Copo de 3: setembro 2013

26 setembro 2013

Casa da Passarella O Brazileiro Rosado 2012

Um rosado de 2012, proveniente do Dão, de um dos produtores que mais reboliço tem criado na região no último ano, falo da Casa da Passarella que com os seus vinhos e novas roupagens tem dado bastante que falar. Não é por menos pois a qualidade está à vista de todos os que lhe estenderem o copo, por uns meros 4€ pode-se desfrutar de um rosado (Touriga Nacional e Tinta Roriz) delicado com mediana intensidade, onde a fruta vermelha (morango, framboesa, cereja) fresca e sumarenta se embrenha no mato rasteiro com toque de ligeira secura no fundo. Nada complicado e pronto a saltar para a mesa, tal como todos os vinhos do produtor em causa. E copo a copo a garrafa vai ficando vazia, descontraído, simpático e nada pesado, perfeito com canapés ou uma pasta fresca com salmão fumado e ricotta... tem uma acidez suficiente para contrabalançar com todo o prato. Belíssima relação preço/satisfação. 88 pts

25 setembro 2013

Lagar de Darei Grande Escolha branco 2008


Custa-me acreditar que brancos desta natureza e calibre qualitativo não sejam, nos dias de hoje, mais procurados, divulgados e até consumidos. O contacto que tive até agora com os vinhos deste produtor sediado no Dão (Mangualde) foram ocasionais, sempre se mostraram com uma vontade muito própria, cuja alma se manifesta de forma espontânea sem andar atrás de malabares oportunistas. Acho no entanto que não será vinho para todos aqueles que continuam insistentemente à procura do não sei quê que se faz não sei onde mas que nunca encontram. É e continuará a ser um vinho para amantes da qualidade e identidade muito própria associada a uma região, o Dão. O vinho foi colocado em prova por dois amigos de longa data, o Rui e o Miguel, que são a alma do grupo por eles criado #Daowinelover.

O branco Grande Escolha da Casa de Darei é composto por lote de 58% Encruzado, 28% Bical e 14% Cerceal, tem direito a pisa a pé e estágio de três meses em barrica de carvalho francês. Vinho complexo, decadente e outonal, tudo aqui indica o nobre sentido da evolução no tempo, mostra um toque de avelã (confere alguma sensação de untuosidade em conjunto com o arredondamento da madeira), fruto branco e citrinos algo maturados, em fundo leve petrolado. Muito elegante, com uma deliciosa acidez que o torna fresco e equilibrado, em final persistente e longo. 92 pts

20 setembro 2013

Quinta do Cardo Síria 2006

Foi ao vasculhar por entre a garrafeira que encontrei este branco, olhei para o ano de colheita sorri e pensei que só ali poderia estar por esquecimento... um esquecimento com sete anos. O vinho terá sido comprado na altura pelo motivo de estar na moda, porque se falava e muito, era tema recorrente de conversas entre os seus admiradores com grandes dissertações sobre os seus peculiares aromas de tangerina. Hoje em dia é apenas mais um entre tantos, engolido pela voracidade de um mercado alimentado pelo factor novidade.
Foi escolhido entre outros para ser atirado para o meio da arena, as minhas expectativas eram poucas ou nenhumas, certamente seria mais um a ser trucidado por aqueles que lhe estenderam o copo. Para surpresa minha e espanto de mais uns quantos presentes o vinho safou-se com grande estilo, direi que surpreendeu pela graciosidade que ainda lhe percorre a alma. Decadente com toques de natural oxidação, mostra toque apetrolado com capacidade para cativar momentaneamente onde se junta fruta (citrinos) macerada, mel e flores amarelas. Prova de boca com boa frescura, untuosidade mediana na passagem com fruta melada e fresca em sintonia com nariz. No final não deixa de ser curioso que gostei mais deste vinho neste estado do que quando em novo. 89 pts

17 setembro 2013

Alves de Sousa Tapadinha Grande Reserva 2009

Foi-me apresentado na Prova anual dos Independent Winegrowers Association, nome que abraça um conjunto de altas individualidades no que a produtores de vinho diz respeito. Na mesma sala juntam-se Casa de Cello, Alves de Sousa, Luis Pato, Quinta do Ameal e Quinta dos Roques num apanhado do que de melhor se faz em Portugal. Em destaque por agora coloco uma recente criação do produtor Domingos Alves de Sousa, proveniente da Quinta da Tapadinha com a respectiva vinha dominada pela Touriga Franca.

