Copo de 3

29 outubro 2010

Taylor´s Scion

Corria o ano de 1885, o Imperador Napoleão III pedia um sistema que classificasse os melhores vinhos de Bordéus a serem expostos durante e Exposição Universal de Paris, deste pedido iria nascer a famosa Classificação Oficial de Bordéus de 1855... milhares de quilómetros ao sul, no Douro pré-filoxérico era produzido um tawny ali bem perto da Régua, mais propriamente nas caves de uma família ligada ao Douro, em Prezegueda. Passados 155 anos, com duas Guerras Mundiais pelo meio, é no ano de 2008 que David Guimaraens, enólogo da Taylor’s "encontrou" e provou esta relíquia de família que tinha vindo a passar de geração em geração. Um vinho tão bom que das 3 barricas uma teria sido vendida a Winston Churchill, e que após 155 anos de envelhecimento em barrica, se mostrou em perfeitas condições e com uma "complexidade mágica".
A história completa-se quando em 2009 a Taylor´s compra as duas barricas restantes, e segundo palavras de Adrian Bridge: “A Taylor’s reconheceu de imediato a qualidade absolutamente notável deste vinho e a sua importância histórica pelo que decidiu não o lotar, mas lançá-lo como um vinho de colecção,” pelo que apenas 1.400 garrafas de Scion estarão disponíveis para venda,cada uma delas rondará os 2500 euros, num conjunto luxuoso onde todos os detalhes foram tidos em conta, até uma caixa de madeira que imita os estojos utilizados no século XIX.

“Scion may be one of the last great representatives of a lost viticultural era, the Douro vineyards in pre-Phylloxera days were ungrafted and a different mix of varieties planted from those used today. This Port represents a rare piece of history and is an exciting and very unique offer for consumers.”, Adrian Bridge, Taylor´s Chief Executive Officer

O poder privar com um vinho desta natureza torna-se um momento inesquecível na vida de qualquer enófilo, é algo que nos faz sentir pequeninos, um momento que dificilmente se repetirá tal a raridade do vinho e do acontecimento... ali foi provado, honrado e brindado à memória de todos aqueles que o fizeram, guardaram e trouxeram até nós.

PS: A palavra Scion tem dois significados: o descendente ou herdeiro de uma família nobre e garfo de uma planta, especialmente utilizado para a enxertia.

Taylor´s Scion: Na garrafa é escuro como o breu, largado  no copo recorda caramelo, âmbar, com o primeiro impacto no nariz é colossal e arrebatador... tudo pára à nossa volta como se fosse uma máquina do tempo, e que tempo. Tudo o que é bom de encontrar mora ali, tal é a concentração e complexidade, apesar da delicadeza e finura com que tudo se mostra neste vinho que parece que vamos sendo acompanhados por várias camadas de aromas e de sabores, a cada página... perdão, a cada vez que o levamos ao nariz ou à boca é como se algo novo se fosse juntando ao conjunto já de si bastante complexo e profundo. Sente-se muita frescura no aroma com toques de melaço e fruta cristalizada misturada, café, especiarias diversas, tabaco enrolado na forma de charuto, conjunto com tudo muito limpo bem definido, quase como um mostruário de ourives. Boca com enorme frescura, um corpo na medida certa, o vinho parece que não acaba de se despedir, perdura e perdura, tudo o que encontramos no nariz é transferido de maneira subtil para o palato, sempre guiado por uma acidez excepcional, num vinho em que não consegui dizer que lhe falta mais disto ou daquilo, ou que peca no fim de boca, nada... será isto o vinho perfeito ? 20 - 100 pts

23 outubro 2010

Sexy by Fita Preta

Sexy branco 2009, Sexy Rosé 2009 e Sexy tinto 2009

Sexy é o arrojante e atraente nome que o projecto Fita Preta arranjou para os seus vinhos de entrada de gama. Se o nome por si só já chama a atenção, os rótulos fazem o resto do trabalho, cativando a compra destes vinhos cujos preço cerca de 7€ se revelou, num mais que noutro, sensato para a qualidade oferecida. São na sua essência vinhos para serem consumidos no imediato, num consumo de curto prazo a fim de tirar máximo partido da frescura da fruta que mostram. Os vinhos de consumo a médio e longo prazo desta empresa vão ser alvo de prova mais para a frente.

Sexy branco 2009 : São 10.000 garrafas, vinho feito à base de Roupeiro (50%), Verdelho (30%) e Viognier (20%), apenas 10% passou por barricas novas de carvalho francês. Mostra aroma de mediana intensidade, frutado com nota de fruto tropical, citrinos e alguma fruta de polpa branca, frescura, conjunto compacto e jovem, mistura-se com sensações vegetais onde se destaca aroma a chá e ligeira sensação de arredondamento lá no fundo do copo. Boca com entrada fresca e ligeiramente frutada, mediano em estrutura com passagem agradável e persistência final moderada. 15 - 87 pts

Sexy rosé 2009 : São 15.000 garrafas com Touriga Nacional a meias com Aragonês, em que só conheceram o frio do inox. Um rosé onde se destaca um aroma fresco centrado na fruta vermelha com leve toque floral, entendimento bom entre as castas, tendencialmente para a secura (sem grandes doçuras associadas) o que é sempre bom sinal. Na boca revela boa elegância e frescura, frutado com toque de vegetal fresco a terminar em boa persistência. 15 - 87 pts

Sexy tinto 2008 : São 65.000 garrafas onde o lote é constituído por Touriga Nacional, Syrah, Aragonês e Cabernet Sauvignon. Aroma sem despontar grande complexidade, frutado e jovem, com frutos do bosque e ligeiro travo vegetal fresco a despontar criando uma ligeira austeridade vegetal que se dilui em toque fumado, baunilha a criar algum aconchego. Sensação morna, harmonia de conjunto onde tudo parece querer agradar. Boca com corpo mediano a revelar sintonia com a prova de nariz, macio, frescura ligeira, guloso a mostrar leve doçura da fruta, bastante equilibrado e apetecível. 15,5 - 89

