Copo de 3: novembro 2013

28 novembro 2013

La Chispa Negra 2008

Conquistou-me desde a primeira vez que o provei no dia em que visitei o produtor em Toro, foi mostrado como  Anthony Terryn (Dominio del Bendito) sempre nos mostra os seus vinhos, com um brilho nos olhos, uma satisfação plena de quem ali naquele momento nos mostra o resultado de muito trabalho, de muita dedicação e acima de tudo uma paixão imensa pela terra. O vinho é classificado como vinho de mesa, o que aqui não interessa rigorosamente nada, um tinto doce, elaborado a partir de uvas de Tinta de Toro passificadas de maneira natural. O resultado é um vinho surpreendente, onde fruta suculenta, notas de passa, canela, se combina numa bela complexidade, nota que a concentração de açúcar se rebate pela belíssima acidez que lhe percorre todo o corpo. Custa 28,50€ na loja do produtor e torna-se uma perdição a acompanhar chocolate negro. 93 pts

Esporão Private Selection branco 2009

A Herdade do Esporão (Alentejo) celebrou recentemente os seus 40 anos, desde sempre teve por costume convidar um artista para lhe "decorar" os rótulos, terá sido pois o primeiro vinho a nascer em Portugal onde a Arte e o Vinho andam de mãos dadas. Não faz muito tempo lançou para o mercado uma série de rótulos da autoria da artista plástica Joana Vasconcelos, que serão dos mais belos que me lembro em Portugal. A cair no copo tenho o Private Selection branco de 2009 (pvp 24€), um vinho que não gosto de beber no imediato quando é colocado no mercado (provado recentemente o Private Selection branco 2011), gosto de lhe dar algum tempo em garrafa, para serenar todo aquele conjunto cheio de frutas (alperce, pêra, coco) com ligeira calda, tosta... Por agora o aroma mostra-se complexo, a madeira mais acomodada, muita elegância da fruta bem presente. Relembro que o lote deste vinho é tudo menos Alentejo, nele moram coisas como Semillon, Marsanne e Roussanne, um conjunto de hippies que veio de fora e lhe deu origem. Na boca  cativa pela sua envolvente, untuoso com sabor a fruta fresca e gorda, roliço sem cair no enjoo salvo por uma acidez mais que suficiente, todo ele com muito sabor e longo final. 93 pts 

27 novembro 2013

Lima Mayer 2008

Os vinhos Lima Mayer nascem ali para os lados de Monforte, são vinhos criados por Rui Reguinga e cabe desta vez falar sobre o Lima Mayer tinto da colheita de 2008 (pvp a rondar os 12€). Estes vinhos apenas vêm a luz da prateleira quando atingem um ponto de consumo que o produtor considera ideal, mesmo que ainda neles habite a possibilidade de envelhecer por mais uns bons anos. Neste caso é o 2008, um vinho de recorte mais clássico deixando de lado opulências desmesuradas, é elegante e fresco, envolto numa fina complexidade, barrica integrada onde apenas ajuda a complementar todo o conjunto. É um vinho bonito e feito com muito bom gosto, desponta ligeira austeridade numa prova de boca com corpo mediano mas cheio de sabor e boa persistência, acompanhe-se com umas costeletas de borrego panadas. 91 pts

.Com 2010

O vinho que se segue da autoria do produtor Tiago Cabaço (Estremoz), é um vinho cujo preço não foge muito aos 3.80€ e o coloca no apetecível patamar do consumo diário, com qualidade bem acima da média. O que se destaca é que sem sequer sentir o cheiro da barrica, apenas navega no frio do inox, um vinho com carácter que apresenta estrutura e robustez suficiente para namorar uns bons tempos na garrafa. Para já, está com a barba por fazer, expressivo na fruta madura com travo de pimenta preta e chocolate preto, boa intensidade em nariz e boca, frescura suficiente para evitar desmaios numa estrutura firme com taninos algo presentes. Para o despachar agora recomenda-se prato com boa intensidade nos condimentos, uma Cachola de Porco por exemplo. 89 pts

26 novembro 2013

Olho de Mocho Reserva 2010 , os encantos da Vidigueira.

