Copo de 3: novembro 2012

22 novembro 2012

Diálogo 2010

Nasceu com nome estrangeiro de Fabelhaft corria o ano de 2002, em 2007 surge com nome Díalogo no mercado Português. Este poderá ser apelidado como o vinho de combate da Niepoort, é o vinho mais barato e que segundo o produtor nos informa, sem pretender ser o melhor vinho do mundo é um vinho que apetece beber, fresco, jovem e apelativo. Nele a madeira é tida em pequena quantidade, apenas 25% do vinho estagiou em madeira por um período de 14 meses, numa produção que ronda as 50.000 garrafas e o preço ronda os 5€. O vinho é todo ele centrado na fruta vermelha, muita e bem sumarenta, fresco com toque vegetal seco, alguma especiaria no aconchego da madeira. Correcto e bem feito, franco, na boca tem boa presença com estrutura mediana, boa frescura... pouco mais a acrescentar ou dizer. Gostei mais do tinto que do branco, embora o veja de forma estranha e fora do contexto qualitativo a que estou acostumado nos vinhos Niepoort. 88 pts

Bétula branco 2011

Nova colheita deste branco Regional Duriense, renovo as palavras que já escrevi sobre ele, o vinho em causa dá pelo nome de Bétula, surge na Quinta do Torgal (Douro), Freguesia de Barrô, margem esquerda do Douro e é da colheita de 2011. Vinhas plantadas em 2006, enologia a cargo de Francisco Montenegro (conhecido pelos seus belos vinhos Aneto), num lote improvável no Douro com 50/50 de Viognier/Sauvignon Blanc. O preço recomendado ronda os 14€, algo que mais uma vez se mostra desajustado face à qualidade apresentada. Mais afinado e apertado no conjunto que as anteriores versões, é um branco com enorme vontade de querer ser algo que não é, centrado num aroma a lembrar azedas, fruta fresca de fino recorte nos toques exóticos, algum pêssego amarelo e ligeira mineralidade em fundo. Boca em harmonia e melhor que o nariz, saborosa e com frescura, sumo da fruta, toque herbáceo e novamente o toque de pedra molhada (se não sabe o que isto significa basta meter um seixo do rio na língua para encontra a dita sensação) no final de mediana persistência com envolvimento da madeira por onde passou parte do lote. Um vinho que deu um ligeiro salto qualitativo desde a sua primeira colheita, gostei mais, o suficiente para subir um degrau na escala, falta ver se aguenta por cá muito tempo. 90pts

21 novembro 2012

Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas 2005

É nos dias que correm um valor seguro em qualidade e consistência, o Crasto Reserva Vinhas Velhas tem o seu lugar entre as melhores relação preço/qualidade que temos em Portugal. Um excelente exemplo do bom trabalho que tem sido desenvolvido na Quinta do Crasto chegou quando este que agora falo, ficou em 3º lugar na lista dos melhores vinhos segundo a WineSpectator. O preço ronda quase sempre os 25€, a meu ver mais que justificado e com garantia de total satisfação. É proveniente de vinhedo velho, mais de 70 anos, em que o estágio em barrica rondou os 18 meses, numa madeira que apenas se sente nos primeiros anos e que depois se desvanece, resultando um vinho do Douro muito sereno, com raça mas acima de tudo com uma prova de nariz e boca de elevada elegância e cumplicidade com a região. Abri e servi sem decantar, que os copos são grandes e largos o suficiente para o deixar rodopiar de forma airosa, o tempo foi-lhe dado durante toda a refeição... longo tempo portanto, direi que foi com meia hora de copo que atingiu o seu ponto alto, depois manteve até ao fim da sua existência. De aroma complexo e refinado, dá um gozo tremendo no copo, uma modernidade do Douro associada a todos os bons aromas dos vinhos da região, uma combinação de fruta sólida com toque de esteva, algum licor de cereja, cacau morno que lhe dá certa gulodice e a frescura que embala todo o conjunto. Equilíbrio, elegância, frescura, boa presença na boca com largura e profundidade, presença muito boa, saboroso e persistente com final longo e especiarias. No ponto em que está não lhe darei muito mais tempo de guarda... 92 pts  

