cozinheiro deveria ter.

3- Clorofila de Andoni (Mugaritz):
Um dos livros mais fantásticos para mim, com uma cozinha muito bem pensada, sem nunca fugir ao estilo de Andoni. O minimalismo ao mais alto nível.


Vitor Claro (Chefe do Restaurante Claro)

1- Los secretos de El Bulli (Altaya):
Porque é o mais importante livro do mais importante restaurante da história do nosso tempo. É uma obra de apontamentos. sem fotografia. tudo desenhos e a preto e branco, um manual de cozinha, de filosofia e de atitude.
É para quem quer mesmo saber.

2-12 Meses de Cozinha (Selecções do Readers Digest):
é uma pedra basilar. é o livro que a minha mãe usava e que eu uso e muito. mais como linhas gerais.

porque lá trabalhei. e porque é uma cozinha clássica como há poucas. a nivel de cozinha de bnases é absolutamente imprescindível.


Andre Magalhaes (Chefe da Taberna da Rua das Flores)

Uma bíblia. As receitas escolhidas do Mestre

A Cozinha na sua dimensão científica, posta em prática.

A visão de um "gaijin" (estrangeiro) sobre o meu estilo culinário favorito - a comida japonesa de Taberna

29 janeiro 2013

#daowinelover meeting


O Dão está na ribalta, os responsáveis pela proeza que desde já louvo e dou os parabéns, são dois amigos meus de longa data, dois "rapazes" do Dão, o Miguel Pereira e o Rui Miguel Massa, que apaixonados pelo Dão onde têm raízes familiares profundas, meteram mãos à obra e com a preciosa ajuda da Casa da Passarela que serviu de base logística e que acolheu um alargado número de produtores da região, ali ergueram aquele que foi um nobre evento em honra de uma região que tanto merece. Tudo começou no grupo do Facebook de nome #daowinelover e rapidamente dinamizaram o espaço, o normal ritmo das coisas levou a organizar o evento que agora falo. Não devemos esquecer que o Dão comemorou em 2008 o seu centenário enquanto região demarcada. 
O evento foi um sucesso, o requisito para participar seria levar uma garrafa de vinho do Dão, para que a mesma fosse colocada posteriormente em prova para todos os restantes participantes, aqui o sentido de partilha, envolto numa vontade de abrir o diálogo entre todos foi o mote que liderou um evento solto e descomprometido, objectivo Falar o Dão, cheirar, saborear os vinhos da região, ouvir o que os produtores que por lá andavam nos tinham que dizer, partilhar opinião com amigos e conhecidos que encontrávamos espalhados pela adega da Casa da Passarela. 

Organização impecável, nada ali parecia querer falhar, nem podia, secção de brancos e secção de tintos, à entrada iam sendo colocadas por ordem aleatória os vinhos que os participantes iam depositando no secretariado. Deambulei inicialmente pelos Brancos do Dão, gelo com fartura e vinhos a boa temperatura prontos a provar, eram 10:30 da manhã e direi que quase todos os grandes brancos estavam presentes, permitiu-se comparar estilos, encontrar perfis mais amigos do nosso gosto, saborear o que as várias sub-regiões do Dão nos têm para mostrar nas variadas interpretações dos diferentes enólogos. Faltavam 5 minutos para as 11:00 horas quando a chamada começava a ser feita, guardada estava uma magnífica prova à espera, um raro momento onde se provaram os míticos vinhos do CEVDão, aqui a merecer post posterior onde falarei sobre o que por lá aconteceu

Depois foi dar seguimento a um Dão com contrastes em tons de Tintos, o tempo nos tintos foi passado antes, durante e depois do almoço que nos foi servido. Impensável não mencionar o fantástico Queijo da Serra (Queijaria dos Lobos) que ali nos foi servido, onde tive que ir a correr buscar um branco de bom recorte e que felizes eles ficaram. A passada do tempo ia larga, para os resistentes ainda foi servida uma Sopa de Lavrador, consistente e reconfortante, estava na hora de despedida e tempo de rumar a casa. O Dão teve um dia em sua honra, que espero se multiplique, um dia bonito e com sol, quem sabe foi o agradecer da região aos organizadores deste nobre evento. Obrigado.

