Copo de 3: abril 2015

29 abril 2015

Marquês de Marialva Baga Blanc de Noir 2013

Chega da Adega de Cantanhede este espumante que cativa logo de início pela misteriosa tonalidade que nos mostra no copo. Feito a partir de uma casta tinta (Baga) que alia todo o vigor e vivacidade tão característicos da Baga, com muita fruta encarnada, grande vivacidade de aromas, ligeira tosta a embrulhar o conjunto bem fresco e perfumado. Boca a condizer, boa presença com acidez a limpar todo o palato, bolha fina, novamente a fruta aparece cheia de vigor. Pelo que custa, a rondar os 6€ é uma aposta bastante interessante para a mesa desde entradas a pratos de bom tempero como por exemplo umas iscas de leitão. 89 pts

25 abril 2015

Quinta de Val da Figueira Vintage 2007


Quando no final de um almoço me foi colocado à frente um Porto Vintage 2007 da Quinta de Val da Figueira, eu sinceramente desconhecia o nome do produtor, mas a alegria e o sorriso foi imediato após o primeiro sorvo. Como curiosidade no Douro uma Figueira é sinal que existe perto um curso de água.

A Quinta em causa não é recente, a sua história estende-se a 1759, com a Quinta localizada na margem direita do rio Douro ali bem perto do Pinhão. A propriedade figura no famoso mapa do Barão de Forrester, ganhando nova vida nos anos de 1878/1979 com a plantação de vinhedo após a devastação da filoxera, contando na atualidade com um total de 16 hectares onde a principal área de vinha a encontrar-se na família dos atuais proprietários há três gerações e algumas vinhas adjacentes há cinco gerações. A produção anual ronda as 110 pipas com os vinhos a serem vinificados em lagares de granito com pisa a pé.

Um Vintage 2007 servido pelo seu proprietário João Cálem Hoelzer, que desde os anos 90 tomou as rédeas da Quinta de Val da Figueira dando seguimento ao trabalho do seu Pai, Alfredo E. Cálem Hoelzer e de seu Avô, Alfredo Leopoldo Holzer que adquiriu a Quinta em 1930. Os vinhos na altura eram vendidos para a Cálem mas nos dias de hoje são vendidos para a Symington ficando apenas uma pequena parte que é rotulado como Quinta de Val da Figueira. Cheio de classe e sem aquela amálgama excessiva e chata de frutos do bosque em compota, tinha a essencial frescura mas não enjoava, antes pelo contrário. A finesse que mostra ter cativa a que se beba mais um pouco, a conversa ia-se desenrolando, o vinho com o tempo ganhou complexidade, abriu as portas a outros encantos, a sobremesa tinha chegado e este Vintage estava a saber tão bem que já não lhe tirei mais a vista de cima. 93 pts

24 abril 2015

Quinta do Ortigão Baga Bruto 2012


Cada vez melhor o espumante nacional vai ganhando o terreno que tem por direito à mesa dos consumidores nacionais. Depois da revolução dos brancos chega a vez aos espumantes que em menos de uma década começaram a aparecer em maior número e a convencer pela qualidade apresentada. O Espumante deixou de ser aquele vinho exclusivamente festivo quase sempre chato e sem graça, que acompanhava os bolos de aniversário da família. 

Neste caso merecedor de toda a atenção, o Quinta do Ortigão (Bairrada) Baga Bruto 2012, com preço a rondar os 8,50€. Bonita a tonalidade cobreada num espumante com boa expressão, fruta entre bagas silvestres e frutos vermelhos, erva seca, boa frescura, ligeiro fumado de fundo. Tudo embrulhado numa ligeira sensação de cremosidade que lhe assenta muito bem, boca com muita energia que limpa e revigora o palato, sentimos a fruta a estalar, final seco e a mostrar-se ao mesmo tempo sério e elegante. Fez uma belíssima companhia a uma feijoada de chocos. 89 pts

Giroflé Douro 2013



Depois do bom momento proporcionado pelo Giroflé Alvarinho, damos um salto até ao Douro, onde surgem dois vinhos da mesma marca. O Giroflé branco 2013 onde brilham as castas Viosinho, Rabigato e Malvazia, aconchegados nuns saudáveis 12,5%. Quanto ao vinho de início a mostrar ligeira austeridade vegetal, abrindo para fruta de caroço, o toque de pederneira confere alguma profundidade. Boca a replicar tudo o encontrado, boa presença da fruta de polpa branca, rasto mineral, tudo em estrutura mediana. Muito bom com filetes de peixe-espada e arroz de tomate. 90 pts


