Copo de 3: outubro 2009

30 outubro 2009

Primeira Paixão Verdelho 2008

Chegado directamente da Madeira, este Primeira Paixão 2008 é um 100% Verdelho... direi Verdelho do autêntico e não daquele encapotado mas que afinal não passa de Gouveio disfarçado.
A Paixão do Vinho foi criada para servir o mercado com vinhos de qualidade distintiva.
Para a sua linha própria de vinhos, a opção foi criar vinhos de terroir, de pequenas produções, por especialistas nas diferentes regiões. Este vinho é um bom exemplo dessa estratégia e marca a estria da "Primeira Paixão" no mercado. É produzido a partir da casta Verdelho, uma das principais da Madeira, e é um projecto conjunto de dois enólogos que são também dois bons amigos. Rui Reguinga e Francisco Albuquerque. A ideia de um dia desenhar um vinho estava há muito tempo nos seus planos e agora torna-se realidade.

Primeira Paixão Verdelho 2008
Castas: Verdelho - Estágio: Inox - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de retoque esverdeado

Nariz jovem, fresco e intenso nos aromas que apresenta. Sente uma fruta bem madura de qualidade na variedade tropical (mais maracujá que abacaxi), e citrinos (lima, limão), misturada com erva fresca, suave floral e um segundo plano dominado por uma mineralidade quase vincada que parece ser a alma deste vinho. É esta última sensação que parece perdurar e querer mostrar um vinho que apesar do resto , é delicado e poderei dizer "cristalino".

Boca de entrada bem fresca em espacialidade mediana, onde a fruta tem o seu peso e conjuga-se muito bem com uma acidez bem viva, que confere ao vinho uma frescura notável. Travo vegetal na mesma onda do encontrado na prova de nariz, o vinho continua a mostrar frescura e a tal mineralidade, com um travo seco e final prolongado.

Mas que grande surpresa pensei eu assim que o cheirei, na boca apenas iria confirmar aquilo que o nariz já me tinha dito. Convém esclarecer que este é o Verdelho original e nada tem que ver com o Verdejo (Rueda) ou com o tal Verdelho que afinal se chama Gouveio. Mesmo que um pouco parecido nos aromas ao tal Verdejo que eu tanto gosto, se bem que andem "chatos" e a cair muito nos aromas de fruta tropical mais parecendo saladas de fruta exótica. Este é diferente, tem carácter e personalidade, direi identidade, pois os solos e o clima (terroir) da Madeira assim o permitem, eu só tenho que agradecer. 16,5 - 91 pts

29 outubro 2009

Quinta das Marias Encruzado 2008 e Quinta das Marias Encruzado Barricas 2008

Depois de já ter provado o Quinta das Marias rosé 2008, coloco agora os Quinta das Marias Encruzado, na versão com e sem barrica, ambos da colheita 2008.
O produtor Peter Viktor Eckert (Quinta das Marias) poucas apresentações necessita pois ocupa lugar de destaque no actual panorama dos vinhos do Dão, com uma gama de vinhos que foi crescendo de forma sustentada no que toca à qualidade. Deveria ser sempre assim ou não ?
São vinhos que mostram no copo, um Dão mais atrevido, menos conservador e mais virado para um consumidor moderno, acostumado a um perfil mais internacional nos vinhos que consome.

Quinta das Marias Encruzado 2008
Castas: Encruzado - Estágio: Inox - 14% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de média/baixa intensidade.

Nariz a mostrar um Encruzado de mediana intensidade, direi que o achei algo comedido na forma como se mostrou. É sim um vinho com a sua dose de elegância e frescura, centrado em aromas de fruta (limão, toranja, pêra, melão), flores e travo vegetal fresco. No final surgem toques de especiaria que lembram pimenta e algum resinoso, num conjunto fresco e coeso.

Boca de entrada fresca e bem estruturada, com a fruta ao nível do nariz, aliada a uma acidez que suporta todo o vinho. Mediano na espacialidade, equilibra a meio palato para quebrar ligeiramente no final. O peso do álcool não se faz notar devido a uma acidez suficiente para tal. De resto é um vinho fresco e frutado, com final de mediana persistência.