A Herdade do Rocim tem pé ante pé, vindo a afinar os seus vinhos, o detalhe e o bom gosto tomaram conta daquela Herdade ali bem perto da Vidigueira. Nota-se na envolvente de toda a gama de vinhos, no carinho que os envolve, até na maneira como são dados a conhecer, nada é deixado ao acaso, novamente um mundo de pequenos mimos dirigidos por uma mão feminina, a mão da produtora Catarina Vieira. E nesta caminhada vão sendo afinados e retocados colheita após colheita, aprendendo e mostrando que ali é possível nascerem grandes vinhos.

O Olho de Mocho Reserva está agora melhor que nunca, brilha nesta sua colheita de 2010, mostrando raça, frescura e elegância. Todo ele muito afinado, muito bem detalhado com aromas maduros, numa bonita complexidade que está a cargo do trio Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Syrah. Cheio de vigor de uma fruta suculenta e fresca, muita garra mas ao mesmo tempo elegância a despontar com uma boca cheia de sabor a fruta sumarenta com apontamentos da barrica bem integrados. Beba-se agora que dá muito prazer, neste caso foi com um fantástico Arroz de Pato no forno, o preço ronda os 15€ e mostra-se sensato face ao apresentado. 91 pts

25 novembro 2013

Clos Floridène blanc 2012

É no terroir de Graves (Bordéus) dominado pelo cascalho e de forte presença calcária, que nascem vinhos brancos de enorme qualidade e com forte personalidade. O Clos Floridene, criado por Denis Dubordieu, apelidade como o mestre dos brancos de Bordéus, tem como base um lote de 52 % Sauvignon Blanc - 47 % Sémillon - 1 % Muscadelle com direito a  passagem por madeira. Este branco seco tem a amabilidade de envelhecer nobremente, muito sereno ganha com cada ano de garrafa, por agora o 2012 mostra um nervoso miudinho de como quem ainda anda a decorar o guião. O preço varia conforme o local, mas encontra-se com preços que variam entre os 15-19€.

Todo ele puro, repleto de fruta branca, notas de limão maduro e rechonchudo e alguma flor, pêssego, pelo meio mostra leve tosta, croûtons, com final marcante e muito mineral (pederneira). Vinho sério, cheio de sabor, secura com o fruto de caroço a marcar presença, pêra bem rija, tenso com corpo médio e todo ele a mostrar elegância e pureza. Apesar da prova que dá ser muito boa está claramente virado para brilhar daqui por um par de anos, dizem que é feito para a barreira dos 10 anos, eu não sei se o consigo aguentar tanto tempo assim no descanso da cave. De momento, servido com dupla decantação, brilha a acompanhar um Arroz de Lingueirão. 92 pts

20 novembro 2013

Lello 2010

Chega do Douro este Lello colheita 2010, produzido pela Sociedade dos Vinhos Borges cujo preço ronda os 4€ numa grande superfície comercial. Vinho fácil de encontrar e de fácil abordagem, nada complicado mostra o toque terroso do Douro, mais robusto e menos macio, com secura no fundo e algo agreste. Passagem de boca com muito sabor a fruta escura esmagada, ameixa e cereja, frescura média num conjunto correcto e agradável. 86 pts

19 novembro 2013

Quinta das Bágeiras Super Reserva 2010

Vindo de onde vem este Espumante Super Reserva (preço a rondar os 9€) não poderia ser diferente daquilo a que o produtor Mário Sérgio e a sua Quinta das Bágeiras (Bairrada) já nos têm acostumado ao longo dos anos. Aqui na sua colheita 2010, desfila num perfil bem clássico e fora de modas, conjugando raça e austeridade, resultando num conjunto de boa intensidade com notas de ameixa branca, citrinos, amêndoa pelada. Na boca saboroso, muita frescura com fruta a dar o corpo ao manifesto e a marcar presença (citrinos), secura em fundo num conjunto que mostra vigor e equilíbrio. Nada meigo e a exigir bons pratos por perto, por exemplo uma Massada de Peixe. 90 pts

