Copo de 3: 2015

30 dezembro 2015

Casa da Passarella, as Vindimas, as Vinhas Velhas e os Fugitivos

Blend-All-About-Wine-Casa da Passarella-Harvesting-day-House casa da passarella Casa da Passarella, um dia nas vindimas Blend All About Wine Casa da Passarella Harvesting day House

Fomos visitar a histórica Casa da Passarella, no Dão, com a Serra da Estrela em pano de fundo e literalmente metemos as mãos nas vinhas mais velhas deste produtor. Em plena altura das vindimas o convite foi aceite para ir conhecer as fantásticas vinhas velhas que dão origem aos melhores vinhos desta Casa, num trabalho de campo com muita aprendizagem e um almoço bem descontraido onde brilharam dois novos lançamentos. No final ainda tivemos uma vertical do tinto Vinhas Velhas ao lado de duas novidades que em breve vão chegar ao mercado.

Foi chegar, pegar na tesoura e descer as ruas do pitoresco vilarejo da Passarela até chegar às vinhas. Um cenário fantástico com três pequenas parcelas de vinha cuja idade supera já os cem anos, dispersas em três pequenos patamares, assente em solo predominantemente granítico onde cepas de uvas brancas convivem lado a lado com cepas de uvas tintas. Castas com nomes que de tão estranhos correm o risco de ficar esquecidos no tempo e por mais que se queira apenas se consegue entender toda a magia e especificidade de uma vinha como esta estando no local e reparar na enorme variedade de castas que ali moram. Pena que durante largos anos as vinhas do Dão estiveram em decadência e com isso a qualidade dos vinhos a que davam origem. Foi preciso um forte investimento por parte dos produtores em plantar nova vinha, o que de certa maneira ajudou a um afastamento ou até mesmo o arranque do vinhedo mais velho.
O blend resultante destas vinhas velhas carrega a alma da região, o Dão tem nas suas vinhas mais velhas a sua maior riqueza e temos de agradecer a todos aqueles que com esforço e bastante dedicação, lutam para as preservar e conseguir vinhos que quando educados de forma correcta na adega, atingem patamares muito altos de qualidade. Portanto não é de estranhar a forma apaixonada como o enólogo Paulo Nunes fala destas suas “meninas” com quem, segundo palavras dele, tem aprendido muito. E com o que estas vinhas velhas lhe ensinam ele na sua parte de mestre criador tem conseguido interpretar de maneira tal que os resultados falam por si. Fora de modas, sabe criar e educar grandes vinhos, nota-se que à medida que as colheitas vão passando o seu estilo “Dão da Serra” afina num misto de tradição/modernidade com vinhos de fina exuberância, muita definição da fruta que combina raça, carácter, corpo e um natural aveludado que teima em dar sinais logo desde cedo.

Foi já à mesa servido por um tradicional prato de Rancho que me fiz acompanhar da mais recente novidade, o Enxertia Jaén 2012. Um vinho perigosamente apetecível que desapareceu do copo num ápice, a combinação entre estrutura/frescura/fruta sumarenta resulta num combo perfeito à mesa. Em momento de desfrute e amena cavaqueira, foi rei e senhor este Jaén que soube pela vida e marcou mais um belíssimo momento de convívio.

Mas foi ainda com as vinhas velhas na memória que se realizou a vertical desde o primeiro exemplar Vinhas Velhas 2008 até ao mais recente 2012. Notou-se a evolução do perfil, com o 2008 a mostrar uma maior presença de baunilha e tosta ao lado de fruta muito gorda e sumarenta. O que mostrou menor prestação e mesmo mais deslocado de toda a prova foi o 2010 cujos apontamentos mais adocicados destoam por completo dos restantes. O mais calado de momento é o 2011 que se encontra na fase de arrumação e ainda pouco quer mostrar embora esteja um belíssimo vinho em perspectiva. Vencedores da prova se é que se podem considerar assim, tanto o 2009, arriscando a ser o melhor até à data com o 2012. Vinhos compactos e sedutores, bom equilíbrio com corpo médio e um pouco de maior arredondamento dado pela barrica, tudo isto sempre com uma acidez/frescura habitual dos vinhos da região.


Por último ficou a apresentação oficial dos novos vinhos que já tinham sido dados a conhecer ainda que de forma envergonhada e agora sim foram dados a provar com a roupagem definitiva. Inseridos na gama O Fugitivo, surgem o Garrafeira branco 2013 e o tinto Vinhas Centenárias 2012. A produção de qualquer um deles não supera as 2000 garrafas, são dois grandes vinhos que espelham a terra que os viu nascer. Enquanto o tinto vai buscar como foi dito lá atrás a raça, carácter e corpo com uma acidez e travo de ligeiro vegetal que lhe confere uma bonita energia no palato. Complexo, profundo e ao mesmo tempo ainda muito novo, muito no perfil do Vinhas Velhas 2012 embora todo ele com um pouco mais de tudo. Já o Garrafeira branco é um vinho de estrondo, nada fácil e fora de modas, cheira a Dão de outros tempos, cheio de garra com taninos a marcarem o final cheio de secura, o vinho grita por descanso em garrafa. Eléctrico, nervoso, tudo ainda muito novo tanto no nariz como na boca, do melhor que a região me colocou no copo nos últimos anos.

29 dezembro 2015

Soalheiro TerraMatter 2014

Novidade recente este Soalheiro Terramatter, um Alvarinho da colheita 2014 que teve uma vindima mais precoce, sem filtração e sujeito a depósito cujo envelhecimento é feito, essencialmente, em barricas de castanho (pipas tradicionais da região do Minho). A tonalidade é ligeiramente mais carregada que o normal nos vinhos da casa, nota-se algo fechado e sem a espectável precisão aromática que o produtor nos tem acostumado em todos os seus vinhos. Denso, bom volume de boca com muita elegância e frescura, sensação de ligeira untuosidade. Travo mineral vincado em fundo numa passagem plena de sabor e frescura. Está a meu ver ainda muito novo e será bastante interessante acompanhar a sua evolução, haja garrafas que o permitam. Ronda os 17€ a garrafa e a produção é bastante reduzida. 93 pts

23 dezembro 2015

Votos de Feliz Natal



O Copo de 3, deseja a todos os leitores deste espaço e respectivas famílias, um Santo e Feliz Natal.