Após terminar a prova deste vinho a pergunta que se tem a fazer é, será que os 14% Vol. eram mesmo necessários ? De resto o vinho mostra-se apetecível, com preço a rondar os 10€ em garrafeira. A produção é pequena, 3200 garrafas. 16 - 90 pts

Quinta das Marias Encruzado - Fermentação em Barricas 2008
Castas: Encruzado - Estágio: 6 meses em barricas novas carvalho francês - 13,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de média intensidade.

Nariz a revelar de início (ainda que de forma não muito acentuada) a madeira por onde passou, tudo a ritmo lento e sem pressas, harmonioso e sem mostrar grande expressividade. Presença de fruta fresca de qualidade, cabaz de citrinos com algum pêssego e fruta branca, toque herbáceo pelo meio com fundo especiado (pimenta).

Boca com bom corpo, peso médio, frescura e boa intensidade, fruta presente ao nível do encontrado na prova de nariz, toque especiado (pimenta branca), vegetal fresco e a envolvência que lhe dá a barrica, sensação de leve cremosidade. Não é um vinho que encha por completo a boca, é um pouco comedido a preencher os espaços, embora seja todo ele harmonioso e prazenteiro, em final de boca de boa persistência.

É um vinho de garagem dada a pequena produção de 1800 garrafas, cabendo a esta o nº1510. Melhorou desde a primeira prova a quando do seu lançamento, mantendo-se nesta colheita a qualidade que já nos tinha sido apresentada na primeira colheita. O preço ronda os 15€, num vinho que mostra que a casta Encruzado se dá bem tanto em Inox como em Madeira, sendo que neste caso se assiste a uma piscadela ao novo Dão, ou direi algo mais internacional. 16,5 - 91 pts

27 outubro 2009

Allo dócil 2008

Os tempos modernos têm permitido a alguns produtores, enveredarem por caminhos cheios de experiências e tentativas de inovação, grande parte das vezes são caminhos estreitos e vertiginosos e que uma vez entrando torna-se difícil sair, obviamente uns são mais bem sucedidos e outros nem tanto. Encaixo no exemplo dos bem sucedidos (até ver no que respeita às novidades), o produtor do vinho Soalheiro, aquele que se tornou ao longo dos últimos 25 anos um alvarinho de referência e um dos grandes brancos de Portugal.
No passado recente este produtor tem vindo a aumentar consideravelmente a sua gama, primeiro com um surpreendente Primeiras Vinhas, seguido de um topo de gama Reserva, depois um Allo Dócil e a mais recente experiência tem como nome Soalheiro Alvarinho Dócil.
Centro a atenção no Allo dócil 2008 (Alvarinho e Loureiro), que resultou da parceria entre Dirk Niepoort e José António Cerdeira, onde o objectivo foi a produção de um branco que apresentasse ligeiro açúcar residual (entenda-se como doçura), boa dose de frescura e pouco grau alcoólico, o que poderá ser resumido na palavra Dócil.

Allo dócil 2008
Castas: Alvarinho e Loureiro - Estágio: inox - 10,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de ligeira concentração.

Nariz em mediana intensidade, um pouco calmo ou mesmo dócil no seu manifesto, mostra fruta (tropical, citrino e alguma fruta branca) madura e fresca com alguma calda, floral e herbáceo em segundo plano. Consegue cativar pela maneira simples e descontraída como se mostra.

Boca de entrada fina, delicada, afinada, com ligeiro toque de doçura presente e que de imediato se faz acompanhar por uma acidez moderada. Exprime-se da mesma forma que no nariz, embora a doçura ganhe aqui um maior destaque como será de compreender. O final de boca é mediano tal como a sua persistência. Talvez meigo/dócil demais para o meu gosto.

O vinho em questão com um preço de compra acessível, ronda os 6€ em garrafeira, não me conseguiu despertar grandes euforia ou atenção. É um vinho de aproximação fácil, mas que depois na forma como se mostra de tão fácil que é, dá a sensação que lhe falta algo mais em boca que no nariz. Funciona bem a acompanhar entradas simples ou até alguma comida de cariz mais oriental desde que não muito temperada. 15 - 87 pts