18 outubro 2010

Desnível 2007

Um projecto jovem de dois jovens durienses (Luís Pinto dos Santos e João Lopes Pinto) com um sonho em comum, produzir "vinhos de qualidade, com apelo aos terroirs em que nasceram". Começaram em 2007, um bom ano no douro, por fazer uma pequena brincadeira, juntaram uvas de duas quintas, a vinha do Poralqueire com cerca de 30 anos, situada no Vale da Teja - Vila Nova de Foz Côa (Douro Superior) com grande predominância da casta Touriga Franca, com as de uma vinha com mais de 80 anos, situada na Quinta do Vale do Barco, em Tabuaço (Cima-Corgo). Foi produzido na Quinta da Covada, em Tabuaço, com pisa a pé e estagiado, uma parte, em barricas de carvalho francês e outra em inox. Chegada a fase de escolher o nome e, após muitas tentativas falhadas ora porque já existia uma marca com esse nome, ora porque não conseguiam imaginar como seria o rótulo, etc etc... eis que com a ajuda do "Copo de 3" que deu uma sugestão que agradou imenso: "desnível"! Tem tudo a ver com este caso: 2 vinhas, uma a 350m de altitude, em encosta no Douro Superior e outra a 500m, em socalcos ancestrais no Cima-Corgo. Dito pelos responsáveis pelo Desnível, é um vinho focado no fruto vermelho amplo e expressivo, ganhando complexidade com a leve sensação de tosta, especiaria e bosque, que com a evolução será o suporte de um carácter fresco que caracteriza as duas vinhas. De perfil algo tânico, pede entre 8 meses a um ano de paciência para ser apreciado de modo mais harmonioso. São 2.000 garrafas que ficaram durante 2 dias ao alto, para que a rolha expanda e se adapte ao gargalo, sendo depois deitadas num sítio fresco, moderadamente húmido e sem luz solar. Após o término da vindima de '09 foi iniciada a sua comercialização. O PVP aconselhado ronda os 8 €.


Desnível 2007
Castas: Rufete, Tinta Amarela, Touriga Franca e Touriga Nacional - Estágio: Barrica e Inox - 14% Vol.

Tonalidade granada escuro de média concentração

Nariz de boa intensidade, marcado pela fruta limpa e madura em ligação com mato rasteiro, esteva com algum floral ligeiro. Delicada complexidade por vontade do estágio que levou e leva, a barrica porta-se bem, punhado de especiarias, tosta e chocolate preto, em fundo com boa frescura. Parece precisar de mais um tempo, para tudo se arrumar de vez.

Boca com boa amplitude, sente-se fruta, sente-se frescura num conjunto que apesar de algum polimento que o torna desde já bastante agradável pela estrutura que tem mesmo não sendo muito ríspida é a suficiente para o vinho se aguentar com pratos mais temperados, tendo algum arrasto com secura vegetal no final de boca com boa persistência patrocinado por taninos rebeldes ainda por acomodar.

Como "padrinho" deste vinho, tive o prazer de o provar muito antes de sair para o mercado e já me tinha agradado, voltei novamente a ele agora já disponível e melhorou em relação ao que já conhecia. É um vinho do Douro, tem lá aquela marca que os caracteriza, não se confunde ou faz-se confundir com novas tendências... esperando eu por ver como será a sua evolução em garrafa, pois tem acidez e taninos para isso. Como sinto que fiz parte nem que seja um bocadinho deste projecto, dar o nome é sempre algo importante, opto por não atribuir qualquer nota a este vinho.

06 outubro 2010

O Futuro visto pelo Robert Parker

Robert M. Parker, Jr., o mais famoso crítico de vinhos do mundo e a pessoa que mais poder de influência tem no mundo do vinho nos dias de hoje, ignorado por uns e admirado por outros, fez 12 previsões acerca das mudanças que o mundo do vinho irá ter segundo ele no futuro, escreveu tudo isto em Outubro de 2004 na Food & Wine. Passados 6 anos proponho que se relembre o que foi escrito naquela altura e talvez pensar no estado das coisas nos dias que correm... será que há semelhanças com o que foi previsto ? Caminhamos para lá ? Afinal de contas o Sr. Parker tinha razão no que disse ?


1 Distribution will be revolutionized
I predict the total collapse of the convoluted three-tiered system of wine distribution in the United States. The current process, a legacy of Prohibition, mandates that all foreign wines must be brought into the country by an importer, who sells them to a wholesaler, who sells them again to a retailer.
Most U.S. wineries sell to a distributor, who in turn sells the wines to a retailer. It is an absurdly inefficient system that costs the consumer big bucks. This narrowly restricted approach (blame all the lobbyists funded by powerful liquor and wine wholesalers) is coming to a dramatic end-hastened in part by the comparative ease of ordering wine over the Internet.
Differing federal court opinions over the last decade have insured that eventually the Supreme Court will have to rule on whether wineries can sell directly to whomever they wish, whether it is a wholesaler, retailer or consumer. Imagine, if you can, a great Bordeaux château, a tiny estate in Piedmont or a small, artisanal winery in California selling 100 percent of its production directly to restaurants, retailers and consumers. I believe it will be possible by 2015.

2 The wine Web will go mainstream
Internet message boards, Web sites tailored for wine geeks and state-of-the-art winery sites all instantaneously disseminate information about new wines and new producers. Today the realm of cyberspace junkies and hardcore Internet users, these sites will become mainstream in 10 years. A much more democratic, open range of experts, consultants, specialists, advisors and chatty wine nerds will assume the role of today's wine publications.

3 World bidding wars will begin for top wines
Competition for the world's greatest wines will increase exponentially: The most limited production wines will become even more expensive and more difficult to obtain. The burgeoning interest in fine wine in Asia, South America, Central and Eastern Europe and Russia will make things even worse.
There will be bidding wars at auctions for the few cases of highly praised, limited production wines. No matter how high prices appear today for wines from the most hallowed vineyards, they represent only a fraction of what these wines will fetch in a decade. Americans may scream bloody murder when looking at the future prices for the 2003 first growth Bordeaux (an average of $4,000 a case), but if my instincts are correct, 10 years from now a great vintage of these first growths will cost over $10,000 a case...at the minimum. It is simple: The quantity of these great wines is finite, and the demand for them will become at least 10 times greater.

4 France will feel a squeeze
The globalization of wine will mean many things, most of it bad news for the country historically known for producing the world's greatest wines: France. The French caste system will become even more stratified; the top five percent of the estates will turn out the most compelling wines and receive increasingly astronomical prices for them.
However, France's obsession with tradition and maintaining the status quo will result in the bankruptcy and collapse of many producers who refuse to recognize the competitive nature of the global wine market.

