Copo de 3: Um Copo de 3 com o Rui Miguel do Núcleo Duro

01 julho 2005

Um Copo de 3 com o Rui Miguel do Núcleo Duro

Desta vez, fomos tomar um Copo de 3 com o Sr Rui Miguel Moreira Massa que é a cara mais visível do grupo de prova Núcleo Duro, com 34 anos, Professor de matemática vive oficialmente em Alcochete mas com raizes bem fundas no Dão.

-Copo de 3: Como entraste no mundo do vinho? E o gosto pela prova quando foi?
-Rui Miguel: Acho que já nasci nele. Tenho raízes profundas no Dão e no Douro. A cultura do vinho esteve sempre presente. Vivi e lembro-me das vindimas, do cheiro das adegas dos avós, das cores, dos cheiros. Sinto às vezes muitas saudades desses tempos.

-Copo de 3: Já alguma vez bebeste um copo de 3 ?
-Rui Miguel: Nos meus tempos de Universidade, era uma constante beber um copo de 3, branquinho e fresquinho, acompanhado por uma chouriça assada, uma entremeada…Velhos tempos!

-Copo de 3: O que te levou a formar o grupo de prova Núcleo Duro ?
-Rui Miguel: Dificuldade em aprender, em partilhar com alguém. Dividir custos na aquisição de vinhos mais caros e difíceis de encontrar. Partilhar opiniões, perguntar, ouvir. Aliás, o nosso grupo, não é bem um verdadeiro grupo de prova. Eu e o Jorge, temos a politica de convidar outros enófilos para participar nas nossas provas, sendo que os temas são na maioria das vezes escolhidos por nós !

-Copo de 3: Como te vez mais Critico ou Provador/Apreciador ?
-Rui Miguel: Critico? Nada disso, aliás seria muita presunção da minha parte sentir-me como tal. Sou, sem dúvida um apreciador que tenta perceber um pouco mais destas coisas. Com um caminho longo pela frente.

-Copo de 3: É melhor provar sozinho ou em grupo?
-Rui Miguel: Depende dos momentos, sou sincero. Depende das pessoas que estiverem ao pé de mim. Como tudo na vida, temos que estar identificados com alguém. É que às vezes vale mais só do que mal acompanhado…

-Copo de 3: Que opinião tens dos críticos nacionais ? E estrangeiros ? Identificas-te com algum ? Porquê ?
-Rui Miguel: Dos estrangeiros não conheço nenhum. Nos nacionais durante muito tempo segui o trajecto do José António Salvador. Sei que é um outsider, não é muito bem visto. Se calhar por essa razão é que também ninguém me leva a sério…ehehe. De resto olho para eles todos como indivíduos que andam longe da realidade. Muito longe mesmo…

-Copo de 3: Achas a crítica de vinhos isenta e imparcial ? Porquê ?
-Rui Miguel: Só posso pensar que é imparcial, de outro modo seria muito mau para todos os consumidores que assim não fosse. Isto lembra-me as histórias do futebol. Contam-se umas coisas, mas certezas, ninguém tem. Vocês sabem o que eu digo!

-Copo de 3: Que vinho escolhias para beber agora ?
-Rui Miguel: Moscatel 1971, nem pensava em mais nada…

-Copo de 3: Com que tipo de vinho te identificas mais ?
-Rui Miguel: É difícil de dizer. Assim sem mais nada diria: Um vinho elegante! Mas por diversas vezes preferi um vinho mais robusto.

-Copo de 3: Existe o vinho perfeito ?
-Rui Miguel: Hum! Como diz o produtor Álvaro Castro, quando um dia fizer um vinho perfeito não o vendo. Sinceramente, não sei. Mas deve ser o objectivo de todos os enólogos. Chegar à perfeição…

-Copo de 3: O nosso é que é bom ou lá fora também há bom vinho?
-Rui Miguel: Olha não sei responder a essa questão, pois não sou um conhecedor dos vinhos estrangeiros. Bebi poucas coisas, alguns australianos, austríacos, alemães, mas não dá para ter uma visão global, por essa razão não posso ter uma opinião avalizada! Eu nem os “portugas” conheço todos…quanto mais os de fora. Além do mais a carteira não dá para tudo, não é? Pelo o que tenho lido, dá-me a ideia que lá fora existe maior consistência nas colheitas.

