Copo de 3: agosto 2020

10 agosto 2020

Montes Claros ou como destruir um ícone...

São poucas as marcas de vinho de mesa em Portugal com mais de 70 anos de vida. Mas existem e uma delas é Montes Claros, o icónico vinho de Borba tal como o dizia no rótulo e que colocava a cidade no mapa de Portugal muito antes de existir a Adega de Borba. O seu rótulo carregava toda uma identidade, mas acima de tudo um orgulho em ser de onde era, mais do que Alentejo era de Borba. Um rótulo que como outros desde miúdo me acostumei a ver saltar para a mesa, era vinho bebido lá por casa, quando se ia comprar à adega do Sr. Mendonça ainda no tempo do seu criador. Os tempos passaram e a marca mudou de mãos mais vezes até chegar às mãos da Adega de Borba. Os vinhos perderam o perfil, perderam as vinhas que eram mesmo velhas, como perderam tantos outros de outras marcas que se tentaram sempre rebuscar na memória como eram mas nunca ficaram igual ao que foram. Os tempos modernos ditaram mudanças, no perfil e até no alargamento da gama com a consequente ajuste no rótulo, algo que sempre me deixa perplexo mas há que dar trabalho às agências que os desenham por isso o clássico lá mudou para algo mais ao dito "gosto" do consumidor. 

Passaram anos com aquele novo perfil onde se criou até um "novo" Garrafeira de grande qualidade, que neste caso não é o objectivo do que escrevo. Mas recentemente recebi as novidades, uma nova mudança foi anunciada. Pensei eu que num rasgo de bom gosto íamos assistir a um pomposo regresso às origens com o reposicionar da marca no mercado num patamar de topo, mas ninguém me mandou ser optimista. Ora a marca cujo rótulo já tinha sido descaracterizado, foi agora alvo de aquilo a que eu chamo o derradeiro acto da falta de gosto para não dizer puro amadorismo. 

Pensava eu que as marcas com história tentam, ou deveriam, preservar ao máximo a identidade do seu bem mais precioso, a imagem do seu rótulo. Neste caso foi literalmente tudo deitado para o lixo.



04 agosto 2020

Fresh from Amphora 2019


A Herdade do Rocim junta-se ao projecto Nat Cool criado pela Niepoort, com este puro tinto de talha,  onde o que se pretende são vinhos leves e fáceis de beber. As castas escolhidas foram as tradicionais Moreto, Tinta Grossa e Trincadeira. O vinho foi apenas vinificado em talhas de barro como manda a tradição e depois engarrafado. É daqueles vinhos que surpreende pela facilidade com que ficamos a gostar dele e a apetecer ter por perto, servido mais fresco a acompanhar uma boa mesa cheia de petiscos. Bem composto de aromas, cativa pela veia mais rústica que a talha confere sem mascarar os toque mais subtis de fruta ou o tom mais floral. Na boca tem uma acidez que surpreende, fruta ácida e suculenta capaz de revigorar o palato frente a uns lagartos de porco preto grelhados na brasa. Por 12€ é daqueles que dá um gozo tremendo a beber. 92 pts

Vidigueira Licoroso Tinto


Para comemorar os 60 anos de vida, a Adega da Vidigueira lançou este Licoroso Tinto, vendido a 15€ na loja da Adega. Este licoroso da colheita de 2013 feito com base nas castas Trincadeira e Tinta Grossa surpreende pela complexidade de frescura de aromas que debita no copo. Tem muita vida e muito por onde ir "pegando" à medida que se vai baldeando no copo e bebendo. Desde especiarias, frutos secos a notas mais de compota de frutos vermelhos, aromas e sabores dados pelo tempo que numa prova às escuras nos podia quem sabe levar a pensar em algo esquecido algures numa cave em Gaia. Mas este nasceu na Vidigueira e encanta pelo seu cante, com alma mas acima de tudo um grande prazer. 93 pts

Herdade do Rocim Espumante Brut Nature Rosé 2017


Pronto para refrescar as nossas mesas, acaba de sair a nova edição do Brut Nature Rosé da Herdade do Rocim. Um espumante feito a partir da casta Touriga Nacional com preço de mercado a rondar os 14€. Dá a impressão que da colheita anterior para esta ganhou alguma desenvoltura na maneira como se manifesta, o que é bom sinal. Afinado, com uma frescura muito presente, leve toque de biscoito a dar o tom mais cremoso e envolvente com compota de frutos vermelhos a mostrar o lado mais ácido e frutado. Ligação a pratos simples como foi o caso, uns mexilhões ao natural. 91 pts

03 agosto 2020

Dona Aninhas Reserva Rosé 2019


É novidade este rosé lançado pela Quinta de São Sebastião (Lisboa) situada em Arruda dos Vinhos, com preço de mercado a rondar os 15€. O vinho é homenagem à mãe do produtor, num lote composto por Touriga Nacional, Merlot e Castelão com passagem em barrica durante 6 meses. Gostei da maneira como se diferencia no imediato pelos aromas, cativa e desafia, é diferente não pela frescura que também a tem, mas pelo ramalhete de aromas distintos do que por regra costuma abundar nos rosés. Aqui talvez um pouco mais de especiaria, flores silvestres com frutos do bosque mas tudo muito limpo e agradável. Daqueles vinhos que abrimos e sabe fazer boa companhia. 91 pts
 
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