5 Corks will come out
I believe wines bottled with corks will be in the minority by 2015. The cork industry has not invested in techniques that will prevent "corked" wines afflicted with the musty, moldy, wet-basement smell that ruins up to 15 percent of all wine bottles. The consequences of this laissez-faire attitude will be dramatic. More and more state-of-the-art wineries are moving to screw caps for wines that need to be consumed within 3 to 4 years of the vintage (about 95 percent of the world's wines). Look for this trend to accelerate. Stelvin, the screw cap of choice, will become the standard for the majority of the world's wines.
The one exception will be great wines meant to age for 20 to 30 years that will still be primarily cork finished-although even the makers of these wines may experience consumer backlash if the cork industry does not solve the problem of defective corks. Synthetic corks, by the way, are not the solution. They do not work and can't compete with the Stelvin screw caps.

6 Spain will be the star
Look for Spain to continue to soar. Today it is emerging as a leader in wine quality and creativity, combining the finest characteristics of tradition with a modern and progressive winemaking philosophy. Spain, just coming out of a long period of cooperative winemaking that valued quantity over quality, has begun to recognize that it possesses many old-vine vineyards with almost unlimited potential. Spanish wineries recognize that they are trapped neither by history nor by the need to maintain the status quo that currently frustrates and inhibits so many French producers. By 2015, those areas that have traditionally produced Spain's finest wines (Ribera del Duero and Rioja) will have assumed second place behind such up-and-coming regions as Toro, Jumilla and Priorat.

7 Malbec will make it big
By the year 2015, the greatness of Argentinean wines made from the Malbec grape will be understood as a given. This French varietal, which failed so miserably on its home soil in Bordeaux, has reached startling heights of quality in Argentina. Both inexpensive, delicious Malbecs and majestic, profoundly complex ones from high-elevation vineyards are already being produced, and by 2015 this long-ignored grape's place in the pantheon of noble wines will be guaranteed.

8 California's Central Coast will rule America
Look for wines from California's Central Coast (an enormous region that runs from Contra Costa down to Santa Barbara) to take their place alongside the hallowed bottlings of Napa and Sonoma valleys. No viticultural region in America has demonstrated as much progress in quality and potential for greatness as the Central Coast, with its Rhône varietals, and the Santa Barbara region, where the Burgundian varietals Chardonnay and Pinot Noir are planted in its cooler climates.

9 Southern Italy will ascend
While few consumers will be able to afford Piedmont's profound Barolos and Barbarescos (which will be subject to fanatical worldwide demand 10 times what we see today), once-backwater Italian viticultural areas such as Umbria, Campania, Basilicata and the islands of Sicily and Sardinia will become household names by 2015. The winemaking revolution currently under way in Italy will continue, and its rewards will become increasingly apparent over the next decade.

10 Unoaked wine will find a wider audience
Given the increasingly diverse style of foods we eat as well as the abundant array of tastes on our plates, there will be more and more wines that offer strikingly pure bouquets and flavors unmarked by wood aging. Crisp, lively whites and fruity, savory and sensual reds will be in greater demand in 2015 than they are in 2004. Wood will still have importance for the greatest varietals as well as for wines that benefit from aging, but those wines will make up only a tiny part of the market.

11 Value will be valued
Despite my doom-and-gloom prediction about the prohibitive cost of the world's greatest wines, there will be more high-quality, low-priced wines than ever before. This trend will be led primarily by European countries, although Australia will still play a huge role. Australia has perfected industrial farming: No other country appears capable of producing an $8 wine as well as it does. However, too many of those wines are simple, fruity and somewhat soulless. Australia will need to improve its game and create accessible wines with more character and interest to compete in the world market 10 years from now.

12 Diversity will be the word
By 2015 the world of wine will have grown even more diverse. We will see quality wines from unexpected places like Bulgaria, Romania, Russia, Mexico, China, Japan, Lebanon, Turkey and perhaps even India.
But I believe that even with all these new producers, the saturation point will not be reached, since ever greater numbers of the world's population will demand wine as their alcoholic drink of choice.

Binomio 2001

Binomio é um projecto de dois velhos amigos: Stefano Inama da Azienda Agricola Inama em Veneto e Sabatino Di Properzio da Fattoria la Valentina. Uma ideia simples que nasceu da convicção de que a Montepulciano é uma uva nativa Italiana com um extraordinário potencial. A vinha de quase 4 ha, situada na região de Abruzzo, de onde nasce o Binomio foi plantada em 1971 com o clone "Africa", localizada a 500 metros de altitude e foi comprada em 1999. O ano de 2002 marca a consolidação da adega com a adição das últimas cubas de fermentação e uma sala de barricas climatizada.
A compra deste vinho foi um completo tiro no escuro, daqueles vinhos que no desconhecido conquistou a atenção pelo conjunto de dois factores, o preço ao alcance ainda que não sendo barato ficou a rondar os quase 30€ e a pomposa nota que teve na imprensa estrangeira (95 pts da Wine Spectator), aqui a responder a todos aqueles que perguntam se devemos ou não seguir as notas deste ou daquele, neste caso a nota serve como mero sinalizador de qualidade, nada mais, resta depois de provar sabermos se concordamos ou não com o score antes obtido. Portanto foi com a vontade de partir à descoberta de novos aromas e novos sabores que certamente nos aguardavam e desconhecendo por completo tanto a casta como o estilo de vinho que nos esperava, que este vinho me veio parar ao copo... e em boa hora foi escolhido e bebido.

Binomio Montepulciano 2001
Castas: 100% Montepulciano - Estágio: 15 meses barrica carvalho Francês novo e segundo ano 50/50 - 15% Vol.

Tonalidade granada escuro, concentrado com leve rebordo violeta.

Nariz com um aroma denso, profundo e concentrado onde não se consegue fugir da sensação de extracção com uma belíssima geleia de fruta em destaque, mas tudo com excelente qualidade e embalado por uma frescura que torna o vinho bastante apetecível sem cair no enjoo, harmonioso e ao mesmo tempo dando sensação que ainda não se desembrulhou ao completo, mostrando por agora notas de groselha negra, framboesa, cereja, tudo limpo e maduro. Atraentes aromas do estágio e da evolução, muita especiaria doce, suave madeira, pimenta preta, cravinho, lavanda e outras ervas do monte, tabaco, chocolate e toque floral pelo meio. Fundo a derreter para bombom de ginja e lá no fundo uma leve mineralidade/terroso onde assenta todo este colosso.