17 novembro 2013

Termeão Pássaro Branco 2007

Rezam as lendas contadas por alguns aventureiros que lá por detrás das montanhas mora uma terra que dá vinhos de sonho, por lá tudo será maravilhoso e muitos nunca mais de lá saíram tamanho o feitiço e poder das terras de Pinot e Chardonnay. Não fará muito tempo que tive oportunidade de provar alguns tintos de lá oriundos, vinhos que as pessoas à minha frente se acotovelavam para levar um simples gole à boca, naquele primeiro lote de frascos poucos foram os que me enfeitiçaram... corro o risco de afirmar que este Termeão da Campolargo (Bairrada), um lote bem nacional composto por Touriga Nacional e Castelão, se mostra bem melhor que alguns daqueles básicos Borgonheses. O tempo que leva de garrafa fez-lhe maravilhas e transformou o vinho num misto de elegância, frescura, perfume e prazer, com uma fruta em leve toque doce e muito limpa. Custou face ao que mostra a bagatela de 6€ numa grande superfície, 91 pts

15 novembro 2013

Cardeira Reserva 2010

Cativou-me pelos primeiros aromas que debitou no copo este Cardeira tinto em formato Reserva 2010. Alentejano vaidoso com um extra de charme acrescentado pela barrica de boa qualidade onde nadou, coisa boa portanto, depois é fruta grossa e bem madura, redonda, com muito suco à mistura. Embrulha-se tudo em tosta, baunilha, cacau morno e algum pelo na venta. Mostra-se bom de corpo, presença acima da mediania, muito bem por sinal. Tudo para afinar, o vinho apesar de algum atabalhoamento que tem, aqui precisava de um pouco mais de descernimento e definição naquilo que tem para mostrar, dá prazer e acompanhou muito bem um cozido de grão. Preço alto a rondar os 20 e picos euros. 91 pts

14 novembro 2013

Luis Pato Vinhas Velhas branco 2012

O famoso Vinhas Velhas de Luis Pato (Bairrada) anda com nova roupagem, perdeu aquela cápsula dourada que o destacava entre a multidão, no entanto o vinho continua bem fiel às origens mantendo toda a sua voracidade por tempo de garrafa. Feito com Bical, Cerceal e Sercialinho sem qualquer passagem por madeira, é daqueles vinhos que se alimenta de tempo em garrafa, cresce com isso, evolui e surpreende pela refinada complexidade que então debita no copo. Este que agora falo é o 2012, muito coeso com o aroma a ser uma amalgama de citrinos maduros, pederneira e leve vegetal. Na boca é a frescura que o guia, mineralidade de fundo, marcante no palato com citrinos, fruta de caroço e sensação de algum arredondamento ainda que muito ligeiro. Vinho com muita garra, nervo, direi que muito novo e que precisa de dormir. Por pouco mais de 6€ temos acesso a um belíssimo branco. 92 pts


13 novembro 2013

Marquês de Marialva Baga Bruto Reserva 2011

O que temos aqui é um Espumante Bruto branco elaborado a partir da casta tinta (Blanc de Noirs) Baga feito na Adega Cooperativa de Cantanhede (Bairrada). Um espumante que alia todo o vigor e vivacidade da casta Baga a uma harmonia e delicadeza cativante cujo resultado se esconde atrás de uns bonitos contornos platinados. Na boca é refrescante, sem nunca esconder o vigor da fruta que mostra boa presença, envolto em toque levemente fumado. Uma belíssima surpresa tendo em conta o preço a rondar os 6€, muito recomendável a acompanhar entradas de bom tempero como por exemplo umas iscas de leitão. 90 pts

06 novembro 2013

Quinta do Poço do Lobo Bruto 2008

Fruto de uma recente visita às Caves São João (Bairrada), tive oportunidade de conhecer este espumante, Quinta do Poço do Lobo 2008, um Bruto elaborado em partes iguais de Arinto/Chardonnay. Já aqui tinha falado acerca do Caves São João Reserva, a diferença começa neste que agora falo pela entrada da casta Chardonnay em troca pela Bical e Maria Gomes com o estágio em garrafa, sobre borras, neste caso a ser de 36 meses. O resultado é um espumante elegante e fresco, marcado por citrinos bem maduros, frescura com mousse fina  envolta em toques de fermento, pão torrado. Conjunto com alguma evolução no bom sentido, aconchega mais durante a sua prova, todo ele bem balanceado e a proporcionar bastante prazer à mesa. 91 pts

