Copo de 3: janeiro 2012

27 janeiro 2012

Alumbro Godello 2009

Tudo começou como começa quase sempre, toca o telefone e do outro lado um amigo diz que esteve em Zamora e arranjou um vinho tremendo, tenho aqui uma garrafa para provares. Não durou muito tempo que o tivesse nas minhas mãos e a ser vertido no copo. Um completo desconhecido que me piscou o olho com aquele dourado brilhante de laivos esverdeados, enquanto isto lá para os lados de Zamora está o local onde foi produzido, a  MICROBODEGA RODRÍGUEZ MORÁN, micro porque neste caso se limita a uma garagem no mais puro sentido da palavra, onde o parque de barricas não passa das 4 unidades.
A história deste vinho começa com a história de um projecto unido pela paixão de um casal ( María Isabel Rodríguez e Juan José Moreno) em fazer bom vinho de forma ecológica. Pegaram em 3 ha  de vinhedo (Tempranillo, Godello, Palomino) com idades compreendidas entre os 10 e os 100 anos) em Villamor de los Escuderos e deitaram mãos à obra. O sucesso foi imediato, a maneira artesanal como os vinhos são ali produzidos, as transfegas são feitas com base no ciclo lunar, o vinho branco é estabilizado de forma natural ao relento, tudo muito simples e sempre com atenção para a qualidade final, leveduras indígenas e todo um rol de preocupações "caseiras" que afastam este puro Vigneron de grandes centrais de produção vinícola.
Em prova o seu primeiro lançamento, um Godello 90% com uma pitada de 10% de Palomino, mas cujo nome não pode conter Godello por questões burrocráticas... sendo assim passou apenas a chamar-se Alumbro blanco 2009 e esgotou em menos do que o diabo esfrega um olho.

O resultado final não é aquilo que se pode chamar um vinho fácil, não é e fica muito longe de o ser, é todo ele um vinho que precisa de tempo, de carinho e de saber ser compreendido. Para aqueles que esperam vinho pejado de aromas este não é o exemplo, para aqueles que procuram banhos de baunilha e manteiga este também não é o exemplo... mas então que vinho é este ? Acima de tudo é um vinho que transpira terroir, enorme energia positiva, foge ao que é feito em série e aos milhares e milhares de garrafas... bem visto as coisas é um vinho com Identidade muito própria.
É bom dar de caras com um branco que confunde e dá que pensar, em que aquele toque oxidativo dado pela Palomino confunde a malta, ai e tal não gosto já está a ficar passado... ou então o vinho não tem muito cheiro, ele ter até tem mas lá está, é preciso tempo e calma. É complicado, fechado e cheio de nervo, muito sólido e mineral, com fruta amarela e o seu floral... aqui comedido, sem espalhafato. Na boca é o palomino que se mostra logo em primeiro plano, massa-pão com leve amendoado, arredonda e enrola na língua para prolongar-se em final pleno de frescura e mineralidade. A secura que recorda um osso seco e que pede comida por perto, venha uma travessa de Ameijoas à Bulhão Pato. Dos brancos que mais me divertiu nos últimos tempos, continua em belíssima forma... agora vou esperar para provar o 2011 que entretanto chegou ainda por filtrar e estou em pulgas para o verter no copo. 91 pts

21 janeiro 2012

Beryna 2007

Ainda bem que nos dias que correm há quem se empenhe a fundo em demonstrar que em determinado local, naquela determinada zona com fama de vinho a granel, se pode fazer vinho de grande qualidade com base na casta local. Foi com esta vontade que surgiu o projecto Bodegas Bernabé Navarro, cuja base são as velhas cepas de Monastrell que enchem de alma os vinhos deste produtor localizado na D.O. Alicante.
O vinho em causa não é novo, já outras colheitas sairam para o mercado (o mais recente é 2009), mas da altura que o provei aquando do seu lançamento o vinho ainda estava fechado e com boa carga de austeridade, resmungão fechou a persiana e voltou-me voltar uns tempos depois... fiz-lhe a vontade e não me arrependi, dei de caras com um vinho mais refinado e que ganhou claramente clarividência nos seus atributos. 