22 dezembro 2015

Os Sabores da Nossa Terra


No vasto património que é a nossa gastronomia, muitas são as obras que lhe vão sendo dedicadas um pouco por todo o lado. Cabe neste caso realçar uma edição que acho deliciosa e que tal como a capa indica é uma viagem ao património gastronómico do Oeste, do Ribatejo, do Ribatejo Norte, da Charneca Ribatejana e da Península de Setúbal. Uma obra que nasceu da vontade de cinco Associações em divulgar a culinária e os produtos das respectivas regiões. Um trabalho que tem de ser louvado e dado a conhecer a todos os apaixonados pela nossa gastronomia.

Cada uma dessas associações levou a cabo uma apurada recolha da qual resultaram 20 receitas para cada uma das regiões em destaque, com direito a breve introdução às principais localidades e os seus produtos mais característicos, disponibilizando uma agenda gastronómica para os interessados. Há também, ainda que de pequeno formato um  destaque para o tipo de vinhos que são produzidos nas várias regiões.

O ponto alto do livro são as receitas, funcionais e carregadas daquela identidade que tantas vezes procuramos, bem ilustradas e com direito a uma nota introdutória onde no final é feita a sugestão de vinho para acompanhar o respectivo prato. Para os apaixonados fica a vontade de experimentar, de procurar aqueles ingredientes que por vezes de tão desconhecidos nos levam à procura dos mesmos. Esse mesmo efeito que de tão positivo leva por vezes a que produtos que estão esquecidos sejam salvos desse mesmo esquecimento. Este "Os Sabores da Nossa Terra" ao que parece foi editado mas por pena minha nunca me passou nenhum exemplar pelas mãos, uma pena, resta desfrutar e deixar-me guiar pela edição digital, também acessível pelo respectivo site, consultar AQUI.



21 dezembro 2015

Pêra Manca 2010

É o expoente máximo da Adega da Cartuxa (Alentejo), nascido pela primeira vez na colheita de 1990 e dá pelo nome de Pêra Manca. Sem comparações possíveis com o vinho que já foi no passado e apesar de durante alguns anos parecer ter andado meio perdido, mostrar-se agora nesta colheita de 2010 à altura daquilo a que me tinha acostumado. Obviamente que com todas as mudanças a enologia também mudou e o vinho sofreu os necessários ajustes que demoraram o seu tempo a assentar arraial, porém comanda a finesse e harmonia de componentes, tudo numa toada de pura classe com frescura e fruta de grande gabarito. Na boca enche o palato de sabor e com belíssima harmonia, estruturado com raça e energia, capaz de evoluir por largos anos. Diga-se que é dos que se bebem com imenso prazer, sem cansar e apetece sempre mais um copo e outro até que a garrafa fica vazia. É a todos os níveis um grande vinho, que se soube reencontrar no caminho da glória que conquistou nos anos 90. Mais que um Clássico é um Ícone dos vinhos de mesa em Portugal com um preço que na loja do produtor ronda os 100€ por garrafa. 95 pts

Graham´s Colheita 1972

Após a aquisição da Graham's pela familia Symington em 1970, Peter Symington, então enólogo principal da casa, escolheu este vinho oriundo das vinhas mais velhas da Quinta dos Malvedos e da Quinta das Lages. Acompanhando de perto ao longo da sua carreira o estágio deste Colheita 1972, Peter Symington passou esta responsabilidade para o seu filho Charles Symington quando se reformou. Provado por duas ocasiões, com preço a rondar os 225€, o vinho como seria de esperar após mais de 40 anos de estágio em madeira, apresenta-se complexo e profundo. Rico em detalhes dominado pelos aromas que invocam fruta desidratada com os alperces em destaque, geleia de laranja e cereja, frescura, caixa de charutos, fruto seco... Boca a condizer, amplo, frescura a contrabalançar com o toque de doçura numa elegância de conjunto notável. Enche o palato de sabor, muito boa presença e um final interminável, fantástico. 96 pts

20 dezembro 2015

Blackett Porto 30 Anos

Um nome perdido na História que foi resgatado pela Alchemy Wines, Port Wines & Vineyards, Lda e mostra neste caso um vinho marcado pelo poder do tempo, capaz de sobreviver e crescer ao longo de sucessivas gerações, tal como o propósito desta nova empresa. É no estilo Tawny que reside a alma e essência daquilo que é o Vinho do Porto, o lote é uma arte dominada pela figura do master blender que na sua genialidade trata por tu todas as velhas pipas que repousam nas imensas caves. É essa figura que quase sempre passa despercebida aos olhos do consumidor e que sabendo escolher por entre centenas de barricas as que considera melhores, como quem monta um puzzle, consegue criar verdadeiras obras de arte. Neste caso um Tawny 30 Anos com uma belíssima complexidade, muito fresco bem definido, tabaco, noz, alperce cristalizado, caramelo de leite, ligeira laca, sensação de untuosidade num conjunto amplo e profundo, com final de boca guloso. Tudo muito preciso na forma como conjuga a juventude e vigor dos vinhos mais novos com a complexidade e educação dos vinhos com mais idade que lhe complementam o lote. Vinhos destes são a recompensa ideal para nos acompanhar no final de um dia de trabalho. 95 pts

16 dezembro 2015

Soalheiro Alvarinho 2014

Ano após anos este Soalheiro Alvarinho (Vinhos Verdes) é provado e anotado como um dos melhores brancos a serem feitos em Portugal, a consistência da sua qualidade é invejável para uma marca que conta com mais de 25 anos no mercado. Peço preço em grande superfície comercial quase sempre a rondar os 9€ a compra é mais que aconselhada, direi obrigatória, para quem pretender um belíssimo vinho para momentos de festa ou impregnados de alguma importância, ou mesmo para quem quer ter um momento de prazer à mesa. Continuo também a abrir estes vinhos um ou dois anos após o seu lançamento, se repararem começa a entrar no mercado o novíssimo 2015. Por aqui é este 2014 que começa a abrir os olhos, pareceu-me mais afinado, menos exótico com rédea curta para o exotismo que se vinha abatendo sobre ele, com as flores e os citrinos a brilharem apesar de contido a qualidade e definição aromática faz o seu jogo de sedução, muita frescura com acidez a lavrar no palato, saboroso e bem persistente. 92 pts


