Copo de 3: junho 2011

28 junho 2011

600 Altas Quintas 2010



Não é de agora mas já saltou para as prateleiras a nova colheita deste vinho que o nome quase lembra um código postal, afinal o nome apenas se deve à altitude a que as vinhas estão plantadas, 600 metros. Este é a entrada de gama do produtor Altas Quintas (Portalegre), feito a partir de Verdelho, Arinto e Fernão Pires, com fermentação e estágio em inox, apresentando-se com 12,5% Vol.


No seu todo é vinho para despachar no ano em que sai para o mercado, aproveitei para acompanhar umas latas de mexilhão ao natural e outras tantas desde conquilhas, navalhas, berbigão ou ameijoa... todas elas ligaram muito bem com a sua juventude, uma altura que deve ser aproveitada pois tudo está fresco, vibrante e composto, desde as sensações de tropicalidade que chegam ao nariz, até às sensações de erva cortada, é simples e bastante directo, cheira ao que sabe, um pouco mais de frescura e força de nariz ficava-lhe bem, agradável e bem feito embora não lhe tenha encontrado aquela ponta de diferença... o preço costuma rondar os 5€ num vinho que entra naquele lote enorme de boas escolhas para o consumo do dia a dia.
87 pts


26 junho 2011

BD 2010

Este é o BD 2010, o Brando Doce produzido pelo Tiago Cabaço em Estremoz, um branco ousado e diferente na aposta, um branco doce mesmo a calhar para este tempo quente e a ser servido fresco com uma salada de frango grelhado. Quando o Tiago Cabaço me chamou no Encontro com o Vinho para provar este vinho ainda estava imberbe, de fraldas mesmo, e foi na altura uma alegre surpresa... passados meses o Tiago engarrafou o vinho e quando o fui visitar para ver onde está a construir a sua nova e bonita adega, acabei por trazer para casa o BD 2010 que agora aqui falo, feito a partir de um lote nada provável nem para a zona nem para a região pois resulta de 66% Sémillon e 34% Sauvignon Blanc.

Um branco doce e cheiroso, de bons modos com boa gulodice, daqueles que se sorvem (gosto deste verbo, mesmo à lambão ali esticado na esplanada a sorver fortemente o copo para incomodar o vizinho da mesa ao lado, sabe bem, ao mesmo tempo que se vai abocanhando, outro verbo bonito, umas gambas em tomate) bem frescos na esplanada da praia e que bem que sabem, elas adoram e este mostra-se com uma acidez muito sua, presente e refrescante... bom de cheirar e de beber, com a doçura redonda na boca a despedir-se calmamente.
O preço sugerido vai para 8€ a garrafa de 0,75 pois irá também ser comercializado em garrafas mais pequenas, é certamente mais uma das minhas Escolhas de Verão, e certamente será agora nesta altura do ano que nos vai mostrar o que vale, beba-se pois em convívio com amigos e família, beba-se de calções e chinelos enquanto se grelham umas costeletas ou umas sardinhas, este é sem dúvida um vinho de pura descontracção...

Campolargo Pinot Noir 2008

É o melhor exemplar de Pinot a ser feito em Portugal, pelo menos aquele que se prova e se fica a pensar nem que seja um bocadinho nas paragens da Borgonha... sim o vinho não tem aquele adocicado parvo da fruta madurona que encontramos por cá em alguns exemplares e que tiram a piada toda ao vinho, tem bons taninos a darem secura o que é bom, tem fruta fresca e que se faz sentir bem saudável o que também é bom, tem uma bela acidez na boca que lhe confere um bom porte gastronómico e com possibilidade de ficar-se pela garrafa e acima de tudo tem um preço do cacete. Isso mesmo, este vinho andou no Pingo Doce a custar menos de 10€, quando o anterior 2007 pediam por ele em garrafeira uns bons 20€... ora o que terá mudado ? Não faço a mínima ideia, talvez a vontade do produtor escoar rapidamente grande parte da produção fazendo a apresentação deste vinho no dito Pingo Doce, o consumidor como eu e outros tantos agradecemos, eu pelo menos comprei uma caixa e não me arrependi. Vejamos, o vinho em causa a única coisa pela que peca será o seu grau de álcool que bate nos 15% Vol. , não tem uma complexidade de arromba mas também é certo que com uns nacos de vitela a saírem da brasa o vinho conseguiu uma ligação perfeita, servido a temperatura correcta foi uma festa.
No nariz tem aquele toque de cereja e framboesa frescas com o vegetal em formato de saco de chá preto a imprimir uma secura vegetal tanto no nariz como na boca, algum mineral ao de leve com  a prova de boca a entrar em harmonia, com raça mas de corpo médio, fresco com taninos presentes no final da boca... e vai-se bebendo e falando e o vinho ganha algo mais de harmonia com algum arredondamento, ligeiro para não destoar o conjunto. Já provei Pinot genérico made na Borgonha (daqueles que podemos chamar de Barrete Borgonhês) que ficava envergonhado ao lado deste Campolargo Pinot Noir 2008... mesmo assim gostei mais do 2007.
16,5 - 91 pts   