Boca muito bem estruturada, ampla e quase a mastigar a fruta de tão boa que está, madura, suculenta, complexidade que se sente com variados sabores a surgirem, enche o palato, fruto negro, chocolate, especiaria, com os 15% camuflados que nem se notam, um vinho de puro prazer ainda que com muita garra e garrafa pela frente.  O fina de boca é longo e muito persistente, um todo muito acolhedor com fio condutor assente numa bela acidez.


Um vinho potente, maciço, um autêntico portento de força onde a frescura que contém o transforma numa besta controlada e fácil de se gostar. É de 2001 e enquanto continua a crescer e a abrir os braços, outros à sua volta vão vendo o seu fim anunciado... mesmo quando o preço pedido por eles é superior a este Binomio. Neste perfil, direi neste calibre Howitzer... será certamente do melhor que me tem passado pelo copo nos últimos tempos. 18 - 95 pts

04 outubro 2010

Schloss Schönborn Riesling Brut 2006

Numa jornada enófila que fiz na companhia de dois amigos, Pingas no Copo e Pingamor, parou-se em Muge na loja da Casa Cadaval com o objectivo de tentar arranjar o afamado varietal Trincadeira Preta de colheitas mais antigas, convém avisar os mais desatentos que a Casa Cadaval costuma colocar vinhos de anteriores colheitas à venda na sua loja a preços sensatos, o que é sempre bom para o consumidor. Infelizmente o vinho que procurava estava esgotado, resolvi passar os olhos pela restante gama de vinhos existente na loja. Deparei-me na altura com um conjunto de 4 espumantes de nacionalidade alemã. Este facto explica-se facilmente pois a Casa Cadaval é gerida pela Condessa von Schonborn, irmã do Conde von Schonborn que gere os destinos dos vinhos Schloss Schonborn (Rheingau). Na loja podem-se comprar todas essas 4 referências sendo que o Pinot Blanc seja exclusivamente vendido como parte de um pack, optando por comprar o Riesling Brut Vintage 2006, cujo preço rondou os 12€.

Schloss Schönborn Riesling Brut 2006


Tonalidade amarelo dourado de média concentração e bolha média de boa persistência

Nariz de boa intensidade, aroma fresco com fruta madura (alperce, lima), sente-se um suave aroma a gás de isqueiro, com toque de mel e algum fruto seco em fundo. Muito agradável de cheirar, tudo bem embrulhado em mineralidade conseguindo manter a boa forma durante bastante tempo.

Boca onde se faz sentir uma agulha fina, todo ele se mostra bem fresco, acidez bem presente com frutado de início no toque de limão, alperce num conjunto que mostrou média estrutura, algo redondo com secura sentida no final, perdendo ligeiramente algum refinamento e vigor com o tempo no copo, mostrando uma boa persistência final.

Foram poucos os contactos que tive com espumantes feitos à base da casta Riesling, dos que provei este foi sem dúvida o melhor de todos. Com o tempo que passou por ele mostrou que a evolução foi positiva o que lhe conferiu uma fina e delicada complexidade, refrescante e bastante agradável de se cheirar e beber. Uma verdadeira surpresa que deu vontade de voltar a provar muito em breve. 91 pts

03 outubro 2010

Bucellas Arinto 2009

Distribuído em supermercados e hipermercados, com preço recomendado de venda ao público de 3,99€, e ainda em Restaurantes e Garrafeiras. A marca Bucellas tão conhecida pelas suas famosas medalhas está diferente: mais moderna e qualitativa, com várias mudanças realizadas ao nível da garrafa que agora se apresenta com garrafa renana, um rótulo mais limpo, menos elementos mas com os que tão bem caracterizam esta marca (o ouro e as medalhas), e a nova cápsula dourada e preta com a assinatura Caves Velhas Signature.
O vinho em causa é um 100% Arinto, a casta rainha da região de Bucelas, com uma produção de 160.000 garrafas a cargo do enólogo Osvaldo Amado.


Bucellas Arinto 2009
Castas: 100% Arinto - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de baixa concentração.
Nariz a cheirar a fruta fresca com boa intensidade, destaque para lima e limão, melão com toques de leve doçura da fruta, em conjunto com vegetal em destaque e envolto em boa dose de frescura, sensação de ligeira mineralidade em fundo.
Boca com frescura citrina bem viva, lima e limão, mediano na largura e um pouco melhor na profundidade, acompanha a qualidade da prova de nariz o que é sempre muito bom sinal, aqui a frescura está bem presente a ligar-se com a fruta que se sente limpa mas sem que a sua presença seja muito acentuada e algum vegetal. Conjunto equilibrado e com harmonia, mostrando no final alguma secura com boa persistência.
Mostrou juventude e mostrou frescura durante toda a prova, um Arinto que não merece o esquecimento a que os vinhos desta região estão sujeitos, merecem toda e mais que merecida atenção , até porque o preço faz com que seja bastante acessível e a qualidade bem apetecível. 15,5 - 89 pts

29 setembro 2010

Fiuza Rosé 2009


A Fiuza que mora no RibaTEJO sempre acostumou o consumidor a vinhos com boa relação preço/qualidade, o seu rosé é fiel exemplo e mostra anos após ano uma consistência bastante assinalável, um bom sinal a quem o compra ano após ano. Esta recente colheita 2009 é feita a partir de Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional, com 80.000 garrafas a serem lançadas no mercado com preço recomendado de 4,50€ à venda em garrafeiras e grandes superfícies. É um vinho indicado para o Verão mas que pessoalmente também o acho bastante agradável nos primeiros tempos do Outono, até porque alguns rosés mais estruturados ligam bem com pratos tendencialmente mais quentes.

Fiuza rosé 2009
Castas: Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon - 13,5% Vol.
Tonalidade rosado vivo e escuro.
Nariz com boa dose de fruta fresca e ligeiro drop de rebuçado, lembra morango e framboesa com vegetal seco presente a dominar o segundo plano. Não abunda na complexidade, fresco com leve sensação fumada em fundo.
Boca de boa estrutura com a frescura da fruta a dar o mote inicial, equilíbrio entre fruta/frescura/álcool, vegetal seco a dominar o segundo plano.
Um rosé de estirpe ribatejana sem grandes atributos mas que corresponde muito bem aos requisitos da mesa. Pelo preço e para o que oferece na prova é uma compra sensata. 14,5 - 86

26 setembro 2010

Vinhos do Alentejo em Lisboa...