25 janeiro 2013

Montes Claros Garrafeira 2007 & 2008

É da gama Montes Claros o topo de gama, ostenta o bonito nome Garrafeira, vinho que dorme mais que todos os outros, vinho que vem fino e elegante para os nossos copos. Desde o seu primeiro lançamento, salvo erro em 2001 que este Montes Claros Garrafeira tem feito as minhas delícias, pela frescura que apresenta, pelo cuidado como se mostra mas acima de tudo porque já nos oferece uma complexidade bastante acima da média e com um preço a rondar os 12,50€, bastante cordato face ao que nos dá, e é bastante tal como a quantidade produzida que ronda 1.000.000 de garrafas. Relembro o lote que deles faz parte, aposta clara em castas locais como Trincadeira, Aragonez e Tinta Caiada. Com umas valentes empadas de caça o mote foi mais que bom para abrir dois destes Garrafeira, o 2007 e o 2008. Sem prévia decantação o tempo que lhes foi dado foi no copo.

Montes Claros Garrafeira 2007: Todo ele a mostrar um aroma que nos remete para os vinhos da região, chamarei clássico, nas frutas maduras e compota com recordação de ameixa, bagas, vegetal seco a complementar com toques de folha de tabaco, especiaria, bálsamo fino e café moído. Fino e complexo, fresco, moram ainda alguns travos de cravinho, de bagas, de coisas que só o tempo consegue fazer lembrar, bouquet refinado e composto, mais uma vez é a frescura que o ampara, boca muito bem composta com corpo, com integridade e presença onde taninos finos se mostram no final que tem boa persistência. 92pts

Montes Claros Garrafeira 2008: Nota-se de imediato que é família do 2007, apenas mais maduro e um tanto ou quanto menos complexo, menos frescura de aromas e um pouco mais rugoso fruto de uns taninos mais presentes a pedirem tempo em garrafa. Mais tosta, mais café torrado, complexidade ainda por esticar, sumarento e guloso, fresco e com bom envolvimento. Apesar de tudo, gostei mais do 2007 para beber agora, são vinhos de guarda e irei depositar as minhas garrafas na garrafeira porque estou convicto que mais uns anos apenas lhe irão fazer bem. Darei notícias sobre os mesmos em igual prova no final deste ano. 91/92 pts


24 janeiro 2013

Adega de Borba Premium 2010

Ora cá está um dos mais recentes frutos da reinvenção que a Adega de Borba realizou no seu alargado portefólio. Após algumas incertezas no vai e vem de alguns rótulos eis que surge o Premium, o tal B de Borba do rótulo preto que custa coisa de 5,76€. Um preço, direi quase imbatível para o que nos é oferecido, depois há uma quantidade assinalável a rondar as 120.000 unidades, cujo seu primeiro lançamento foi em 2006, talvez o melhor de todos até hoje, cada garrafa que abro é motivo de alegria. No copo tenho o último lançamento, o 2010, de aroma maduro com a fruta em dose de boa gulodice, travo especiado e um maior acolhimento por parte da madeira que debita no vinho travo de baunilha. Mais arredondado, mais apetitoso e com abordagem mais abrangente, especiado com algum bálsamo vegetal e compota. Médio de corpo, sumarento e com boa concentração de sabor, elegância na passagem com frescura mediana e final saboroso. É daqueles vinhos que saltam da gastronomia regional para um horizonte mais amplo, aqui no terreno puramente italiano com uma boa Spaghetti bolognese. 90pts

 Photo: GETTY

23 janeiro 2013

Montes Claros Reserva 2010




Vinho de alta rotação, a facilidade com que se encontra à venda é proporcional à facilidade com que se bebe. Montes Claros marca antiga cujo nome honra a famosa batalha, hoje na posse da Adega de Borba (Cooperativa), com ampla tiragem que bate nas 80.000 garrafas e a custar 5,99€ na loja online do produtor. É marca costumeira da mesa lá de casa, noutros tempos com outra roupagem, hoje mais moderno, mas que desde sempre me fui acostumando a ver entrar e sair, hoje em dia continua o dito frenesim.

