Copo de 3: Reguengos Garrafeira dos Sócios 1994

20 março 2011

Reguengos Garrafeira dos Sócios 1994


Situação real passada faz relativamente pouco tempo, a garrafa já morava faz alguns meses em situação duvidosa, tinha perdido líquido e esperava-se o pior, agendou-se a sua abertura para companhia entendedora da situação. O dia chegou, rolha inteira sem quebras e a mostrar o local por onde ocorrera o derrame... cheirado o vinho deu em surpresa, se não esperava encontrar grande coisa lá dentro face ao acontecido dei de caras com um tinto bem aprumado e muito cordial a acenar-me, qual senhor simpático da típica mercearia de aldeia, daquelas que vendem um pouco de tudo.
Apesar de gostar do que estava a encontrar com o tempo que por ali andei às voltas, o vinho foi-se desdobrando numa paleta de novos aromas, ameixas maduras e algumas em passa com morangos em boa frescura, travo de tabaco seco, vegetal, sempre mais e melhores sempre bem delicados mas com substância, terciários de bela qualidade... sinais do tempo com um ar de classicismo que faz algum tempo não encontrava. Deu um prazer danado cheirar e beber este vinho, muito bem embrulhado numa frescura muito fiel a todo o conjunto, quer em nariz quer em boca, o pensamento começa a divagar para se o líquido estará num patamar de elevada qualidade... começo a questionar-me se o rótulo fosse outro o vinho levaria aplausos da longa plateia que o levava às beiças ? Instalou-se pois a dúvida... se aquele vinho que ali estava no copo viesse de uma garrafa com um rótulo por exemplo Francês, independentemente do perfil de vinho em causa, seria mais fácil creditar o seu valor ? Seria bem mais fácil atribuir uma nota mais elevada apenas e só porque o nome do rótulo era outro ? Porque razão o vinho servido às cegas merece elogios e quando destapada a garrafa todos dizem ooooo e como num passe de mágica desconstrói-se no imaginário o rótulo fantástico que se pensava estar ali tapado, surge no rosto uma expressão de banalidade como quem diz... pois afinal era aquele, como é que nunca pensei nisso. Afinal de contas o "peso" do rótulo influencia ou não influencia ?
Marimbei-me em tudo isso e  foquei-me apenas no prazer que aquele vinho de terras de Reguengos de Monsaraz me estava a proporcionar, lembrando as boas provas que já me tinham dado algumas das suas primeiras colheitas... o que estava no copo era vinho que não envergonha ninguém, um vinho com  toque de classe e de clássico da região, exemplar que soube evoluir e aguentar-se durante 17 anos, que se galanteia durante a sua prova, um belíssimo vinho aqui, ali ou onde vocês quiserem.

4 comentários:

Valter Costa disse...

Ainda me lembro bem desse vinho nos anos 90. Já não o bebo à mais de 10 anos.

João de Carvalho disse...

Valter o último que bebi foi o 2001, não é a mesma coisa já mudou por ali qualquer coisa, o vinho afinou um bocado mais, mais imediato embora tente manter aquele traço que acaba por saber sempre ao mesmo ano após ano.

Fernando Miguel Carvalho disse...

Trago boas recordações desse vinho dos anos de 1991, 1992 e 1994. O mesmo já não posso dizer das colheitas da década de 2000. Hoje abri uma garrafa perdida de 1989. As minhas expectativas estavam próximas das que descreve no início deste post. As minhas primeiras reacções também foram semelhantes. Impressionante a qualidade e as surpresas que este vinho revelou passados tantos anos. Prova superada.

João de Carvalho disse...

Fernando fico feliz por ver que os vinhos com essa longevidade ainda nos dão uma prova satisfatória. Tem acontecido é que por vezes duas garrafas iguais e duas provas diferentes, começa a ser o jogo do gato e do rato em que apenas há garrafas boas e garrafas más...

Continuação de boas provas e volte sempre.

 
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