11 dezembro 2015

Grandjó Late Harvest 2012


O Grandjó da Real Companhia Velha tem estatuto de lendário, o "Vintage das terras altas" como é conhecido, vai para mais de 100 anos a brilhar à mesa. Por agora vamos na colheita 2012 que marca a estreia a solo do enólogo Jorge Moreira, num vinho cujas uvas da casta Sémillon provenientes da Quinta do Casal da Granja (Alijó) permitem o desenvolvimento de botrytis cinerea, o fungo responsável pela podridão nobre, factor determinante no processo de elaboração deste vinho muito especial. Esse mesmo efeito da botrytis sente-se presente no nariz, em companhia de aromas limpos, frescos e com aquele adocicado quase que a lembrar fruta em calda com destaque para o alperce, toque melado, chá de limão, muito bonita complexidade num todo com muita harmonia e delicadeza. Na boca é doce mas fresco, muita finesse com sensação de untuosidade a meio do palato, final fresco e de apontamento guloso, para mim deveria ter um bocadinho mais de acidez mas da maneira como desaparece do copo uma pessoa até se esquece desses detalhes. Custa coisa de 19€ e vale cada gota, um belíssimo Late Harvest. 94 pts


Evel XXI Grande Reserva tinto 2012

Dando continuidade à edição comemorativa dos 100 anos da marca Evel da Real Companhia Velha, chega-nos agora o ‘Evel XXI Grande Reserva tinto 2012’. Um blend de Vinhas Velhas, Touriga Nacional e Touriga Franca, que dá origem a pouco mais de 3.000 garrafas a saírem para o mercado com preço a rondar os 40€. Diga-se que o vinho conquista no imediato, elegância e frescura num conjunto recheado de coisas boas e apetecíveis, frescas e muito bem definidas. Bonita complexidade com nota de baunilha, fruta negra madura, cacau, especiarias, o arredondamento da barrica torna a textura mais aveludada e como tem vindo a ser hábito por aqui o trabalho com as barricas tem sido notável. No fundo uma ligeira austeridade que suporta o conjunto, cheio de vida, muito prazer no palato, amplo e bem estruturado com a fruta a escorrer de sabor e complementada pelas notas de cacau, baunilha, geleia de frutos silvestres, em fundo com ligeira secura. Um belíssimo vinho, tentador e harmonioso que dará desde já muito prazer à mesa, por exemplo com uma perna de cabrito no forno. 95 pts


09 dezembro 2015

Quinta de Cidrô Marquis 2012


É uma novidade da Real Companhia Velha (Douro) lançada recentemente no mercado, na linha do ‘Quinta de Cidrô Celebration tinto 2010’, a Companhia lança agora o ‘Quinta de Cidrô Marquis’ para homenagear o Marquês de Soveral, nascido em São João da Pesqueira, em 1851, na própria Quinta de Cidrô, então propriedade da aristocrática família Soveral. Edição limitada a 3573 garrafas a rondar os 40€ cujo lote resulta da união das castas Touriga Nacional (60%) e Cabernet Sauvignon (40%). Ao primeiro contacto a impressão é de um vinho denso, ainda fechado e com ligeira austeridade a despontar, grãos de pimenta preta, chocolate preto, tabaco, fruta (cerejas, amoras, framboesa) bem limpa e madura. Muito bom o trabalho com a madeira,  ainda que presente pouco ou nada incomoda mas tudo parece pedir tempo. Na boca um Douro cheio de vigor e raça, encorpado e cheio de sabor mas a querer mostrar-se ao mesmo tempo elegante, profundo com sabor vincado e frescura bem presente. Um vinho que precisa de tempo para se acomodar, brilhará certamente daqui por um par de anos ou até mais. 93  pts


07 dezembro 2015

Real Companhia Velha - Vinhos do Porto


Com mais de 250 anos de existência e de actividade ininterrupta ao serviço do Vinho do Porto, a Real Companhia Velha é a mais antiga e uma das mais emblemáticas empresas de vinho de Portugal. Fundada em 1756 durante o reinado de D.José I, por iniciativa do Marquês de Pombal, a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro também referida como Real Companhia Velha tinha como objectivo limitar a preponderância dos ingleses no comércio dos vinhos do Alto Douro e resolver a crise que a região atravessava. As suas seculares caves encontram-se instaladas em Vila Nova de Gaia e foi por lá que se deu início a esta fantástica viagem pelo mundo da Real Companhia Velha. Visitar e ficar a conhecer as Caves de Vinho do Porto é algo único, cada uma delas respira uma identidade muito própria fruto dos tesouros que guardam ao longo do passar dos anos. O ar que se respira em cada uma é diferente, a luz, os cheiros, as pipas e até mesmo o chão que pisamos. Estas caves da Real Companhia Velha emanam um carisma muito especial e mesmo não ficando "coladas" ao rio, merecem uma visita muito atenta. 


Vagueando pelas caves uma das coisas que gosto de fazer quando visito estas catedrais do vinho é perder-me por entre os pipos à procura daqueles que surgem datados com o meu ano de nascimento, outra das aventuras é procurar qual o mais antigo. No decorrer desta visita fui dar com um verdadeiro tesouro, ali lado a lado estavam 1937, 1900 e 1867, que por sinal fazem parte do "Super Tawny" que a Real Companhia Velha lançou com o nome Carvalhas Memórias do Séc. XIX, numa edição de 500 garrafas a preço de 1.000€ a unidade. A base é a colheita 1867, um vinho denso, guloso e de enorme complexidade, ao mesmo tempo misterioso tal como a sua proveniência. A prova do 1900 revelou ser a mais equilibrada pela frescura/complexidade que apresenta e uma enorme presença de boca, já o 1934 algo mais rústico e com pontas soltas. Vinhos que nos fazem sonhar e em que por um breve momento dá a sensação que tudo fica parado à nossa volta, sem dúvida um momento que fica na memória. 
No campo das novidades e já no mercado e no que ao estilo Ruby diz respeito, foram dados a provar dois vinhos, o Quinta das Carvalhas LBV 2010 que se mostra muito fresco e convidativo. A fruta muito limpa, airosa e madura a fazer lembrar frutos do bosque, chocolate de leite, notas balsâmicas e ervas de cheiro que recordam o passei pela Quinta das Carvalhas. Um vinho bonito e que dá bastante prazer, com passagem de boca bem saborosa, fresca e onde a fruta se mostra carnuda e macia. Fácil de se gostar mas com o apontamento necessário de seriedade que o torna infalível à mesa. 90 pts
O outro vinho apresentado foi o Real Companhia Velha Vintage 2012, muito cheio de frutos do bosque maduros e sumarentos, ponta de canela com notas de chocolate preto e alguma pimenta preta, fundo com balsâmico e geleia, num conjunto que mostra bom equilíbrio entre a doçura e a frescura. Muito harmonioso e pronto a beber, sem taninos espigados ou austeridade a fazer-se sentir, um vinho que se torna ameno no palato ao mesmo tempo saboroso e com uma boa persistência final. Será sempre boa companhia com sobremesas que misturem chocolate com frutos silvestres, ou até um queijo amanteigado. 93 pts

