Copo de 3: março 2011

25 março 2011

Lavradores de Feitoria tinto e branco

Os dois vinhos que se seguem são de entrada de gama, são baratos e rondam os 3€ cada, entraram com as novas colheitas no mercado recentemente e são uma aposta a ter em conta no que toca a consumo diário com qualidade. A verdade é que nos últimos anos a qualidade dos vinhos de entrada de gama tem vindo a aumentar cada vez mais, de maneira a que se torna muito difícil não ficar bem servido com a grande maioria de ofertas neste patamar. Neste caso falo dos Lavradores de Feitoria, na versão branco 2010 com 12,5% e no tinto 2009 com 13%, dois vinhos que apenas vêm o brilho do inox e que têm também a opção de Bag in Box.

Era altura de jantar e apetecia algo mais aprumado mas mantendo o clima casual, tirei uma posta de garoupa que se transformou na panela numa bela sopa e ao olhar para o frigorífico puxei de uma alheira de caça que rapidamente virou um risotto da mesma, apetecia acompanhar com vinho e foi o que fiz, abri estes dois que já mencionei...

O Lavradores de Feitoria branco 2010 composto por Malvasia Fina, Síria e Gouveio, proveniente de vinhas com cerca de 25-30 anos, com aroma fresquinho e frutado (citrinos e polpa branca), directo com algum peso na carga vegetal, expressividade media/baixa . Parece ter assim no meio um toque de rebuçado de limão que se desvanece rapidamente. Na boca mostra     notas limonadas e algum melão, directo e muito franco, cumpre para o dia a dia com ligeiro amargo no final de boca. Não entusiasma mas não deixa ficar mal, por isso mesmo é um vinho correcto de entrada de gama que se recomenda para o dia a dia. 14,5 - 86 pts

Lavradores de Feitoria tinto 2009 composto por Touriga Nacional / Touriga Franca / Tinta Roriz / Tinta Barroca sem passagem por barrica, de aroma franco e directo, bem aprumado muito centrado na fruta madura bem fresca com uma parte herbácea no segundo plano. Toque de fumo em fundo com leve colherada de geleia a meio. Entrada de boca com fruta mais presente, equilibrado e de suave passagem, leve secura no final de boca com final médio. 14 - 85 pts

24 março 2011

Sonhos engarrafados da Burmester

Muito recentemente desloquei-me a Gaia para visitar algumas caves de Vinho do Porto, um património único no mundo, que todos deveriam conhecer e que deveria ser considerado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO tal a riqueza do local. Passear nas ruas do Centro Histórico e poder visitar as caves históricas que ali moram é como dar um salto atrás no tempo, imaginar a rolagem das pipas pelas pedras da calçada, as enormes salas de estágio onde moram autênticos sonhos por engarrafar. Visitar cada uma das caves é entrar num mundo aparte, apesar do fio condutor que as une, ali mora um silêncio que perdura na história, talvez apenas o sussurro dos néctares divinos que vão estagiando seja o único som que mereça ser ouvido, autênticos pavilhões do conhecimento que se pudessem falar teriam tanto para nos contar, tal a história e segredos que encerram.
Ora se há vinhos que fazem parte das minhas paixões enófilas, certamente serão os Colheitas nos seus mais variados perfis a variar de cave para cave, afinal cada produtor imprime um cunho bem diferente nos vinhos que produz. O Colheita é um estilo de Porto diferente do Vintage, no Colheita (Tawny) o vinho estagia em pipas até ser engarrafado, sofrendo por isso um processo de oxidação muito lenta durante os longos anos que vai estando guardado, no caso dos Vintage (Ruby) o vinho passa por madeira mas acaba por estagiar em garrafa, em ambiente redutor.
Optei por falar apenas nos Colheita da Burmester, vinhos que merecem tal como todos os grandes vinhos, serem provados nem que seja uma vez na vida, pois esse momento será recordado para todo o sempre, tal a quantidade de emoções que nos conseguem transmitir. Mergulhar os sentidos num destes memoráveis néctares é entrar num mundo de sensações luxuosas, onde os aromas de especiarias, melados, charuto, fruta cristalizada, caramelo de leite, frutos secos, iodo ou mesmo vinagrinho naqueles com idade avançada… autênticos mananciais de emoções, cobertos de frescura que perdura na boca e no tempo. Do mundo de sonhos engarrafados que é a Burmester, memoráveis colheitas foram colocados em prova, na memória já levava o 40 Anos Tordiz, o Colheita 1955 e o 1937. O nível em todos estes vinhos é de classe mundial, o preço acompanha o luxo e o nível destes inimitáveis néctares únicos no Mundo, claramente do melhor que se pode beber numa vida, pensava eu que já tinha visto tudo quando durante a prova foi servido um luxuoso e guloso 1960 e em crescendo encontrei-me com um aristocrata de belos modos e enorme finesse, admirável complexidade e frescura, interminável viajante e pecaminoso 1940 para ser completamente ofuscado pela soberba e direi perfeição da exclusividade com que se mostrou o 1900. Em todos eles as notas inconfundíveis de caramelo de leite, frutos secos, nos mais velhos as tais notas de iodo com algum vinagrinho, em que as tonalidades se desdobravam em reflexos esverdeados. Cada um destes vinhos deixou-me uma marca bem profunda na minha memória, vinhos que como já tinha dito anteriormente despertam emoções fortes, num misto de sorrisos, lágrimas, tristeza porque queríamos partilhar tanta emoção com tantos que já partiram, alegria porque estamos ali ao lado de amigos que sorriem para nós e que tão bem entendemos aquele sorriso, por vezes estes vinhos são metas, são a derradeira fronteira para a felicidade… e naquela manhã foi a felicidade que reinou na cara dos que tiveram a sorte de ali estar e provar todos aqueles sonhos engarrafados.
Todas as caves de Vinho do Porto merecem uma visita muito atenta, cada uma é por si só um arquivo de histórias para contar, e se alguma vez tiver a oportunidade de poder provar um vinho deste calibre não hesite, é tão bom sonhar acordado.
 