Vale d'Algares branco 2009

Foi provado no meio de outros tantos brancos, em prova cega ninguém sabe o que lhe cai na rifa, pode-se gostar ou passar completamente ao lado... os gostos para o meu lado andam mais exigentes, ando saturado de vinhos sem graça, pesadões com o álcool a dar aquela mordida no final da prova. O vinho que me tinham deitado no copo começou por mostrar-se pouco expressivo e nada fresco, depois aumentou o volume mas pouco, alguma fruta, leve calda e pouco mais de frescura mas pouca o que não me cativou, parecia ter tido um banho em banheira de madeira que se notava levemente... tudo sem grande entusiasmo... pesado e anafado, com dificuldades claras em desenvolver no copo, começas mal pensei eu. Na boca o mesmo desespero, os 14% Vol. batem forte, o vinho torna-se em algo sem graça, gaiato gordo com a mania mas que acaba por ser apenas isso... depois apertamos com ele e sai com o rabo entre as pernas... tem mais corpo que garganta, no final o álcool mostra-se novamente, quente, a faltar frescura. Olho para os meus companheiros de prova e ninguém esboça uma palavra de atrevimento ou elogio, o vinho termina como começou...sem graça, sem nervo ou fio condutor que lhe permita uma estadia valente em garrafa ou mesmo qualquer vontade de repetir, se fosse um bolo era uma bola de berlim com creme daquelas com fritura a mais e creme a menos... comemos uma e ficamos fartos... não faz minimamente o meu estilo de branco, não gostei daquilo que me disse, falta-lhe frescura e é de 2009 mesmo com a desculpa que terá visto madeira pelo caminho, gosto bem mais de outros e até pelo preço praticado que a rondar os 19€ esperava muito mais do que aqui encontrei. 14,5 - 86 pts

20 junho 2011

Loios 2010

Nova colheita deste já clássico de prateleira de Hipermercado, um vinho apenas com passagem pelo inox com um preço que o coloca a menos de 3€. Para aqueles que não querem gastar muito dinheiro num vinho para o quotidiano, há exemplares como este que se apresentam com bastante qualidade. Este Loios tinto 2010 dá uma prova com boa frescura de conjunto, bom de cheiro com a fruta fresca, algum vegetal e um travo da especiaria a dar-lhe premissa para ligar com pratos regionais um pouco mais temperados (ensopado de borrego por exemplo). Arredondado e macio na boca, passagem fresca com bom final.
Um vinho extremamente bem feito, é daqueles que não falha e revela-se um aliado de peso para um consumo do dia a dia. 
15 - 88 pts


Na versão branco 2010, o Loios brilha com uma graduação de aplaudir, são apenas 12,5% Vol. num branco bem jovem e fresco, cheio de vivacidade e que aposta na simplicidade de aromas, bastante directo com lima e limão, relva molhada e cascalho, na boca passa fresco, harmonioso com frescura e sabores frutados bem directos no palato, descomplexado e de fácil aproximação, o preço inferior a 3€ tal como no tinto atira-o para uma das apostas de Verão em tempo de crise, com peixe grelhado não falha e sabe tão bem... o que pedir mais ?
15 - 87 pts

19 junho 2011

Inveja, Vandalismo ou Terrorismo no Priorato ?

