Copo de 3: PROVA O vinho de Bucelas

04 março 2007

PROVA O vinho de Bucelas

Seguindo esta pequena viagem, o nosso objectivo é a vila de Bucelas, pertencente ao concelho de Loures, que fica a cerca de 24 km a norte de Lisboa no vale do rio Trancão, tendo sido demarcada por lei desde 1911, em 1993 é criada a Denominação de Origem Bucelas e em 1999 passa a ter o registo de região demarcada para espumantes, sendo que nesta região apenas os brancos tem direito a ter à Denominação de Origem, tornando assim a casta Arinto como o ex libris da região.
É sem dúvida alguma um passeio a fazer por todos os apreciadores de vinho, ficar a conhecer os produtores e as suas adegas, uma excelente oportunidade para entender o porquê da fama destes vinhos e tão perto de Lisboa.

A fama, essa já vem de longe, sabe-se que o Marquês de Pombal se interessou muito por este vinho, e numa tentativa de valorizar a cultura da vinha, chegou a importar algumas castas do Reno, alguns historiadores antes pelo contrário dizem que foram as castas de Portugal a serem levadas para a Alemanha por Cruzados Teutónicos vindos da Terra Santa.

Mas o boom na fama do vinho de Bucelas, deu-se na altura das invasões Francesas em que era muito apreciado pelos militares ingleses e principalmente quando o Duque de Wellington, na altura comandante das tropas anglo-portuguesas contra os exércitos franceses, por gostar tanto do vinho de Bucelas o ofereceu como presente ao príncipe regente Jorge III, levando desta maneira o vinho para Inglaterra.
É desta maneira que depois da Guerra Peninsular, se torna habitual na corte e entre os súbditos ingleses o consumo de vinho de Bucelas.
No tempo de Shakespeare era conhecido pelo nome de ''Charneco'', e mais tarde foi também conhecido pelo nome de Lisbon Hock (vinho branco de Lisboa, sendo que Hock é um termo que os ingleses atribuem a qualquer vinho branco do Reno).

Localização
A área geográfica correspondente à Denominação de Origem ''Bucelas'' abrange as localidades: Bucelas, Charneca, Vila de Rei, Bemposta, Santo Aleixo, Vila Nova, Chamboeira e Freixial.

Solos e Clima
As vinhas instalam-se em solos que correspondem às tradicionais «Caeiras», predominantemente derivados de margas e calcários duros, em regra geral profundos, com materiais grosseiros, sendo que a maior densidade de vinha se encontra nos vales, em terrenos de constituição argilo-calcárea. A região possui um microclima específico, sendo bastante frio no Inverno e temperado no verão, havendo no entanto grandes oscilações térmicas nesta época.

Castas
Arinto (Pedernã), com um mínimo de 75% do encepamento, Rabo de Ovelha e Esgana - Cão (Sercial) com um máximo de 25% do encepamento.

Vinificação
Os vinhos (DOC) Bucelas devem provir de vinhas com pelo menos três anos de enxertia e a sua elaboração deve decorrer dentro da região, em adegas inscritas e aprovadas para o efeito, que ficam sob controlo da CVRBU.
Na elaboração dos vinhos, serão seguidos os métodos de vinificação de bica-aberta, bem como as práticas e tratamentos enológicos legalmente autorizados.

Rendimento por hectare
O rendimento máximo por hectares das vinhas com (DOC) Bucelas é de 70 hl.

O Estágio e os Vinhos
Os vinhos (DOC) Bucelas só podem ser comercializados após um estágio mínimo de oito meses, dos quais dois em garrafa.
O vinho de Bucelas é um vinho branco, proveniente das castas Arinto, Esgana-Cão e Rabo de Ovelha, com uma graduação alcoólica entre 11º e 11,5º
Os vinhos Bucelas devem ter um título alcoométrico volúmico mínimo de 10.5% vol. e uma acidez fixa mínima de 4.0 g/l expressa, em ácido tartárico.
Os VEQPRD DOC Bucelas (espumantes) devem ter como vinho base um vinho apto a ser reconhecido como DOC Bucelas, em todas as suas características, devendo o método tecnológico a utilizar na preparação destes vinhos espumantes ser o método de fermentação clássica em garrafa.
Baseado em: http://www.lusawines.com/cA28.asp , foto retirada do site www.chprado.com

Depois de feitas as apresentações resta provar um vinho que seja exemplo dos vinhos desta Denominação, ou seja, um vinho proveniente das castas Arinto, Esgana-Cão e Rabo de Ovelha.
O escolhido foi um vinho que penso não ser costume encontrar em Portugal, um Garrafeira Branco, das Caves Velhas.

Caves Velhas - Bucelas Garrafeira 1998
Castas: Arinto (80%), Esgana Cão e Rabo de Ovelha. - Estágio: 6 meses carvalho nacional. - 11,5% Vol.

Tonalidade que se apresenta com um amarelo dourado ligeiramente glicérico e de mediana concentração.
Nariz com aroma a mostrar uma intensidade não muito forte mas que não chega a ser tímida, aqui a passagem do tempo já se nota mas não no mau sentido, afinou e o bouquet é bem interessante com fruta presente em ligeira calda (pêssego em lata, e citrinos cristalizados), leve nota petrolada que dá lugar a chá de cidreira/mel em companhia de suave floral (flores brancas), rezina, em harmonia com tudo isto temos toque de baunilha com torrados elegantes, frescura presente ainda que leve com toque de frutos secos (avelã) no final.
Boca de meia estrutura, fruta presente com acidez ainda a dizer presente e a dar uma suave brisa de frescura ainda que não muito vincada, em quantidade suficiente, que nos acompanha durante toda a passagem de boca, apara de lápis, torrados ligeiro em final algo curto com toque mineral e de média persistência.

Um vinho com um perfil claramente fora das modas de mercado, a primeira colheita viu luz em 1936, este 1998 continua a ser feito como se fosse o primeiro, mostra-se ainda em forma para a idade que tem, quantos Garrafeira Brancos temos em Portugal e de 1998, a serem comercializados ?
É de agradecer que ainda se continuem a fazer este tipo de vinhos, é preciso que a memória de outros tempos não seja esquecida pelas novas tendências, talvez não seja fácil de abordar mas que vale a experiência disso não tenho menor dúvida, o preço rondou os 3,50€.
15,5

4 comentários:

Chapim disse...

Caro João Pedro,

mais um excelente post com um carácter pedagógico muito relevante. Assim se conhece mais um pouco das regiões demarcadas portuguesas.

Quanto ao vinho, lá terei que provar.

Boas provas!

João Barbosa disse...

não há verão sem Bucelas. É obrigatório! não sei se choco alguém, mas prefiro-o ao vinho verde (alvarinhos de Monção não incluidos)...

Anónimo disse...

Cá está um fora de moda, que todos os verões, e como diz o João Barbosa, tem que se abrir uma. Acho que é uma tradição. Este, e o BSE das Terras do Sado. Post muito bem feito, o mesmo para o de Colares, que é quase à minha porta.

João de Carvalho disse...

É uma zona de excelência para os vinhos brancos de qualidade em Portugal, que infelizmente está a passar ao lado da grande maioria dos consumidores, as modas ditam que sejam outros vinhos a brilhar, que sejam outros gostos a imperar no mercado.

 
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