Se há coisa que as gentes da Adega de Borba souberam fazer foi retocar de maneira inteligente os vinhos ali produzidos para resistirem às actuais exigências do mercado, assim foi e os vinhos mantendo um pé no que foram continuam sem que a lembrança esmoreça.

É vinho do Alentejo, de Borba, com aromas de ameixa e compota, com folha de tabaco e herbáceo, aromas mornos que são compensados pela boa frescura do conjunto. Calmo e sereno, maduro e muito pronto a beber, tem vigor na boca, aquele vigor que pede ensopados vários, gosta do petisco e do coelho frito, gosta de uma boa tachada de tordos. Dizem que brincou em madeira, fez muito bem, na boca complementa o nariz, passagem sumarenta, frutada, pimenta moída e com leve toque dos taninos. Insistentemente consistente e uma referência das nossas mesas. 89pts

22 janeiro 2013

Milhafre Negro Reserva 2010


Uma novidade aqui no meu copo, um vinho fruto de um blend de castas do Douro, produzido com uvas da Quinta das Parcelas (propriedade de António Vicente) com enologia de Marisa Ribeiro.

Vinho descontraído, nada atabalhoado e de fácil entendimento pois é franco e directo na aproximação que faz. Fruta polida e bem madura, com alguma compota, chocolate de leite, sentindo-se fresco durante toda a prova. A complexidade não comanda os seus destinos, é vinho a meu entender para se beber desde já. Na boca dá uma boa prova,  passagem no palato suave e bem polido, fruta a escorrer com cacau em fundo, de ligeira persistência no final. No imediato chamou por carne vermelha na grelha, não muito condimentada, qual naco de novilho grelhado com pedra de sal e molho manteiga.Preço a rondar os 6/7€ 88pts

Perrin Réserve Côtes du Rhône 2007

Este vinho surge fruto de uma vontade de "escapar" um pouco da rotina, fugir ao contra rótulo onde não aparece escrito Touriga-Nacional, beber um vinho de uma região que se gosta. Um vinho que custou 8€ e que dá uma prova de igual qualidade à de muitos vinhos em Portugal, uma daquelas compras por impulso porque simplesmente me apeteceu naquele momento um vinho do Rhone, porque o produtor não era um tiro no desconhecido e já tinha uns anos em cima. O Perrin Reserve 2007 das Cotes du Rhone é produzido pela famosa família Perrin (Château de Beaucastel), ficando num patamar abaixo do Coudoulet de Beaucastel já aqui provado. As expectativas não eram muito altas, o que esperava encontrar ? acima de tudo um vinho muito bem feito e fiel às origens, sem devaneios nem barulho pelo meio. O lote é 60% Grenache com restante de Syrah e Mourvedre, vinho muito limpo e franco de aromas, com fruta sólida, redonda e saborosa, mistura de cerejas e amoras, pimenta preta e mato rasteiro. É a qualidade e pureza da fruta que se destacam, tem frescura presente, macieza na boca com passagem frutada e leve terroso no final. É elegante, fresco, convidativo e muito amigo da mesa, mostra boa consistência e presença na boca, ganhou definição com o tempo no copo, o ligeiro animal que trazia dissipou e o vinho mostrou-se muito bem enquanto durou... 89pts

21 janeiro 2013

O crítico de vinhos Aníbal Coutinho atribuiu os seus Prémios W muito recentemente. É para mim uma enorme honra poder anunciar que na categoria de Melhor Blog do Ano, o grande vencedor foi o Copo de 3, um claro sinal de reconhecimento do trabalho que tenho realizado, um sinal de que vale a pena continuar a lutar para que este espaço continue a ser uma referência. Irei retribuir como sempre, com mais energia, com mais vontade, mais empenho e dedicação, porque acima de tudo os que visitam o Copo de 3 merecem. Uma palavra especial para a minha mulher, Margarida, para o meu filho Pedro Dinis, para os meus Pais, Irmão e a todos os meus Amigos que sei que andam por aí, dizer que é bom contar com gente como vocês. Obrigado

