Já falado o Reserva branco é a vez do Reserva tinto da Quinta do Quetzal (Vidigueira). Novamente com um preço muito cordato face à qualidade apresentada, ronda os 15€ o que não o torna inacessível. É tinto mais cheio, mais moderno e roliço, com pingo adocicado no nariz, especiaria na pimenta preta, maduro no peso da fruta ... em outras palavras um vinho morno, com barrica presente no embalo do conjunto. Todo ele muito Novo com frescura a sentir-se na boca mas sempre com uma fruta anafada e gorda, sente-se a barrica numa presença cheia, ampla e que acaba por ser saborosa. Não será o típico vinho da região, não será um Alentejano de gema, mas não deixa de ser um belo vinho. 91 pts
29 junho 2012
26 junho 2012
Loios 2011 ou Marquês Borba 2011
Calor muito calor... a temperatura lá fora bate facilmente nos 40ºC, aqui onde me encontro apenas resta desfrutar do bendito ar condicionado enquanto vou abrindo umas garrafas de vinho branco bem fresquinho. Desta vez peguei nos brancos 2011 lançadas por João Portugal Ramos em Estremoz, o Loios e o Marquês de Borba, agora com nova apresentação, as garrafas ostentam a assinatura do produtor e os rótulos mudaram novamente.
Quanto aos vinhos, o Loios (o que mais gostei) é a entrada de gama deste produtor, preço a rondar os 3€ e composto por Arinto, Rabo de Ovelha e Roupeiro com uns saudáveis 12,5% Vol. É todo ele mais Alentejo, mais centrado na fruta redonda e anafada, macio na boca com boa ponta de frescura que não o torna maçudo. Pelo preço torna-se a meu ver uma compra acertada e de muito fácil abordagem. 87 pts
O Marquês Borba é mais caro, ronda os 5€ e o seu lote Arinto, Antão Vaz, Verdelho e Viognier, apresenta-se também ele com 12,5% Vol. é um vinho um pouco mais crispado, fruta com mais nervo e mais ácida, mineralidade e vegetal vincado. Mora por ali uma acidez em boca que não me deixou muito agradado, de resto e até pelo que mostrou prefiro o primeiro vinho. 86 pts
21 junho 2012
Quinta do Quetzal Reserva branco 2010
De volta ao brancos da Vidigueira, fazia tempo que não me escorria pelo copo um 100% Antão Vaz... este vem marcado como Reserva da Quinta do Quetzal, custa cerca de 12€. Lembro destes vinhos quando saíram para o mercado nas primeiras edições, na altura com enologia de Paulo Laureano agora com enologia de Rui Reguinga, curiosamente o produtor esteve também presente no evento que tive o prazer de organizar e para o ano voltará a erguer-se de nome Vinum Callipole. Sempre encarei os Antão Vaz com passagem por barrica como vinhos anafados e a precisar de ar fresco (leia-se acidez) para conseguirem conquistar uma mesa... A culpa talvez seja de uma triste moda em que se barrava a casta com essência de madeira nova, o resultado era pesado, super baunilha e uma lata de ananás em calda. Parece que com a mão de Rui Reguinga a coisa refinou, afinou e refrescou... o que temos agora no copo é um bom exemplo de um Antão Vaz mesmo que anafadinho, banhado em nobre madeira e toda a gordura que dá ao conjunto, prontamente compensada por uma boa acidez. A fruta está limpa, palpável e com toque floral pelo meio. Na boca com peso da fruta, cheio, arredondado e a leve calda de ananás já vem de série não vale a pena perder mais tempo... depois o vinho é o trivial Antão Vaz barrado em barrica. Voltei aos bons velhos tempos e este é dos recomendáveis... para quem gosta. PS: Servido fresco com uns lombos de bacalhau no forno, regados com azeite e acompanhado com cebola caramelizada e batata a murro. 91 pts
20 junho 2012
Emilio Hidalgo Amontillado Viejo El Tresillo 1874