O outro Giroflé é um tinto 2013 do Douro, resultante de um blend de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Barroca, num conjunto fresco muito marcado pela fruta bem carnuda e sumarenta que se destaca e nos atira para o perfil mais fresco do Douro. Todo o conjunto mostra equilíbrio e frescura, cacau e especiaria em fundo, tornando-o bastante convidativo e atraente. Boca de passagem suave com sabor e presença da fruta, a frescura equilibra a presença da fruta num vinho ideal para carnes grelhadas no carvão. 90 pts

20 abril 2015

Nossa Calcário Branco 2010


Este Nossa Calcário branco 2010 da autoria da Filipa Pato, foi servido durante um inspirado almoço criado pelo Chef Ricardo Coelho inserido no evento Simplesmente Vinho. Um Nossa em que apenas a Bical de Óis do Bairro (Bairrada) deu alma ao vinho, a produção rondou as 3.000 garrafas. Cheio de personalidade, num misto de pederneira com suave toque fumado aliado a uma fruta limpa (citrinos, pêssego) de delicado aroma e sabor, muito fresco e cheio de classe. Muito boa a estrutura, a firmeza com que se afirma no palato a mostrar que tempo é aquilo que não lhe falta pela frente, coeso, tenso, frescura ampla em camadas de sabor de fundo mineral, claramente vinho para ser bebido à mesa com por exemplo uns filetes de cavala como foi o caso. 94 pts

Nossa branco 2007

A inexistência de uma fotografia no formato habitual do Nossa branco 2007 apenas vem mostrar a raridade do vinho, a produção foi muito reduzida e as poucas vezes que foi "documentado" nas mais variadas redes sociais. Na realidade este vinho faz parte do período mais "experimental" de Filipa Pato ou aquela altura onde ainda se estava a ensaiar o que mais tarde se veio a afirmar como marca. Portanto o Nossa 2007 branco foi o primeiro, um vinho feito com as castas preferidas tanto de Filipa como do seu marido William, a Encruzado (Dão) e a Bical (Bairrada). 

A atravessar um grande momento, precisa do seu tempo para desenvolver toda a complexidade e dentro da sua "estranheza" conquista pela profundidade e identidade muito própria. Na riqueza da fruta, citrinos e pêssego, junta caruma de pinheiro, cera de abelha e um fundo bastante mineral, ao mesmo tempo mostra uma sensação de untuosidade que envolve todo o conjunto. Bem fresco na boca, sem ser pesado mostra nervo e a fruta bastante madura, rebuçado de limão, untuosidade em final longo. As duas castas dançam de forma harmoniosa, com muito bom perfume e uma capacidade invejável para brilhar à mesa... como foi o caso com um fantástico Arroz de Sapateira. 93 pts

18 abril 2015

João Portugal Ramos Estremus 2011



O João Portugal Ramos Estremus 2011 é um vinho proveniente de uma pequena parcela, São Lázaro, junto ao Castelo de Estremoz. Assente em solo dominado pelo calcário com pedra mármore à superfície, o vinho é feito com 50% de Alicante Bouschet e 50% Trincadeira com direito a pisa a pé em lagares de mármore. Um vinho monumento de classe e raça, muita finesse com a fruta num patamar de definição e frescura muito acima da média, no fundo sente-se a pujança e nervo de um grande vinho, um gigante adormecido com muitas alegrias para dar nos tempos futuros. A prova que dá esbarra numa saudável austeridade no palato, os tais taninos que ainda não se acomodaram, no nariz a cada rodopio no copo a complexidade vai-se desenrolando. Mais uma vez a enologia de João Portugal Ramos a conseguir lançar um vinho grandioso, como tem sido seu costume ao longo das últimas três décadas. Uau. 96 pts

17 abril 2015

Villa de Corullón 2003


Álvaro Palacios é nome de culto no mundo do vinho, desde a família na Rioja para o Priorato onde se lançou em 1990 e ganhou estatuto de lenda, depois juntou-se ao sobrinho Ricardo Perez e catapultou para as bocas do mundo uma casta e a respectiva região até então meio desconhecida, a Mencía na DOC Bierzo. A aposta foi claramente nas vinhas velhas daquela região, nomes como Fontelas, Las Lamas, Moncerbal, San Martin ou La Faraona cedo ganharam estatuto entre os mais grandes, disputados pelos sete cantos do mundo, caros e raros. De entrada de gama o Pétalos de Bierzo, seguido deste Villa de Corullón nascido de três velhas parcelas entre os 60-100 anos, cujo preço ronda os 35€.