O lote com castas a serem vinificadas por separado, é composto maioritariamente por 60% Monastrell e restantes 40% com Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Tempranillo, com 14 meses de molho em barrica de carvalho francês. O vinho mostra-se com um aroma claramente diferente ao "habitual", a madeira muito bem metida contribui com refinada complexidade, bom toque fumado a dar lugar a fruta toda ela de boa expressão, limpa e madura, em quantidade e em tons de fruta vermelha e negra com destaque para cereja e amora. Boa frescura, bálsamo, mato rasteiro, chocolate, pimenta preta e um ligeiro toque mineral de fundo. Consegue manter esta firmeza aromática durante bastante tempo, o tempo em copo só lhe faz bem tal como uma breve decantação. Na boca é bem fresco, a fruta surge de igual modo, o seu comportamento é harmonioso e similar ao que se encontrou na prova de nariz, cheio, acidez a contrabalançar o peso da fruta com o trabalho da madeira, num arrasto prolongado e consistente que termina com rasgo mineral. No final da prova fica-se com a ideia de que ainda vai durar algo mais, apesar de ter bastante afinação e dar uma prova substancialmente melhor do que quando saiu para o mercado... a espera compensou neste caso. Do outro lado este vinho é um caso sério de popularidade, a qualidade oferecida a um preço que ronda os  escandalosos 8,50€ e torna este vinho uma compra mais do que obrigatória. 92 pts 

18 janeiro 2012

Quinta da Costa das Aguaneiras 2007


Do sólido e requintado projecto dos Lavradores de Feitoria no Douro, é com cara lavada e englobado dentro dos Terroirs Lavradores de Feitoria que se apresenta o Quinta da Costa das Aguaneiras 2007. Este vinho já teve outro rótulo nos seus primeiros lançamentos, era mais discreto e menos apelativo, este agora é mais frontal e causador de maior impacto, tal com o vinho em si merecedor de uma prova muito atenta pois a sua qualidade assim o exige. 

É curioso que o barulho que outros fazem acaba por deixar vinhos como este um pouco esquecidos e fora do destaque que sem dúvida merece e merecem, afinal de contas todos procuramos vinhos com a melhor relação preço/qualidade possível, este é um desses exemplos cujo preço ronda os 18€.

O lote é composto por um domínio de 70% da Touriga Nacional, com 10% de Tinta Roriz e 20% de outras castas, passando por barrica nova e usada de carvalho francês.

O vinho conquistou-me pela qualidade de conjunto, pela forma como se mostrou com aquele toque vegetal mais agreste, mais raçudo e com nervo, fora de facilitismos que tanto abundam por aí... mostrou-se de aroma intenso com bastante fruta vermelha (amora, framboesa, cereja) bem limpa e madura, a barrica em plena integração sem qualquer beliscar de conjunto, aporta aromas com peso e medida, aumentando assim a complexidade e refinando o conjunto. Depois mostra aquele toque de Douro com vegetal do monte, andar pelas encostas a cheirar a esteva e o mato verde, leve baunilha e apimentado, floral presente com muita frescura à mistura. Boca muito feliz e de perfil gastronómico, amplo a mostrar vigor e energia, com boa profundidade e uma frescura a mostrar-se muito bem, dando ao vinho uma vontade de beber mais um copo, sente-se a boa doçura da fruta pura e limpa, sente-se a madeira que serve de encosto, sente-se aquele travo a pimenta preta, fresco e apimentado, e lá no fundo a secura de alguns taninos em final longo e persistente com um travo fresco e mineral. 92 pts

15 janeiro 2012

Ramos Pinto Collection 2009

Não se confundam, não estamos perante um Duas Quintas que certamente nos colocaria no copo um perfil clássico do Douro, neste caso estamos perante uma marca criada pela Ramos Pinto de nome Collection. O perfil é mais moderno, apelativo, jovem e provocador, pronto a conquistar com o glamour que os seus rótulos transmitem. O primeiro lançamento foi em 2005 ano do surgimento desta gama, são vinhos que se centram numa fruta muito expressiva, algumas vezes com um pingo de doçura da fruta a derrapar demais para o meu gosto. Neste caso o preço é também um enorme aliciante, consegue-se comprar a rondar os 11-13€.