05 novembro 2013

Terras Gauda Etiqueta Negra 2010

Do outro lado do Rio Minho no vale de O Rosal, mora uma adega especializada em vinhos brancos, Terras Gauda, fundada em 1990. A fama dos seus vinhos desde cedo passou fronteiras e sem perderem muito tempo lançaram um topo de gama no mercado, um branco com direito a uma longa battonage e passagem por madeira. Na altura em Portugal ainda se estava a acordar para aquilo que são nos dias de hoje os fantásticos Alvarinho, Loureiro e companhia. Se naquela altura estava rendido ao trabalho feito do outro lado do rio, hoje em dia é deste lado que rejubilo de alegria com o que me cai no copo. No entanto este Terras Gauda Etiqueta Negra era e continua a ser um dos mais caros brancos de Espanha, preço ronda os 40€. 

O lote  (70% Albariño, 20% Loureiro, 10% Caíño blanco) resulta num vinho cheio, fresco e arredondado com toques de cremosidade sentida junto de flores brancas e fruta (pêssegos, nectarina, limão) muito limpa resultando um bouquet muito bonito e detalhado, a mostrar classe e elegância. Não se cheira e se fica indiferente ou que não se pede o segundo copo para beber... neste caso a garrafa fica vazia e ainda dá vontade de continuar. Boca com boa dose de acidez, nada vincado mas muito sabor no palato com textura suave, fruta madura em calda complementam o final com ligeiro mineralidade, persistência alta. 

O preço parece-me exagerado, apesar de gostar do que me caiu no copo encaro o preço estipulado pela adega como um querer marcar posição no segmento da exclusividade e dos vinhos de boutique. 92 pts

Georg Breuer Terra Montosa 2002

Já faz algum tempo que numa das passagens pela grande superfície comercial aqui perto de casa, me deparei com uma grande quantidade destas garrafas a preço irrecusável, 5€ cada. A compra valeu bem a pena pois o vinho em questão tem proporcionado por mais que uma vez uns belos momentos de prazer. Esta terá sido das que melhor se mostrou, um Riesling do produtor Georg Breuer (Alemanha) pleno de saúde que claramente ganha com decantação prévia, não se descarte pois um bom par de horas de repouso em decanter, porque a magia acontece e o vinho desperta do seu longo sono com uma classe e finesse de aromas muito bonita. 

De mediana intensidade, atraente e delicado, agradável e refinada complexidade, cera de abelha, mineralidade, toque petrolina, fruta de caroço (pêssego, damasco) a pingar alguma calda, depois é frescura a envolver tudo. Na boca entra guloso, levemente melado, a harmonia entre elementos é plena, sem ser arrebatador dá uma prova de grande classe, saborosa e com o seu encanto onde a acidez marca pontos, a mineralidade junta-se à fruta suculenta e acaba na colherada de mel muito fino. É vinho no qual se deambula pelo copo à procura de coisas que escrever e descrever, depois fechamos o caderno e acabamos o resto do decanter... 92 pts

01 novembro 2013

Gutierrez Colosía Palo Cortado Viejisimo


Herdeiras de uma longa tradição, as Bodegas Gutierrez Colosía (Jerez) cuja primeira adega foi construída em 1838 mantendo-se até aos dias de hoje, passando por vários proprietários até principio do século XX em que são compradas por D. José Gutiérrez Dosal (bisavô da actual geração da família  Gutierrez Colosía). Este Palo Cortado é um vinho raro e um tesouro guardado na adega por mais de 50 anos, a quantidade que é lançada no mercado anualmente é diminuta e ronda as 500 garrafas de 375ml.

Mais de meio século de clausura faz com que tenha atingido uma complexidade muito bonita a todos os níveis, profundo com nariz pungente onde despontam aromas iniciais de verniz, muito fruto seco tostado (amêndoa e avelã) barrados por toque amanteigado, creme pasteleiro, tâmaras, laranja caramelizada, madeira velha, envolto num ambiente que aporta a sensação de untuosidade. Na boca entra cheio de sabor, ligação directa à prova de nariz, acidez muito presente envolto por untuosidade, amêndoa, avelã, toque salino, tem muito boa presença  num final de enorme persistência.Como se pode ler no rótulo, é um grande vinho de meditação, sozinho ou acompanhado. 95 pts
 
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