06 dezembro 2015

Real Companhia Velha Séries Moscatel Ottonel branco 2014

Mais uma novidade da Real Companhia Velha, desta vez um novo ensaio que na Companhia se apelida de Séries e elaborado com a casta Moscatel Ottonel, que é familiar da Moscatel Galego embora menos intensa e muito mais elegante. O Muscat Ottonel resulta do cruzamento da casta Chasselas com Muscat de Somur feito em 1852 por Moro-Rober e tem-se espalhado pela Europa desde então, sendo frequente na Alsácia e na Áustria onde desponta por exemplo nos conhecidos Kracher ou nos Domaine Zind Humbrecht. Centrando neste exemplar, a Real Companhia Velha plantou 2 hectares em 2003 e colhe agora os frutos num vinho que mostra aromas delicados e com boa intensidade, onde desponta a fruta com tom tropical, flores brancas e pétalas de rosa, tudo muito fresco e limpo com um ligeiro arredondamento sentido no nariz. Na boca mostra boa frescura, tenso com sabores delicados a mostrar ligeira austeridade mineral em final com ligeira secura. Apenas com passagem pelo frio do inox, é a meu ver um vinho de consumo a médio/curto prazo perfeito para o Verão e de preferência como aperitivo ou em alternativa com cozinha de cariz mais exótico e rica em especiarias. 91 pts

05 dezembro 2015

Real Companhia Velha Espumante Chardonnay & Pinot Noir Bruto 2013

Este espumante da Real Companhia Velha é um caso sério, vai buscar as uvas à Quinta de Cidrô e junta as castas Chardonnay com Pinot Noir (mais presente nesta edição 2013). Acima de tudo prima pela elegância e harmonia de conjunto, pão torrado e manteiga dão a sensação de untuosidade, frutas presentes e elegantes (alperce, pêra, melão) a embalarem num conjunto com grande frescura, em fundo um toque de pederneira confere o retoque final na bela complexidade. Boca a mostrar-se com perfil vincado, cheio de sabor numa belíssima presença em tom cremoso acompanhado de muita frescura. Final de boca longo e persistente, num espumante de muita classe cujo preço ronda os 20€, onde a sua harmonia e elegância mostram-se capazes de ligar na perfeição com peixes de carne delicada ou o mais refinado marisco. 94 pts

02 dezembro 2015

Herdade do Esporão Verdelho 2004


Muito recentemente decidi resgatar um vinho que tinha na cave, o Esporão Verdelho 2004. Um branco com 11 anos de idade, um atrevimento ou até loucura dirão alguns, mas a verdade é que este Verdelho conseguiu a proeza de atingir aquele momento "wow" reservado para vinhos que de alguma maneira nos causam surpresa pela qualidade acima da média que mostram ter. Neste caso um vinho que bebi vezes sem conta na altura em que foi colocado à venda, gostava tanto que na altura resolvi guardar umas garrafas para ver como se iria comportar com algum tempo de guarda. Esta terá sido a última resistente deste Verdelho 2004 que mostrou ainda uma invejável frescura de boca e de nariz, toda a fruta que antes era fresca agora está envolta em calda e ligeiramente adocicada, toques vegetais com tisana, ramalhete de flores, tudo muito bem composto num vinho sério e adulto, com as ideias muito bem delineadas. Na boca frescura, ponta de untuosidade a enrolar a fruta no palato, mostra-se com consistência e muito boa presença, muito prazer a beber e a voltar a beber, sem cansar. É este um dos motivos que me leva a guardar vinho, acima de tudo a curiosidade mas também a satisfação de posteriormente os poder partilhar com gente que lhes sabe dar o respectivo valor. O único senão é quando a garrafa fica vazia e nos questionamos por que razões na altura não se guardaram mais. 94 pts 

Herdade do Rocim Alicante Bouschet 2013

Se a Herdade do Rocim (Alentejo) já nos tinha arrebatado com o seu Grande Rocim onde a casta Alicante Bouschet brilha bem alto, eis que agora lançam esta versão que quase apetece chamar irmão mais pequeno do Grande Rocim. Talvez chamar "pequeno" seja desajustado face ao que este vinho mostra no imediato, quanto a mim é mais um belíssimo exemplar da casta e que nesta versão se mostra um tanto ou nada bem mais opulento que no irmão mais velho. Temos então um belo vinho de aromas muito convidativos, apetecíveis, elegância e vivacidade. A austeridade é ligeira, mais redondo, mais guloso, com toque químico que desaparece com tempo de copo, chocolate, azeitona, longo e amplo. Boca a dar prova ampla, muito saborosa e bem estruturada com frescura e final especiado. 93 pts

01 dezembro 2015

Confraria dos Enófilos elege os “Melhores Vinhos do Alentejo”

 A Confraria dos Enófilos do Alentejo organizou, em colaboração com a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), a terceira edição do “Concurso Melhores Vinhos do Alentejo”, cujos premiados foram conhecidos este sábado, 21 de Novembro. A iniciativa pretende distinguir a qualidade da produção do Alentejo e dar a conhecer aos consumidores o que de melhor é produzido na região.

À semelhança daquilo que já é habitual, o Concurso era dirigido aos vinhos produzidos no Alentejo, certificados como Denominação de Origem Controlada Alentejo (DOC) ou Indicação Geográfica Alentejano (IG). Não houve restrições quanto ao número máximo de vinhos por produtor, tendo apenas de estar devidamente engarrafados e legalmente rotulados, com informação relativa ao ano de colheita e ostentando os correspondentes selos de certificação. Foram admitidos a concurso três tipos de vinho: branco, rosado ou rosé, e tinto.