Este Ramos Pinto Collection 2009 é fruto de um lote de 50% Touriga Nacional, 25% Touriga Franca, e 25% Mistura com 80% do vinho ficou em madeira e o restante em cuba por 18 meses. 
O aroma é todo ele de fruta escura muito madura, com capa média de geleia a envolver o conjunto, lembrando de inicio claramente o aroma de vinho do porto, durante a sua prova foram várias as pessoas que o relataram, o vinho foi-se mostrando bastante redondo e guloso, com boa complexidade de aromas que ganhou da barrica que o ampara. Todo ele devasso e expressivo, cheiroso e guloso, com  a frescura necessária e e bem colocada. Na boca é cheio, com a fruta muito presente a rebentar saborosa e madura, melhor a prestação na boca que no nariz, mais harmonioso, macio, especiaria e frescura em final de boa compostura. 

De todos os Collection até agora provados foi o que achei com a fruta mais pesada e até um pouco saturante, um vinho que aponto claramente para o consumo a copo fora da refeição e à conversa com amigos.  Não que seja "doce" que não é, o vinho tem a chancela Ramos Pinto, transpira qualidade embora não seja este o perfil que de momento procuro, quero vinhos mais serenos e com menos barulho dentro do copo, talvez numa linha mais Duas Quintas Reserva 1997 se é que dá para entender... 91 pts

12 janeiro 2012

Ultreia St. Jacques 2006


O caminho perdura na lembrança de todos aqueles que o escolheram, a marca de quem o percorreu fica para sempre gravada no tempo. A minha caminhada até Santiago de Compostela já lá vai, os sons, cheiros e sabores daqueles dias inesquecíveis marcou-me, fui arrebatado pela história e sabores das variadas regiões que percorri passo a passo. Cheguei ao fim mas parece que a porta não se fechou, a vontade de voltar é grande, não é fácil virar costas a algo que gostamos muito como é o caso. O livro Gastronomia en el Camino de Santiago, da autoria de Maria Zarzalejos é uma belíssima obra que se apresenta com capa dura, cheio de fotografias de grande qualidade com uma abordagem cuidada sobre as províncias por onde se vai passando, com detalhes sobre a história, monumentos, gastronomia, fala-se dos vinhos ainda que muito superficial sobre castas e sobre a especificidade de cada zona, tal como os seus costumes. O grande destaque vai para as receitas que foram recompiladas e colocadas em destaque em cada uma das províncias por onde se passa, direi que são as mais emblemáticas feitas à maneira antiga, tradicional, podendo sempre variar conforme a mão que as prepara mas o que ali está está muito bem e recomenda-se. O preço do livro ronda os 55€ mas com alguma pesquisa consegue-se encontrar a preço mais comedido.

A receita, Perdices montañesas, vem da mesma zona que o vinho em causa para a acompanhar, o Bierzo, uma zona cuja presença do vinho e da vinha em muito se deve ao Caminho, aliás a influência Francesa foi grande até pelo nome com que acabou por ficar baptizado Caminho Francês. A variedade tinta que por ali reina é a Mencía, em Portugal tem por nome Jaén embora os vinhos do outro lado sejam mais cotados a nível internacional e por sua vez bastante mais procurados. O vinho que abri para acompanhar as ditas perdizes foi um Ultreia St. Jacques 2006 (Bodegas y Viñedos Raul Pérez), da autoria do estrelado enólogo Raul Pérez. O vinho vai buscar o nome à palavra Ultreia, de forte significado entre peregrinos e com origem na Idade Média, que significa "em frente", St. Jacques é o nome da vinha de onde é produzido e também o nome do apóstolo (leia-se São Tiago). A vinha são apenas e só uns meros 3.2 ha e é velha, foi plantada em 1889.