14 novembro 2012

Quinta do Javali Reserva 2009

Nos vinhos como na vida há uma coisa que todos temos de saber ter, paciência. É esta mesma paciência que quando em falta não permite a tanta gente apreciadora de vinho usufruir dos vinhos que compra no seu melhor momento de consumo (porque não os guarda) ou simplesmente porque não os acompanha condignamente. Conhecia o produtor da Quinta do Javali apenas pelos seus LBV que comprava espontaneamente para consumo descomprometido aqui por casa, recentemente conheci a sua gama de vinhos de mesa, vinhos que tal como já aqui falei, precisam que se tenha paciência pois precisam de tempo. É comprar para guardar ou caso gostem de ligações fortes e pecaminosas façam como eu, convidem uns amigos para jantar e ofereçam uma feijoada de javali com esta Reserva 2009, o resultado é excepcional.
Mas falando do vinho, um Douro com raça, fruto de um blend de Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinto Cão, com passagem por madeira (ano e meio em carvalho francês) e que se mostra tal qual javali raçudo e de tenra idade. É vinho pujante, com boa intensidade de aromas da fruta (bagas, muitas bagas azuis e negras) madura e fresca, grosso e corpulento,  intenso, expressivo, ervas de cheiro ali do monte, esteva, rosmaninho, depois especiarias com as pimentas em destaque, o vinho é coeso, ainda algo fechado, o álcool confere sensação de doçura/licor, compensada pela estrutura e acidez que na boca embalam o conjunto de bom porte. Explosão de sabores, tudo na sintonia de nariz, a madeira pouco chateia, o vinho demonstra na sua complexidade e estrutura que tem muito mato que correr, é dar-lhe tempo ou que se abra com uma fantástica feijoada de javali. O Carlos Janeiro aprovou. O vinho em causa tem um preço que ronda os 17€ e irá melhorar com algum tempo de cave. É distribuído pela Quinta Wine Guide. 93 pts

12 novembro 2012

Vila Santa Reserva branco 2011

Ora cá está um branco que encheu de certo modo as medidas, certo que andava algo de costas voltadas para os brancos do Engº João Portugal Ramos (Estremoz), terei provado em algum momento quando o branco de topo da casa se passou a chamar Vila Santa, na altura não gostei, perdi-lhe o rumo e voltámos a encontrar passado algum tempo. Agora o que rodopia no meu copo é um Vila Santa Reserva, branco de nova roupagem, menos pesada, mais fresca e apelativa, recordo o rótulo negro a imitar pedra quando ainda era apenas Antão Vaz (que saudades deste vinho). Neste a coisa mudou radicalmente, Arinto, Alvarinho e Sauvignon Blanca, quem diria, o certo é que o blend dá um vinho do qual gostei bastante, com parte a fermentar em barrica (Arinto) que lhe confere um toque de aconchego, com alguma complexidade e boa harmonia. Todo ele bom de cheirar, com frescura da fruta, citrinos, toque vegetal fresco a lembrar folha do limoeiro, baunilha, frescura e mais frescura em fundo mineral. Boca harmoniosa, frescura, saboroso e envolvente, sente-se que a madeira está bem integrada, tudo calmo com a fruta que se vai esmagando no palato, toque vegetal novamente com final convidativo a mais um trago. Uma excelente aposta, ronda os 12€, para peixes no forno e alguma carne branca, por exemplo em modo lowcost uns bifinhos de perú com natas e cogumelos. 92pts

Conde de Vimioso Colheita Seleccionada branco 2011

Situando quem lê, é claramente abaixo do Tons de Duorum branco 2011 e do Lóios branco 2011, um vinho simples e sem grandes pretensões, pouco interesse. 84 pts.