Barranco Longo rosé 2008

Conheci este rosé enquanto passava férias no Algarve, em pleno Agosto. Já tinha lido, já tinha ouvido falar, faltava então uma oportunidade de o encontrar para poder comprar e provar/beber.
O vinho Algarvio não é uma "invenção" recente, já lá mora faz quase tanto tempo como em outras regiões, o problema é que a qualidade associada ao que lá se dava a conhecer deixava muito a desejar. Mas também com sol e praia quem é que ia querer ligar ao campo e à vinha... ?
Um dos principais responsáveis pelo ressurgimento desta região, é Rui Virgínia, proprietário da Quinta do Barranco Longo, em Algoz, dos 60 hectares de exploração que dispõe 12 estão ocupados com vinha moderna. A vinha é composta por castas variadas, brancas: Chardonay, Arinto e Moscatel e tintas: Aragonez, Touriga Nacional, Castelão, Alicante Bouchet, Cabernet Sauvignon, Syrah, Trincadeira Preta.
Em 2001 iniciou a actividade de produção de vinhos, sob orientação do Enólogo Luís Euclides Rodrigues e em 2003 produziram-se os primeiros vinhos Quinta do Barranco Longo. Com merecido destaque coloco o Barranco Longo rosé 2008, um vinho que não me deixou indiferente e entrou directamente para a lista dos melhores rosés provados este ano.

Quinta do Barranco Longo rosé 2008
Castas: Aragonês e Touriga Nacional - Estágio: inox - 13,5% Vol.

Tonalidade ruby com boa intensidade.

Nariz a dizer claramente que estamos perante um rosé de perfil sério e ao mesmo tempo fresco e com boa intensidade. Fruta vermelha madura com toques de ligeiro doce, vegetal presente a lembrar a rama do tomate ou então o pé do morango acabado de cortar. Aromas com boa concentração e presença, leve especiaria a complementar um pouco mais o conjunto, que já de si tem muito boa pinta.

Boca com entrada cheia de fruta vermelha (framboesa, amora, morango) aliada a uma acidez bem colocada que lhe dá a frescura suficiente para aguentar o peso/estrutura que mostra ter. Um rosé sério, com mais corpo do que o normal, mesmo assim muito bem equilibrado e trabalhado, até com ligeira sensação de arredondamento na sua espacialidade, com final de boca de boa persistência.

Este vinho rondou os 6,50€ numa garrafeira em Armação de Pêra, e demonstrou ter um perfil muito gastronómico (anda na moda dizer isto). Eu não lhe resisti em colocar-lhe à frente, uma caldeirada de lulas, e portou-se lindamente. No final ainda se disse, mais lulas houvesse para tão bom rosé. 16 - 90pts

22 outubro 2009

Quinta das Marias rosé 2008

Um rosé do qual se esperava uma prestação ao nível do que este produtor do Dão (Quinta das Marias) me tem acostumado, e que no final da prova me deixou um pouco desiludido pela fraca prestação do conjunto, onde um desequilibrado e sorrateiro travo alcoólico lhe retirou os encantos que poderia de alguma forma querer mostrar. Esta é pois então, a minha nota de prova do Quinta das Marias rosé 2008:

Quinta das Marias rosé 2008
Castas: Jaen - Estágio: n/d - 13,5% Vol.

Tonalidade rosa salmão de média/baixa intensidade.

Nariz de aroma fino sem grandes manifestações, frutos vermelhos, ligeiro toque fumado com o vegetal seco a querer dominar todo o conjunto. A sensação de álcool no final estraga por completo toda a prova e atira ao chão os breves encantos então mostrados.

Boca de entrada com fruta fresca, nada de grandes entusiasmos, perde para a prova de nariz, embora consiga ligeira réplica da mesma. Sem grande estrutura consegue mostrar-se seco, e com alguma alegria, embora não tenha entusiasmado o suficiente, com final de boca médio/curto.

Não será certamente o rosé de 2008 que mais prazer me deu durante a prova, entendo que outras pessoas possam até gostar mais do que eu, mas na minha opinião a nível de nariz a presença do álcool retira todo o prazer que o vinho poderia vir a dar. Pela prova que deu e pelos atributos que mostrou (a presença do álcool no nariz penalizou e muito), acho que se está perante um vinho sem grande chama e sem grandes encantos, direi até algo "simples" e que claramente na minha opinião se consegue encontrar melhor pelo preço praticado (7,80€).
13,5 - 84 pts

16 outubro 2009

Quinta do Portal rosé 2008

O vinho rosé, ou rosado, não tem de ser obrigatoriamente um vinho para consumir apenas e só quando o calor aperta. Há cada vez mais produtores a apostarem num estilo mais sério de vinhos rosados, digamos que um estilo que se encaixa bem para ser bebido quando chega o tempo mais frio, vinhos que pelo seu perfil pedem pratos mais quentes e um pouco mais elaborados, deixando as saladas e as entradas de lado (apesar de serem também bom acompanhamento para os ditos cujos).
O vinho em prova, Quinta do Portal rosé 2008, é um dos exemplares que se enquadram perfeitamente no consumo Outono/Inverno, um rosado que mostra um ligeiro vigor extra, mais sério nos atributos apresentados e com uma inegável vocação gastronómica.