O resultado final com 13,5%Vol é um caldo 100% Mencía que tem direito no final a um estágio de 8 meses em madeira. Se até aqui a coisa já prometia, todo o resto é obra de um mestre enólogo de nome Raul Pérez, talvez o nome mais sonante da enologia moderna em Espanha, o nome que todos querem ter no rótulo, principalmente quando o projecto é recente e convém que a coisa seja bem feita, Raul sabe-o fazer como ninguém... apoiando-se firmemente na ideia que os grandes vinhos nascem na vinha e é nisso mesmo que ele se destaca. O resultado são vinhos altamente cotados e reconhecidos mundialmente pela quase totalidade dos críticos de renome, essencialmente os do Bierzo que ele domina como poucos e onde imprime uma frescura e elegância notável à casta e respectivos vinhos. 

Este não é excepção, mostra-se de aroma limpo e perfumado, muito bem composto com uma fruta madura ( amora e framboesa) muito presente, alguma geleia, bálsamo subtil, cacau, ainda um tempero especiado pelo meio com nota de fumo, tudo em boa intensidade com toque de mineralidade. Na boca todo ele concentrado, densidade de sabores com fruta em destaque, depois é uma passagem com suavidade mas com alguma secura no fundo, é vinho que ainda tem mais algo que durar, que mostrar, dá sinais de que a sua complexidade ainda não está na máxima plenitude. A frescura que o embrulha com a qualidade da fruta e a fineza do trato é o que mais se destaca, um vinho que na altura não me custou mais de 7€, hoje em dia esgota rapidamente assim que chega ao mercado... é rateado e alvo de cobiça, um Mencía de grande qualidade. Se o vir não pense duas vezes, a compra e a prova valem cada cêntimo de prazer... esta foi a minha penúltima garrafa, em relação à que abri no ano passado com um
amigo, notou-se um ligeiro refinamento, vou guardar a última e ver como se comporta para finais deste ano. 92 pts

07 janeiro 2012

Bafarela Reserva 2009

Vasculha-se por entre garrafas à procura da próxima "vítima" a ser alvo de prova, procuram-se trilhos seguros e evitam-se quase sempre aqueles demasiadamente adornados e repetitivos que enjoam passado algum tempo de por lá andarmos, pessoalmente já os evito mesmo antes de chegar perto. No meio de tudo isto há sempre um saber respeitar aqueles que por lá andam, por lá gostam de passar e todos aqueles que escolheram que era ali que queriam assentar arraial... 
Na vida costuma-se dizer que se muda de casa, de carro, em casos até de mulher mas nunca se muda de clube... no meu caso de mulher estou muito bem servido, de casa também, de clube nem se fala e o que mudava era o carro, de resto o gosto, esse mariola, é aquele que tem vindo a mudar ou direi, a refinar com a idade. 

Afasto-me de vinhos em que apesar da frescura da fruta, ela aparece a pingar doçura acima do que eu entendo como razoável, depois é tudo com peso a mais e em doce, especiaria doce como a canela, um travo fresco evita que o vinho se torne maçudo e pesado com a graciosidade de um toque floral e pinheiro manso a lembrar aquela pomada que se metia no peito quando se tinha 5 anos, a tudo isto somamos uma prova de boca redonda com passagem macia, novamente a fruta é doce apesar de um travo ligeiramente seco com pontas vegetais a cair para o lado com um travo de álcool que estupidamente se mostra no final.
O conjunto em si até resulta, dá prazer para quem gosta de vinho com este perfil, tentei após a prova ligar o vinho com uma grelhada mista e acabou por ficar na mesa que em 5 apenas 1 pessoa lhe pegou. Não é este o Douro que procuro. Já me esquecia, o preço deste Bafarela Reserva 2009 do produtor Brites Aguiar ronda os 6€ e mostrou-se ligeiramente inferior a este. 87 pts

Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs 2008

O mundo da prova do vinho é um mundo de subjectividade, simplesmente porque a prova de hoje amanhã pode ser diferente, depende de muita coisa a maneira como abordamos um vinho, a maneira até como respondemos aos colegas de trabalho depois de uma  manhã em que nos bateram no carro ou de uma manhã em que tudo nos correu bem... no vinho a coisa acontece da mesma maneira. Há sempre o gosto que difere, há o tipo de vinho favorito, há quem diga que o saber reconhecer da excelência é uma obrigação de um provador mesmo quando os gostos são pessoais e algo de intransmissível, logo isso do conceito de excelência pode ser para um o que para outro é uma banalidade. No meio disto tudo há sempre aqueles vinhos que uns veneram e dizem maravilhas e outros dizem sim senhor mas não me enche as medidas, ou seja, gostei mas não quero disto lá por casa... e não há mal que venha ao mundo pela sinceridade e honestidade com que se diz, seja o vinho de topo ou não topo, acima de tudo frontalidade e coerência.

Ora o vinho que se segue é um dos exemplos que a mim não me conseguiu colocar um sorriso no rosto, devo ter por esta altura um amigo a dizer "como é que tu não consegues gostar deste vinho", mas a vida é feita destas coisas... haja a capacidade para reconhecer que estou perante um vinho muito bem feito e vem do Monte da Ravasqueira (Arraiolos) e seria o topo de gama até aparecer um tal de MR Premium que veio dar cabo do estrelado ao Vinha das Romãs. Este aqui falado é feito apenas de uma vinha, a tal das Romãs e o preço que pedem por ele torna-o bem acessível e não magoa ninguém se disser que custa menos de 20€, o resto é o comportamento de um blend de Touriga Nacional, Syrah, Touriga Franca e Alicante Bouschet com o respectivo banho em barrica e posterior estágio. A destacar-se mais uma vez a boa simbiose entre a fruta vermelha, algum floral e a madeira, mais destaque pela parte da fruta com elegância e frescura, todo ele com boa complexidade, certinho e comedido, sempre bastante harmonia. Boca com ligeira secura e fruta de morder, gulosa, de passagem prazenteira e macia a dar uma bela prova desde já, mediana espacialidade com presença de uma especiaria a lembrar pimenta preta fresca e apontamento mineral de fundo, persistência final média.
Agora vem a parte confusa, reconhecendo que o dito cujo está muito bem feito e se bebe muito bem, dito isto a nota é de acordo com o que o vinho vale, apesar de não ser daqueles vinhos que gostaria de ter na garrafeira... confuso ? Talvez, mas nada como provar e dar a opinião... 91 pts

06 janeiro 2012

Herdade das Servas Touriga Nacional 2006

Escrevo sobre um dos produtores que tenho tido o prazer e privilégio de seguir desde que surgiu no mercado, as ligações ao mundo do vinho na família Serrano Mira vem de longe, mas os dois irmãos, Carlos e  Luís, decidiram que queriam um projecto só deles, fazer as coisas à sua maneira e avançaram com a Herdade das Servas bem perto de Estremoz. Nunca escondi que sou amigo dos donos, o enólogo Tiago Garcia embora mais novo que eu andou na mesma escola e ali na Herdade das Servas sempre fui muito bem recebido, o bem receber é norma naquela casa. 

Em 2003 lançaram um excelente Touriga Nacional, a evolução do mesmo até aos dias de hoje tem sido notável e arrisco a dizer que foi o melhor Touriga Nacional das Servas até à data, pena já ter poucas garrafas, mas nota-se que a enologia também tem vindo a refinar com os anos e com a experiência acumulada, ganharam muito com a subida do enólogo Tiago Garcia de residente para principal, um reconhecimento mais que meritório de um profissional que a solo tem seguido um rumo que eu gosto, vinhos menos pastosos, menos carregados, mais frescos e harmoniosos, afinal é o rumo natural da vida a pender para a harmonia e serenidade. Em 2006 um ano dito menos bom, ali também se fez Touriga Nacional, o mesmo que agora falo, um vinho que arrisco dizer foi o quebrar de um elo que ali morou, o rótulo também mudou... sim o novo Touriga 2008 é diferente e encaixa no que já disse lá atrás e falarei dele noutra altura.