Prémio de Excelência: 
Conventual Reserva Branco 2014 (Adega Cooperativa de Portalegre) 
Adega de Borba Premium Rosé 2014 (Adega Cooperativa de Borba) 
Pai Chão Reserva Tinto 2011 (Adega Mayor) 

30 novembro 2015

Herdade do Rocim Touriga Nacional 2013

Mais uma recente novidade deste produtor sediado entre Vidigueira e Cuba, neste caso um varietal Touriga Nacional da colheita de 2013. A Herdade do Rocim (Alentejo) soma e segue, mais um belo vinho que coloca à disposição dos consumidores e neste caso um Touriga Nacional de grande qualidade. Um vinho ainda tenso e coeso, bem expressivo, cheio de fruta (bagas silvestres) fresca a marcar toda a prova, floral, madeira aconchega o conjunto, especiarias variadas com muita pimenta preta, austeridade sentida de fundo. Boca com entrada ligeiramente arredondada para depois explodir de sabor e preencher todo o palato com muita fruta fresca e bem madura, novamente as especiarias e a austeridade a fazer-se sentir no final longo e persistente. Vinho para beber agora com pratos de bom condimento mas mais um ou dois anos de cave vão certamente afinar os taninos mais teimosos. 92 pts

29 novembro 2015

Adegga WineMarket Lisboa 2015 - Oferta desconto de 5€


Depois de Estocolmo e Berlim, o Adegga WineMarket regressa a Lisboa já no dia 5 de Dezembro.
O Adegga WineMarket original! Prove e compre os melhores vinhos de produtores seleccionados. Descubra 300 vinhos entre os 5€ e os 50€ de 50 produtores seleccionados. Receba em casa os vinhos que comprou ao produtor e a preços de evento. Traga os amigos e aproveite o ambiente descontraído!
Uma das novidades deste Adegga WineMarket é a possibilidade de encomendar vinhos em prova antes, durante e depois do evento, através da página http://pt.adegga.com/loja, acessível também em dispositivos móveis. Podem com esta lista consultar os vinhos em prova e preparar a vossa visita.

Para todos os leitores e amigos do Copo de 3  foi criado um Código que dá direito a um  desconto no valor de 5€ que pode e deve ser utilizado na compra do bilhete normal na página do evento http://pt.adegga.com/lisboa2015

código: copode32015

Bilhetes: http://pt.adegga.com/bilheteira/
Mais informações: http://bit.ly/winemarketlis15

Esperamos receber-te no Sábado
Adegga Team

28 novembro 2015

Quinta da Leda Vintage 1990

Recentemente tive oportunidade de beber este Quinta da Leda (Douro), o primeiro vinho ali produzido mesmo antes que tenha saído qualquer vinho de mesa. Um Vintage que conta com 25 anos de vida e que a meu ver está naquele ponto óptimo de consumo, não precisa de afinações nem para um lado nem para outro. Enquanto beberico o que resta da garrafa em acto de pura gulodice, acompanhei com os Cacao di Vine. Ligação fantástica que catapultou o momento para outro patamar a nível sensorial, tendo acidez suficiente para limpar o palato a fruta vermelha bem fresca alia-se em plena harmonia com o chocolate. Muita qualidade a mostra-se bem complexo e rico em detalhe, com frutos do bosque a surgirem já macerados, tabaco, especiarias, chocolate negro, ligeiro terroso no fundo. Na boca replica tudo o aqui descrito, enorme frescura logo de inicio que acompanha toda a passagem pelo palato com um apontamento apimentado e seco no final. Certamente ainda vai durar mais alguns anos em garrafa mas para mim foi um Vintage que me deu muito prazer a beber. 93 pts

25 novembro 2015

Barão de Vilar LBV 2010

Chega a altura do ano em que o frio se começa a instalar, a chuva começa a marcar presença e a noite chega mais cedo. Com ou sem castanhas assadas por perto este Barão de Vilar LBV 2010 é daqueles que tenho por casa, o preço de compra rondou os 9€, e mostrou ser um vinho muito cordial e pronto a beber. Desponta a frescura dos frutos vermelhos adocicados com a ligeira austeridade que o Outono nos mostra e que na mistura de aromas e sabores tão característicos desta estação do ano nos consegue dar aquele momento de prazer que procuramos enquanto nos recostamos no sofá. Muito certinho, pouco musculado, sem falhas nem grandes motivos de exaltação e é por isso que gosto dele, eficácia tremenda para aquilo a que se destina e isso nos dias que correm começa a ser raro encontrar vinhos que pela relação satisfação/qualidade/preço nos deixem tão satisfeitos e bem aconchegados. 89 pts

22 novembro 2015

Quinta dos Abibes, a Bairrada em modo Sublime

Blend-All-About-Wine-Quinta dos Abibes-Francisco Batel e Osvaldo Amado quinta dos abibes Quinta dos Abibes, a Bairrada em modo Sublime Blend All About Wine Quinta dos Abibes Francisco Batel e Osvaldo AmadoProf. Dr. Francisco Batel Marques e o Enólogo Osvaldo Amado 

Abandonada durante mais de uma década a Quinta dos Abibes (Anadia) vai buscar o seu nome a uma ave migratória de seu nome Abibe (Vanellus vanellus). A propriedade conta com 10 hectares dos quais 7 hectares são de vinha e foi adquirida em 2003 pelo Prof. Doutor Francisco Batel Marques. A enologia ficou a cargo do reconhecido enólogo Osvaldo Amado e a primeira colheita da Quinta dos Abibes iria nascer apenas em 2007. As castas escolhidas foram as tintas Baga, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon, enquanto que nas brancas a Arinto, Bical e Sauvignon Blanc.
Na Quinta dos Abibes destaca-se a aposta na diferença e acima de tudo na qualidade dos seus produtos, onde por exemplo a Baga apenas é utilizada na vinificação de espumantes. No caso do Espumante Quinta dos Abibes Sublime Brut Nature 2009 a produção limitou-se a 3200 garrafas, num espumante de qualidade onde se destacam as notas de biscoito que combinam alegremente com aromas de citrinos, bem fresco com algum tostado em fundo mineral. Boca a condizer e de grande harmonia entre fruta e notas tostadas, ligeira cremosidade sentida num espumante de muito bom nível.