Assumo ainda que timidamente esta minha paixão pelos vinhos do "Marco do Jerez" e de Montilla-Moriles. Neste caso irei falar de um dos grandes vinhos das Bodegas Emilio Hidalgo situadas em Jerez de la Frontera (que dá nome ao vinho Jerez), fundadas em 1874 e desde sempre (vai na quinta geração) na posse da família Hidalgo. A denominação Jerez faz parte do Forum of Historical Viticultural Appellations of Origin , juntamente como o Vinho do Porto, Rioja, Bordeus, Champagne, Cognac e Barolo. O que aqui encontramos são vinhos únicos no Mundo, vinhos carregados de emoção, de alma, vinhos que transpiram o terroir onde as cepas moram, vinhos grandiosos e eternamente esquecidos. Neste caso domina a casta Palomino Fino, num estilo peculiar de vinho generoso chamado Amontillado. Não tem muito que enganar, a categoria de generosos de Jerez são vinhos secos como consequência do seu mosto fermentar por completo, neste caso mosto de Palomino Fino, debaixo da "flor" formada pelas leveduras. É com esse estágio biológico (debaixo da flor) e após respectiva subida da graduação alcoólica não tolerada pelas leveduras autóctones que a "flor" vai desaparecendo e permitir ao vinho entrar em estágio oxidativo. Ao vinho resultante deste estágio misto (biológico e oxidativo) dá-se o nome de Amontillado. De forma muito básica, o vinho primeiro fica "seco" debaixo do manto de "flor", ganhando depois complexidade quando entra na fase oxidativa e o manto de "flor" desaparece. A graduação final pode variar entre os 16º /22º e deve ser servido a temperatura a rondar os 13/14ºC.
Para introduzir este vinho teremos de recuar até 1874, o ano em que foi criada esta Solera e que faz parte da base deste mesmo vinho, portanto como será de ver temos no copo algo muito especial. Falar de um vinho como este ou qualquer outro que envolva tamanha complexidade e requinte, torna-se por vezes complicado e também algo subjectivo pois debaixo do óbvio há sempre lugar para deixar fluir as emoções, e a prova de um vinho tem sempre um lado emocional. A começar pela sua tonalidade que nos remete para o topázio, para um âmbar muito polido e cristalino, nada oleoso. O seu aroma é de início redutor, mostra laca e algum verniz, pede tempo e paciência... não se julgue no imediato porque na realidade isto é vinho para se apreciar com muita calma. No seu subtil e delicado rendilhado de aromas destaca-se de início notas de açafrão com frutos secos tostados (avelã), depois alguma casca de laranja caramelizada, fundo salino com toque de iodo. Profundo e misterioso, na boca parece que enrola, belíssima concentração de sabores e acidez a contrabalançar a graduação de forma excelente, conquista pela sua personalidade muito vincada e intrigante, entrada com amêndoa, aquele toque oleado da noz e fruta em passa muito ligeira (tâmara), fino caramelo, sempre muito sério e de sabores marcantes, tanto em presença como em profundidade. Final de grande categoria, com toque de amêndoa amarga e alguma salinidade.
Na memória ainda tenho o épico Navazos La Bota de Amontillado Viejísimo (nº 5) “NPI” que também a seu tempo irá aqui ser colocado. Focando apenas na prova deste vinho que já de si é excelente, preço varia entre 50/65€, foi suplantado de forma categórica por outro também da sua categoria do qual irei falar mais à frente. Esta foi a minha segunda garrafa que tive o enorme prazer de poder ir bebendo ao largo de toda uma semana e acompanhar a evolução do vinho em copo... algo mágico e aconselho a quem puder que o faça. 95 pts
Verdelhou....