texto publicado originalmente na revista Tribuna Douro nº81

22 março 2011

Diga? branco 2008

A apetência de alguns produtores para fazerem vinhos com castas estrangeiras já vem de longe, a tentativa de alguns produtores quererem fazer vinhos como se fazem numa outra zona produtora também já vem de longe e a sistemática vontade de quem os prova tentar ficar convencido que está a provar um vinho à moda da zona X também já não é novidade. Com tudo isto quem perde é o próprio vinho, porque de resto todos andam convencidos que o Viognier à moda de Condrieu é um prato do dia qual bifana de Vendas Novas. Portanto ou se faz um Viognier à moda de Abrantes, e tudo como dantes, ou então o resultado nunca será muito animador, até porque muitas das vezes os preços não acompanham e depois reclamam que a malta compra lá fora para se esquecer do que se faz cá dentro.
O vinho em causa é um vinho feito de Viognier, já o tinha provado aqui na colheita de 2006 e a impressão não tinha sido a melhor... a conclusão que tiro é que este vinho é bom para beber no imediato, dá-se mal com o tempo e com a evolução que só dá cabo do bom que tem enquanto novo... depois começa a definhar, encolher e mirra. Tinha bebido um valente Viognier dos tais de Condrieu, e ao provar este Diga? a primeira coisa que tive de fazer foi abstrair-me da casta e pensar no vinho em si...

O nariz mostrou-se compacto e delicado, de mediana intensidade, parece que quer cheirar mas cheira pouco, fica preso num docinho de alperce e pêra, daqueles pacotes que costumam meter na mesa com as torradas ao pequeno almoço... e depois tem um suave toque vegetal, mineral envolvente num todo que parece que foi polido, mas mal polido, com leve fumado de fundo num todo em que o final parece querer dar um toque de arredondamento em companhia com a leve frescura que mostra.

Boca mediana na amplitude, tal como o final de boca que parece curto apesar da frescura que se faz sentir, fruta madura com vegetal, a não se aguentar durante toda a passagem de boca. O vinho tem uma quebra a meio palato e não mais se dá por ele, quase que nos deixa pendurados no meio da prova, com um final de persistência média/baixa e alguma lembrança de mineral.

Não será dos vinhos deste produtor aquele que mais me faz feliz, este é um vinho que claramente esquece de mostrar na boca aquilo que mostrou no nariz. Faltando largura e presença de boca para que o prazer seja bem maior, e aqui repito o que já tinha dito anteriormente, dando o benefício da dúvida o vinho foi provado e acompanhado durante o aumento da temperatura e até se serviu em copos diferentes, o resultado acabou por ser o mesmo, pelo resultado apresentado é caso de dizer Diga?
15,5 - 89 pts

MR Premium 2007


É normal que todo o produtor de vinho tenha o seu respectivo topo de gama, certamente o vinho mais ambicioso e mais mimado, o exemplar que é feito em menor quantidade e destinado a momentos muitos especiais. Foi assim que no Monte da Ravasqueira surgiu o novo topo de gama, o MR Premium da colheita de 2007, é uma homenagem que os sucessores de José Manuel de Mello, lhe decidiram prestar pela excelência que sempre o caracterizou como empresário e pela paixão que dedicou à criação de Cavalos Lusitanos e à produção de vinho no Monte da Ravasqueira, propriedade ligada à família há várias gerações.