Fui ontem ao evento Vinhos do Alentejo em Lisboa e se por um lado é sempre bom este tipo de eventos, por outro lado não gostei do espaço, local acanhado com gente aos encontrões, muito barulho e fico sempre com a sensação de não existir um número limite de participantes para aquele espaço... tipo discoteca ou restaurante... parece que ali é entrar até não caber mais, a segurança essa que se dane.

Optei por gastar grande parte do tempo na bela da conversa com produtores e amigos da causa que sempre respondem ao chamamento. Do que provei de brancos, notei que se está a perder aquele toque rebuçado, buscam-se alternativas ao "enjoativo" Antão Vaz e começam a aparecer outras aragens muito viáveis. No fundo, notei que os vinhos mostram-se mais secos, com mais acidez, mais interessantes, menos pesados e com menos madeira... longe vão os tempos do Dolium para barrar no pão. Assim por alto gostei muito do Terrenus, Arinto da Malhadinha, Ervideira Perrum, Esporão Verdelho, Amantis e de um Chardonnay penso que o Athayde do Monte da Raposinha.

No campo dos tintos, talvez fruto de uma enologia cada vez mais afinada, as vinhas também contribuem com uma maturidade cada vez maior o que dá melhores caldos e nota-se ou notei no que provei que a torneira das notas compotadas a rodos começa a fechar-se, vinhos com frescura, elegância e que não enjoam após o primeiro copo. Que se fuja daquela receita Nacional de um tal Touriga, não é solução nem sequer salvação.
A conversa estava bastante animada, o tempo para provar vinhos tintos foi curto, não resisti aos novos varietais da Malhadinha Nova, uma novidade com Cabernet Sauvignon sem pimentos, Aragonês cheio de morango fresco, Touriga Nacional macio e cheiroso e um pujante Alicante Bouschet, vamos brincar aos lotes ? Ali ao lado estava Arundel, um vinho que gosto particularmente mas o destaque aqui vai para o topo de gama, coisa pouca, também ele Alicante Bouschet que muito promete pela frescura, qualidade da fruta e estrutura que mostrou. Ainda constatei o excelente trabalho do Rui Reguinga com os seus Terrenus, parece-me que Portalegre começa a despertar do sono em que entrou sem entender a razão. Na mesa José de Sousa, aquele que era o Mayor deixou de o ser, perdeu a chama e encanto dos idos 94 e 97, a conversa que dá é outra o que pouco me agrada. O novo topo de gama daquela famosa casa chama-se J e achei um belo vinho, muito fresco com a fruta a socar o palato com força, envolvente fino e complexo para não falar na questão de que por força Mayor, parece que todo o vinho que dali sai por força tem de beijar o barro das talhas... falta saber se beija mesmo ou se não passa de vontade. Este novo topo de gama não achei que andasse lá muito de molho nas talhas como o pintam, conversa fiada para vender... sirva-se pois mais um copo que ele escorrega bem. O preço que me falaram será de 35€ na porta da adega, quando passar a esquina já estará mais caro certamente...

Pequeno mas temperado aparte, grande número dos produtores presentes já têm o seu azeite, dos que provei gostei bastante e os cuidados com a imagem deste produto é cada vez mais cuidada.

Siga a festa que o palco é curto...

19 setembro 2010

Pinhal da Torre Re-Loaded

No site da Pinhal da Torre pode-se ler Pureza, Elegância, Personalidade... colocarei também Frescura, pois foi tudo isso que encontrei nos vinhos que provei no passado Sábado quando me desloquei à Quinta de São João a convite do produtor... e que vinhos. A verdade é que depois de algum tempo no limbo, eis que o melhor da Pinhal da Torre está de volta e ainda bem, quem não se lembra do fantástico Quinta de São João Touriga Nacional 2000 ou do Quinta do Alqueve Syrah 2001 ?
Recebidos pelo Paulo Saturnino Cunha, que a falar dos seus vinhos transmite uma contagiante energia em que fica sempre aquela vontade de querer ouvir mais e mais sobre o que ele tem para nos contar. Produtor persistente na busca da melhor qualidade possível, luta com afinco por manter a tradição e não cair em demasia na tentação das modernices (vinhos extraídos ao limite barrados em madeira nova), pois ali naquele cantinho ribatejano nascem vinhos com raça, cheios de saber e de querer... direi vinhos com um carácter muito próprio, o mesmo que podemos encontrar na pessoa que dá a cara por este projecto familiar. Durante toda a prova deu para entender que ali se tenta fugir a um perfil cada vez mais massificado, são vinhos com uma maneira de estar muito própria, que apresentam uma invulgar acidez e taninos a prometerem boa evolução em garrafa, o filme é bom mas só começa quando todos estiverem sentados. A prova foi descontraída e com muita interacção entre convidados e responsáveis, com a gama de entrada Vinha do Alqueve a mostrar-nos vinhos frescos, jovens, descontraídos e com uma boa relação preço qualidade, todos eles a apresentarem já sinais muito próprios do perfil que marca todos os vinhos desta casa. Um Vinha do Alqueve Rosé 2009 que se mostrou seco, com fruto vermelho e leve rebuçado, perfil fresco e muito bem embrulhado em fina camada vegetal, Vinha do Alqueve branco 2009 bem fresco e citrino, acidez a dar boa dose de frescura num vinho de corpo mediano muito bem embalado para a mesa, Vinha do Alqueve tinto 2008 apelativo, frutado, simples, agradável e bem feito com leve vegetal em fundo na boca a mostrar-se pronto para consumo a acompanhar pratos de gastronomia tradicional.
Antes do Tradicional provaram-se os dois Quinta do Alqueve brancos, o Fernão Pires 2009 que tem sido elogiado mas que continuo a encostar ao lado para escolher o Chardonnay 2009, o primeiro muito mais cítrico, frutado, com acidez muito presente em perfil fresco, delicado e leve apimentado no final, já o segundo mostrou-se mais harmonioso, algo mais acolhedor derivado da leve passagem que teve por madeira, calda de ananás, suave e fresco. Na secção de tintos começámos com o Quinta do Alqueve Tradicional 2007, mais arredondado e cheio que o anterior tinto provado, nota-se novamente a fruta madura e limpa com vegetal seco em conjunto equilibrado e fresco. Salto na qualidade com o 2Worlds Reserva 2004, um vinho que junta a Touriga Nacional com a Cabernet Sauvignon, aqui com clara piscadela de olho ao mercado internacional, um vinho que é difícil não se gostar, sente-se uma ligeira extracção no peso que a fruta madura apresenta, especiaria e novamente a frescura, vegetal aqui mais contido e uma maior complexidade de conjunto, com frescura mediana na boca, macio, arredondado e fácil de se gostar e de levar à mesa. Provado ainda o novo 2Worlds 2007, deixou de ter a menção Reserva, mostrou-se um vinho em tudo na linha do 2004, porém tudo aqui a mostrar-se um pouco mais emaranhado e a precisar de tempo para se conseguir mostrar ao completo, vai portanto no bom caminho com uma prestação de muito bom nível.