Puxei dois brancos fresquinhos da parte cimeira da cave climatizada, a temperatura nos 10ºC indicava que estavam prontos para consumir, sem medos, foi puxar das rolhas e servir nos copos dois Verdelhos, ambos 2011, um do Alentejo e outro de Setúbal. O Verdelho que por vezes ficamos sem saber se o que temos no copo é o Verdelho da Madeira se o Verdelho que é o mesmo que o Gouveio ou se é o Verdelho chamado Verdejo que mora em Rueda (Espanha). Na sua grande maioria raramente o resultado mete uma pessoa com vontade de bater palmas, bebe-se e está pronto para a próxima... Enquanto ia rodopiando os vinhos em jeito de comparação, no tacho ia fervendo um arroz de tomate em modo malandrinho para acompanhar uns carapauzitos fritos.
O primeiro vinho é do Alentejo, o V lembra-me logo a série dos lagartos que passava na TV, o EsporãoVerdelho 2011 que em comparação com o outro mostra aromas ligeiramente mais expressivos e centrados na tropicalidade da fruta, redonda e opulenta, algum maracujá, lima, limão, toque verdasco de talo cortado. Frescura presente mas sem uma acidez cortante ou vibrante, passagem de boca com sabor vincado da fruta embalada em corpo mediano e final também mediano. O preço ronda os 7,50€ e é de caras o branco menos interessante da gama Esporão. 89 pts
No outro copo um Regional Península de Setúbal, Domingos Soares Franco Colecção Privada Verdelho 2011, bem melhor que a primeira colheita deste vinho e em comparação com o Esporão este DSF é bem menos exuberante, mais polido de aromas, muita finura entre aromas, fruta (citrino e leve tropical), todo ele com vontade de se mostrar mas ao mesmo tempo algo acanhado. Na boca começa melhor do que acaba, em corpo para o mediano mostra bom entendimento entre fruta, vegetal e acidez. O final de boca invoca os citrinos em persistência moderada, custa quase 10€ o que o torna caro para a brincadeira que é. 88 pts
19 junho 2012
Grandes Quintas 2009
O Enólogo Luís Soares Duarte tem acostumado os enófilos a coisas boas, os Grandes Quintas da Casa da Arrochella é mais um fiel exemplo do bom trabalho que tem vindo a desenvolver pelo Douro. Este Colheita 2009 é um daqueles tintos que fica muito bem na mesa, vale os 7,5€ que custa, muito aperaltado e com veia gastronómica. Aroma de boa intensidade e complexidade, muito centrado na fruta (Cereja) com toques frescos a lembrar mentol e alguma violeta, ligeiro agreste vegetal com a madeira por onde passou apenas a lhe conferir estabilidade e harmonia, não é um vinho de excessos. É afinado com bom volume de boca, mas nada pesado, fresco com a fruta a marcar presença, quase que se trinca, depois alguma secura no final de boa persistência que o permite dormir descansado na garrafeira por um bom par de anos. Belíssimo Colheita, muita harmonia, que tem vindo a crescer de lançamento em lançamento... 90 pts
13 junho 2012
Alvear Fino CB
Estamos por Córdoba, na Sierra de Montilla Moriles, mais propriamente no reino da casta branca Pedro Ximénez, aqui os vinhos pertencem à D.O. de Montilla-Moriles. Apesar de os seus vinhos se confundirem com os de Jerez, as diferenças entre ambos são bastante claras: enquanto o de Jerez é um vinho de aroma a lembrar azeitona, por vezes salino e seco, o de Montilla-Moriles desenvolve outros aromas como tomilho, rosmaninho... No paladar são vinhos que recordam a avelã, enquanto os de Jerez tem um gosto mais amendoado, com os finos de Montilla a apresentarem mais corpo e mais oleosidade, menos secos, com uma baixa acidez e um final típico amargo e algo rústico. O solo onde as vinhas estão colocadas, neste caso são as famosas Albarizas, solos ricos em carbonato de cálcio, pobres em matéria orgânica natural, pouco férteis, composição mineralógica simples (calcário e sílica) e com alta capacidade de reter a humidade(30%).