Em formato Grande Reserva cujo preço recomendado ronda os 25€, o resultado de 2009 mostra um vinho sério, de aroma guloso, carregado de fruta sumarenta (ameixa e amora preta) e bem madura, especiarias, baunilha, balsâmico ligeiro, chocolate preto, estruturado e denso. Boca a mostrar frescura no sustento de toda a estrutura com uma fruta que domina por completo a passagem de boca, concentrado de sabores, junta toques de after-eight, cravinho, café torrado, harmonia e força de um conjunto que no fundo mostra taninos que lhe conferem ligeira secura no palato. Um Douro moderno cheio de tiques que fará as delícias dos amantes do estilo... 91 pts

11 setembro 2013

Domaine des Baumard "Clos Ste.-Catherine" 2007

Esta é uma paixão antiga, daqueles vinhos que nos deixam um sorriso que se partilha com aqueles que mais se gosta de ter ao lado, Baumard é para mim sinónimo de génio do vinho e um dos melhores produtores do mundo no que a brancos diz respeito. Independentemente de toda a conversa que façam à volta do tema são estes vinhos que me dão um prazer imenso, é no Loire que encontro os brancos que melhor se encaixam no perfil de vinho que gosto e também para o tipo de cozinha que costumo fazer em casa. Tudo isto serve para confrontar a ideia de que os melhores vinhos do Mundo não são os definidos pelo gosto de outra pessoa, os melhores do mundo são aqueles que nós gostamos e o Loire é um dos recreios que gosto de frequentar.

Um desses produtores que não me farto de recomendar a todos os meus amigos, é o Domaine des Baumard, que fica situado a norte da appellation Coteaux du Layon, perto de Quart de Chaume. Criado em 1634, altura em que se plantaram as primeiras vinhas pelos antepassados de Florent Baumard (actual proprietário), foi apenas em 1955 que Jean Baumard toma conta do Domaine, adquire parcelas na appelation de Quarts de Chaume em 1957, e Savennières em 1968. Desde essa altura que se tem vindo a notabilizar como produtor, até que em 1990 é o seu filho Florent Baumard que toma controlo do Domaine, elevando ainda mais a qualidade e o reconhecimento dos vinhos ali produzidos. É um dos aclamados mestres da casta Chenin Blanc, e um dos mais reputados produtores do Loire e de França, com destaque mais que justo para os seus vinhos e a qualidade que imprime quer a nível de terroir quer a nível de qualidade em todas as gamas. O destaque vai obrigatoriamente para os brancos secos e doces, desde as appellations de Savennières, Coteaux du Layon e Quarts de Chaume, onde contrariamente a outros, nenhum branco tem passagem por madeira. Em Coteaux du Layons temos o Clos de Ste Catherine e o Cuvée Le Paon. Enquanto o primeiro provem de uma vinha de solos arenosos o segundo é fruto de uma selecção de uvas atingidas por podridão nobre e apenas é feito nos melhores anos. Como topo de gama temos o Quarts de Chaume, da melhor vinha do produtor.

Este Catherine é um vinho com uma belíssima acidez que se combina com uma fina capa de mel e limão. Sensualidade a rodos, sente-se mineralidade, tudo muito detalhado com alta definição nos aromas, alperce, maçã, toque de botrytis, tília. Na boca todo ele é classe, delicadeza, um rigor e precisão aqui e ali, acidez muito presente a contrabalançar a suave sensação de doçura, arredondado com passagem levemente adocicada o suficiente para se tornar pecaminosa em final muito longo e persistente. O preço ronda os 32€ por garrafa, não sendo barato vale cada cêntimo. 94 pts 

Solar dos Lobos Freya Reserva 2009

Sediada na Serra d´Ossa, a Herdade Vale D´Anta que deu nome aos primeiros vinhos que dali saíram, reformulou por completo a sua imagem. Nos últimos tempos essa reformulação deu lugar a um conjunto de rótulos diferentes e bem dispostos, capazes de fazer a diferença numa qualquer prateleira.Com todas estas mudanças fico sem saber se este Reserva 2009 com o nome de Freya é o mesmo Reserva que já tinha visto à venda apenas com rótulo diferente.