Produtor que admiro, produtor que nos dias que correm caminha a passos largos para ser um dos grandes e uma referência... dito porque quem acompanha mais de perto, será em breve o mais importante daquela zona. Tudo isto levou a um acto criminoso que culmina com a invasão da adega e com o abrir as cubas de inox, não roubaram apenas destruíram por destruir... quem sabe com a inveja a correr nas veias, inveja que ali esteja aquilo que noutro lado nunca vão conseguir produzir, como enófilo que sou apetece-me dizer forte e feio, há filhos da puta em todo o lado. Passo a pedido a nota de imprensa:

Declaración oficial y nota de prensa

Durante la noche del pasado 13 de junio de 2011, en la villa de Torroja del Priorat, España, ha tenido lugar un hecho escalofriante e impensable en la bodega de Terroir al Límit. La cerradura de la bodega fue forzada y se produjo en ella un acto de terrible vandalismo. Los tapones de algunos depósitos fueron abiertos y el vino, derramado por el suelo. El contenido de muchas de las barricas de la bodega resultó contaminado y, en consecuencia, irremediablemente dañado por la introducción de jabón industrial.

Los propietarios de Terroir al Límit, Dominik Huber, Eben Sadie y Jaume Sabaté, condenan enérgicamente este acto inexplicable. No se trata tan sólo de un asalto directo y dramático contra una forma de entender la vida, sino casi de un ataque contra la naturaleza misma del ser humano, además de un crimen de dimensiones inimaginables. ¿Nos encontramos ante un acto de odio o de puro vandalismo? No hay razón evidente que se nos ocurra y, por supuesto, nadie ha admitido responsabilidad alguna o culpabilidad por este cobarde acto de destrucción.

El caso está siendo investigado por los Mossos d’Esquadra (policía autonómica catalana) y por las autoridades locales. La Denominación de Origen Calificada Priorat ofrecerá su propia declaración. El suceso ha sido explicado a la Generalitat de Catalunya (INCAVI, Institut Català de la Vinya i el Vi), cuyos laboratorios en Reus (en la Estación de viticultura y enología), analizarán todos los vinos de la bodega. Aquellos vinos que hayan resultado contaminados por culpa de la acción vandálica (probablemente más del 25% de los conservados en barricas) serán eliminados siguiendo los consejos del INCAVI.

Terroir al Límit fue creado en 2004 a partir de la unión de dos vinos: Dits del Terra de Eben Sadie, y Arbossar de Dominik Huber, con el apoyo del viticultor Jaume Sabaté. Con rapidez se convirtió en una de las bodegas más respetadas y apreciadas en España, con reconocimientos nacionales e internacionales. Las tres personas responsables de los viñedos y de sus vinos, con tanta intensidad como declaran su conmoción por este acto odioso y falto de sentido, quieren manifestar su determinación en continuar el proyecto. Al mismo tiempo, muestran su agradecimiento público a cuantas personas les han dado su apoyo incondicional desde el momento en que han conocido este acto sin sentido.