O resultado foram 3,569 garrafas de um lote de Alicante Bouschet (60%), Syrah (30%) e Petit Verdot (10%) que envelheceu 12 meses em barricas novas de carvalho francês com posterior 12 meses de estágio em garrafa, com olhar atento de Rui Reguinga e Paulo Peças.
No nariz é um vinho pleno de frescura, é algo que gosto nos vinhos do Rui Reguinga é esta mesma frescura e uma fruta negra bem sumarenta com vivacidade e boa maturação, harmonia e bom entendimento entre álcool/fruta/acidez e barrica de qualidade a amparar o conjunto recheado de coisas boas. É um aroma com boa intensidade, nota-se que se desembrulha aos poucos e sem algum tipo de pressa, aliás todo ele nos pede tempo para limar alguma austeridade que ainda lá mora (se for em garrafa ainda melhor). É com esse tempo que surgem raspas de chocolate preto, vegetal fresco e algo espinhoso ali da serra com algum balsâmico, todo ele a debitar boa complexidade, notas fumadas, especiarias, baunilha e toque de bolo inglês com um perfume floral muito agradável que surge durante a prova.

Boa entrada na boca, estruturado com bom impacto inicial, novamente a frescura a marcar presença com alguma macieza inicial que se desvanece com alguma secura no final de boca, é o tempo que vai tratar de o polir e melhorar ainda mais, tem muito ainda que mostrar e crescer. Todo ele com boa amplitude e profundidade, num conjunto de enorme prazer e muito virado para a mesa. Fiz-lhe a vontade e acompanhou de forma magistral um risoto de alheira campestre.
O conjunto garrafa rótulo e muito sóbrio e de elevado bom gosto, só a garrafa mete um brilho distinto em qualquer mesa, apesar do preço que ronda os 50€ o vinho mostrou-se com grande gabarito e aqui a única coisa a reclamar será obviamente o preço, um preço que é alto muito alto, mas se pensarmos que há tanto vinho ao mesmo preço e que dá idêntico prazer à mesa... este MR ainda tem muito que crescer na sua bela moradia, certamente será um orgulho para o Monte da Ravasqueira ter lançado um vinho desta estirpe, é caso para dizer que nasceu uma estrela no Alentejo e eu fico feliz por ter tido o privilégio de o ter provado. 17 - 93 pts

20 março 2011

Reguengos Garrafeira dos Sócios 1994


Situação real passada faz relativamente pouco tempo, a garrafa já morava faz alguns meses em situação duvidosa, tinha perdido líquido e esperava-se o pior, agendou-se a sua abertura para companhia entendedora da situação. O dia chegou, rolha inteira sem quebras e a mostrar o local por onde ocorrera o derrame... cheirado o vinho deu em surpresa, se não esperava encontrar grande coisa lá dentro face ao acontecido dei de caras com um tinto bem aprumado e muito cordial a acenar-me, qual senhor simpático da típica mercearia de aldeia, daquelas que vendem um pouco de tudo.
Apesar de gostar do que estava a encontrar com o tempo que por ali andei às voltas, o vinho foi-se desdobrando numa paleta de novos aromas, ameixas maduras e algumas em passa com morangos em boa frescura, travo de tabaco seco, vegetal, sempre mais e melhores sempre bem delicados mas com substância, terciários de bela qualidade... sinais do tempo com um ar de classicismo que faz algum tempo não encontrava. Deu um prazer danado cheirar e beber este vinho, muito bem embrulhado numa frescura muito fiel a todo o conjunto, quer em nariz quer em boca, o pensamento começa a divagar para se o líquido estará num patamar de elevada qualidade... começo a questionar-me se o rótulo fosse outro o vinho levaria aplausos da longa plateia que o levava às beiças ? Instalou-se pois a dúvida... se aquele vinho que ali estava no copo viesse de uma garrafa com um rótulo por exemplo Francês, independentemente do perfil de vinho em causa, seria mais fácil creditar o seu valor ? Seria bem mais fácil atribuir uma nota mais elevada apenas e só porque o nome do rótulo era outro ? Porque razão o vinho servido às cegas merece elogios e quando destapada a garrafa todos dizem ooooo e como num passe de mágica desconstrói-se no imaginário o rótulo fantástico que se pensava estar ali tapado, surge no rosto uma expressão de banalidade como quem diz... pois afinal era aquele, como é que nunca pensei nisso. Afinal de contas o "peso" do rótulo influencia ou não influencia ?
Marimbei-me em tudo isso e  foquei-me apenas no prazer que aquele vinho de terras de Reguengos de Monsaraz me estava a proporcionar, lembrando as boas provas que já me tinham dado algumas das suas primeiras colheitas... o que estava no copo era vinho que não envergonha ninguém, um vinho com  toque de classe e de clássico da região, exemplar que soube evoluir e aguentar-se durante 17 anos, que se galanteia durante a sua prova, um belíssimo vinho aqui, ali ou onde vocês quiserem.

