Copo de 3: janeiro 2014

30 janeiro 2014

Quinta das Bágeiras branco 2012

Começo colocando uma simples questão, quantos brancos temos feitos em Portugal que nos dão garantias comprovadas de um nobre envelhecimento em garrafa ? Quantos desses vinhos são feitos com esse conhecimento de causa ? Apertando um pouco a malha, pergunto quantos desses brancos se podem comprar por pouco menos de 4€ ? O Quinta das Bágeiras (Bairrada) aqui na versão colheita branco 2012 é um desses vinhos que colheita após colheita deve ser comprado e consumido no imediato ou esquecido na garrafeira. Certamente que não se irá importar muito com isso e até se transforma num exercício desafiante o seu consumo apenas 1 ou 2 anos após a sua compra, o resultado será sempre gratificante.

De momento o lote de Maria Gomes, Bical e Cerceal comporta-se de forma sisuda, rígido com certa rezina, ervas do monte, citrinos e austeridade mineral em fundo. Vinho sério, pouco exuberante num registo clássico e fora de qualquer moda. Boca a condizer com o que se encontra na prova de nariz, seco, amplo e a mostrar boa austeridade com fruta branca e citrinos presentes. Final persistente a pedir comida por perto, sem pensar muito invoco umas Ameijoas à Bulhão Pato, podendo com o tempo tornar-se companheiro de um nobre peixe assado no forno dada a complexidade e untuosidade que irá ganhar. 90 pts

27 janeiro 2014

Tons de Duorum 2012

Se é daquelas pessoas que procura ter à mesa uma boa relação preço/satisfação, sem para isso gastar muito e ao mesmo tempo ter um vinho que se destaque pela prova divertida e descontraída que dá, centrado acima de tudo na qualidade e limpeza da fruta, fresca e bem madura, todo ele muito pronto embrulhado numa delicada e suficiente complexidade que o torna deveras apetecível. Será este Tons de Duorum 2012 (Douro) um desses exemplares, que por pouco menos de 4€ se encontra muito bem distribuído no território nacional. João Portugal Ramos sabe como poucos ir ao encontro do gosto do consumidor, consegue com este vinho isso mesmo, um daqueles exemplares de rotação rápida na garrafeira de consumo a curto/médio prazo de qualquer apreciador. 89 pts

23 janeiro 2014

Vale da Capucha Alvarinho 2011

Nunca antes se tinha visto tanta casta nacional fora do baralho, na verdade hoje em dia é possível encontrar castas nacionais fora daquilo a que se pode chamar o seu "habitat" natural. Desta forma começam a surgir as provas comparativas, a necessidade e a vontade de comparação ou confrontação entre os que nasceram no reino e fora dele. Assiste-se pois uma e outra vez a um teste às capacidades dos filhos bastardos, não vão eles ter a ousadia de ser mais competentes que os filhos do reino. Pois para enorme chatice de uns e regozijo de outros, há sim alguns belíssimos exemplares dessas mesmas castas a nascer fora do seu ducado. 

Em prova temos um desses exemplos, um Alvarinho de fina estirpe nascido na D.O. Lisboa pelas mãos do produtor Vale da Capucha. Um vinho fresco, carregado de mineralidade (pederneira), sem atropelos de fruta exótica que se encontra aqui bem enquadrada, o que tem é bom e bonito, cheiroso e apetecível, contido mas preciso e de uma singela voracidade para a mesa. Quando olhamos para a garrafa já não há mais, melhor elogio que este será difícil para um vinho seja ele de onde for. Digamos que se tivesse outro brasão na sua lapela o diálogo seria talvez mais pomposo para os lados de outras cortes. Entenda-se pois que o que temos aqui é um belo exemplar de Alvarinho e que apenas precisa de uma mesa cheia de amigos e uns bons copos, o resto vocês já sabem. 90 pts 

Marquês de Marialva Reserva Arinto Branco 2012

O conhecido enólogo Osvaldo Amado tem na casta Arinto uma das suas paixões, os vinhos que faz conquistam pela fácil abordagem e qualidade que apresentam durante toda a prova, neste caso é o Marquês de Marialva Reserva Arinto Branco 2012 produzido na Adega de Cantanhede (Bairrada). É neste como noutros casos um vinho a precisar de atenção, essencialmente porque corre o risco de passar ao lado sem o merecer, tem qualidade e muita coisa boa para mostrar, é preciso é coragem e saber ultrapassar o preconceito que leva muita gente a pensar que por ser vinho de uma Cooperativa será "inferior" aos outros da região.