Rascunho de um Jantar

Se há coisa que gosto mesmo muito é ter a mesa cheia de Amigos (daqueles com A grande, que um gajo estima e aprende sempre qualquer coisa) à sua volta. Depois venham as tapas do mar ou as tapas da terra, venha tudo aquilo a que tivermos direito... conversa sempre animada, vinhos sempre tapados que a malta gosta de se divertir nas divagações sobre de onde será ou que coisa será aquela que antes não cheirava bem e depois começou a dominar todos os outros... apenas um enofilar brincalhão longe daqueles artistas de circo que fazem da arte do adivinhar uma suposta mais valia.
Neste tipo de rascunho, a coisa começou de forma doce, o tal BD 2010 que arrisco a dizer fomos dos primeiros a provar uma vez que vai agora entrar no mercado e veio do Alentejo, ali da zona de Estremoz feito pelo Tiago Cabaço, um branco doce e cheiroso de bons modos com boa gulodice, daqueles que se sorvem (gosto deste verbo, mesmo à lambão ali esticado na esplanada a sorver fortemente o copo para incomodar o vizinho da mesa ao lado, sabe bem, ao mesmo tempo que se vai abocanhando, outro verbo bonito, umas gambas em tomate) bem frescos na esplanada da praia e que bem que sabem, elas adoram e este mostra-se com uma acidez muito sua, presente e refrescante... bom de cheirar e de beber, com a doçura redonda na boca a despedir-se calmamente.
Enquanto o fantástico Boffard Reserva se ia terminando na mesa, para mim dos melhores exemplares a serem produzidos em Espanha, queijo com cura superior a 8 meses... e que conquista quem o come, serviu-se uma Sopita de Garoupa bem perfumada para acompanhar um Dona Berta Reserva Vinha Centenária 2009 que quando servido deu que falar na mesa, realmente o branco acabou por pecar... pecou com o aumento da temperatura e do tempo no copo, perdeu-se completamente sem nunca mais se encontrar, uma pena pois até prometia bastante mas a verdade é que aos poucos foi morrendo na boca e perdendo o final que tinha quando servido bem fresco... no aroma tem a sua austeridade mineral com vegetal e fruta madura, sem madeiras a implicar mas no seu todo mostra-se algo manso, sem o nervo que já tantas vezes encontrei nos Rabigato deste mesmo produtor, aquela pujança de vinho novo que permite olhar para o futuro sem medo... não foi obviamente o que se encontrou ontem, pessoalmente a colheita anterior mostrou-se bem melhor.
Passou-se para os tintos, tudo década de 90 com os vinhos a serem servidos em prova cega nas calmas para se poder apreciar evoluções, estilos... os dois primeiros que me caíram nos copos foram os que menos gostei, apesar da evolução que iriam ter mais um que outro, mas caídos muito caídos mesmo... e novamente os tugas a serem nobremente sovados pela legião estrangeira. O primeiro seria o Quinta do Vale Meão 1999, quase mudo, complicado tal o novelo de aromas confusos que andavam por ali embrenhados, pouco limpo de aromas, nada cativante e fora do que já foi... desconjuntado e o menos interessante da noite, foi mesmo o primeiro a desaparecer dos copos directamente para o balde. O segundo vinho mostrou-se mais maduro, um pouquinho mais esclarecido embora já com fruta passificada lá pelo meio... duro e nada a ver com o que eram quando saíram para o mercado, um Douro, confuso também ele... ao contrário do Meão este melhorou ligeiramente, soube desenvolver algo no copo... tardiamente pois também ele foi parar ao balde... sim o Balde do Castigo não perdoa e o Batuta 1999 não resistiu.
Mais um vinho que se ia cheirando e provando, este muito mais esclarecido, enorme classe, a abrir os braços para medir as paredes do copo... fruta fresca, bouquet luxuoso, frescura... porra que coisa tão boa, é como o perfume que quando é de qualidade não engana. Conversa puxa conversa e afinal o que se queria era falar deste vinho... enorme por sinal, a mim ficou-me um sorriso parvo no rosto, ao amigo da frente esbugalharam-se os olhos por um instante... ai que magano o Artadi Viña del Pison 1998.
Saltaram mais dois tintos para a mesa, mais surpresa a caminho, perfis escondidos debaixo de uma capa prateada... um deles uma autêntica automotora de força e pujança pelas ventas dos convivas, raçudo, com o toque de animal a fazer estremecer o copo, faz parte pois claro não é defeito é mesmo assim e que assim é que se faz gostar, evoluir, dançar, força do químico com fruta madura limpa e fresca, cheirava os outros e voltava a este para ser atropelado pela bendita automotora de faróis acesos... tanto nervo, taninos e acidez a darem à vontade mais uns 10 anos de vida ao dito cujo, veio do Rhone... Château de Fonsalette Reserve Syrah 1999. O outro que seria o último era o mais fino, mais delicado mas com vigor associado, chama-se classe ouvia-se do outro lado da mesa, inegável pensei eu, Chateau Leoville Las Cases 1998, tic tac de Bordéus, que grande espadachim... mestria no trato, frescura, taninos presentes mais polidos que no anterior, diferença que se nota... sem falhas. Dos que já provei de Bordéus fiquei com melhores recordações de outro nome... este também me deixou satisfeito e feliz, tem classe e acima de tudo... passados 13 anos ainda gosta de se bandear no copo. Abriu-se um fugaz Alonso del Yerro 2008 já no finalmente, claramente a destoar, novíssimo em folha, a fruta acabada de tirar da árvore, puto raçudo pronto para a briga... tem estofo, nervo, mestria na qualidade da matéria prima desde as uvas à barrica, quem sabe sabe... na boca frescura com presença em grande estilo, tem tudo para daqui a uns anos se mostrar de forma grandiosa. A noite já ia longa... fechámos a conversa e com um sorriso no rosto dissemos obrigado.