Na gama Quinta de São João, a outra Quinta que faz parte deste projecto, provou-se o 2004 o 2007 e amostra do 2008. O 2004 mostrou-se o mais afinado, claramente o que mais gostava de rodar no copo, na seu fino bouquet de couro, pimenta, fruta em compota com canela, flores, frescura de boca com elegância e harmonia com nariz. Um vinho pronto a beber, coisa que o 2007 mostra bem menos, mais austero e fechado, algo duro com taninos a darem lugar a secura na prova de boca, boa envergadura, frescura e fruta, mas ainda a precisar de tempo, já o 2008 é muito promissor, talvez o melhor de todos os vinhos provados até aqui, uma dose muito boa de fruta com madeira a querer casar em estilo num conjunto que se nota fechado mas com pernas para andar.
Para último estavam guardadas as surpresas e que surpresas, primeiro os Quinta do Alqueve Syrah das colheitas 2007, 2008 e finalmente 2009 com duas versões, a barrica 9 e a barrica 12. O Syrah 2007 fez as minhas delícias, pleno de frescura com groselhas, pimentas, algum doce, complexidade, perfumado numa estrutura redondeada mas com vigor, harmonia e fruta preta madura. O 2008 seria mais fechado, menos pronto mas no mesmo caminho da glória... o que dizer mais de vinhos que se gostam. Já a prova das duas versões b9 e b12 foram o delírio, aqui o toque Australiano dado pelo enólogo consultor vem ao de cima, vinhos com aquele ar guloso, mokaccino, apimentado, mas ao mesmo tempo sério, com músculo, mas frescos e jovens sem saturar, um prazer ao serem bebidos e uma loucura quando se começou a imaginar e experimentar possíveis lotes com várias percentagens de um e de outro ali mesmo no copo. A acompanhar com muita atenção os novos Syrah da Quinta do Alqueve.
Foram colocados em prova também o Merlot e o Alicante Bouschet, gostei mais da prova que deu o Merlot, fresco, delicado, cetim com alguma secura vegetal (chá preto) e fruta bem viva com alguma doçura, que acompanhou lindamente uma Sopa da Pedra de Alpiarça graças a uma acidez muito presente que suportou a pujança do prato, o que irá ser deste Merlot ? Enquanto pensava nisto, lembrava-me das duas cuvées especiais que tinham sido provadas um pouco antes, ainda sem nome oficial foram tratadas por Cuvée Speciale e o Cuvée Royal. E se o primeiro já me tinha enchido as medidas pela elegância, amplitude contida com muita frescura, finesse e ao mesmo tempo limpidez de fruta, integração de barrica... o Royal foi a surpresa ainda maior, primeiro porque o vinho é um extreme de uma casta que nunca deu grandes vinhos estreme em Portugal, lembro de um ou outro que gostei muito mas até aos dias de hoje andava a 0, até ter provado este Royal que consegue ser sem grande problema o melhor exemplar a solo da Tinta Roriz em Portugal, direi um luxo de vinho. Acabei o almoço com o Quinta do Alqueve Colheita Tardia 2005, carregado na cor, aromas algo afagados pela plaina do tempo... sem grandes doses de açúcar mostra-se delicado e com suave frescura... muito agradável com um divinal Arroz Doce.
Em jeito de conclusão, os vinhos da Pinhal da Torre merecem e devem ser conhecidos por todos os amigos do vinho, não olham para uma região mas sim para uma vontade muito própria de um produtor, pelo convite que me foi feito deixo aqui os meus agradecimentos ao Paulo Saturnino Cunha e a toda a sua equipa pelo fantástico momento de enofília proporcionado.

28 julho 2010

Dão: The Next Big Thing

Este era o evento que faltava à região do Dão para mostrar de uma vez, todas as suas potencialidades enquanto região produtora se é que dúvidas havia. Um evento que viria a nascer não da cabeça das entidades que têm obrigação em fazer estas coisas... mas sim como uma iniciativa privada de um produtor da região, João Tavares de Pina que na sua Quinta da Boavista produz os vinhos Terras de Tavares. O espírito irrequieto de João Tavares de Pina sempre o levou à procura de mais e melhor para os seus vinhos, nunca descuidando nos detalhes, respeitando sempre o carácter das castas com que trabalha e procurando ao mesmo tempo mostrar algo de novo, que falarei mais tarde, mas sempre com o objectivo claro de obter vinhos de carácter inconfundível, feitos para durar como mostrou o Reserva 1997 e num estilo muito gastronómico. Foi este produtor que sozinho decidiu colocar o Dão às costas e fazer um evento que dignificasse toda uma região, um evento que incluiu 20 dos mais representativos produtores da região, que colocaram os seus vinhos em prova para um leque alargado de provadores nacionais e estrangeiros. As dormidas ficaram a cargo da Quinta da Boavista e da Casa de Darei e um agradecimento à Câmara Municipal de Penalva do Castelo que cedeu os transportes para toda a comitiva.