Sanchez Romate Palo Cortado Regente

Se algo define a magistral arte que é o vinho de Jerez, o nirvana é atingido no Palo Cortado. Se fosse possível definir ou condensar toda aquela magia, todo aquele saber secular, é na genialidade de um Palo Cortado que eu o tentaria fazer. Este vinho vive no limbo entre o Amontillado e o Oloroso, numa fina e misteriosa linha, e é sem dúvida alguma o mais complicado estilo de vinho para se ser explicado, a sua classificação envolve um saber que passa de geração em geração, o que para uns poderia ser para outros não é, varia de adega para adega, quase que poderei afirmar que varia de família para família. Um vinho muito singular, cuja prova não deixa ninguém indiferente. Volto novamente aos Sanchez Romate para falar do Palo Cortado Regente, um vinho Reserva Especial que passou mais de 15 anos em bota e cuja prova conquista pela fantástica finesse, complexidade e elegância de nariz com boa intensidade e expressão, profundo, triviais frutos secos, verniz, aqui alguma passa branca, baunilha, toque fumado. Um nariz que recorda por momentos um Amontillado embora de perfil mais fino e mais macio. Na boca complementa-se muito bem, mais cheio, com bom volume, seco, fruta passa, fruto seco, frescura, finura e presença, muito boa definição, final com sensação de ervas aromáticas, rosmaninho, tomilho, tudo muito suave e com um final de belíssima persistência. Ligações pecaminosas com guisados ou até mesmo com um bom queijo curado velho. Mesmo sendo este aquele que durante a prova que organizei mais se destacou entre os presentes, pessoalmente o meu eleito foi o Amontillado, gosto pessoal a trabalhar. 94pts

Sanchez Romate Amontillado NPU

Continuarei a falar sobre os vinho de Jerez, desta vez um Amontillado classificado como Reserva Especial  das Bodegas Sanchez Romate, fundadas em 1781 e até aos dias de hoje uma das mais importantes referências dos vinhos de Jerez. O vinho de que falo é um Amontillado cujo tempo de estágio em bota é superior a 30 anos, acima destes ainda vem a gama alta com os Old & Plus. Pessoalmente é o estilo Amontillado que faz as minhas delícias nos vinhos de Jerez, a par dos Palo Cortado, é também dos produtores que mais prazer me proporciona com os seus produtos, cujos preços se revelam excelentes face à qualidade apresentada, este rondou os 10€. Repito mais uma vez, são vinhos que precisam de comida por perto, que gostam de ter companhia, são vinhos ignorados e subvalorizados pelos enófilos, vinhos que quando são descobertos se revelam fantásticos. Este "menino" não fugiu à regra e deu bastante que falar durante a prova, admiração, espanto, deixa lá provar outra vez que a complexidade é grande e o vinho é muito bom, só custa isso, onde se compra... Non Plus Ultra. Para quem desconhece, um Amontillado é um Fino que teve um estágio extra sem a camada de leveduras "flor" presente, o vinho entrou por isso num lento processo de oxidação, com resultados fantásticos como é o caso.
É um vinho envolvente, que nos abraça com aromas mornos, muita harmonia com avelã e amêndoa torrada, laranja cristalizada, caramelo de leite, café, belíssima intensidade e definição de aromas, profundo e complexo. O vinho cativa, toque salino no final, pelo palato é largo e todo ele guloso, entra com uma sensação de leve untuosidade, ao mesmo tempo fresco e seco, envolvente e saboroso. Final longo e muito persistente, muita finesse com grande interligação com a prova de nariz. Entre um bom curry ou um risotto de cogumelos faz as minhas delícias. 95pts

07 novembro 2012

Pinhal da Torre - Uncutted


No passado Sábado provou-se por A+B que o melhor Syrah até hoje feito em Portugal e que bate o pé a outros tantos lá de fora, é do Ribatejo, é Quinta do Alqueve e é de 2001.
Durante a prova fui pensando nos vinhos desta casta feitos em Portugal que anteriormente já tinham sido provados por mim, vinhos que conheci e conheço, que iam sendo recordados num jogo de comparações à medida que o líquido escorria copo acima e copo abaixo... no final nenhum desses nomes me deu prova tão satisfatória em algum momento como este que agora aqui falo. Foi no final da ordem de trabalhos que estava à minha frente um vinho que veio demonstrar a razão pela qual o produtor Paulo Saturnino Cunha aposta na casta Syrah, em conjunto com a Touriga Nacional e a Tinta Roriz.