Mostra o aroma dos modernos vinhos do Alentejo, não engana nas origens mostrando-se fresco e sem excessos, raçudo e com boa energia colocada por uma fruta escura (amora, ameixa) madura e redonda mas onde a frescura da mesma não ficou esquecida. No conjunto sente-se a força do Alicante Bouschet, um toque que contribui para a harmonia dado pela leve tosta da barrica, café, leve floral e pimenta preta. Boca com muita presença de fruta, envolvente com frescura, harmonia sentida entre boca e nariz, elegante com leve recorte balsâmico no final de boca de boa persistência. O preço ronda os 10€, mostrando-se muito pronto a beber mas que não vira costas a mais um tempo de guarda. 91 pts

10 setembro 2013

Vila Santa Reserva branco 2012

Um dos produtores de topo a nível nacional com excelência reconhecida dentro e fora de portas, é assim que se caracteriza João Portugal Ramos recentemente nomeado pela prestigiada revista Wine Enthusiast para Produtor Europeu do Ano. Este Vila Santa Reserva em formato branco vai buscar inspiração a um trio de castas (Arinto, Alvarinho e Sauvignon Blanc) fugindo claramente a um perfil que se identifique como Alentejo. O preço é aqui novamente um factor a ter em conta, abaixo dos 10€ coloca-o junto das grandes relações preço/satisfação do mercado.

Um vinho sério que facilita a prova com uma muito boa prestação ao nível da qualidade e limpeza da fruta (citrinos e tropical) combinando com a subtileza que a barrica lhe confere. Cheio de finesse mostra boa frescura de aromas e sabores, delicada complexidade condimentada por toque de especiaria e mineral em fundo.Na boca tem nervo, pensado com princípio, meio e fim. Um vinho que dá prazer e vontade de continuar a beber, muito bem feito e que certamente fará as delícias a uma plateia bem alargada de consumidores. 92 pts
Restaurante El Rincón de Antonio:  Garbanzos de Fuentesaúco al ajo arriero zamorano, boletus de Sanabria.

06 setembro 2013

Quinta do Gradil Verdelho 2012

Encerro o trio de brancos de boutique feitos pela Quinta do Gradil da colheita de 2012 com o Verdelho. Aqui reina a frescura, tudo o que é fresco e lembra frescura está presente no mostruário deste vinho, deste a fruta tropical, limão, lima, à relva fresca, tudo bem arrumado e com exuberância moderada. A prova de boca encontra-se em harmonia com a de nariz, com uma entrada bem sumarenta com toque de limão, seguindo um travo vegetal e por fim uma secura que o acompanha até ao adeus final na boca. O preço recomendado é 6,49€ num branco onde se destaca a baixa graduação(11,5%) e toda a apetência que mostra ter para acompanhar entradas e pratos de marisco de elaboração simples e pouco condimentada (ameijoas ao natural por exemplo). 89 pts

Quinta do Gradil Sauvignon Blanc & Arinto 2012

Mais um branco da Quinta do Gradil, também ele de 2012, desta vez domina a Sauvignon Blanc com um aconchego da Arinto. Da primeira vem o toque da fruta de caroço, cheia e carnuda, pêssegos bem maduros ligeira tropicalidade (maracujá), da segunda chega a acidez e os toques citrinos e ligeiro vegetal fresco com folha de limão. Sem grande exuberância o vinho mostra-se mediano na intensidade, delicado no embrulho mas com sensação de que foi passado a ferro de engomar. Na boca mostra boa frescura com alguma fruta em destaque (citrinos), o resto termina com ligeira secura e algo linear. O preço recomendado é 5,70€ pelo que a relação preço/satisfação é positiva. Foi feliz com uma salada de salmão grelhado regada por uns pingos de sumo de lima. 89 pts