O dia escolhido foi 24 Julho de 2010 e a romaria dos convidados começou de véspera para encurtar caminho e estar o mais cedo possível no Solar do Vinho do Dão em Viseu. Na véspera já se tinham aberto umas quantas garrafas para afinar nariz, garganta e os indispensáveis blocos de notas. A jornada começou cedo, eram 8:30 da fresca manhã e estava eu e o Miguel a mergulhar na piscina da Quinta da Boavista... nada melhor para relaxar e preparar para a longa jornada que nos esperava.
A primeira prova estava marcada para as 10:00 horas e deveria contar com um número mais alargado de produtores, não fosse a inexplicável falta de comparência de alguns quando já tinham confirmado a sua presença, falharam pois a Quinta das Marias, Casa de Santar, Quinta do Corujão, Pedra Cancela, Quinta da Fata e a Quinta do Serrado que tinha as garrafas mas não tinha ninguém para as abrir ou falar sobre os vinhos. Pergunto se é esta a maneira correcta de se estar neste mundo pois se um evento desta natureza em que constavam nomes como Charles Metcalfe, Paul James White, Kathryn McWhierter, Yvonne Eistermann, Ilkka Sirén, Manuel Serrano e outros tantos nomes aqui de Portugal (bloggers e não bloggers), não serve para promoção então pergunto qual evento ou que tipo de coisa é que lhes serve... continuo a não entender. Estiveram presentes nesta prova os seguintes produtores, cada um com 3 vinhos em prova: Vinha Paz, Casa de Mouraz, Vinícola de Nelas, Quinta do Cerrado, Quinta da Vegia e Quinta do Perdigão. Destaco apenas alguns dos provados (em actualização):

Vinha Paz colheita 2008: espelha bem a sua região, cheiramos e dizemos que é um vinho do Dão, com carácter e boa complexidade, frescura a embrenhar-se no mato denso com fruta igualmente fresca e silvestre. Gosto disto e a boca acompanha, madeira discreta, amplitude média e alguma austeridade a meio palato num vinho com estofo para evoluir bem nos próximos tempos... a colheita 2000 aqui provada confirma. 90

Vinha Othon Reserva 2006: este vinho foi muito acarinhado por quem a ele se chegou e provou quando saiu para o mercado, na primeira vez que me caiu no copo não deu aquilo que eu tinha imaginado... enganou-me ligeiramente e foi melhorando com o tempo, mais e mais, numa delicada complexidade alicerçada numa boa dose de frescura com taninos presentes. Mostra-se mais pronto que o Reserva e um pouco mais sério que o Colheita. 91

Vinha Paz Reserva 2007: é claramente o mano mais velho do colheita, entenda-se mano mais velho como um vinho em tudo maior, seja complexidade, corpo, profundidade e no final a qualidade mostra-se aqui mais e melhor. Um vinho ainda muito fechado, duro, raçudo e cheio de frescura e apontamentos, a madeira ampara todo o trabalho, traves mestras que aportam outra classe ao vinho, tem tudo para ser um grande vinho do Dão... deste vou querer beber apenas daqui a uns bons anos. 93

O sol batia nas 13:00 horas, o calor já se fazia sentir e a fome apertava, o almoço seria servido pelo Chef Rodion Birca e estava marcado no pomposo Clube de Viseu com a participação especial do Conservatório Regional de Música "Dr José de Azeredo Perdigão", seria uma sessão com harmonização gastronómica e musical, contava com a presença dos produtores Casa de Darei, Quinta da Bica, Quinta da Boavista, Quinta da Pellada, Quinta dos Carvalhais, Quinta dos Roques, Quinta Fonte do Ouro e Quinta Vale das Escadinhas. Foram ainda solicitados à Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro alguns dos históricos vinhos do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão. Depois do longo almoço, umas boas 4 horas de duração, ainda tivemos tempo de refastelar nos sofás em amena cavaqueira, recuperar forças com mais alguns vinhos que foram sendo colocados em prova pelos produtores já referidos.
O processo foi simples, por cada prato que nos era servido, eram colocados em prova 2 ou 3 vinhos acompanhados por uma peça musical. Farei um breve relato das sensações que tive essencialmente com os vinhos servidos e os pratos que os acompanharam.

O primeiro prato a ser servido foi Requeijão de Ovelha, Agridoce de Tomate e Agrião, acompanhado de dois brancos, Primus Reserva 2007 (91pts) e Quinta das Maias Verdelho 2009 (90pts). Ambos de muito bom nível, o Primus a mostrar os dotes que o lote confere quer à complexidade quer à finesse, mas sem grandes exuberâncias e algo mortiço no nariz. No lado oposto o Verdelho dos Roques, mais vivo e fresco, exuberância moderada num todo fino equilibrado e de fundo mineral. Na harmonização gostei mais do Verdelho, penso ter uma acidez mais capaz de ligar com o agridoce de tomate e agrião.

Com Sardinha Alimada com Pimento Confitado vieram mais dois brancos, um Casa de Darei Grande Escolha 2007 (91pts) e um Encruzado Quinta dos Carvalhais 1998 (89pts). O Carvalhais mostrou uma tonalidade a lembrar ouro velho, carregado de aromas cansados apesar de alguma frescura que lhe servia de muleta... mesmo assim ainda com um bouquet minimamente interessante para a nota não vir por aí abaixo. O Casa de Darei Grande Escolha 2007 foi uma boa surpresa, desconhecia, encontrei um branco fresco e muito bem estruturado pleno de fruta fresca e mineralidade, pederneira e vegetal fresco em dose mais pequena. Daqueles que gosta de passar uns tempos na nossa garrafeira. Aqui a harmonização não se deu visto eu dispensar a Sardinha, mas claramente apostaria no Darei.

No Folhadinho de Queijo da Serra, Mel e Alecrim foi a vez dos fatos de gala, entraram em cena os brancos do CEVDão 1971 (95pts), 1980 (92pts) e 1992 (90pts). Foi colocar a fasquia muito alta, indo a qualidade e o nível subindo à medida que a idade aumentava, por isso mesmo o 1992 foi aquele que achei menos interessante, toque apetrolado ligeiro, boca fina e muito delicado, poderei dizer apagado ? Já o 1980 se mostrou um pouco melhor, mais refinado apesar de delicado, mais volume e frescura quer em nariz quer em boca, mais vinho portanto. A vivacidade nota-se bem distinta. O melhor dos brancos seria o deslumbrante 1971, de aroma complexo e refinado, ceras, melado, fruta ainda com frescura, mineralidade e ligeiro petrolado em plano de fundo. Tudo muito harmonioso, perfumado e bom de se cheirar, durou no copo mais tempo do que muitos vinhos "rapazolas". Ligação disputada entre o 1980 e o 1971, com a frescura e envolvimento do 1971 a levar pela melhor.