15 janeiro 2013

Cava Cristalino Brut

Deambulando pelos vinhos espumosos que vou encontrando nas prateleiras do hiper aqui perto de casa, dei de caras no outro dia com um tal Cava Cristalino cujo preço de 2,99€ me fez de imediato pegar na garrafa e averiguar de que vinho se tratava. Resultante de um lote de 50% Macabeo, 25% Parellada e 25% Xarel-lo com estágio em garrafa de 12 meses. É vinho simples com algum interesse e que se deixa beber de forma descontraida sem mais nada para dar, posso mesmo dizer que vale todos os cêntimos, apesar da simplicidade temos de ter em conta aquilo que custa, muito centrado em aromas de maçã verde, lima, carbónico e mineralidade, directo e simples, ligeiro de corpo com secura e final curto. Para entreter, para quem não quer gastar muito dinheiro e lhe apetece um espumante para meter na mesa em dia festivo ou simplesmente para acompanhar uma refeição é uma obviamente uma boa solução, para todos aqueles que procuram algo mais complexto vão ter certamente de abrir os cordões à bolsa. 85pts

14 janeiro 2013

Conde de Vimioso Espumante Extra Bruto 2009

Um dos últimos espumantes que tive oportunidade de beber, foi o Conde de Vimioso Espumante Extra Bruto 2009, da Sociedade de Vinhos Falua, o projecto do Engº João Portugal Ramos no Ribatejo. O vinho que não é novidade nenhuma, aparece com nova colheita, fruto do casamento da Touriga Nacional com Chardonnay com preço a rondar os 10/11€ em prateleira de hipermercado, acho caro e fiquei completamente sem vontade de voltar a ele. Faltou-lhe a meu ver uma capacidade de me conseguir cativar, faltou-lhe um pouco mais de presença e definição quer a nível der aromas quer a nível de sabores. Entra perigosamente num lote de muitos outros onde é o preço que acaba por fazer a diferença na hora da compra. Muito centrado no toque de pão torrado, mel e fruta de polpa branca, boca a condizer com algum volume e persistência, acabando de modo correcto. 88pts

Montes Claros Espumante Bruto

A Adega de Borba (Cooperativa) não pára, é de louvar este dinamismo daquela que a meu ver é a melhor Cooperativa de vinhos em Portugal, pelo menos a que melhores vinhos me coloca no copo sem esquecer a consistência qualitativa dos mesmos ao longo dos anos, e o preço a que os vende. No final do ano que passou lançaram novamente um espumante no mercado, o primeiro ensaio da Adega tinha sido algo tímido e quase exclusivo para os sortudos que o conseguiram comprar na WineShop da Cooperativa, já o primeiro ensaio da marca Montes Claros já está como que esquecido no tempo. Agora com loja online já não há razões para não se conseguir chegar aos vinhos de produções mais pequenas. É o caso deste novo espumante, o Montes Claros Bruto resultante da colheita 2010 no total de 5.000 garrafas, na base de Arinto e Alvarinho cujo preço bate nos 7,32€ na loja do produtor.

Foi espumante que agradou em noite festiva, vinho a querer mostrar alguma seriedade e que mesmo a solo honrou os presentes com boa qualidade onde a fruta tropical e citrino se mostram com boa frescura de conjunto, mediano tanto na presença, que não se deixa desvanecer, como no final de boca com boa persistência. Uma boa surpresa que vale a pena conhecer. 89 pts

09 janeiro 2013

Caves São João Reserva Bruto 2007 e 2008

O vinho espumante é cada vez mais um costumeiro da minha garrafeira, direi mais, um inquilino do meu frigorífico na secção que o próprio tem destinada aos vinhos. Ao melhor estilo rapper, com muito bling bling, tenho sempre uma garrafita pronta a abrir, as escolhas são Espumantes nacionais e alguns Cava (Espanha) com um target de preço a rondar os 5€. Vejo neles a capacidade de serem vinhos descontraídos e divertidos que nos fazem cócegas no nariz, saltitam no palato e são sempre consumidos bem frescos, a ligação à mesa é feita em modo tranquilo, quase sempre para inicio de refeição ou até para acompanhar uma entrada. Quando a escolha não agrada não há grande preocupação porque umas codornizes regadas com espumante ficam de estalo. Já me esquecia, a escolha recai sempre no modo Bruto.
Recentemente bebi dois espumantes das históricas Caves São João, o Reserva Bruto 2007 e o Reserva Bruto 2008, cada um custou menos de 5€ em grande superfície comercial.