Entrando nos vinhos tranquilos com o Quinta dos Abibes Sublime branco 2010 feito a partir da casta Arinto no melhor registo a que o enólogo Osvaldo Amado nos tem vindo a acostumar. Um branco que se mostra com notas de fruta madura onde o destaque vai para os citrinos e alguma maçã em conjunto com a madeira por onde passou que marca o conjunto, um pouco demais para o meu gosto, contribuindo com aromas de tosta e algum fruto seco. Saboroso com boa passagem que alia frescura e untuosidade, elegância com final de boa persistência.

Mudamos a tonalidade e entramos no campo dos tintos com o Quinta dos Abibes Sublime 2010 onde brilha a solo a casta Touriga Nacional. Vinho de perfil concentrado e pujante, muita energia e frescura a mostrarem fruta preta madura com toques fumados, especiarias, algum terroso de fundo. Boca a mostrar boa envergadura, fruta com mais detalhe que no nariz, muito saborosa, frescura a percorrer todo o palato, final longo e persistent e com taninos ainda presentes a mostrarem a sua presença no final de boca.

Termino com o Vanellus Classic Edition Cabernet Sauvignon 2011, um Beira Atlântico com ares de Bordéus, aromas de grafite, notas terrosas e com carga vegetal ligeira. Fruta madura e bem fresca, muito mirtilo, muitas bagas silvestres a explodir de sabor, perfumado num conjunto fresco e coeso. Corpo médio, com rusticidade a pedir tempo em garrafa, frescura a embalar a fruta madura e saborosa num final de boa persistência.

Edetária Selecció Branco 2012

Dando um saltinho até à vizinha Espanha, mais propriamente à Catalunha onde se situa esta D.O. Terra Alta conseguimos encontrar vinhos que nos surpreendem pela diferença e respectiva qualidade. Estas lufadas de ar fresco fazem falta, apetece de vez em quando ter no copo algo que seja diferente. Este Edetária da adega com o mesmo nome, desmarca-se no imediato pela diferença na altura da prova, as vinhas de 60 anos deram as uvas de Garnacha Blanca (85%) e Macabeo (15%) com direito a spa em barrica de 500 litros de carvalho francês durante 8 meses. O resultado é um branco de preço a rondar os 20€ que junta de forma harmoniosa a barrica com a fruta (citrinos, alperce, pêssego) carnuda e sumarenta, pelo meio uma mineralidade que invoca pederneira com um ligeiro toque fumado. A juntar ao ramalhete notas florais e o toque de torrada com manteiga que lhe dá uma sensação de untuosidade tanto em nariz como na boca, sendo a frescura uma constante. 92 pts

13 novembro 2015

Soalheiro Primeiras Vinhas Alvarinho 2013

Se durante largos anos o Soalheiro Alvarinho foi comprado com alguma assiduidade aqui em casa, desde que saiu o Primeiras Vinhas, preço ronda os 15€, que o seu irmão mais velho começou a ter forte concorrência. O produtor tem tido a capacidade de nos conseguir colocar à disposição várias interpretações da casta Alvarinho e este Primeiras Vinhas é a arte da filigrana Portuguesa aplicada ao vinho. Um trabalho meticuloso que combina elegância com uma enorme frescura, pureza e mineralidade. Bebe-se com um prazer tremendo e mais houvesse à mesa a acompanhar uma nobre Garoupa com ameijoas à Bulhão Pato ou os mais variados mariscos da nossa costa, que este vinho consegue descarregar toda a sua energia no nosso palato. Para todos aqueles que o conseguirem guardar por uns anos, direi dois ou quatro e porque não arriscar um bocadinho mais, a recompensa é algo de fantástico a ver pela prova recente das primeiras edições. 94 pts

11 novembro 2015

Herdade das Servas Reserva Alicante Bouschet 2013

De casta mal amada por terras francesas, a casta Alicante Bouschet foi adoptada e amada pelas gentes do Alentejo como se fosse filha da terra. Sobre a qualidade dos vinhos a que dá origem continua a escrever-se e a ficar na história dos grandes de Portugal, quer pela qualidade quer pela invejável capacidade de resistirem à passagem dos anos. Este Alicante Bouschet lançado pela Herdade das Servas (Estremoz) vem na linha do que foi dito, é um belíssimo exemplar da casta e um grande vinho, para mim até à data o melhor que me lembro deste produtor. É bom ver que as agulhas se orientam cada vez mais na procura da elegância/frescura e neste caso juntamos toda a estrutura que caracteriza o perfil dos grandes vinhos da Herdade das Servas. O resultado é um vinho cheio de vida, aroma e sabor muito bem definido com coesão e frescura muito presente num todo que irá devorar os anos que tiver pela frente. O aroma identifica a casta pelos descritores mais clássicos a ela associados, surge a típica azeitona e fruta a rodos de enorme pureza de definição, o resto é um novelo de complexidade que apenas o tempo irá desenrolar. Para quem o decidir beber agora que o faça na companhia de pratos de caça como veado ou javali. 95 pts 

Alambre Moscatel de Setúbal 2010

O nome Alambre ecoa nas bocas dos apreciadores de Moscatel de Setúbal faz décadas, o seu nome significa âmbar e a sua tonalidade amarelo dourado apenas o confirma. É o mais novo e também o mais acessível Moscatel que a José Maria da Fonseca coloca no mercado, com a qualidade que sempre o diferenciou da concorrência e que é chancela deste histórico produtor. O preço ronda os 5€ e dá a conhecer a todos os apreciadores um Moscatel de Setúbal na força da juventude, dominado pelos aromas característicos a laranja cristalizada, alperce seco, ligeiro caramelo com toque de fruto seco num misto de doçura/frescura muito apetecível. 90 pts

10 novembro 2015

Convento do Paraíso, a reconquista do Algarve


O Algarve enquanto região produtora passou praticamente de inexistente para uma tímida e crescente vontade de se fazer ouvir. Os investimentos que têm sido feitos na última década têm sabido mostrar os seus frutos e hoje em dia o Algarve enquanto região produtora de vinho de qualidade é uma realidade. A região vive ainda órfã de uma identidade própria que consiga distinguir os vinhos ali produzidos das restantes regiões, algo que acontece por culpa própria e que depende dela própria para saber encontrar o melhor caminho. Têm esse dever os produtores que ali têm sabido fazer vingar com sucesso os seus projectos, como disto é exemplo o Convento do Paraíso (Silves). Tudo acontece na Quinta de Mata Mouros, propriedade do empresário Vasco Pereira Coutinho, localizada ao lado do rio Arade paredes meias com a cidade de Silves. O Convento de Nossa Senhora do Paraíso foi edificado no séc XII após conquista de Silves, de vinha são 12 hectares plantada de raiz no ano de 2000, onde despontam Cabernet Sauvignon e Sousão nas tintas e Alvarinho e Arinto nas brancas, sendo esta apenas a quarta vindima desta joint venture que começou em 2012 e que junta a família Pereira Coutinho com a família Soares (Herdade da Malhadinha Nova e Garrafeira Soares). Na adega juntam-se para o mesmo fim a vertente mais tradicional com os lagares e a faceta mais moderna com a tecnologia de ponta.