Quinta do Portal rosé 2008
Castas: Tinta Roriz (50%, Touriga Nacional (35%) e Touriga Franca (15%) - Estágio: inox - 13% Vol.

Tonalidade rosa salmão.

Nariz com aroma que sem ser muito exuberante, apresenta-se mais no plano delicado, consegue mostrar em bons modos a fruta vermelha madura (framboesa, morango), entrelaçada em vegetal fresco (rama tomate) e leve toque de rebuçado com floral em fundo. Com o passar do tempo no copo, surge um ligeiro fumado.

Boca a mostrar desde o principio um vinho de média espacialidade, com fruta vermelha bem madura, nota-se o açúcar residual controlado e sem causar enjoo (agradecemos), diga-se a bem da verdade que é um rosado harmonioso e fresco. Afinado pela prova de nariz, confere com o anteriormente descrito, o travo vegetal marca presença, em final de persistência mediana.

Se tivesse direito a categoria diria que ficava bem catalogado como um peso médio, ágil e com peso suficiente que o aguenta largo tempo durante um bom combate... à mesa. O preço que ronda os 6€ torna-o uma compra bem apetecível, e pela qualidade apresentada vale bem a pena ser conhecido.
16 - 90 pts

14 outubro 2009

Quinta do Portal Relato branco 2008 e Quinta do Portal branco 2008

De um relato da arte de fazer vinho nos tempos passados, foi fonte de inspiração para que esse mesmo Relato se tornasse o novo branco da Quinta do Portal (Douro).
Sempre na procura de tentar encontrar pontos comuns no que toca à satisfação do consumidor, eis que os vinhos vão surgindo como que em resposta às vontades e desejos daqueles que alimentam toda esta máquina.
Neste caso em concreto optei por colocar em prova o Quinta do Portal branco 2008 e o novo Quinta do Portal Relato branco 2008, para assim tentar procurar diferenças entre os vinhos, e até concluir qual dos dois gosto mais.
O primeiro a cair no copo foi o Quinta do Portal branco 2008:

Quinta do Portal branco 2008
Castas: Rabigato (35%), Malvasia Fina (30%), Gouveio (25%), e Viosinho (10%) - Estágio: inox - 13% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de baixa concentração.

Nariz
com ligeira exuberância, delicado na profundidade e complexidade que apresenta. Por momentos dá a sensação que se mostra algo preso/retraído, quase que a pedir mais algum tempo em garrafa. A fruta mostra-se madura e fresca (branca, pêssego e citrinos) com qualidade, e a combinar-se com nuances de vegetal fresco e alguma mineralidade de fundo.

Boca a mostrar estrutura mediana, com fruta presente em sintonia com travo vegetal e novamente a sensação mineral de fundo. A acidez mostra-se bem presente, quase que a fazer lembrar um ligeiro toque cítrico pelo meio do palato. Bebe-se com prazer onde o final é de persistência média.

Um branco que não esconde a sua alma Duriense, naquilo que mostra é um vinho harmonioso e bem feito, com trato cordial num todo que se sente fresco. O "ar" mais acanhado que mostrou no nariz, e a falta de "algo mais" na prova de boca, foi a razão pela qual a nota ficasse um pouco mais baixa. 15,5

Finalizei esta prova com o Quinta do Portal Relato branco 2008

Quinta do Portal Relato branco 2008
Castas: Gouveio (50%), Malvasia Fina (45%) e Viosinho (5%) - Estágio: inox - 13% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de concentração média/baixa.

Nariz de boa intensidade aromática, com fruta madura (toranja, limão, abacaxi), jovem e harmonioso com vegetal fresco e floral em segundo plano a compor o lote. No fundo toque mineral dando um boa envolvência de conjunto.