-Copo de 3: Achas que o vinho está a ficar todo igual ? O que fazer para mudar ?
-Rui Miguel: Todo igual, parece que descobriram uma receita e agora é só aplicar! Seria interessante que os produtores arriscassem mais um pouco no caminho da diferença, pois os consumidores ganhariam mais!

-Copo de 3: O vinho está caro ?
-Rui Miguel: Caro é favor! Cada vez mais é difícil encontrar um vinho bom ou muito bom a preços aceitáveis. Parece que é factor fundamental o vinho ser caro para ser bom. Às vezes acho que existe muito snobismo! Não existe justificação possível.

-Copo de 3: Enólogo que mais gostas?
-Rui Miguel: Assim, a frio, sem pensar muito, talvez o Magalhães Coelho, por ter contribuído para a melhoria dos Vinhos do Dão nos últimos anos. Foi uma grande perda para a região o desaparecimento dele.

-Copo de 3: Melhor e pior vinho provado ?
-Rui Miguel: Hum, vou ser expulso deste mundo, mas foi um Pêra Manca 98, um Batuta 99, os piores vinhos que provei. Principalmente porque os bebi em prova cega e pelo preço estupidamente elevado que têm, não correspondendo às minhas expectativas! Não tem justificação possível. Assumo, no entanto, que a minha inexperiência possa ser a razão dessa má apreciação. O melhor, hum…Talvez o Alambre 20 anos! Talvez…

-Copo de 3: Qual a garrafa mais cara que compraste ?
-Rui Miguel: Um Charme.

-Copo de 3: Quantas garrafas tens em casa ?
-Rui Miguel: A minha garrafeira, se é que posso dizer isso, é constituída por 40 a 50 garrafas. Principalmente são de gama média! Sabes que num apartamento, não existem grandes condições de armazenamento.

-Copo de 3: Que castas escolhias para fazer um vinho, que região e que nome lhe davas ?
-Rui Miguel: Epá não sei. No início disto, se calhar fazia um “mixit” entre o Dão e o Douro. Agora se calhar punha um pouco de cada região portuguesa e chamava-lhe Plenitude! Existe por este país fora um número grande castas muito interessantes.

-Copo de 3: Como vês as Regiões de Portugal uma a uma?
-Rui Miguel: Minho, a frescura,
Douro o Top,
Alentejo a consistência,
Dão um mistério e uma paixão,
Estremadura, Ribatejo bons na relação preço qualidade,
Terras do Sado poderá tornar-se numa estrela,
Bairrada só para homens de barba rija.
Algarve é para férias,
Madeira gostava de visitar,
Açores fica lá muito longe.
Mais a sério, pessoalmente não consigo dizer que esta ou aquela é a melhor, acho mesmo que é muito errado termos essa postura. Agora preocupo-me mais com os produtores do que com as regiões.

-Copo de 3: Um conselho para alguém que agora entra neste mundo...
-Rui Miguel: Começar por baixo, pelo mais simples, desligar-se de todos os preconceitos, assumir que tem um longo caminho para fazer, perguntar, pois neste mundo todas as opiniões são válidas, dada a grande subjectividade que existe!

-Copo de 3: Foi um prazer...
-Rui Miguel: Igualmente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Açores= Lisboa-Lajes (ilha Terceira) 2 horas+20 minutos= Região de Biscoitos.
Não fronteiras!

Anónimo disse...

Vale a viagem! Visitam uma freguesia com bom mar, bom vinho e um museu do vinho particular onde podem provar e comprar vinhos produzidos por essa casa agrícola.
Recomendo o branco de mesa Donatário, com características muito particulares.
Há os generosos muito especiais.
Espero pra ano lá voltar.

 
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