O vinho de que falo é das Bodegas Alvear, já passaram quase 3 séculos, desde que o primeiro Alvear, Juan, originário do município navarro de Nájera, fosse morar para a cidade de Córdoba para desempenhar funções a nível de economia local. Mas seria o seu filho, Diego de Alvear y Escalera que em 1729 se muda para Montilla onde nasce a sua paixão pela vinha e pelo vinho, onde iria fundar a Bodega Alvear (a mais antiga da Andaluzia). Diego iria buscar à Argentina o seu capataz de confiança de nome Carlos Billanueva, que marcava com as suas iniciais (C.B.) os melhores vinhos provenientes da serra. Foi desta forma que se foi criando o "estilo" Alvear, pleno de moderação e homogeneidade nos seus traços, todavia presentes no Fino C.B. a marca centenária e mais conhecida deste prestigiado produtor.
Um 100% Pedro Ximénez, uva que se por um lado quando passificada ao sol cria verdadeiros blocos de doçura e complexidade, como o vinho doce natural Alvear Pedro Ximenez de Anada, por outro lado cria da categoria Generosos vinhos únicos e tão peculiares como os Fino, Amontillado, Oloroso ou Palo Cortado. No copo tenho o Alvear Fino C.B. servido a coisa de 7,5ºC enquanto trinco umas azeitonas, os seus 15% são alcançados de forma natural e tem um estágio de mais de 5 anos em botas de carvalho americano no tradicional sistema de criaderas e soleras.
O vinho em si é muito diferente do que normalmente se costuma encontrar no copo, direi mesmo que é único no estilo, inimitável até mesmo pelo terroir que lhe dá origem. O seu aroma é o que considero pungente, de boa complexidade, frutos secos torrados, iodo, erva de cheiro, toque característico de levedura, as madeiras velhas dão o seu contributo, flores brancas. Na boca é fresco, entra forte com toque de avelã salgada e ao mesmo tempo com untuosidade, mineral com toque de levedura, depois torna-se mais fino, mais mineral, alguma levedura com frutinha (maçã verde) num final longo e marcante. O equilíbrio de todo o conjunto é muito bom, os 15% não se notam em nada com a acidez a fazer de contrapeso de forma brilhante. O preço rondará os 4-5€ e deve ser sempre servido entre os 7 e 8ºC, a acompanhar entradas, marisco, tapas ou por exemplo um sangacho de atum. 91 pts
12 junho 2012
Deixei de ser Blogger...
O assunto é bem actual e causador de longas conversas, ao mesmo tempo sério, dá que pensar mas é uma afirmação carregada de verdade que todos nós devemos pensar, repensar e assumir... o "eu" individuo enquanto Blogger deixou de fazer sentido. Porque razão digo isto tendo eu próprio um blog ? Porque assumir-me enquanto Blogger é algo que está fora de uma suposta "moda" ou contexto criado vai para uma década no mundo do vinho, pura e simplesmente deixou de fazer sentido. Nesta nova era moderna do chamado 2.0 ou 3.0 tudo se insere e gira dentro de um mundo plural, cheio de ferramentas pensadas e forjadas após o boom da criação do universo "social media", os blogs que até determinada altura eram a única ferramenta tornaram-se apenas mais uma, se bem que talvez a que maior peso ainda tem, o quadro ao lado exemplifica o que quero dizer. Tudo isto surge porque um dos pioneiros nestas andanças dos blogs, Jamie Goode, escreveu recentemente aquele que foi o mote com o qual estou plenamente em parte (blogging´s not dead) de acordo e que me levou a escrevinhar este pequeno artigo, dizia ele que:
" Blogging is dead! People now realise that a blog is just one of many communication tools. I blog, but I'm not a 'blogger'. " Jamie Goode