Boca de entrada fresca e frutada, bem estruturado, direi um pouco mais de corpo que o Portal Branco (este com mais nervo) com espacialidade média onde se sente algum arredondar da situação que de pronto é compensado por uma acidez citrina que marcar presença durante toda a passagem de boca. No final novamente fruta com embalo mineral a revelar um final médio/longo.

É um branco de abordagem mais fácil mas que nem por isso perde os encantos que consegue transmitir, tudo de maneira fresca e bem disposta, não tem muito a esconder pois claro. Se o primeiro parece um pouco mais calmo, direi até sério, este seria a versão tagarela e cheio de energia, um bom vivant.
O Portal Branco é um vinho mais feito ao perfil do Douro, travo mineral, a fruta por vezes deixa-se de lado para ser o vegetal a dizer que mora lá, enquanto este Relato Branco é um vinho mais pronto para o encanto fácil, puxa um pouco mais pela fruta, pelos aromas que todos gostam.
15,5

13 outubro 2009

Esporão 2000 1º Prémio da Confraria dos Enófilos do Alentejo

"Virgem com o menino, S. Bartolomeu e Sto Antão, sob a Anunciação" é o nome da obra de António Pires, natural de Évora e o primeiro pintor Português com obra identificada, datando a pintura de 1410, podendo ser apreciada no Museu de Évora.
Esta obra foi adquirida pela Finagra - Herdade do Esporão em parceria com a Fundação Banco Comercial Português e o Instituto Português de Museus.
Feita a apresentação da obra que ilustra o vinho em prova, o Esporão 2000 1º Prémio da Confraria dos Enófilos do Alentejo, convém explicar que este mesmo vinho sempre foi falado com alguma dose de mistério pelo meio, dentro de portas era conhecido como o "vinho santo", alguns até já o teriam visto, mas muito poucos o teriam provado.
A verdade é que o vinho mal chegou a estar à venda, visto ter sido absorvido por completo pela Fundação Banco Comercial Português, talvez como contrapartida pela dita parceria conjunta que levaria à aquisição da obra. Mas o que interessa é realçar a raridade do dito cujo, e após a sua inesperada aparição numa apresentação recente, convém destacar a sua qualidade e respectivos atributos que mostrou durante toda a prova, e são bastantes.
No final da prova senti-me feliz por ter finalmente privado com aquele que seria até aquele momento, o único 1º Prémio da Confraria dos Enófilos do Alentejo que ainda não tinha tido a oportunidade de provar, e em boa hora o fiz... óbvio que no final fica sempre aquela ponta de nostalgia e vontade de o voltar a encontrar, mas os "milagres" não acontecem todos os dias.

Esporão 2000 1º Prémio da Confraria dos Enófilos do Alentejo
Castas: Alicante Bouschet - Estágio: n/d - 14% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média com ligeiro atijolado no rebordo.

Nariz a conseguir cativar bastante desde o primeiro impacto, apresentando um refinado bouquet que nos enche o nariz, de boa intensidade. Começa com ligeiro apontamento químico que rapidamente dá lugar a fruta bem madura, limpa e sem caroço. A madeira está fina e discreta, colocando em jogo tudo o que de bom deveria proporcionar ao vinho, dá-lhe firmeza, encanto e complexidade: especiarias finas, vegetal seco, café torrado, folha tabaco, e leve toque floral que dá entrada a nota balsâmica (eucalipto) muito delicada. Gosta de passear no copo, mostra sinais de boa evolução e durabilidade durante toda a refeição, oscilando entre aromas mornos e frescos, um vinho cheio de nuances e apontamentos. Os 9 anos de vida notam-se bem mais na leve auréola acastanhada do que propriamente nos aromas, onde o que perdeu em energia ganhou claramente em complexidade.

Boca com entrada fresca e arredondada, o primeiro impacto é de fruta bem madura aliada a uma boa dose de frescura, seguida de especiaria, vegetal, tabaco e café creme. A plena integração da madeira aporta ao vinho uma grande finesse em toda a prova de boca, aliando harmonia e frescura com uma boa espacialidade, mostrando bom equilíbrio entre aromas e sabores. Mantém-se firme no copo durante bastante tempo, com a acidez presente e balancear-se muito bem tanto com a fruta como com a madeira, num final de persistência média/alta.