Falo de um vinho de aroma limpo e nada atabalhoado, com fruta negra bem fresca e de respeitável vivacidade, um vinho onde a frescura ainda marca presença, onde a fragrância perfumada e quase feminina invade o copo. A complexidade, a inegável complexidade e profundidade, a firmeza que apresenta na boca, tudo isto num vinho que brilha passados 11 anos ao mais alto nível. Felizes pois aqueles que ainda o tenham, invejosos aqueles que o desejam agora encontrar e provar. 
Foi uma prova às claras, limpa de segredos ou enredos, onde cada um dos presentes opinava de peito aberto sobre os vinhos que tinha no copo. A parada foi alta, sem medos, eu gosto de produtores que não receiam colocar os seus vinhos ao lado de nomes consagrados no planeta para que depois se prove e se opine lado a lado. Quando vi passar à minha frente nomes como Jamet, Jasmin e Torbreck, a tentação de ficar rendido à força dos rótulo foi imediata, durante a prova os vinhos do Paulo iriam conquistar pelo próprio pé o seu lugar por entre todos os outros. Olhei para o Paulo e vi um ar sereno, ao mesmo tempo o sorriso no rosto mostrava que estava feliz por todo aquele momento, eram os seus vinhos que se mostravam... e que bem se mostravam. 

Dos vinhos em prova irei dar o merecido destaque isoladamente, a seu tempo e um a um, aqui e agora apenas farei um breve apanhado. Enquanto o Syrah Alqueve 2001 brilhava no copo, o reboliço era enorme, o Côte-Rôtie Domaine Jasmin 2001 passou despercebido e seria o que menos interesse despoletou em toda a prova. Saltando para a marca Quinta de São João onde o Syrah se instalou, provou-se o 2007, um vinho fechado, conciso, marcado por um novelo muito enrolado e apertado, sente-se que mora por ali matéria de qualidade para o fazer evoluir até ao nível do 2001, questão de aguentar as garrafas mais uns anos, por agora não é aquele que melhor brilha mas é inegável que o seu conjunto dá uma prova de grande gabarito. Ao seu lado um gigante Australiano das mãos do actual enólogo da casa, Torbreck Les Amis 2006, um puro Grenache que se mostrou num ponto alto de consumo, contrastou com excelente afinação, frescura, doçura no contra ponto... enorme vinho mas que para o meu gosto começava a desesperar após dois copos. Tenho convicção que já o Les Amis partiu e o 2007 São João estará pleno de saúde. No meio seria colocado o Quinta de São João Syrah 2008, para mim o que menos gostei, o mais guloso, rechonchudo, fruta em modo gordo e sumarento, tabaco, cacau, fumados, é de todos os que provei aquele que escolheria para abrir agora. Enquanto ainda rodopiava o 2008 já se falava na outra ponta da sala, dois gigantes, de um lado Quinta de São João Syrah 2009 (ainda não está no mercado mas muita cuidado com este menino) e do outro um colosso de nome Domaine Jamet da colheita 2009. Aqui a maldade do Paulo foi total, de um lado um vinho mais tradicional, direi mais rústico, muito tempo pela frente que suplica estar fechadinho em cave escura. O Jamet está duro, compacto, carga de taninos e pouca definição, abrutalhado mas de uma cagança de alto nível... e foi a vez de provar o Syrah Ribatejano, o Syrah que causa uma empatia imediata, mais cativante e de igual modo a pedir tempo, outro que não quer saltar já da garrafa, deixem-no dormir, fruta com bela definição e que ainda não conta tudo o que sabe, enologia com trabalho estrelado, o vinho convida a mais um copo, a frescura, os taninos, a boca cheia e com estrutura firme, longo e persistente. Caramba dizia eu, enquanto o rodopiava no copo e dava  uma cheiradela no 2001 que tinha pousado na mesa, enquanto isso os últimos exemplares da prova eram apresentados. Se por um lado o 2Worlds Reserva 2009 é outro mundo, outra realidade, mais ready to drink e mais amigo do gosto fácil com toque do Ribatejo pelo meio. Seguia o 2Worlds Premium 2009 (este vinho foi provado como Quinta de São João Grande Reserva 2009 no ano passado), um vinho que ainda está cru, não gostei tanto desta vez, algum lácteo presente, muita concentração, muito que esperar a ver como se vai desenrolar este novelo. No final foi aberto o Quinta do Alqueve Special 2009, que repito mais uma vez o que sobre ele disse anteriormente, a qualidade, finesse e maneira como conjuga elegância com vigor, força e frescura mas ao mesmo tempo fácil de beber e no modo como se comporta à mesa, não cansa e convida sempre a mais um trago tamanha a qualidade com que nos presenteia. Depois disto foi fechar o caderno e preparar para almoçar. Nada mais a dizer, 
 
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