Por cá, Portugal, eu e mais um punhado de eno-carolas fomos os primeiros a surgir como Bloggers da causa vínica, também nesse tempo se conviveu com o sentimento de um desbravar pioneiro dessa coisa estranha do ser encarado como Blogger, afinal de contas não havia mais nada que de forma completamente livre permitisse transmitir opinião sem ser o modelo denominado blog. Hoje em dia a realidade é bem distinta com Facebook, Twitter e tantas outras opções, relembro por exemplo a plataforma Adegga, o poder de comunicação aumentou a facilidade que temos em transmitir uma ideia ou uma opinião, essa facilidade multiplica-se pelo número de ferramentas que temos à disposição sendo o blog um desses exemplos. De resto cabe a cada um optimizar e rentabilizar o melhor possível cada uma delas tendo em conta as suas necessidades. Indo ao encontro do que foi dito, entendo perfeitamente quando se diz, eu blogo mas deixei de ser Blogger, na essência continuarei a ser blogger mas não Blogger... A história diz que um maluquinho a determinada altura decidiu criar uma coisa rocambolesca chamada blog de vinhos... coisa que naquela altura os "supras" até acharam alguma graça mas com a proliferação descontrolada da espécie se tornou rapidamente em coisa "chata"... a natural evolução das coisas tornou o conceito do ser blogger em algo pré histórico, a espécie evoluiu com uma selecção natural a que todos pudemos assistir durante estes anos... hoje em dia o nome será certamente outro, talvez eno-comunicador ou winewriter ou até como alguns produtores de vinho já apelidaram, a Escrita especializada (não confundir com crítica especializada). No que a mim me toca, gosto de escrever sobre vinhos, gosto de os provar e de formular um texto à volta de um copo de vinho e difundir esse mesmo texto de opinião pelas várias ferramentas que tenho à minha disposição, o blog é apenas mais uma delas, a era do social média veio para ficar.
PS: Aos que leram e esfregaram as mãos de contentes, aos que esbugalharam os olhos, aos que pensaram que o mundo ia acabar, aviso que o Copo de 3 só vai secar/acabar quando não tiver vinho para provar...
PS: Aos que leram e esfregaram as mãos de contentes, aos que esbugalharam os olhos, aos que pensaram que o mundo ia acabar, aviso que o Copo de 3 só vai secar/acabar quando não tiver vinho para provar...
07 junho 2012
Herdade do Mouchão
Ouvir falar em Mouchão é lembrar no imediato de grandes vinhos que têm vindo a deliciar gerações de apreciadores, o seu nome teve a capacidade de se afirmar com o passar dos anos num dos ícones indiscutíveis do Alentejo, um vinho que faz parte do desejo de qualquer enófilo e é sem dúvida alguma um dos grandes produtores a nível nacional. A sua história começa por volta do ano de 1825, quando o inglês Thomas Reynolds se instala no Porto como negociante de Vinho do Porto, três gerações passaram e o seu neto, John, envolveu-se no negócio da cortiça e comprou um número razoável de propriedades no Alentejo. A Herdade do Mouchão foi uma dessas herdades, com 900 hectares em que 70% são ocupados por montado de sobro. Do negócio da cortiça cedo se expandiu para o vinho, plantou-se vinha (onde viria a surgir a Alicante Bouschet em Portugal) com a respectiva adega a ser construída entre os anos de 1901 e 1904. Com o passar dos anos a produção de vinhos foi sendo aperfeiçoada e seria na década de 50 que a marca Mouchão iria surgir no mercado pela primeira vez (1954), mantendo-se na mesma a produção de vinho a granel. Naquela altura a área de vinha já tinha sido aumentada, as vinhas de Alicante Bouschet trazidas de França seriam responsáveis por alguns vinhos míticos, tinha nascido no Alentejo um dos grandes produtores de vinho. Após o 25 Abril de 1974 a Herdade foi expropriada e tomada pela "Cooprativa 25 de Abril" da Casa Branca, apesar dos seus proprietários nunca terem abandonado a sua casa, a Herdade e a Adega apenas seriam devolvidos em 1985 num estado degradado e com grande parte das vinhas a terem deixado de produzir com outra tanta parte arrancada e substituída por outras variedades de maior rentabilidade, a grande maioria dos stocks dos melhores e mais antigos vinhos tinha sido vendida ao desbarato. Naquela altura foi necessário começar do zero, a vinha velha teve de ser arrancada, replantada e reformulada. Nos dias que correm, um século depois da sua fundação, a Herdade do Mouchão continua em plena forma e na posse da família Reynolds.