17 março 2011

Fiuza 3 Castas 2010


Admito que ando um pouco de costas voltadas para os vinhos da Fiuza & Bright (Tejo), admito também que os seus topos de gama provados não faz muito tempo me deixaram de pé atrás, simplesmente não gostei do tinto e achei o branco um vinho nada agradável, foram duas as garrafas compradas na loja do produtor que não valeram em nada o preço a que foram compradas. Noutra altura já tinha provado o Ikon tinto, o tal que só vai para fora mas que até se vende na loja do produtor, há que ir vendendo pois claro. A prova que teria dado em anterior colheita em nada me relembrou nesta última, a bem dizer ando de costas voltadas com os vinhos deste produtor desde que acabou aqui em casa o stock de Reserva 1996, talvez o melhor vinho feito até aos dias de hoje pela Fiuza. Este mês recebi os dois novos lançamentos, o Fiuza 3 Castas branco e tinto da colheita 2010, admito que eram dois vinhos que já tinha visto algures em prateleira mas que nunca me tinham dado vontade de experimentar, se do tinto são 150.000 garrafas com preço de venda a rondar os 3,70€ do branco passam para 70.000 com preço a rondar os 3,20€. Enquanto o branco composto por Chardonnay, Arinto e Vital apenas vê as paredes do inox, o tinto composto por Syrah, Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional tem um estágio de 3 meses em barricas de carvalho novas seguido de 3 meses em barricas usadas.

Fiuza 3 Castas branco 2010
O aroma não é muito expressivo, correcto mas sem grande intensidade ou complexidade, flores brancas, laranjas, rebuçados, melão e pouco mais que isto. Na boca tem entrada fresca e acidula com fruta pelo meio, algo rectilíneo e a parecer que não tem ombros... apontamento de frescura no final de boca, ainda que suave, num final algo vago. Não faz as minhas delícias, um vinho simplex. 13,5 - 84 pts

Fiuza 3 Castas tinto 2010
No aroma ganha claramente ao branco, muito mais vigor e intensidade ainda que sem grandes motivos de festejo. Tinto jovem, boa frescura com a fruta bem apresentada, frutos silvestres, flores com bálsamo vegetal fresco com toque fumado e apontamento doce, talvez uma geleia bem fresca de amora e alguma especiaria pelo meio, é agradável e bastante franco. Boca com suave frescura na entrada, mediana estrutura, passagem de boca sem percalços, alguma macieza com fruta de bom recorte, directo sem comprometer e a conseguir dar boa conta de si,  fina dose de elegância. Uma surpresa muito agradável para o dia a dia. 14,5 - 86