05 setembro 2013

Quinta do Gradil Viosinho 2012

Projecto sólido e com credencias mais que confirmadas na região ao longo dos anos de história que envolvem a Quinta do Gradil. Alerta aos mais distraídos, fica situada aqui bem perto de Lisboa portanto é mais um bom motivo para se fazer uma visita e fugir da rotina. Os vinhos deste produtor têm vindo a ser provados por aqui ao sabor do vento, vão surgindo pontualmente e desta vez chegaram-me ao copo três lançamentos (Verdelho, Sauvignon Blanc/Aringo, Viosinho) mais recentes em autentico formato branco de boutique, bem perfumados com aromas frescos a pedirem temperaturas de serviço mais baixas com comida a condizer. Destaco aquele que mais gostei, não só pela riqueza da sua fragrância como pela delicadeza que todo o conjunto apresenta, um 100% Viosinho que tão boa surpresa mostrou ser aliando um preço 6,50€ bastante aliciante.

De aroma com boa exuberância, não tão no fio da navalha como se costuma encontrar no Douro, mostra-se bem convidativo e arredondado, franco e roliço com equilíbrio, balanço entre acidez e uma fruta mais redonda e cheia. Domina o aroma a ameixa branca, limão, toranja e todo um ramalhete de aromas festivos e bem frescos, remata com sensação mineral. Na boca deixa-se levar por tudo o dito e achado na prova de nariz, saboroso e refrescante, franco e saboroso. 90 pts

03 setembro 2013

Herdade do Perdigão Reserva branco 2010

Não haverá grande volta a dar quanto ao perfil apresentado pelo topo de gama branco da Herdade do Perdigão (Monforte). O vinho é um Alentejano de gema, 100% Antão Vaz que decidiram estagiar  em barrica que por sua vez o marcou o suficiente para lhe conferir arredondamento e alguma gordura a mais, o ano em si também não me parece que tenha ajudado muito. No nariz destaque para aroma de creme de pasteleiro, limão e ananás, tosta a conferir-lhe o peso e arredondamento, floral tímido com sensação de untuosidade que nos deixam empanturrados caso o consumo seja feito fora da zona de conforto, ou seja, fresco. Na boca entra moderado na acidez, flores, corpo arredondado com peso da fruta sumarenta e anafada em harmonia com a prova de nariz. O vinho não cambaleia, é um gigante anafado de passada larga que carrega uma às costas uma enorme e pesada caixa de madeira cheia de fruta. O preço situa-se junto dos 12€ num vinho que certamente não sendo do agrado de todos (longe dos que procuram vinhos com acidez vincada) mostra qualidade, ainda que ligeiramente abaixo do Reserva branco 2008. 90 pts

Tons de Duorum branco 2012

O vinho quase dispensa apresentações, é por si só um daqueles brancos de boa relação preço/satisfação do nosso mercado, o preço ronda os 3,99€ em grande superfície comercial. Arrisco-me a repetir aquilo que sobre ele já foi dito na blogosfera nacional, mesmo que a sua vontade mude conforme o ano que o marca, o vinho tem uma consistência salutar. Neste caso a boa frescura da fruta mostra-se em destaque, floral e geleia, traçado mineral de fundo com lucia-lima no fecho do conjunto. Boca com entrada marcada pelo sabor a fruta de caroço, leve amargo vegetal, sente-se ligeiramente tenso e com sensação que perdeu peso e ganhou frescura e leveza, precisa de algum tempo para se desenvencilhar do pequeno novelo que encerra a sua complexidade. Saiu assim menos imediato, menos barulhento, nota-se talvez como alguns dizem, um pouco mais tímido e sem grande vontade de chamar a atenção. O resultado final é bastante positivo, porta-se bem à mesa em modo esplanada ou refeição na varanda com amigos e guitarradas. 89 pts
 
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