Não tendo sido dos melhores anos deste vinho, destaca-se no imediato a limpeza de aromas, fresco e muito puro na fruta (groselha, cereja, framboesa) com lavanda, alcaçuz, tudo bem delineado com madeira plenamente integrada. Bem perfumado com notas de violetas, especiaria de fundo, algum caramelo de leite a conferir sensação de arredondamento. Boca com muita presença e frescura da fruta, cheio de sabor e vivacidade, coeso, especiado no fundo com leve bálsamo. Muita elegância e equilíbrio num vinho de grande classe. 93 pts

Bridão Private Collection 2012

Breve incursão pelos vinhos da Adega do Cartaxo, que hoje em dia o termo Cooperativa parece ter sido colocado debaixo do tapete. Esta Adega situada no Ribatejo, tem vindo a remodelar a imagem da sua gama de vinhos. Por entre algumas das novidades, cabe a este Private Collection 2012 ser o primeiro aqui a surgir, porque foi o que mais gostei e porque também pelo rótulo é o que mais se destaca. No lote a meias ficam a Touriga Nacional com Alicante Bouschet, vinho maduro, concentrado e opulento, carregado de fruta madura com toque especiado. Boa a frescura que o rodeia, boa a complexidade e a facilidade com que cativa, diga-se que é daqueles vinhos que facilmente agrada sem ter muito que pensar, porque quem bebe vinhos não tem de perder tempo a pensar, bebe porque sabe bem e este vinho sabe bem, sabe muito bem. Na boca envolve o palato, macio, guloso, a madeira fez o seu trabalho e deixa a fruta brilhar, carnuda e saborosa, com aquele apontamento de especiarias novamente em fundo. O que fazer, gostei deste vinho e pelo preço que ronda os 8€ vale bem a compra. 90 pts 

15 abril 2015

Caves São Domingos Blanc de Blancs Bruto 2011

Já tinha aqui escrito sobre a colheita anterior deste Caves São Domingos (Bairrada), um Branco de Brancas desta vez da colheita 2011 feito a partir de Bical e Maria Gomes. Como já foi dito, este não será dos exemplares mais elaborados ou complexos deste produtor, como por exemplo o Lopo de Freitas, mas é um espumante de qualidade que se mostra elegante e fresco, flores brancas e fruta madura (maçã, limão) juntam-se num conjunto repleto de vivacidade e harmonia, nada cansativo mostrando-se com boa presença de boca, acidez que revigora o palato tornando-o muito versátil à mesa com preço tentador que ronda os 6€. 89 pts

14 abril 2015

Ripanço Private Selection 2013

Voltamos à afamada Casa Agrícola José de Sousa (Reguengos de Monsaraz), propriedade da José Maria da Fonseca, de onde nos chega este Ripanço Private Selection 2013. Este vinho é o resultado da união entre a tradição e história com a moderna tecnologia, o resultado é uma mistura entre o antigo e o moderno onde o que faz toda a diferença neste caso é a ter-se utilizado uma técnica (ripanço) que remonta à era dos Romanos. Assim, a chamada técnica do ripanço consiste no desengaçamento das uvas à mão com auxílio de uma mesa de ripanço constituída por várias ripas de madeira. O movimento das mãos dos trabalhadores pressionando ligeiramente os cachos faz com que os bagos de soltem e fiquem separados do engaço, como se pode constatar no vídeo aqui colocado. Esta terá sido a primeira maneira de desengaçar a uva, evitando assim a presença dos taninos duros do engaço que podem originar um excessivo e indesejado amargor no vinho.

O vinho foi elaborado a partir do blend das castas Syrah (48%), Aragonês (32%) e Alicante Bouschet (20%) que tiveram direito a estagiar durante 6 meses em barricas de madeira nova de carvalho francês e americano. O que se destaca no imediato é o seu aroma com muita fruta madura, muitas notas de groselha preta e ameixa, com algum tempo no copo evolui e ganha alguma complexidade com ervas de cheiro, café expresso num fundo onde a baunilha derivada da barrica aparece bem instalada. O conjunto é fresco e solto, com ligeiro nervo que lhe dá alguma garra para conseguir acompanhar pratos mais temperados, como por exemplo uma Lasagne Bolognese. De resto nada complicado neste tinto com boa presença de boca, sempre cheio de frescura, fruta que explode de sabor e se prolonga até ao final, onde a compota e a especiaria se despendem de nós. 89 pts