14 março 2011

Vinhos Dona Berta

Vivemos num mundo cada vez mais igual onde somos dominados por padrões que imperam na sociedade moderna, fica difícil contornar tudo isso, a roupa, a música, a comida... A globalização é um fenómeno que pouco a pouco nos vai consumindo por dentro e por fora, e até mesmo no mundo dos vinhos as semelhanças são cada vez mais acentuadas entre vinhos da mesma região ou mesmo de regiões diferentes, a luta diária não de todos mas de alguns produtores faz com que se deixe de lado o coração e se pense com a carteira, o vinho industrializou-se e  acima de tudo interessa lançar no mercado um produto formatado ao gosto do consumidor. Com isto perde-se quase sempre a identidade de um vinho,  relegando claramente um perfil de uma região para apenas mostrar o chamado perfil internacional... nestes casos embora o vinho até possa ser de muito bom nível, tanto faz ser produzido cá como noutro ponto do planeta.
Felizmente nos dias que correm ainda há produtores que lutam contra essa corrente, quais Celtas a lutarem pelas suas terras,  pela sua identidade, tempos idos que nos dias de hoje se reflectem em produtos como os vinhos Dona Berta, propriedade do Eng.º Hernani Verdelho, uma figura ímpar do mundo enófilo que transpira amor pelos seus vinhos e pela sua terra, é ter a oportunidade de falar com este carismático produtor para saber do que falo. É nos 20 hectares da Quinta do Carrenho em Freixo de Numão (Douro Superior), que nascem vinhos distintos, de forte carácter e longa vida pela frente, onde as vinhas velhas são rainhas e senhoras, num resultado final que deixa livremente mostrar a região, sem desvirtuar, sem extracção ou prensagem exageradas, sem madeira que nunca se vai integrar e sem grau alcoólico disparatado, são no seu todo vinhos com identidade muito própria mas que acima de tudo respeitam a terra que os viu nascer.
Afinal de contas é um produtor que não vai em cantigas ou modas e fruto disso é todo o seu portfólio que nos mostra vinhos com um carácter muito próprio, talvez aquilo a que se chama muitas vezes de vinhos de Terroir, que por serem como são não se conseguem repetir em mais parte nenhuma, apenas ali naquele local. À primeira vista parecem não ser de fácil abordagem, mas antes pelo contrário conquistam ao primeiro contacto, apesar de que precisam que se dispense algum tempo com eles no copo para melhor mostrarem tudo o que têm para nos dar, como as boas amizades que se vão construindo ao longo dos anos, estes vinhos ganham exactamente com isso... com os anos, não muitos mas sim os suficientes. Bebam-se logo após serem colocados no mercado, ou guardem-se algumas garrafas para ir acompanhando a sua evolução pois são vinhos que com o tempo vão mostrando toda a sua nobreza.
Os brancos são dois, um 100% Rabigato (Dona Berta Reserva Rabigato Vinhas Velhas) e um vinho de lote feito de uma Vinha Centenária (Dona Berta Reserva Vinha Centenária), dois brancos onde o que os une é a frescura de conjunto, o primeiro a mostrar-se pleno de frescura, destaque para a limpidez do conjunto de aromas e sabores frutados, com maçã verde, flores e ervas do monte, sempre com um travo herbáceo em fundo mineral. O topo de gama dos brancos é o Vinha Centenária, onde o lote mostra a sua complexidade, refinado pela passagem por madeira, este vinho é um salto em frente em relação ao anterior, fino e refinado pelo amparo da barrica ganhando por isso também em complexidade, mantendo uma boa dose de frescura.
Nos tintos a escolha aumenta, desde o Reserva, no seu perfil de fruta limpa e fresca com travos herbáceos bem frescos a ligarem-se com madeira discreta mas que confere refinamento ao conjunto, bastante equilibrados e frescos, passagem de boca com alguns taninos a pedirem tempo de guarda mas que fazem destes vinhos companheiros vocacionados para a mesa. Destaque para um tinto 100% feito a partir da casta Sousão/Vinhão, o Reserva Especial, um vinho diferente mas muito curioso, sem ser vinoso ou carrascão como se poderia esperar de um Vinhão, este mostra-se mais senhorial e polido no trato, bela complexidade mostrando-se um vinho que agradará a todos, um pouco mais vegetal que frutado, tem tudo para ser um rei à mesa e é com a Lampreia que gosta de brilhar.
No seu todo são vinhos com forte pendor gastronómico, companheiros da boa mesa, de personalidade vincada e que merecem ser conhecidos e provados por todos os apreciadores de vinho.


texto publicado originalmente na revista Tribuna Douro nº80

Ossian 2007


O vinho em causa tem pouco que se dizer, para muitos aficionados é o melhor branco de Espanha, um branco de grande nível feito por mãos sábias, um projecto onde o objectivo é fazer vinho branco de alta qualidade e concretizado por nomes como Javier Zaccagnini (fundador das bodegas AALTO juntamente com Mariano Garcia), Ismael Gozalo e do enólogo francês Pierre Millemann (Borgonha). Um projecto de nome Ossian que assenta na complexidade dos quase 30 ha de vinhas velhas 100% Verdelho, pré-filoxéricas, com idade a rondar os 100 a 200 anos, cachos muito pequenos com produção diminuta e altíssima qualidade. A altitude tem um papel importante, as vinhas em Nieva (Segóvia) com os seus 12 ha são as que gozam da maior altitude na D.O. de Rueda, 840 a 930 metros sobre o nível do mar. Deste Ossian foram engarrafadas 40.000 garrafas a 12 Setembro de 2008 e colocado no mercado em finais de Outubro do mesmo ano.

Um vinho deste calibre tem obrigatoriamente de constar nas garrafeiras dos apreciadores mais exigentes, até porque um dos seus pontos altos para além do que evolui em garrafa e do que nela dura... é o preço. Um vinho deste calibre que é reconhecido mundialmente, aqui entende-se que quando as coisas são realmente bem feitas têm sempre um reconhecimento merecido, num preço "real" que ronda os 20-30€ e bem comprado será sempre na casa dos 20-25€, claro está que nestas coisas há sempre quem exagera e meta a mão, querendo fazer disto a negociata da vida e por cá aparece quase sempre com mais 10€ em cima. 

Este 2007 mostra-se com 13.5% Vol. um nariz de enorme compostura e complexidade, não é a chamada bomba de cheiro mas um vinho com uma boa intensidade onde tudo o que mostra mostra bem, dá para sentir tudo de forma muito explicita e directa, cativa pois desde o primeiro impacto. A barrica já se encontra bem discreta, ligeiro na baunilha e na tosta, flores do campo, vegetal fresco com ponta herbácea e fruta fresca bem limpa (citrinos, ligeiro tropical, pêssego ) alguma geleia, fruto seco com gravilha no fundo por onde todo o conjunto vai passando. Num todo sem ser pesado, com alguma nota de pastelaria, elegante, harmonioso com uma acidez que lhe confere uma frescura necessária para não nos deixar pregar olho.