Crocante de Morcela da Beira, Emulsão de Abacaxi e Redução de Balsâmico, com Touriga Nacional Quinta Fonte do Ouro 2008 (85pts) e Quinta da Bica Reserva 2005 (89 pts). Os dois vinhos que menos gostei, o Fonte do Ouro cheio de notas doces e achocolatadas, flores demasiadamente colocadas, satura e enjoa... dizem que é o perfil internacional a trabalhar, pessoalmente dispenso sem antes dizer que é um vinho bem feito mas que não me satisfaz. O Quinta da Bica é um produtor que acompanhei em colheitas mais antigas, agora com imagem reformulada o vinho mostra-se um pouco mais moderno mas ao mesmo tempo muito elegante, ligeiro, fresco... a provar com mais atenção para afinar a minha opinião.

Intervalo vínico com um Consommé de Codorniz, Croutôns de Gengibre e Ervas Aromáticas.

Almôndegas de Lebre, esmagado de Batata e Espinafres Frescos, ao que se juntou o Quinta da Falorca Garrafeira 2003 (92pts) e o Terras de Tavares Reserva 2003 (92pts). Dois pesos pesados da sessão, os dois ainda algo fechados e receosos de mostrarem o que lhes vai na alma, o Falorca a mostrar mais madeira, mais fruta madura, uma prova mais fácil e pronta enquanto o Terra Tavares um vinho com frescura e taninos a mostrarem que o caminho é manter-se na horizontal por mais um tempo. Qualquer um dos dois vinhos esteve em plena sintonia com o respectivo prato.

Arroz de Polvo, Ovo de Codorniz Escalfado e Emulsão de Coentros, com Tintos CEVDão 1970 (93pts) e 1971 (89pts). Aqui começamos a entrar na velha guarda, nos vinhos de culto e direi naqueles que ouvimos alguém dizer que provou e pensamos que nunca vai chegar a nossa vez... com sorte esta foi a segunda vez que tive oportunidade de os provar e ainda bem. Claramente melhor o 1970 do que o 1971, mais vivo com fruta fresca em muito bom plano, especiado, terroso, notas de madeiras velhas e tabaco, tudo muito delicado e harmonioso... repito-me em vinhos deste calibre. Já o 1971 mostrou-se cansado, aromas já de fruta passa, tudo muito seco e sem grande vida, mortiço no nariz como na boca... claramente um vinho que já teve melhores dias.

Lombinho de Bacalhau suado em Borras de Vinho e Migas, e o rei da tarde... CEVDão Touriga Nacional 1963. É para mim sem nenhuma dúvida o melhore exemplar de Touriga Nacional provado até hoje, esta garrafa mostrou-se muito mais afinada e em melhor forma que a quando da minha primeira prova deste vinho. Um hino ao Dão e à Touriga Nacional.

Encerrando o almoço com um desenjoativo Crocante de Pudim Abade de Priscos.

Durante a tarde, ou o que restava dela ainda tivemos oportunidade de provar mais alguns vinhos que os produtores convidados para o almoço colocaram à disposição. Nesta altura o descanso era imperial e poucos eram os vinhos que me apetecia verter no copo, conto um excelente Carvalhais Único, Quinta dos Roques Garrafeira 2003 e Roques Encruzado 2008, a conversa estava tão animada que quando me dirigia para provar os restantes vinhos eram quase 20:00 e era altura de voltar à Quinta da Boavista onde o evento iria encerrar com um jantar de convívio, vida dura portanto, que contou com a presença de todos os provadores convidados e dos produtores presentes no almoço. Um autêntico festim com que nos brindou o Cozinheiro João Tavares de Pina, durante o qual nos foi apresentando algumas das suas novas criações, um 100% Tinta Pinheira (Rufete) e um blend de Touriga Nacional com vinhas velhas mais conhecido por Kaos. Se o primeiro já era meu conhecido e bastante adorado, o segundo mostrou-se uma valente surpresa, um vinho cheio de vigor, frescura, complexidade muito boa num vinho muito perfumado e profundo, temos vinho para seguir com atenção quando sair para o mercado. Já o Tinta Pinheira é todo ele frescura, vegetal fresco com muita framboesa e cereja a escorrerem de maduras, quase que se trinca com a austeridade vegetal que tem no palato, embrenhado no mato rasteiro e na caruma de pinheiro, cheiros e sabores locais portanto... tem vindo a afinar mas tem taninos e acidez bem presente, essenciais para longa vida pela frente. Pelo meio ainda se teve a oportunidade de beber o Terras de Tavares Reserva 1997, o primeiro vinho que provei desta casa e que desde o seu lançamento me conquistou pela sua qualidade, está a dar uma prova de alto gabarito, madeira acertada com o compasso da frescura e da fruta, todo ele muito Dão sem extras desnecessários... mais uma vez um vinho que é bastante amigo da mesa, algo que todos nós devíamos ter em conta na hora da compra, porque o Dão é isto, vinhos amigos da mesa, vinhos que em novos se mostram fechados e algo duros mas que com a idade se tornam aveludados, frescos e muito elegantes com aquela tonalidade irresistível que os caracteriza. Por outro lado temos os vinhos de cariz mais comercial, dizem que mais ao gosto do consumidor, eu pessoalmente fujo cada vez mais de comprar vinhos com esse carimbo comercial, porque acho que a fruta deve ser servida madura, limpa e bem fresca, não com toques adocicados e toda ela besuntada de baunilhas e chocolates da madeira por onde passou, segue-se um grau alcoólico que quase sempre é estupidamente abusivo neste tipo de vinhos, para não dizer que o tempo passa por eles como uma rebarbadora, óbvio que há excepções mas por norma o álcool acaba sempre por derrapar para fora do copo e fica o caldo entornado. Quero convencer-me que o Dão leva o caminho dos primeiros vinhos, dos genuínos e daqueles que nos podemos e devemos orgulhar...


Um evento 5 estrelas, excelente convívio onde muito se riu, bebeu, aprendeu e conversou. No Domingo ainda havia um almoço com prova marcada na Casa de Darei, mas as saudades do meu filho com 2 meses eram mais que muitas e tive de voltar mais cedo para casa. A todos aqueles que conheci ou revi, com quem falei, ri e partilhei mesa durante estes 2 dias, os meus agradecimentos, em especial ao João Tavares de Pina e à sua família pelo fantástico acolhimento na Quinta da Boavista. João, um grande abraço de parabéns e que se repita... nós gostamos e o Dão agradece.
 
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