Vinha Adega Vinificação
A vinha nos seus 38 hectares totais é composta por várias parcelas espalhadas pela Herdade, as vinhas da Dourada, das Canas, a Vinha Nova das Canas, da Barragem, a Vinha do Mouchão Velho e a mais especial de todas a Vinha dos Carapetos onde mora a parcela mais antiga de Alicante Bouschet. Nas restantes parcelas os encepamentos variam entre Trincadeira, Aragonez, Touriga Nacional, Touriga Franca, Castelão e Syrah, nos brancos o Antão Vaz, Arinto e Perrum. No Mouchão a tradição fala mais alto, ainda bem para os consumidores, os vinhos mantém um cunho muito próprio fruto de um apurado terroir e de cepas de Alicante Bouschet muito velhas. Adega singela e cheia de carisma onde tudo parece imaculado com os seus imponentes e velhos toneis de madeira ( Mogno, Castanho, Carvalho e Macacaúba) e algumas pipas mais velhas a recordar que o tempo é inquilino daquela casa vai para mais de 100 anos, ali mesmo onde a família de adegueiros se mantém há três gerações, guiados por Iain Reynolds Richardson o actual proprietário, num garante de que o saber fazer se vai mantendo ao longo dos anos e não se vira costas aos saberes do antigamente. A uva é escolhida e vindimada manualmente, transportada para a adega onde é esmagada e fermentada com os engaços nos nove lagares de pedra ali existentes. A pisa a pé é efectuada para todos os vinhos tintos do produtor, caso raro por terras do Alentejo, depois de fermentado o vinho é transfegado para os tonéis que variam entre os 2.500 e 5000 litros de capacidade, onde efectua a maloláctica e onde estagia por períodos que variam entre os 4 e os 7 anos. Parte dos vinhos estagia também em barricas de carvalho francês de 225 litros. Em jeito de curiosidade no pico do Verão quando as temperaturas são mais elevadas, o adegueiro por volta das 6 da madrugada abre todas as janelas da adega com o objectivo de refrescar o local, sendo que por volta das 9 horas todas as janelas voltam a ser fechadas de forma a preservar ao máximo a temperatura interior. A enologia está a cargo do Enólogo Paulo Laureano.
Alicante Bouschet
Falar-se na Herdade do Mouchão é ter de falar na casta vinda de França de seu nome Alicante Bouschet, que se instalou ali pela primeira vez na Vinha dos Carapetos e seria ali naquele fantástico e mágico local que daria o tiro de partida para aquilo em que se transformou nos dias de hoje, a grande casta do Alentejo. Da mal amada por França a glorificada no Alentejo, a casta que se adapta a climas quentes e que foi menosprezada pelos Franceses, de tal forma que quando os Rothchild compraram a "Quinta do Carmo" nos anos 90, decidiram de forma pouco inteligente destruir todas as vinhas velhas de Alicante Bouschet que esteve na origem dos grandiosos vinhos da marca. Como casta é tintureira, polpa e sumo escuros, criada em laboratório por um professor de viticultura francês de nome Henri Bouschet, ao cruzar Grenache e Petit Bouschet em 1865, não muito depois viria para o Alentejo brilhar. Casta vigorosa que produz vinhos intensos e bem estruturados de grande longevidade, fruto da boa acidez e dos taninos que mete à disposição. De aromas a lembrar frutos silvestres, azeitona, especiado e vegetais, travo de bálsamo marca todos os tintos.