16 junho 2011

Aneto Reserva branco 2009

Faço questão de continuar a procurar e a falar de vinhos com identidade marcada, vinhos que teimam em afirmar-se longe de holofotes das prateleiras dos mais cobiçados, daqueles que depois de se beberem nos deixam satisfeitos. O meu encontro com este Aneto em versão Reserva já tinha sido fruto de conversa quando bebi a primeira edição que entrou no mercado, achei na altura que o vinho poderia e deveria melhorar em próximas edições, havia por ali algo que pura e simplesmente não fazia o meu gosto. Passado uns tempos eu e o Aneto Reserva voltámos a encontrar, a prova que deu foi para melhor, servido à descarada sem ser prova cega e mesmo indo de pé atrás ainda com o anterior no pensamento, foi uma autêntica festa o que encontrei e fiz durante todo o tempo que o ia bebendo, copo a copo.
Ora um branco do Douro, 13,5% Vol , em que metade do lote (40% Semillon; 30% Arinto; 20% Viosinho; 10% Gouveio) fermentou em barricas novas e usadas de carvalho francês com posterior agitação das borras, semanalmente, e engarrafado em Maio de 2009 pelo enólogo Francisco Montenegro.

Branco de boa intensidade, bom de complexidade e de frescura, aquela acidez que dá vida e refresca aliada a fruta madura de bela qualidade, antes saudados pelo toque vegetal do mato serrano que habita nas encostas do Douro. As flores, os citrinos, fruta de polpa branca e tropicalidade sentida em conjunto com a baunilha da barrica, apenas um ar da sua graça num conjunto fresco em fundo mineral. Na boca, cheio e com nervo, vai ao encontro do que já se contou, boa intensidade com acidez presente de fio a pavio... bom sinal, forra o palato com sabores frutados, vegetal fresco e no final o tal mineral, dos socalcos Durienses, saboroso, harmonioso e bem fresco. Um vinho com identidade bem marcada, que dá muito prazer a beber e com um preço que ronda os 16€ que o torna uma compra altamente recomendável. 17 - 92 pts

14 junho 2011

Cem Reis Viognier 2008



A primeira coisa que se tem de fazer quando se prova este vinho é esquecer a casta de que é feito, pensar apenas que estamos perante um branco, um vinho que satisfaz minimamente mas do qual esperava muito mais até pelo preço. Como nota há duas coisas distintas que se devem separar, um branco feito de Viognier e um Viognier, neste caso apenas temos o primeiro exemplo visto que o vinho se mostra mais como simples branco. Na realidade não me convenceu minimamente, nem a mim nem aos que partilharam esta garrafa, caro para o que mostrou visto ter rondado os 14€. Cada vez mais fujo a estas pequenas loucuras de alguns produtores, nem entendo a razão pela qual assim de repente se entendeu que a casta Viognier era muito boa para plantar no Alentejo.

Este vinho da Herdade da Maroteira, cujo seu Syrah é bem melhor, pouco ou nada tem a contar, o tempo passou por ele como uma autêntica máquina de polir, tudo o que teria de bom e em plano de destaque já não mora ali, com notas de tosta suave e algum pêssego... apesar da aragem floral, é a barrica que parece mandar no conjunto impondo um pouco a mais o que teria para dizer. Na boca o vinho é acidulado e herbáceo, muito gordo e pesado e aqui os 14% não ajudam em nada com notória falta de acidez que tanta falta lhe faz, perde de imediato a piada quando nos recorda uma dentada num pêssego em que trincamos o caroço... eu não gosto. Sente-se algo vazio e sem alma, sem grande encanto e a não ser do que um branco com pouco ou nenhum interesse feito com uma casta estrangeira com preço abusivo de prateleira. 13,5 - 84 pts

Três Bagos Sauvignon Blanc 2009

Gosto de Sauvignon Blanc, vai sempre muito bem com saladas ou entradas, gosto da casta quando bem trabalhada, gosto dos vinhos que dá origem, gosto dos seus vinhos no Vale do Loire (França), gosto de alguns dos seus vinhos na Nova Zelândia. Não gosto dos vinhos desta casta no formato mousse de manga em que são tudo menos frescos, limpos e apelativos, mostram-se nessa vertente pesados e chatos sem o mínimo de piada. Também não gosto dos Alvarinhos que querem ser Sauvignon Blanc nem dos Verdejo de Rueda que se andam a perfumar demasiadamente com aromas de Sauvignon... cada vez mais com tudo isto à minha volta sou levado a pensar que tenho de recorrer às origens e aos pontos onde tudo bate certo para acertar com o que procuro. O vinho em prova é talvez o exemplar que nasce em Portugal em que a casta Sauvignon Blanc melhor se comporta,  onde as coisas parecem bater certo um pouco mais do que nos outros exemplares nacionais, em que nesses há atributos que falham como falham em tantas outras tentativas rebuscadas de se fazer bom vinho em Portugal a partir de castas com que nunca se trabalhou ou mal adaptadas à nossa "terra". O produtor é Lavradores de Feitoria, lembram-se do Meruge ? Aqui o que temos é um Sauvignon Blanc feito em terras do Douro, com preço a rondar os 8€.
Com os aromas a remeterem para a Sauvignon Blanc, espargos verdes, fruta tropical e citrina com erva cortada, tudo com mediana intensidade, fundo ligeiramente mineral. Mostra-se fresco na boca, com boa dose de acidez, bem balanceado e equilibrado, acaba como começa... sem grandes entusiasmos mas bastante correcto. O tempo fez-lhe alguma mossa, cortou-lhe fulgor, deu-lhe mais arredondamento, é vinho para se beber em novo, o tal vinho do ano... ou melhor , vinho de Verão. Tem o senão, é que os Alvarinhos costumam apresentar-se bem melhor e quase quase pelo mesmo preço. 15,5 - 89 pts