Enquanto o Caves São João Reserva Bruto 2007 se mostrou com grande classe, já a evidenciar sinais de nobre evolução tão características do grandes brancos da Bairrada. Foi um deleite para todos os presentes, a evolução que debita no copo aguça a atenção, uma belíssima acidez com fruta entre o maduro e a geleia, boa envolvência na boca, algo de cremosidade, secura, leve fruto seco, grande persistência. Pelo preço foi uma excelente compra, pena que fosse filha única naquela prateleira. 92 pts

A prova do Caves São João Reserva Bruto 2008 foi ligeiramente diferente, o vinho não se mostrou tão aguerrido como na colheita anterior, alguma falta de força e de nervo, mais espaçado e com menos detalhe nos aromas e sabores que apresentava. Ainda assim boas notas de flor de laranjeira com citrinos. A acidez continua bem presente, um pouco mais contido na boca, mais coeso e menos falador. Depois da prova do 2007 a fasquia ficou alta, aqui neste caso o vinho continua a ser muito bom. 90 pts

08 janeiro 2013

Quinta de SanJoanne 2011

Gosto cada vez mais de vinhos onde a fruta se mostra bem delineada, onde nada fica escondido nem como que fazendo parte de um pequeno amontoado de coisas. Com o tempo sigo um caminho que me leva à procura da frescura e da elegância, direi até mesmo da serenidade, perdi a paciência para vinhos repetitivos e sem piada, vinhos que fazem muito barulho que quando nos perguntam se gostamos se ouve um... está engraçado ou então um... interessante. Pessoalmente continuo e continuarei no MEU caminho, longe dos gostos pré-anunciados de supostos gurus, procuro vinhos que me satisfaçam a solo ou acompanhado, à mesa ou no sofá... vinhos que me façam sorrir e pensar. Um desses vinhos é este Quinta de SanJoanne (Casa de Cello) branco da colheita 2011, resultante da junção do Loureiro com Avesso. O salto qualitativo dos brancos produzidos em Portugal foi enorme, bem mais que nos tintos, hoje temos exemplares de enorme qualidade com enorme vénia para os brancos da região dos Vinhos Verdes. Este é um vinho bonito, um vinho cuja fruta em plano moderado, madura e feliz, se besunta de mel e toques bem frescos, com citrinos, bom de cheirar com a sua ligeira austeridade mineral em pano de fundo, cativa no lado vegetal do Loureiro e a secura que mostra ter no final do palato. Todo ele pronto a beber agora, ou a guardar para ser uma surpresa daqui a alguns anos. A enologia está a cargo do mestre Anselmo Mendes, talvez o enólogo que melhores brancos produz em Portugal. Este SanJoanne liga bem com os coentros, com o alho e as gotas de limão, liga bem com o sabor a mar das ameijoas e harmoniza em grande estilo com o dito prato. O preço a rondar os 5€ faz dele uma referência obrigatória a ter por casa.  91 pts
Ameijoas by Restaurante São Rosas

07 janeiro 2013

Leione 2005

Domínio DosTares é o nome da adega do Grupo Domínio de Tares (Bierzo) instalada e dedicada à variedade local Prieto Picudo, na zona de León e Zamora. O vinhedo é velho, entre os 80 e os 110 anos de idade, o vinho em causa Leione, é da colheita 2005 e encontra-se neste momento em grande forma. A casta Prieto Picudo é quase desconhecida da totalidade dos enófilos, os vinhos a que dá origem são como não poderia deixar de ser, diferentes. A casta imprime um toque que lembra por vezes um Tempranillo, neste caso com a fruta bastante madura, concentrado e com laivo guloso, sensação de volume e fumo. Depois são as notas de cacau morno, alfarroba, floral, a conversa continua entre amigos e os narizes enfiados no copo deambulam por novos cheiros, novos sabores. A fruta opulenta embebida em compota, apesar de frescura que o suporta, mostra um vinho mais gordo e guloso que o seu primo do Bierzo. Boca com presença bem marcada, redondo e suculento, harmonioso com uma boa acidez em longo final onde a fruta parece que se mastiga. Aprecio a potência controlada que imprime durante toda a prova, gosto da maneira como evolui no copo, gostei da maneira como se ligou com uma carne de novilho na grelha, ligeiramente caramelizada e no ponto de sal. Uma ligação em cheio com o vinho em causa, vinho que conquista pela facilidade com que se deixa beber, com que nos atrai pela diferença e qualidade. O preço ronda os 12€ mais uma vez em loja online. 91pts