Os vinhos As provas
A determinada altura no Mouchão, quando a superfície total de vinha era superior ao actual, nem sempre se conseguia vender toda a produção. Desta forma os vinhos que não se vendiam iam ficando armazenados e a determinada altura verificou-se que aqueles vinhos ganhavam com um estágio prolongado em adega. Na realidade o primeiro Mouchão engarrafado veria a apenas a luz do dia em 1949 seguido do 1954 e o 1963. O que aconteceu pelo meio desapareceu com a ocupação da Cooperativa Agrícola 25 de Abril . Apesar de tudo isto, a gama de vinhos tem vindo a ser aumentada com o passar dos anos, o primeiro vinho e o que goza de maior prestígio é o Mouchão, já teve na sua altura a edição em branco mas foi descontinuado, hoje só mesmo tinto, onde brilha o duo Alicante Bouschet com Trincadeira. Depois surgiu em 1990 o Dom Rafael, o nome homenageia o primeiro proprietário da Herdade do Mouchão. Foi já em 1996 que aparece o vinho mais especial da casa, o Mouchão Tonel 3-4 assente numa base das melhores uvas de Alicante Bouschet. Em 2005 surge o mais moderno Ponte das Canas. Os anos de 1994 e 1995 foram trágicos com a geada a dizimar por completo a produção. Aqui irei colocar todas as notas de prova dos vinhos deste produtor, desde os mais antigos aos mais recentes, mesmo que alguns deles tenham tido direito a uma prova isolada, tentarei fazer isto com todos os produtores que tenha visitado nos últimos tempos.
Dom Rafael 2010: Alicante Bouschet, Trincadeira, Aragonez e Castelão. Vinho muito novo e cheio de garra, muito Alicante Bouschet a marcar território, todo ele cheio de fruta silvestre (amora) com toques de mentol e compota, especiaria fina. A madeira ainda se faz notar o que pede tempo para se aconchegar, na boca com boa frescura, harmonia com a prova de nariz, sólido e bastante frutado, conjunto com muita vivacidade, taninos presentes em mediano final. Preço a rondar os 7,50€.(Junho 2012) 89pts
Dom Rafael branco 2011: Antão Vaz, Arinto e Perrum. Aroma refrescante com bastante fruta entre citrinos e notas de ananás, flores e algum travo mineral em fundo, todo ele simples, fresco de bom envolvimento e pronto a dar prazer. Na boca tem boa presença, tem gordura da fruta com energia e vivacidade, fruta sólida, algum vegetal e frescura em bom final. Preço ronda os 6,40€ (Junho 2012) 90pts
Ponte das Canas 2009: Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Touriga Franca e Syrah. É por assim dizer o vinho mais moderno do Mouchão, torna-se mais guloso e de fácil abordagem, mais puxado na fruta escura com doçura de uma geleia fresca a ligar todo o conjunto, mentol, bombom de cereja, especiaria e o toque da madeira a dizer que está bastante novo ainda. Boca com frescura e a mostrar alguma suavidade, mostra algum peso entre fruta/madeira/álcool que deverá passar com algum tempo, serenar o espírito faz sempre muita falta. Revela-se algo explosivo, com secura de taninos, pimenta, cacau, mentol e tabaco seco no fundo. Preço ronda os 15€ (Junho 2012) 91pts
Ponte das Canas 2006: Touriga Franca, Touriga Nacional, Syrah e Alicante Bouschet. Todo o conjunto aromático bem delineado, fruta madura e redonda com frescura, chocolate, mentol, especiaria, novamente um toque de mentol, flores, tudo muito bem concentrado com a madeira bem inserida, ao mesmo tempo concentrado. Boca começa por ter a fruta muito presente, tudo em harmonia com a prova de nariz, ganha algum peso com o tempo no copo e aumento de temperatura que resulta num pico de álcool algo desajustado. Não havia necessidade... Preço ronda os 15€ (Junho 2012) 89 pts
Mouchão 2007: Alicante Bouschet e Trincadeira. Ainda vai tardar em chegar ao mercado, talvez no final do ano, o vinho neste momento está ainda cru mas uma delícia, rebelde e pleno de irreverente com muita fruta madura e fresca, toda ela bem desenhada e em 3D, depois o toque de eucalipto, a pimenta preta, a pasta de azeitona, muita rebeldia de um conjunto fantástico a mostrar alguma rusticidade, secura na boca que nos enche o palato, marcante nos aromas e sabores. Grandioso final neste enorme Mouchão. Preço n/d (Junho 2012) 94-96 pts
Mouchão 2006: Mais um ano em que tantos se deram mal mas para estes lados parece que são imunes a essas coisas, ainda bem, este 2006 é um Mouchão bem definido, tem a concentração a opulência, talvez um pouco mais cheio mas com uma frescura muito bem colocada, não chega a ser guloso mas dá uma prova de grande gabarito no imediato ainda com alguma madeira presente mas polida. Mostra vigor, ameixa madura, especiaria, com tempo liberta aquelas bonitas notas de eucalipto/menta, esteva, tanto para crescer que se nota na boca com taninos a pedir garrafa.