Poderiam optar por fazer vinhos previsíveis, felizmente não o fazem digo eu e serve isto de mote para o tinto Imprevisto 2014 num lote de Touriga Nacional/Aragonez. Desponta juventude com muita fruta carnuda e bem suculenta, muito vigor com balanço entre a doçura da fruta e a acidez, floral com toque de aconchego com alguma compota, bastante directo e apetecível desde o primeiro copo. O preço ronda os 5€ garrafa e está também num muito apetecível bag in box de 5 litros com preço de 9,95€.

Segue-se a gama Euphoria que nos invoca a sensação de bem-estar, satisfação e alegria, com versão rosado, branco e tinto. Três vinhos que seguem o mesmo diapasão, fruta bem limpa e madura com aromas muito presentes num conjunto a mostrar-se com energia e muito bem-disposto. O Euphoria branco 2014 centrado no duo Alvarinho/Arinto brilha pela sua frescura, alguma calda tropical a envolver os citrinos de bom-tom, floral num todo convidativo e muito atraente. Enquanto o Euphoria rosado 2014 com Touriga Nacional/Aragonez mostra os seus frutos vermelhos bem torneados envoltos num delicado perfume. Boa frescura no palato com passagem saborosa e ligeiramente seco no final de boa persistência. Por fim o Euphoria tinto 2013 que teve ainda direito a 6 meses de estágio em barricas de carvalho francês. Mostra-se num plano mais sério onde a fruta negra e vermelha muito centrada nas bagas e frutos silvestres se mistura com um toque vegetal muito presente. Ao conjunto juntam-se ainda notas terrosas e de alguma especiaria, em fundo a barrica aconchega todo o conjunto que ainda com sinais de juventude dá bastante prazer à mesa.
Finalmente o que se assume como topo de gama, o Convento do Paraíso 2012 que resulta do inusual lote de Cabernet Sauvignon e Sousão. Diferente, desafiante e ao mesmo tempo cativante quer a nível de aromas como de sabores. Da fruta muito sólida e fresca combina tons de vegetal maduro, alguma compota e especiaria com bonita envolvência da madeira. Vinhos de um projecto recente que merecem ser conhecidos e cujo cunho de qualidade conferido pela equipa da Herdade da Malhadinha promete muitas alegrias no futuro próximo.

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05 novembro 2015

Caves da Montanha

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Ainda pela Bairrada, o passeio encerra com a visita a um dos maiores produtores da região, as Caves da Montanha (Anadia). A produção anual ronda o milhão e setecentas mil garrafas, tendo actualmente cerca de 2 milhões de garrafas guardadas nas longas caves subterrâneas das quais cerca de vinte mil supera os vinte e quatro meses de estágio em garrafa. Em Portugal o espumante de qualidade nem sempre foi uma realidade, é algo que tem vindo a crescer e a afirmar-se junto dos consumidores na última década. Nunca por cá se bebeu tão bom vinho como nos dias de hoje, é uma realidade, mas a somar a tudo isto também é verdade que a Bairrada se assume cada vez mais como a região onde produzir espumante fará mais sentido.

Fundadas em 1943 por Adriano Henriques, a empresa tem passado de pais para filhos estando actualmente na quarta geração com Alberto Henriques ao comando. Apesar do leque de ofertas se estender um pouco por todas as regiões com os mais diversos produtos é nos espumantes da Bairrada que a meu ver mora a alma deste negócio. A equipa de enologia composta por António Selas e Bruno Seabra, juntamente com Alberto Henriques têm sabido encontrar o rumo certo e juntos têm dado o seu contributo para um renascimento da região da Bairrada. Para este refresh de toda uma região, muito tem contribuído a Comissão Vitivinícola da Bairrada na pessoa do seu dinâmico presidente José Pedro Soares. Mas todo este assunto é merecedor de um artigo próprio, por agora o que interessa destacar são os espumantes que se provaram nas instalações das Caves da Montanha. 

O primeiro de todos foi um Montanha Grande-Cuvée Baga 2009, nascido num ano considerado de excelência pelo produtor. Um espumante que mostra um perfil mais clássico se assim se pode chamar, combina notas de alguma evolução com a frescura da fruta madura, notas de biscoito e ligeiro fruto seco. Boa presença de boca, com a fruta a marcar presença em quantidade e sabor, muita frescura com elegância e final de boa persistência. Um espumante com energia suficiente para acompanhar pratos de maior temperamento.

Em 2008 surge a primeira referência do Montanha Grande-Cuvée Chardonnay-Baga, todo ele cheio de frescura no nariz, com leve biscoito e notas de pêra, muita fruta associada à casta Chardonnay com leve fermento. Boa exuberância de conjunto, mousse fina e elegante com acidez a limpar o palato num espumante de fácil harmonia à mesa. 

O Montanha Real Grande Reserva 2009 é o topo de gama, sai quase de dois em dois anos e mostra-se nesta colheita com um blend de Chardonnay, Arinto, Pinot e Baga. Aroma com cocktail de frutas, ligeiras notas de biscoito, alguma geleia, muita frescura e vigor. Boca com envolvência que preenche o palato, frescura com sensação de cremosidade, final seco e prolongado.