Publicado em Blend - All About Wine

11 abril 2015

Esporão Reserva 2012


São poucos os produtores de vinho de mesa em Portugal que se podem orgulhar de ter uma marca de sucesso com quase três décadas de presença constante no mercado, de facto vinhos como os da Herdade do Esporão são nos dias que correm verdadeiros clássicos da mesa dos Portugueses. Aqui na mais recente colheita que chegou ao mercado, o Reserva tinto 2012 mostra-se cheio de energia e vigor, fruta muito densa e bem madura envolta em frescura, a madeira por onde passou faz-se notar ligeiramente e a complexidade está ainda a começar a desenvolver-se. Na boca o vinho é amplo, conquistador, embora com taninos algo presentes que o remetem para um descanso na garrafeira por mais algum tempo. Para os que gostam destes encontros mais aguerridos então é abrir e servir a acompanhar prato de tempero forte, como um pernil de porco assado no forno. 92 pts

10 abril 2015

Pacheca branco 2014

Por vezes sem conta ouvi as histórias desta Quinta contadas pelo avô materno da minha mulher, homem do Douro com brilho nos olhos quando conta as histórias de outrora enquanto feitor da Quinta da Pacheca. Por lá viu como se foram plantando castas estrangeiras e sobre o seu olhar e as suas mãos, contou e tratou de inúmeras pipas de vinho do Porto que seguia para Gaia. Este branco serviu para recordar todas essas conversas, um branco na senda da renovação da imagem dos vinhos desta Quinta da responsabilidade da enóloga da casa Maria de Serpa Pimentel.

Um vinho da colheita 2014 que resulta de um alargado lote de castas do Douro, com frescura e muita fruta em tom tropical e citrino, algo limitado pelo espaçamento de aromas mas que acaba por ter boa presença. Na boca domina a acidez em harmonia com a fruta, leve rebuçado de limão com espevitar no final de boca. Apesar de tudo e face ao preço apresentado que ronda os 5€ esperava algo mais deste branco. 87 pts

09 abril 2015

simplesmente... Vinho 2015


Realizou-se nos dias 27 e 28 de Fevereiro a terceira edição do simplesmente Vinho. simplesmente… Vinho 2015 é um salão off, manifestação de nicho, independente e alternativa, que reúne na Ribeira do Porto, produtores unidos simplesmente… pelo Vinho. Num total de 36+1 vignerons que "invadiram" a Galeria Gadus Morhua, lugar pleno de inspiração e criação, juntamente com a Oficina de Arquitetura Integrada - SKREI de gente inspirada e inspiradora, onde conheci uma muito interessante reciclagem construtiva aplicada aos mais variados contextos.

Os produtores presentes, puros vignerons de respeito tanto pelas crenças como pela qualidade dos vinhos, dos mais variados terroirs, vinhas e castas, de Norte a Sul de Espanha e Portugal. Foram muitas e boas as surpresas, os reencontros e os encontros, tudo envolto em ambiente cool e num culminar de sonoridades pop e rock (Leo Parda e os Daltónicos, The Magnets) que nos ajudam a libertar o espírito em plena folia com os amigos presentes.

Quanto aos produtores e vinhos ali encontrados/provados/bebidos/descobertos irei dando conta calmamente e a seu devido tempo aqui pelo Copo, porque cada um deles merece ser falado como aquilo que é, simplesmente... Vinho.

Agradecimento especial ao João Roseira e ao Mateus Nicolau de Almeida pelo convite, acolhimento e pelo fantástico evento que criaram. Sois grandes.

Manual Técnico de Vinhos


Manual Técnico de Vinhos
(Turismo de Portugal, 2014, 15€)
Muitos vão dizer que todos os livros fazem falta, eu direi que uns mais que outros e que neste caso este Manual Técnico de Vinhos é daqueles exemplares que fazia e faz falta na biblioteca dos apreciadores de vinho.

Uma edição elaborada pelo Turismo de Portugal (Luís Lima, da EHT Estoril, João Covêlo, da EHT Porto, Paulo Pechorro, EHT Coimbra, e Luciano Rosa, da EHT Algarve) em parceria com a ViniPortugal contando com a colaboração técnica da enóloga Marta Galamba e do enólogo Carlos Freire Correia, este livro reúne informação técnica e prática sobre a produção e apresentação de vinhos, metodologia e técnicas de vinificação, a videira e o seu fruto, variedade de castas onde se faz uma abordagem às principais castas nacionais e estrangeiras, caracterização das Regiões Vitivinicolas Portuguesas...

Uma tiragem de 2.500 exemplares colocados à venda por cerca de 15€ apenas no Turismo de Portugal e nas Escolhas de Hotelaria, aqui apenas peca por escassa ou deficitária a maneira de como se pode aceder à sua compra. Uma loja online facilitaria em muito o acesso de todos os apreciadores de vinho a este livro que tanto tem para ensinar aos seus leitores.
 
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