Preço ronda os 30€ (Junho 2012) - 95 pts
Preço ronda os 30€ (Junho 2012) - 95 pts
Mouchão 2002: Nariz clássico da casa, depois varia ligeiramente nas suas nuances conforme o ano em causa. É mais um vinho de 2002 a entrar directamente para o top. Conjunto com nervo, raça, ameixa de sempre a dizer presente, ameixa preta gorda e sumarenta, fresca, com eucalipto tal como a complexidade, fino e fresco, com aquela rusticidade tão boa e que lhe fica tão bem, pasta de azeitona, amora mais o vegetal seco, a especiaria, madeira plenamente integrada. Na boca envolvente e macio, afinado com boa frescura, vegetal e especiado, ao mesmo tempo é arredondado e fresco, enche o palato com bom trato, sabor a fruta que se trinca em final longo. Preço ronda os 45€ (Junho 2012) 94 pts
Mouchão 1984: É daqueles vinhos que nos metem a pensar, que precisa de tempo tanto ele como nós para conseguir desembrulhar toda aquela fina complexidade que encerra. A idade não perdoa e já mostra sinais da passagem do tempo, tonalidade muito bonita ainda a mostrar laivos rubi bem vivos. A fruta formato ameixa e amora quase toda ele em passa, alguma ainda brinca como se fosse ontem que foi lá parar, depois são os majestosos terciários a tomar conta do cenário, couro, café, especiaria fina, caril, vegetal seco (folha de eucalipto) e algum terroso, algum licor pelo meio a dar mais um ar de graça num vinho fino e elegante. Na boca é fresquinho, algo seco, pecando ligeiramente na falta de vivacidade da fruta, toque austero da Alicante Bouschet...nunca se esquece dele, repete por momentos o encontrado pelo nariz, perdeu a pujança dos mais novos, mais macio e com evolução de 28 anos de vida. Final de mediana persistência.
Preço n/d - (Junho 2012) 92 pts
Preço n/d - (Junho 2012) 92 pts
Licoroso 2006: Elaborado a partir de Alicante Bouschet e Trincadeira, todo ele pastoso, fruta em pleno destaque e onde tudo rodopia à sua volta, envolvente e com frescura suficiente. Especiaria doce, ameixa seca em calda, cheio mas com harmonia, longo e a preencher bem o palato com chocolate negro. Preço ronda os 25€ (Junho 2012) 91 pts
Licoroso 1929: Este licoroso é um dos segredos mais bem guardados desta casa, algures meio perdido mas nunca esquecido no meio da adega encontra-se uma pequena barrica com este precioso néctar. Aroma muito complexo e de fino rendilhado, denso mas fresco, tudo o que os bons terciários nos tem para oferecer, vinagrinho subtil, ameixa seca, cacau, tabaco, leve fruto seco. Na boca é a explosão total de sabores e sensações, pastoso, fica-nos colado ao palato e à memória, final longevo e inesquecível... Preço n/d (Junho 2012)
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