Boca feita para durar, ainda algo compacto e cheio, profundo, com toque de untuosidade e arredondamento ligeiro conferido pela barrica, um vinho com frescura a marcar presença, fruta com citrinos, alperce, toques vegetais com mineralidade de fundo, alguma pimenta, num todo em que a casta não perde identidade antes pelo contrário, o vinho impõe-se na prova que dá, conquista com todos os seus atributos num conjunto de grande categoria.

Pessoalmente sempre o achei marcado pela madeira nos primeiros tempos de vida após o lançamento no mercado, suplica-nos por tempo em garrafa, é um vinho para gente paciente e não para apressados que mal salta o vinho para a estante já estão a querer despejar no copo... este é dos que precisam mesmo de tempo. Depois de um 2006 em que a coisa andava a lamber a madeira, bastante mesmo enquanto novo, neste 2007 eis que a coisa está mais composta, mais dialogante e mais requintada... direi luxo ? Já por aí anda o 2008 mas cá para mim ainda falta tempo para que aqui venha falar dele. Antes de mais, precisa de copos largos e enormes. 17 - 93 pts

11 março 2011

Prova à Quinta ... Tinto Português de Perfil Clássico


Ora com um atraso Carnavalesco aqui está o Prova à Quinta... seguindo o desafio de:
Apresentar um tinto de Perfil Clássico proveniente de uma qualquer região de Portugal... ainda existem vinhos assim ? 

Inicialmente o intuito era provar um tinto, mas optou-se por alargar o respectivo desafio para um Vinho de Perfil Clássico.

O primeiro a responder foi o blog Garficopo com um Quinta das Bágeiras Garrafeira Branco 2007 (Bairrada):
"...A concentração dada pelas vinhas velhas, o estágio em madeira usada, a fuga à frutinha fácil, a capacidade de evolução em cave, a mineralidade, o equilíbrio geral, a aptidão gastronómica e acima de tudo, a expressão do terroir tornam este vinho em algo quase único, mas que ainda faz lembrar (embora de uma forma elevada e sublime) os velhos vinhos brancos da Bairrada que o meu avô fazia..."


Seguido do Adega dos Leigos com um Meia Encosta 1999 (Dão) :
"A minha escolha foi um vinho do Dão, um Meia Encosta 1999. Escolhi um clássico "low cost" da região, pois este vinho é um vinho muito acessível, cerca de 3€, de anos mais recentes, e que já tem muita história na região. Desde o seu lançamento em 1970 que cativa alguns consumidores diários. Mas este já estava na garrafeira à muito tempo, até pensei que já não tivesse grande coisa, mas enganei-me."


A voz de quem visita os blogs também é importante, Pedro Sousa P.T. escolheu um Quinta da Mimosa 2007 (Palmela/Setúbal)
"O Castelão no seu melhor, uma casta bem Portuguesa, numa região muitas vezes esquecida, tal qual como a casta, virando-se as atenções para as Tourigas e restantes castas de modas. Um "Perdigueiro Português", ou um "Cão de Água Algarvio" do vinho. Bem nacional. Acompanha muito bem uma carne vermelha de forno, e até uma bacalhauzada. E claro a representar a região, marcha lindamente com sardinha assada, bem gorda, a pingar no Pão. Em minha opinião um vinho forte, marcante, mas a elegância a espreitar. No nariz a fruta vermelha lá anda. Na boca, taninoso, mas não rugoso, com um fim de de boca prolongado.
Um vinho acessível, entre os 6 e 7 euros, portanto em tempo de crise, não faz mossa na Carteira. Este é classico e existe."


e o Valter Costa também leitor escolheu um Quinta de Alcube 2008 (Palmela/Setúbal) :
"Vinho feito com Castelão e Trincadeira.Vinho de entrada da gama. No nariz, veio o cheiro dos antigos vinhos aqui da península de Setúbal. Que saudades que eu já tinha de cheirar um vinho assim aqui da região. Acho que não precisamos das diversas castas que ultimamente andam a plantar na zona! Na boca é um vinho guloso e que tem 14% que não se nota.Para o preço que custa 2,75€, temos uma qualidade/preço imbatível."


Desde o Pontão das Vinhas encheu-se o copo com o já clássico Cooperativa de Borba Rótulo de Cortiça Reserva 2005 (Alentejo):
"O vinho apresentou uma cor rubi, com algumas nuances acastanhadas. No nariz, muito agradável, fruta, alguma passa, balsâmicos, madeira. Na boca mostrou-se um tinto cálido e envolvente, taninos finos, muito fresco, boa acidez e os apontamentos balsâmicos no final, cheio de carácter. Acompanhou com grande dignidade um assado de borrego no forno, durante um jantar de família. Um tinto que sem dúvida define o perfil clássico de uma região."