06 janeiro 2013

Dominio de Tares Cepas Viejas 2006

É feito em Espanha, na região denominada Bierzo pelo Domínio de Tares e é fruto da selecção da casta Mencía em vinhedo velho (neste caso mais de 60 anos). Vinho de boa consistência e um costumeiro das escolhas acertadas daquela região, o seu preço ronda quase sempre os 10/14€ e encontra-se com facilidade em lojas online. Falar da casta Mencía é quase sempre um exercício que nos leva a invocar/associar à casta que mora ali ao lado, no Dão Lusitano, a Jaen. Enquanto a casta em solo nacional teima em ganhar protagonismo digno de um registo ao mais alto nível, do lado de lá os vinhos elaborados com a Mencía têm ganho a pulso uma posição entre os grandes de Espanha e nisto em muito contribuiu o nome Palacios, provar a sua gama é a melhor forma de entender aquilo que aqui escrevo. 
Debruçando-me neste exemplar, o vinho aplaudiu a prévia decantação a que o submeti, saltando cá para fora toda a sua delicada complexidade, apoiado no carácter frutado da casta aliada ao bom trabalho de barrica.Vertido nos copos resulta um vinho muito agradável, acompanha bem uma conversa de amigos, fresco, com fruta madura e bem sólida, toque de fumeiro com leve esteva no fundo. Pelo meio alguma gulodice com cacau e regaliz presente. Boca com cacau na entrada, apimentado com travo das bagas que rebentam na boca, enrola e torna-se redondo, guloso e fresco, boa presença que invoca o bálsamo vegetal e as bagas silvestres, passagem sem arestas no palato num final longo e persistente. 
Tão fácil de gostar e de beber. 92pts

05 janeiro 2013

Quinta da Bacalhoa Cabernet Sauvignon 2005

Antes de tudo, desejo a todos um Feliz Ano 2013, dentro do possível e sempre com muita saúde e alegria. Feitos os votos deixo uma notinha sobre um clássico das nossas mesas, pelo menos da minha, vinho com história, de invejável consistência qualitativa que apresenta uma invejável capacidade de guarda e respectiva evolução em garrafa. Será talvez, direi que sim, o melhor exemplar de Cabernet Sauvignon (com uma pitada de Merlot) a ser feito em Portugal, aquele que dá um piscar de olhos ao perfil mais bordalês num Cabernet maduro de bom. A colheita em causa é 2005, o 2010 já anda no mercado, mas é neste 2005 um vinho a caminho dos 8 anos de idade que se mostrou em invejável forma, pleno de todas as suas faculdades e a proporcionar uma prova cheia de finesse, cujo preço ronda os 15€.

É naquele rótulo com lamiré de um qualquer chateau de Bordéus que tudo começa, o facto do rótulo ser dos poucos clássicos que resiste à tentadora mudança dos tempos modernos é de louvar, o que mora lá dentro vai ao encontro do esperado, um vinho que se bebe com enorme prazer, com muita fruta na forma de bagas, apimentado, laivo de grafite com a baunilha leve misturada no conjunto maduro, todo ele bem delineado e fresco, elegância e harmonia. Na boca repete e segue a mesma linha condutora do nariz, o travo a especiaria com elegância e frescura, delicadeza e boa presença no palato a deixar sensação de secura no final que pede mesa. É vinho que não pesa, que se bebe tão bem que depois da primeira podia vir a segunda, vinho que mostra a razão pela qual vale a pena esperar um pouco mais por ele. 93pts

Bochechas de Novilho estufadas em vinho tinto by Restaurante São Rosas
 
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