Este Reserva serve para demonstrar isso mesmo, conquista pela frescura de conjunto, pela maneira desafogada e limpa como se mostra a fruta (citrinos), folha de limoeiro, subtil mineralidade acompanhada por baunilha do estágio que teve em madeira. Na boca muita harmonia com frescura, presença da fruta em média concentração, seco, mineral com final delicado e longo. Acompanha na perfeição um Soufflé de pescada e camarão. 89 pts

16 janeiro 2014

Quinta do Gradil Petit Verdot 2012

No lote de vinhos especiais que todos os anos a Quinta do Gradil (Lisboa) decide lançar para o mercado, surge agora a vez de se falar da casta tinta que melhor se comportou na colheita 2012, aquele a que chamam melhor do ano é um 100% Petit Verdot. Um vinho que tem tudo para agradar, na verdade são vinhos assim que fazem falta, vinhos alegres e bem dispostos, francos e divertidos que se deixem beber sem grande floreados à sua volta.

Neste caso é um tinto provocante sem excessos, leve baunilha com toque inicial químico (tinta da china), flores/ervas do monte, a fruta escorre docinha provocante e apelativa. Na boca de corpo mediano e prolongado, sente-se a concentração da fruta sumarenta, muitas bagas silvestres, frescura a conduzir até ao final ligeiramente apimentado. O melhor da festa é o preço que ronda os 7/9€ e o torna daqueles vinhos que se leva para aquele jantar casual em casa de amigos. 90 pts

Villa Oliveira branco 2011

São raros nos dias de hoje os vinhos assim, com memória, vinhos cuja história do seu nome não se limita a meia dúzia de anos nem a uma fábula inventada num vão de escadas. Encerra nele próprio a tentativa de reviver tempos áureos que parecem querer voltar à Casa da Passarella sob a batuta do enólogo Paulo Nunes. Os vinhos ali criados têm vindo a saber crescer e o mais importante, a conquistar consumidores um pouco por todo o lado. Este apresenta-se como o branco topo de gama da casa, um 100% Encruzado de fina estirpe, que absorveu toda a frescura da vizinha Serra da Estrela e a mineralidade dos solos graníticos onde está plantado.

Conquista pelo nariz tenso e mineral, a que se junta toda a carga aromática da fruta que nele brinca, limpa e cristalina, citrino maduro em jeito de toranja, lima, depois leve coco, muito nervo que lhe percorre a alma, um devorador de tempo para quem lhe conseguir resistir nesta fase tão boa. A madeira plenamente integrada apenas confere algum arredondamento na prova de boca, bela estrutura, firme e ampla, fresco e com ligeira austeridade mineral, elegante e sério, brinda-nos e com prestação de qualidade do princípio ao fim. Custa cerca de 25€ e encosta-se ao que de melhor a região do Dão nos tem para oferecer. 93 pts

14 janeiro 2014

Olho de Mocho Reserva branco 2012

Apresenta-se como o branco topo de gama da Herdade do Rocim (Vidigueira), na sua base apenas mora a casta Antão Vaz cujo estágio passa por barrica de carvalho francês e americano. Vem na continuidade das boas colheitas anteriores e mostra uma vez mais toda a sua harmonia de conjunto, nada pesado apesar das notas de tosta que surgem lado a lado com a boa frescura da fruta tropical (ananás) tão característica da casta. Um vinho cheio de vida, algo tímido até, com uma textura que alia citrinos com baunilha, num conjunto de corpo rechonchudo e bom final. Pareceu-me ser o melhor Reserva branco do produtor até à data  90 pts

Herdade do Rocim branco 2012

Passo a passo, colheita após colheita, os vinhos da Herdade do Rocim (Vidigueira) vão ganhando estabilidade, o tempo confere serenidade ao perfil que parece oscilar pouco por esta altura e fruto disso é o cada vez maior reconhecimento das suas qualidades. Os vinhos com passagem por madeira largaram os mantos pesados da madeira que antes os cobria, surgem agora de forma mais harmoniosa e menos cansativa com recortes frescos de uma fruta airosa, sem esconder que nascem em solo do Alentejo. Este que agora falo é fruto do lote  Antão Vaz, Roupeiro e Arinto, apenas conhece o frio do inox e surge com toque fumado a acompanhar a fruta bem limpa de tom tropical e citrino, tisana, frescura de um todo que na boca se mostra delicado, com fruta de polpa branca, acidez muito presente num vinho que pede comida por perto. O preço ronda os 7/8€ sendo uma boa opção para acompanhar uma sopa de peixe do rio. 89 pts

13 janeiro 2014

Quinta de Pancas Grande Escolha 2011


É o topo de gama da Quinta de Pancas (Lisboa), pertença da Companhia das Quintas, que após ter brilhado nas colheitas de 2005 e 2008 volta à carga com nova edição do seu Grande Escolha. A atribuição desta classificação só acontece em anos com colheitas de qualidade excepcional – e 2011 foi um desses anos. Produzido com as castas Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot, estagiou vinte meses em barricas de carvalho francês e encontra-se com um preço a rondar os 20€. Um vinho que repete a excelente performance das colheitas anteriores, grande gabarito numa prestação notável de qualidade e consistência de edição para edição, que facilmente o destaca como um dos melhores da região e o coloca junto aos melhores vinhos de Portugal. 