O Pingamor foi também à Coop. de Borba e provou o mesmo vinho, Coop Borba Rótulo de Cortiça Reserva 2005 (Alentejo):
"Este é um clássico alentejano, um vinho com décadas de existência, verdadeiro exemplo da região e que já provou ser capaz de envelhecer dignamente. Ultimamente, nestas últimas colheitas, o perfil mudou um pouco, a fruta está mais presente e gulosa, com apontamentos um pouco mais modernos e mundanos. Mas a sua alma alentejana está bem presente e não engana. É um vinho que é alentejano e tem gosto e orgulho em o ser. As próprias castas são as que antes eram, as que antes faziam grandes vinhos no Alentejo. Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet e, pasme-se, Castelão, sim, a casta que agora estão todos a arrancar para plantar as internacionais Syrah e Petit Verdot. Como antes, o vinho ainda passa por toneis de madeira exótica e também por barricas de carvalho francês. Eu gosto deste vinho, gosto da sua fruta, da sua frescura floral, o chocolate de leite. Boca ampla e fresca, com brisa morna da planície. É um vinho de saudade e para saudosos, como eu. "


As participações continuaram, desta vez o Enófilo Principiante escolheu um vinho do Douro, um Apegadas Quinta Velha 2007 :
"...mostrou-se extremamente equilibrado, suave e harmonioso, sem deixar de apresentar toda a sua potência e estrutura duriense. É também produzido a partir de castas autóctones, típicas do Douro, como a Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca. Por isso, pode ser considerado um exemplar digno dos perfis clássicos dos tintos do Douro."

Na Magna Casta, optou-se por um Dão, Terras de Tavares Reserva 2003 :
"...fui à minha garrafeira procurar um vinho tinto de perfil clássico de uma qualquer região de Portugal.
Cheguei rapidamente à conclusão que cada vez isso é mais difícil, tanto que à primeira até fui escolher um branco. Depois é que me apercebi que estava pitosga e não tinha lido a palavra tinto no desafio.
E foi assim que surgiu este Terra de Tavares Reserva 2003 no meu copo."



Enquanto o Art Meets Bacchus teve a escolha mais irreverente de todas com um Casal Figueira Colheita Tardia 2002 :
"A "Late Harvest" with 9 years of the late António Carvalho. This was the wine I chose to characterize a region, Torres Vedras. I chose it because I liked his irreverence and remember the good times I spent in Á-of-Cunhados every time I went there to talk about wine with him..."

Fora de mim querer julgar escolhas de um ou de outro, nada disso, antes pelo contrário terei de agradecer a coragem de participarem nesta pequena brincadeira. O novo desafio já foi lançado e espero que a participação continue a ser a mesma ou mesmo aumentar. Aconselho vivamente quem lê e quem participa a visitar os links dos respectivos vinhos provados, as palavras muito certas que surgiram na Magna Casta revelam a dificuldade de encontrar nos dias de hoje um vinho de perfil Clássico, esses vinhos que antes eram o exemplo de uma região, que com grande facilidade se destacavam em prova cega... são hoje cada vez mais complicados de encontrar, temos de dar vivas aos heróis que neles continuam a apostar, gentes que lutam contra o implacável monstro da globalização. Até mesmo um Rótulo de Cortiça da Coop. de Borba já afinou agulhas... ainda mostra o Alentejo mas não como mostrava há uma década atrás. Quem perde é o consumidor e as próximas gerações de consumidores , os nossos filhos, terão certamente dificuldade em entender o que afinal de contas é isso de um perfil clássico de uma região... 

02 março 2011

1000

Desde 2005, ano em que fundei o Copo de 3 até ao dia de hoje foram colocados 1000 posts, não são muito nem poucos, são apenas 1000. Podiam ter sido muito mais ou até muito menos, podiam nem sequer estar perto deste número... é isto o bom de ser um blog, o artigo, a opinião, a crítica, o que seja, surge apenas quando achamos necessário. Assim por mero acaso nem me deu a vontade de criticar um vinho, que ideia parva essa de ... ai agora apetece-me criticar... então olhei para a garrafeira e vi um vinho degradante, quase morto e como não tinha mais nada para fazer toca a tentar descobrir do que tinha falecido o desgraçado. Vou deixar os CSI das provas para outros artistas... Mas também não me apeteceu pegar num qualquer topo de gama feito por aí e dizer mal apenas porque fui às compras e me esqueci do cartão dos descontos em casa... que culpa terá o vinho ? Talvez o tempo que passo nos fóruns me faça mal às costas... e aos olhos.
Mas por acaso, mero acaso, estive no vai não vai para comemorar com um vinho de arromba, daqueles de chapa 20 ou 100 pontos... mas seria demasiado, se calhar fica melhor guardar um vinho desses para o post 1001 e agradecer no entretanto a todos aqueles que têm vindo visitar o Copo de 3. As visitas tem aumentado em grande número, e muita coisa boa tem vindo a acontecer durante este tempo que passou... espero que daqui por mais mil posts, tenha para contar e novos motivos para sorrir. Outra coisa que me deixa a sorrir é saber que sites que se promovem como reis de audiências, perdem cada vez mais terreno nas estatísticas feitas pela referência que é o Alexa.com no qual este blog nunca esteve tão bem colocado como na actualidade. 
Curiosamente hoje deixaram-me umas caixas de vinho aqui em casa, deve ter sido porque foi o post 1000.