03 junho 2011

6 Anos



No passado dia 20 de Maio o Copo de 3 fez 6 anos de vida online ... 6 anos sem interrupções ou intervalos. A maior prenda que podia ter foi entregue fez dia 19 um ano cheio de vida e de rebeldia...

Os números vão falando por si, eu cada vez menos me preocupo mas ao mesmo tempo cada vez mais me indicam que em 6 anos de vida o Copo de 3 tem crescido... Estamos em crise e não há que fazer grandes celebrações, a festa dos 6 anos já foi feita, feita apenas por mim  junto daqueles que me acompanham e tenho acompanhado nos últimos tempos, amigos de jornadas enófilas, amigos de bons e maus momentos, amigos para a vida... outros não ficaram esquecidos, afinal a festa continua...

Como adenda, venho dizer que o Copo de 3 já tem idade para ir à escola, por isso a partir de agora vai-se começar a um reformular dos artigos mais antigos, até mesmo das visitas já efectuadas a produtores irei tentar actualizar as mesmas, essencialmente no seu conteúdo, afinando para melhor como é óbvio. As viagens de estudo vão também começar a fazer parte do que por aqui vai começar a aparecer...

Cantocuerdas Albillo de Bernabeleva 2007

Um branco complicado e que certamente não irá ao encontro do gosto da maioria, sério, diferente, desafiante e acima de tudo, um branco feito com uma variedade branca que nunca tinha ouvido falar até então, a Albillo. Esta casta autóctone da zona de Madrid costuma dar vinhos corpulentos, glicéricos, gordos e com carácter, pecando na falta de acidez, é a estrela deste Cantocuerdas 2007, produzido pelas Bodegas Bernabeleva, já aqui falada com o seu tinto de 2007. Tinha aberto uma garrafa junto com amigos e a coisa tinha corrido bem, primeiro ficou-se a olhar para a garrafa, depois para o copo e a conversa fluiu, no final o vinho agradou a todos, se bem que na molhada não lhe consegui tirar as medidas como queria, foi preciso nova prova e abri nova garrafa para ver como se comporta este magano.

O aroma é intrigante com algum atrevimento, diferente do normal, nota-se que passou por barrica mas sem grandes atributos cheirosos a verdade é que não é de grande espalhafato, embora todo ele muito selecto, notei um travo vegetal com fruta entrelaçada (citrinos, melão, maçã), tudo ainda muito green and fresh... desde o chá verde ao cheiro da relva verde acabada de cortar no jardim, pois com o fundo bem mineral como não podia deixar de ser. O vinho é daqueles que pede tempo e tempo e tempo, branco para ser decantado... fiz-lhe a vontade e não me arrependi, voltou melhor, em que começa a despontar um leve melado, um bocado subido no tom. É na boca que a coisa dispara, parece um berlinde de vidro enorme e frio, redondo, opulento, preenche bem o espaço à sua volta, com enorme capacidade refrescante, também é seco... e volta ao encontro da prova no nariz, com o vegetal a dominar com ajuda do sabor a fruta em fundo mineral. O final é prolongado e saboroso, todo ele acaba como começou... misterioso. A leve nota oxidativa que se começa a levantar dá-me sinal de que tudo vai começar a mudar... falta saber como irá estar daqui por mais uns tempos.

Ao provar novamente este vinho lembrei-me vagamente de um estilo de brancos da Borgonha que provei recentemente num Another Big Day em terras Durienses. Da minha parte aprovei com distinção este Albillo, um branco que ronda os 15€ e oferece aquilo que muitos procuram, identidade fortemente marcada num vinho distinto e em tudo original... 16,5 - 91 pts
 
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