No seguimento das anteriores colheitas é um vinho pujante e concentrado, sem cair em exageros que o possam tornar em algum momento enjoativo. No primeiro instante mostra toda a sua força e energia, fruta negra fresca e bem madura (leve toque doce da mesma), compacto, madeira ainda a dizer que não arranjou lugar para se acomodar, liberta bálsamo com toques de baunilha que se misturam com ligeira violeta e pimenta preta em fundo. Na boca é um vinho cheio, vigoroso e com estrutura sólida que lhe dá largos anos de vida, taninos ainda presentes sem incomodar grande coisa se acompanhado de comida de bom tempero, tipo feijoada de javali ou ensopado de lebre, com a intensidade a que já nos acostumaram os vinhos desta casa, sabor marcado pela fruta com alguma pimenta, bálsamo novamente e a madeira bem mais acomodada juntamente com a frescura necessária em final longo e persistente. O preço penso que não deve andar longe dos 15€ para um vinho que apesar de dar uma bela prova neste momento, vai certamente melhorar um par de anos em garrafa. 92 pts

05 janeiro 2012

Tons de Duorum 2010

É sem apelo nem agravo um porto seguro, um daqueles vinhos que não falha nem engana... fatiota comprada na H&M e pronto a desfilar no copo dos consumidores, bastante directo mas o suficiente para quem o prova não sair defraudado. Há vinhos mais caros cuja prestação não é nem tão boa nem tão pura quanto o vinho de que agora falo... o Tons de Duorum 2010. Começa por ter um preço de escândalo pois nem 4€ custa numa grande ou média superfície comercial, abusa de nós com fruta muito fresca  (morango, ameixa, framboesa), saudável, limpa e franca, depois é aquela aragem a esteva que se mistura com especiarias, leve fumado e chocolate de uma barrica com bom enquadramento, não chateia em nada. O resultado é um vinho harmonioso e de presença mais que suficiente, passagem com sabor a fruta e frescura em bom final. Dá prazer cheirar e dá prazer beber, sendo bom amigo da mesa... afinal é isto que se procura quando se compra um vinho ou não ? A nota final é o reflexo da RPQ que o vinho mostra. 90 pts

02 janeiro 2012

Marquês de Marialva Bruto Reserva 2009

Festeje-se a entrada num novo ano neste caso não como costuma mandar a regra no trivial Champagne mas sim com um Espumante nacional do mais democrático que conheço no que toca a relação Preço/Qualidade. Este é já um velho conhecido meu, o preço que me custa no LIDL, teima em não passar dos 4€, leva a que tenha repetido a compra por mais que uma mão cheia de vezes. A qualidade acho-a mais que correcta, é um vinho que cumpre exactamente aquilo que sempre procurei num espumante desta qualidade, antes de mais o essencial prazer à mesa, boa qualidade pelo seu conjunto que até ousa em dar alguma sensação de cremosidade, pão torrado e manteiga, creme de pasteleiro com uma boa dose de sabores e aromas frutados no tema citrino. E é exactamente esta "piquena" complexidade que o afasta das limonadas gaseificadas que por vezes encontrei a 5 e mais euros... 

No que ao Espumante em causa diz respeito, é produzido na Bairrada pela Adega Cooperativa de Cantanhede, 80% Bical e 20% Maria Gomes, é daqueles sem espinhas tudo simples e de maneira directa e bem composta. Por vezes fica-se na dúvida de que o barato pode sair caro, por vezes pensamos que por ser mais barato pode não ser bom e os que pagamos pelo dobro é que valem a pena... enchemos o peito e oferecemos um copo como se aquilo fosse do melhor feito no mundo, jocosamente falando ainda nos falta a medalhinha do Melhor Espumante do Mundo uma vez que Moscatel, Branco, Tinto e Rosé já cá moram... mas adiante, aqui fala-se daqueles que não precisam ser melhores do mundo, afinal é aquele que a minha carteira mais gosta e que eu também gosto... para beber de forma descontraída e sem complexos, com marisco, com entradas, com salmão, com leitão ou até a regar um faisão com uvas... polivalente à mesa e no final todos gostam. 


 
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