Na verdade é Paulo Saturnino Cunha que nos recebe, que nos transmite aquela contagiante alegria de mostrar com enorme orgulho os vinhos que produz, um querer sempre mais e melhor que tem vindo a dar os seus mais que merecidos frutos, lutando contra tudo e contra todos para se colocar onde merece estar, como produtor dos grandes vinhos do Ribatejo e entre os grandes produtores de Portugal. Ano após ano tem vindo a afinar e refinar aquilo que produz, com a vontade de ajustar e cortar em algumas marcas e centrar atenção em novos rótulos, os vinhos vão ganhando novas formas, novos perfis sabores e aromas, mora ali um refinar das qualidades do terroir Ribatejano que Paulo Saturnino tão bem conhece, um auspicioso triunfar no copo de todos os apreciadores para que sem tabus olhem para um vinho do Ribatejo como algo grande e de muito bom. E o Paulo Saturnino Cunha e toda a sua equipa estão de parabéns porque se confirma mais uma vez que o caminho trilhado por eles é o do sucesso e o da qualidade entre os grandes... vinhos com raça, cheios de saber e de querer... direi vinhos com um carácter muito próprio, o mesmo que podemos encontrar na pessoa que dá a cara por este projecto familiar.
Tudo começou com uma ligeira e animada (como sempre) visita às instalações, é da praxe conhecer os cantos da casa, conhecer métodos de vinificação, que ali se utiliza a pisa a pé tradicional em vez dos modernos lagares de inox automatizados. É bom ver e saber que ali se trabalha com afinco, é bom saber que as paletes que por lá estavam apilhadas já tinham destino traçado e faziam parte dos muito % que este produtor vende para fora, é a exportação que absorve a grande maioria dos vinhos ali produzidos, parece pois que lá fora sabem dar o valor mais que merecido a estes vinhos enquanto cá andamos meio perdidos e distraídos com outras coisas.
A prova dos vinhos começou nos brancos, antes dizer que os vinhos começaram nas últimas colheitas a centrar-se numa fruta bem limpa e muito presente, sem excessos mas o suficiente para não passarem simplesmente ao lado por falta de apetite enófilo. Dito isto o primeiro vinho provado foi o
Quinta do Alqueve Fernão Pires 2010 com direito a um dos três rótulos que o produtor criou para brindar a fauna local, neste caso com uma Popa, o que mais gosto e com direito a surgir aqui ao lado em destaque. Um branco directo nos aromas, muito cítrico com travo de alguma relva fresca e mineral fino em fundo, na boca repete com boa acidez e presença característica de uma casta que nunca foi de falar muito,
88pts. Depois surgiu o
Quinta do Alqueve Chardonnay 2010, a meu ver com aromas à casta mas mais tímido do que é normal encontrar nesta casta, gostei mais do provado no ano passado, aqui este não tem passagem por barrica, o aroma fica algo perdido tal como na boca... bebe-se mas prefiro o anterior, uma questão de gosto pessoal nada mais
87pts. O último branco foi o
2Worlds 2010 já com direito a passagem por barrica, num conjunto em que se ganhou mais complexidade, fruta aqui mais expressiva com limão e laranja, mineral leve com toque da barrica a aconchegar o conjunto, bom traço quer na presença de boca quer no final e sem dúvida o melhor dos três brancos.
89pts
Entrando no campo dos tintos começou-se com um
Quinta do Alqueve Reserva 2008, a prova dos tintos iria ser sempre em crescendo, começamos num vinho que nos apontava para fruta preta madura com caroço, sem excesso de maturação o que é logo bom sinal, um conjunto jovem frutado com toque fumado e bom balanço, frescura e alguma secura na boca com bom final, direi sem ofensa que se trata de um vinho correcto, mediano e que dá uma prova bastante agradável com boa aptidão gastronómica (como todos os restantes)
89pts. Próxima paragem no
Quinta de São João 2008, ganhou mais na tonalidade e ligeiramente na concentração, o vinho mostra-se bem também ele com bastante fruta madura, chocolate de leite e boa frescura, afinado e prazenteiro com bom final de boca ainda que com alguma secura no palato a pedir comida por perto.
89pts.
Sem quebras nem paragens, saltou o
Quinta do Alqueve Touriga Nacional 2008, com pujança e alguma austeridade a fazer-se sentir com vegetal seco e ligeiramente no perfume, a fruta mais escura e viva, bem limpa por sinal, com boca ampla, fresca e muito sabor a fruta e a especiarias, secura presente dos taninos em final decente
90pts.
Quinta do Alqueve Touriga Nacional/Syrah 2008, onde o Syrah se destaca claramente, depois de provado o Touriga antes, a diferença que se nota aqui é o Syrah a trabalhar... num todo muito bem conduzido e conseguido tanto na complexidade de nariz como de amplitude na boca, frutaria escura, pimenta preta, chocolate preto tudo isto num conjunto de bela postura, elegância e final.
91pts.
Quinta de São João Syrah 2008, um belíssimo vinho, conquistou-me pela sobriedade com que se bandeou no copo, bela complexidade num todo com especiarias, fruta escura com limpeza e um sensual doce natural, a barrica em forma sem estragar ou incomodar a conversa, harmonioso, boa profundidade e espacialidade quer em nariz e boca, alguns taninos a darem que falar mas nada que o tempo não resolva, a beber agora ou depois... com atenção e amigos por perto.
91pts
No meio da conversa fomos sendo informados das novidades, das vontades e mudanças que os vinhos do Pinhal da Torre vão sofrer nos próximos tempos/colheitas, alguns rótulos que vão ser descontinuados, outros apenas vão surgir quando a qualidade do ano assim o justificar. Dito isto foi altura de provar os novos ensaios de alguns dos próximos vinhos da casa, começando por um interessante
Quinta do Alqueve Touriga Nacional 2009 que conta com uma ligeira percentagem de Merlot, nota-se aqui um pequeno salto qualitativo em relação ao 2008, um vinho mais apurado e com uma maior definição durante toda a prova
91pts, tal como todos os novos vinhos provenientes de amostras, nos quais destaco um promissor
Quinta de São João Syrah 2009, que conquistou pela qualidade que debitou durante toda a prova, um dos que mais gostei, a fruta sente-se de excelente qualidade, muito viva e fresca, barrica na dose certa, amplo, harmonioso, roliço e fresco ao mesmo tempo, muito bem estruturado. Daqueles vinhos que é um prazer enorme ter à mesa, mas a precisar de tempo em garrafa
92pts. Foi provado ainda um ensaio a que foi chamado na altura de
Quinta de São João Grande Reserva 2009, um vinho que apesar da sua belíssima estrutura se mostra fresco e ligeiro, harmonioso e bastante agradável, sem complicar em nada, é daqueles que convém estar muito atento assim que estiver no mercado para se comprar uma caixa e ir abrindo uma de vez em quando, o prazer está garantido em dose alargada... uma delícia
93pts. Acabou-se a prova com o futuro lote do novo
Special 2009, um vinho que dispensa apresentações tal a qualidade, finesse e maneira como conjuga elegância com vigor, força e frescura mas ao mesmo tempo fácil de beber e no modo como se comporta à mesa, não cansa e convida sempre a mais um trago tamanha a qualidade com que nos presenteia, na senda do 2008, embora provando lado a lado durante o almoço eu tenha gostado um pouco mais deste 2009
94 pts.
Termino com um especial agradecimento ao Paulo Saturnino Cunha e a toda a sua equipa pelo fantástico momento que me proporcionaram e também dar os parabéns pela excelência que os seus vinhos começam a atingir... olhos bem abertos porque a coisa promete.