Para o final ficou o A. Henriques Edição Especial 70 Anos Bruto 2006, um espumante feito à base de Chardonnay, Arinto e alguma Baga, que combina muito boa frescura com notas da passagem do tempo. Envolto numa delicada e muito fina complexidade que combina aromas de polpa branca da Chardonnay , os travos mais citrinos da Arinto, com a Baga a conferir robustez ao conjunto. Em fundo notas de biscoito com tisana, algum pão torrado num conjunto complexo que na prova de boca se mostra bastante elegante combinando ligeira cremosidade com a boa frescura da fruta. Brilhou a acompanhar um leitão assado à Bairrada.

01 novembro 2015

Concurso Escolha da Imprensa - Encontro com o Vinho e Sabores 2015 by Revista de Vinhos


Organizado mais uma vez pela Revista de Vinhos e realizado no Hotel Holiday Inn Lisbon – Continental, em Lisboa, esta nova edição bateu todos os recordes. Os grandes vencedores – com o Grande Prémio Escolha da Imprensa - foram:

Espumantes: Murganheira Cuvée Reserva Especial Távora-Varosa branco 2004 (Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa) 
Brancos: Muros de Melgaço Vinho Verde Alvarinho 2014 (Anselmo Mendes Vinhos)
Rosés: MR Premium Regional Alentejano 2014 (Sociedade Agrícola D. Diniz)
Tintos: H.O. Douro Grande Escolha 2012 (Casa Agrícola Horta Osório) 
Fortificados: Vau Porto Vintage 2011 (Sogrape Vinhos)

Todos os outros vinhos – 74 - receberam o Prémio Escolha da Imprensa. Ver lista completa no link.
Este ano foram batidos todos os recordes: de participação e de jurados com o júri a ser constituido por 34 jurados. Entraram 357 vinhos, em 5 categorias (espumantes, brancos, rosés, tintos e fortificados). Este ano teve também uma novidade: o concurso decorreu em duas fases nas quais tive o prazer em ter participado. Uma primeira, em que foram provados todos os vinhos. E uma segunda, realizada dias depois, onde os três mais pontuados em cada categoria foram novamente avaliados numa finalíssima, composta por um conjunto de 9 provadores. A única excepção aconteceu nos rosés, onde o director técnico da prova e director da Revista de Vinhos, Luís Lopes, decidiu avançar com dois finalistas. Verdade seja dita que a participação de rosés, a maior de sempre, é ainda exígua se comparada com as outras categorias. Está pois de Parabéns a Revista de Vinhos por mais uma excelente organização.

31 outubro 2015

Quinta do Poço do Lobo Rosé Reserva 2014

Só os grandes têm a capacidade de se reinventar com o passar do tempo, só os grandes têm a capacidade de deixar saudade e de certo modo ficarem reféns de décadas de glória onde lavraram a letras douradas o que de melhor se produziu em determinadas regiões. As Caves São João (Bairrada) são um exemplo disso mesmo, um gigante que se deixou adormecer e parece estar a acordar calmamente do sono profundo a que foi submetido no inicio da década de 90. Este vinho rosado junta a Baga com Pinot Noir, com fermentação parcial em barrica avinhada e batonnage que o catapultou para outro nível de sensações. É com todas as palavras um grande rosé, fresco, delicado e ao mesmo tempo muito elegante que junta a fruta vermelha muito limpa com flores e ligeira sensação de arredondamento a embalar o conjunto. É delicado mas na boca confirma além da frescura a boa secura que um conjunto muito bem estruturado, saboroso e de enorme prazer. O preço ronda os 12€ em garrafeira num vinho rosado que ombreia com os melhores exemplares nacionais. 92 pts

Madeira: The Islands and their Wines by Richard Mayson


Madeira: The Islands and their Wines by Richard Mayson
(Infinite Ideias, 2015, 39.12€)

O autor é Richard Mayson, conceituado escritor e crítico de vinhos bem conhecido por obras como Portugal’s Wine and Winemakers, The Wines and Vineyards of Portugal ou o best-seller Port and the Douro. É um profundo conhecedor dos vinhos de Portugal e um especialista em fortificados. Fruto de décadas de provas e de inúmeras viagens à Madeira, com muita visita e conversa com produtores, foi possível o lançamento do seu novo livro de nome Madeira: the islands and their wines.

Richard Mayson desmistifica como poucos o Vinho da Madeira, num registo de fácil entendimento e que torna o livro de tal forma delicioso que neste momento já o estou a ler pela segunda vez. O autor começa por fazer uma introdução histórica sobre a Madeira com um espaço dedicado aos nomes daqueles, que segundo ele, ajudaram a moldar a Madeira naquilo que é hoje enquanto região produtora de vinho. Conta ainda com uma breve introdução acerca das ilhas, aborda o factor social, governo, clima, terminando na agricultura. A lição continua com a abordagem às castas e os seus vinhedos, numa visão daquilo que já foram e a sua perspectiva de como poderá vir a ser no futuro. Sem perder o interesse somos conduzidos de forma simples por todo o processo de vinificação onde são explicadas as várias categorias de Vinho da Madeira.

E é a partir deste ponto que quanto a mim este livro faz toda a diferença e se torna ainda mais indispensável a todos os apreciadores de Vinho da Madeira. Não só pela detalhada abordagem feita aos vários produtores, mas pela exaustiva e surpreendente vasta lista de vinhos apresentados. Diga-se de passagem que o autor num registo impressionante aborda desde as mais recentes novidades numa viagem pelo tempo até aos vinhos do séc. XVIII. A complementar as notas de prova encontra-se no final do livro uma muito interessante descrição dos aromas que caracterizam o Vinho da Madeira, tal como um pequeno guia de viagem pela ilha e uma pequena secção onde se aborda a ligação do Vinho da Madeira/Gastronomia. Um livro sem dúvida alguma imprescindível.

29 outubro 2015

Quinta do Cardo Espumante Bruto Touriga Nacional 2010

O primeiro espumante lançado pela Quinta do Cardo (Beira Interior) é um Touriga Nacional da colheita de 2010, com direito a 36 meses de estágio em garrafa e com o primeiro degorgement a ser feito em Junho de 2014. Mostra um aroma marcado pela fruta vermelha bem fresca em tons de morango, framboesa, floral ligeiro, biscoito numa delicada e bonita envolvente. Boca com bonita prestação, fruta a marcar o compasso com boa acidez presente, mostra uma boa secura no final persistente num espumante cujo preço aponta para os 8€ e se revela uma aposta de qualidade acima da média para a nossa mesa. 90 pts
 
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