Porque 1000 posts levaram o seu tempo e dedicação, agradeço a todos os produtores que têm enviado amostras ao longo dos anos, aos meus pais irmão esposa e restante família, a todos os meus amigos que comigo partilharam grandes momentos, Luis.F, Mig, Pingus, Xarax, Jonny Rose, J.Rico, Chapim, Abilio, RLP, Frexou, Barata, N.Saca, Arnaud, A.Peres, Tiago.Abandonado, Antoliano, MannelCabronet, ZéCarlos, ZéTomaz...

01 março 2011

Château La Tour Blanche 2003

Em 1855 o Governo Imperial Francês pediu que os melhores vinhos expostos na Exposição Universal de Paris fossem sujeitos a uma classificação, o Bordeaux Syndicat des Courtiers classificou os vinhos com base em décadas de estatísticas comerciais, 26 chateaux de Sauternes e Barsac foram classificados como de vindimas de primeira ou segunda classe, o Chateau La Tour Blanche ficou classificado no top dos Premiers Crus da Appellation de Sauternes.
O Chateau La Tour Blanche nasceu no século XVIII, fica situado no coração da appellation de Sauternes, uma appellation com 2100 hectares que inclui as localidades de Barsac, Bommes, Fargues, Preignac e Sauternes. As três uvas tradicionais são Sémillon, Sauvignon e Muscadelle, sendo que no Chateau La Tour Blanche temos 83% Sémillon, 12% Sauvignon e 5% Muscadelle.
Em prova a colheita de 2003,  uma colheita considerada histórica, Verão quente permitiu uma excelente maturação da uva, com chuva a 6 e 7 de Setembro a permitir o aparecimento da podridão nobre de forma homogénea nas várias parcelas de vinha, dando origem à vindima a 15 de Setembro. Com uvas de excelente qualidade e alto nível de concentração vistos apenas 50 anos atrás, seria preciso voltar a 1929 ou mesmo a 1893 para poder comparar. Apresenta-se com 13,1% Vol. um açúcar residual de 178 g/l sendo produzidas 2,915 caixas com preço por unidade a rondar os ...
Estes são os vinhos que são reconhecidos por todos os enófilos a nível Mundial, são autênticos campeões de arena, esqueçam os "docinhos" que se vão fazendo em Portugal, aqui estamos diante daqueles que realmente interessam, inimitáveis e inesquecíveis. De todos os Sauternes Premiers Crus até hoje provados, este mora no topo seguido de muito perto pelo Rieussec.

É com um aroma característico/clássico destes vinhos que somos brindados logo de inicio, a intensidade é muito boa, a botrytis faz-se notar muito bem num conjunto onde a pureza da fruta na forma de alperce maduro, citrino, tudo a mostrar-se de enorme qualidade, com frescura e ao mesmo tempo concentração, pelo meio ainda toque de mel, alguns frutos secos, passa branca e toque floral, complexidade luxuosa com leve sensação de untuosidade. O embrulho de tudo isto é notável, rico na complexidade com boa profundidade de aromas, conjunto que mostra vida e alegria durante todo o tempo que mora no copo. Cheirar é o que mais apetece fazer num vinho como este, simplesmente uma delícia que não cansa.

Na boca, médio de corpo mas enorme de alma, entra com toque de casca de laranja, equilibrado e untuoso, é um grande vinho pleno de elegância e pureza, mousse de pêssego, frescura muito bem calibrada, pleno de finesse com a doçura em grande harmonia com a frescura da fruta, muito presente na boca todo ele se mostra participativo de inicio ao fim, é puro prazer no palato, aqui como no nariz mostra algumas notas de especiarias muito finas. Final longo e persistente, com toques de pêssego e novamente a botrytis a deixar-nos com um prolongado adeus.

Uau que vinho tão bom, é o que se costuma dizer quando se prova algo deste gabarito, o preço nem sequer chega a assustar, por 40/50€ consegue-se comprar uma garrafa de 0.75 de puro luxo no copo. A proporção de prazer que dá ao beber é igual à velocidade com que desaparece na garrafa... servido fresco, seja com entradas em que brilhará com foie gras, ou mesmo numa sobremesa nunca muito doce para não se sobrepor ao vinho, ligando bem com fruta, este é um  Sauternes de excelência e um hino ao que deve ser um colheita tardia. 19 - 97 pts
 
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