Apesar de toda a sua raça, aguerrido e com uma bonita austeridade que augura muito boa evolução em garrafa, o vinho conquista pelo seu todo. Nota-se um Cabernet Sauvignon maduro e limpo, frutos silvestres de categoria com todo o embrulho da complexidade, madeira a caminho da plena integração, caixa de especiarias com pimenta preta, terroso com leve bálsamo. Sente-se frescura no conjunto, sente-se profundidade e largura de ombros (estruturado), boca complementa o nariz, pimenta verde, fruto suculento e muito definido, final longo, fresco e persistente. 94 pts

Uniqo Touriga Nacional 2010

Lançamento Uniqo e exclusivo da Companhia das Quintas, um vinho emocionante que junta num lote da colheita de 2010 as melhores uvas de Touriga Nacional da Quinta da Fronteira (Douro Superior); Quinta do Cardo (Beira Interior); Quinta de Pancas (Lisboa) e Herdade da Farizoa (Alentejo). Estes lotes de Touriga Nacional estagiaram em barricas novas e de um ano (50%/50%) de carvalho francês durante vinte meses e depois seguiram-se doze meses de envelhecimento em garrafa, numa quantidade limitada de 3.300 garrafas e com um PVP Recomendado de 19,90€. 

É mais que um simples varietal, assistimos aqui a um puro vinho de lote, completo e complexo, sério, estruturado e repleto de encantos com muita vida pela frente. No início levemente austero cresce no copo para toda a opulência da fruta (ameixa, amora) carnuda e madura, fresco com toque balsâmico, cacau e floral. Nada forçado, robusto e elegante, coeso, sem artificialidades e a mostrar-se com apontamento de baunilha que confere sensação de ligeira cremosidade.  Na boca temos o complementar do nariz, estruturado mas a dar muito boa prova, ligeira secura no final de boca num todo saboroso, fresco e a dar muito prazer. Um Touriga Nacional de grande qualidade a merecer uns bons nacos de novilho no carvão para o acompanharem. 93 pts

10 janeiro 2014

MOB 2011

Tudo começou com o fascínio de três amigos e produtores de vinho no Douro (Jorge Moreira - Francisco Olazabal - Jorge Seródio Borges) pelos vinhos do Dão e pela elegância e personalidade que as memórias dos anos 60 e 70 carregam dentro de uma garrafa daquela nobre região. Adoptaram a Quinta do Corujão como berço do seu novo projecto, o vinho foi buscar o nome às iniciais dos produtores, M.O.B. e anda nas prateleiras com preço a rondar os 20€.

Das castas Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Baga nasceu um vinho que cheira e sabe a Dão, embalado com uma boa frescura e harmonia onde aparecem pelo meio suaves notas florais, tem aquela mato rasteiro presente. O vinho é todo ele delicado, leve perfume cuja definição de aromas poderia/deveria ser tendo em conta o preço, muito melhor, a complexidade que tem é mediana e sem grande profundidade, tal como o comportamento em geral. Provado e bebido por duas vezes não chegou a convencer de que o preço justifica o apresentado em copo, relembro que a região Dão convive facilmente com grandes vinhos a preços sensatos e em muito caso até por bem menos se consegue bem mais. 90 pts

08 janeiro 2014

Adega Borba Cinquentenário Grande Escolha 2003

É o vinho comemorativo dos 50 anos daquela que é a mais antiga Adega Cooperativa (Borba) da região e ao mesmo tempo a referência neste momento em todo o Alentejo para não dizer mesmo de Portugal. Como exemplo disso e mostra da enorme renovação que ali se tem feito, nada melhor que um vinho deste gabarito capaz de se catapultar para o lote dos melhores do Alentejo. Nos 10 anos que tem de vida foi perdendo toda a pujança inicial, serenou e ganhou um saber estar que apenas o tempo é capaz de proporcionar, agora mais adulto está mais vinho, direi que na fase ideal para ser bebido com enorme prazer, sem nunca deixar de mostrar o sotaque da terra que o viu nascer.

Com um aroma muito bem definido, fresco e com fruta bem presente, terroso e especiado num todo onde a madeira já se acomodou faz muito, bom de cheirar e melhor de beber. Na boca repleto de elegância, frescura, harmonia entre componentes, muito sabor da fruta, folha de tabaco, licor de mirtilos, acidez presente a percorrer todo o palato num final persistente e duradouro. E para o acompanhar foi feito a pedido um assado de borrego no forno, o vinho e todos os presentes agradeceram. 94 pts
 
Powered By Blogger Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Noncommercial-No Derivative Works 2.5 Portugal License.