Copo de 3: LA BOTA DE AMONTILLADO VIEJÍSIMO (nº5) NPI

14 abril 2014

LA BOTA DE AMONTILLADO VIEJÍSIMO (nº5) NPI

Na vida de enófilo há momentos únicos e que desejamos um dia poder repetir. Este é mais um desses casos, passados tantos anos do seu lançamento e da primeira vez que o bebi, eis que me volta a cair no copo. Como breve nota introdutória este é o vinho mais antigo da casa Sánchez Ayala, está dentro de uma velhíssima bota (barril) rotulada com as letras ''NPI''. Quando o penúltimo capataz da adega, reformado no início do séc. XXI, ali chegou nos anos 60 do passado século, já morava no seu interior um amontillado muito velho. Desde essa altura, praticamente ficou intacto, de facto a primeira saca que merece tal nome é a que a Equipa Navazos realizou em Janeiro de 2007, duzentas meias garrafas, quantidade equivalente a 15% do conteúdo da bota. O volume que se tirou foi reposto com outro amontillado muito velho a fim de assegurar a continuidade deste fantástico vinho, cuja idade média é difícil de estabelecer, devendo rondar os 100 anos. A sigla ''NPI'' não deixa de ser curiosa, a explicação dada por um dos históricos donos da adega é que na altura de estabelecer uma idade para o referido vinho, disse: Ni Puñetera Idea.

E é nesta onda de mistério, tradição e exclusividade tão intimamente ligadas a Jerez, que este Amontillado literalmente nos esmaga com aquilo que mostra em prova.Um vinho que não é de fácil abordagem, precisa de tempo e dedicação, precisa que haja vontade de se querer entender o que nos tem para dizer, intrigante, fascinante e de uma complexidade enorme, um autêntico vinho de compêndio onde nada parece falhar ou ficar esquecido. De inicio há que dar tempo para as lacas e verniz saltarem borda fora, cesta de frutos secos com toque de iodo, toque muito salino a fazer lembrar a maresia, barrica velha, fruta cristalizada (laranja), cardamomo, anis estrelado... Na prova de boca é arrebatador, desafiante para o palato com inicio a mostrar aquele toque de fruto seco, ao mesmo tempo salgado num todo embrulhado pela untuosidade (nougat) adquirida ao longo das décadas de estágio, arredonda nos cantos com imposição total no palato, marcante, caramelo torrado, com uma frescura que lhe corre pela alma. Direi mesmo que não tem fim. São vinhos como este que me fazem sonhar,  tudo fica parado à minha volta, silêncio, apenas eu e o copo. 100 pts

4 comentários:

Anónimo disse...

ah, como é que não reparei ainda neste blogue! os vinhos de Jerez (e mais ainda de Sanlucar) são uma grande paixão minha, é pena que são praticamente desconhecidos das garrafeiras portuguesas... e também pelos outros vinhos que tem andado a provar, muitos parabéns, é uma selecção muitas vezes espectacular que me causa alguma inveja!

Ricardo disse...

Excelente experiência, ó João Pedro, parabéns.

Esses vinhos exigem muita predisposição para serem bem apreciados. Encontrar o momento, a altura certa, para disfrutar de um amontillado como esse, pode chegar a ser questão de semanas ou meses.

Vinhos para a solidão desejada, para beber calma e lentamente enquanto tudo à volta vai parando, nem é preciso pensar muito, é mais apreciar as sensações que vão acontecendo em sucessão.

Cumprimentos.

João de Carvalho disse...

Ricardo, a evolução do vinho no copo durante dois dias foi uma coisa fantástica... mesmo já vazio continuava como que a cantar baixinho. Mas a coisa ainda não fica por aqui, tenho felizmente mais Jerez para falar.

Ricardo disse...

Chegados a este ponto, João Pedro, talvez seja boa ideia abrir uma garrafa de Amontillado da DO. Montilla - Moriles (Córdoba), de onde este vinho vai buscar o nome, os tons e as expressões originais.

É bom lembrar que os vinhos da DO. Montilla - Moriles são maioritariamente provenientes da Casta Pedro Ximenez, Casta esta que proporciona aos vinhos secos, fundamentalmente Fino, Amontillado e Oloroso, um carácter diferente do que se faz em Jerez, onde a Casta predominante é a Palomino para essas mesmas variedades de vinho. As Bodegas Perez Barquero, que já têm colaborado em diversas ocasiões com a Equipa Navazos (Fino-Amontillado, Amontillado, PX, e mais algumas coisas, provavelmente Brandy também e que era óptimo), e produzem Amontillados próprios da gama media e superior formidáveis.

Pessoalmente, durante o inverno passado, desta mesma Região, e das Bodegas Delgado, andei a beber no dia-a-dia e antes do almoço, meio cálice de Amontillado Natural Muy Viejo (Faraon), antes de passar ao Fino Segunda Bota dessa mesma Bodega ou para outros Finos Jerezanos ou Manzanillas de Sanlúcar.

Creio que merece a pena provar Amontillados Cordobeses destas Bodegas mencionadas e de mais alguma outra, talvez a Alvear, e a Navisa - Cobos.

Cumprimentos e Boa Páscoa.

 
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