Se tinha guardados na memória vinhos como o Esporão Garrafeira 1990 ou o Garrafeira 1997, e um pouco mais abaixo o Reserva 1996, este Esporão 2000 conseguiu arrebatar o primeiro lugar e tornar-se no vinho mais marcante que tive a oportunidade de beber feito por este prestigiado produtor de Reguengos de Monsaraz. Temos aqui a grandiosidade de uma casta que considero a casta do Alentejo, aliada à excelência de um produtor. É um daqueles casos que não me importava nada de ver como está de saúde daqui a uns 4 anos. 18

12 outubro 2009

Esporão 2007 1º Prémio da Confraria dos Enófilos do Alentejo

Foi a convite feito pelo Esporão, S.A. , que assisti no passado dia 10 de Outubro, na Herdade do Esporão, ao lançamento oficial do vinho 1º Prémio da Confraria dos Enófilos do Alentejo 2007. Este mesmo prémio surge no Alentejo pelas mãos da prestigiada Confraria dos Enófilos do Alentejo, vai para 18 anos, e coloca à prova os melhores vinhos desta região, sendo praticamente todos os vinhos premiados objectos de colecção. Posso adiantar que não foram muitos, os produtores do Alentejo a conseguirem atingir três primeiros prémios neste prestigiado concurso, ao qual se atribui a Talha de Ouro. Entre os grandes vencedores encontra-se como seria de esperar a Herdade do Esporão, que conta com três destes primeiros prémios, o primeiro a ser atribuído na colheita de 1998, e o segundo em 2000, e novamente na colheita de 2007 a especificidade de um abençoado vinho falou mais alto.
Para enaltecer a criatividade que coloca na feitura dos seus vinhos, o Esporão convidou a artista plástica portuguesa Ana Jotta para criar uma obra exclusiva que desse corpo a este vinho premiado. Foram criados dois rótulos que são alternados entre a caixa e o rótulo, itens de colecção, mantendo-se a singularidade do vinho. Os desenhos feitos a lápis de carvão, foram inspirados nos primeiros rótulos da marca Esporão, tendo sido recriadas duas situações humorísticas em torno dos vinhos. Foram criadas duas edições exclusivas e produzidas 3.000 garrafas de cada, que estarão à venda nas melhores garrafeiras por um preço a rondar os 39,00€.

Esporão 2007 1º Prémio da Confraria dos Enófilos do Alentejo
Castas: Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Touriga Franca e Syrah - Estágio: barricas de carvalho americano durante 6 meses - 15% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração média/alta.

Nariz de boa intensidade, mostra-se fresco e ao mesmo tempo dá sinais de uma madeira ainda a caminho do completo entrosamento com o restante conjunto. É com frutos pretos e alguns vermelhos (mirtilo, amora, cereja) bem frescos e sumarentos que somos brindados inicialmente, um aroma frutado que não cai naquela toada morna que tantas vezes enjoamos, aqui encontra-se fruta fresca de qualidade, com toque de ligeira compota. A madeira contribui como trave mestra de todo o conjunto, toque balsâmico, baunilha, especiaria (pimenta preta, cravinho), folha seca de tabaco, um ou outro apontamento de tosta , a deixarem revelar desde já um bouquet com alguma riqueza em detalhes que com mais tempo pela frente se irá compor.

Boca com entrada fresca e a mostrar alguma garra, fruta limpa e bem madura a marcar o primeiro contacto, novamente ao nível do encontrado a quando da prova de nariz, complementando-se muito bem neste aspecto. Espacialidade média/alta, a madeira em conjunto com especiarias, tosta, chocolate de leite, doce de amora preta e secura vegetal, são bafejadas por uma acidez bem presente e refrescante, com final de boca de persistência média/alta. Apresenta uma ligeira austeridade que não chega a incomodar, mas indica que ainda deve/pode permanecer em garrafa por mais uns tempos/anos.

Desde que o cheirei, mal se abriu a garrafa, a curiosidade em saber o que dali poderia surgir fazia rodopiar aromas e sensações na minha cabeça. Servido o copo, dei com um vinho que apesar de proporcionar uma belíssima prova de momento, é com mais tempo que vai poder mostrar tudo o que de bom tem para oferecer, e é bastante. Gostei essencialmente do entendimento entre madeira/fruta/acidez que apresenta durante toda a prova, os seus 15% pouco ou nada se fazem notar. Mesmo com tempo de copo e algo mais de temperatura o vinho mantém-se em pleno com uma boa acidez, não se desmorona ou em algum momento satura quem o bebe. 18

08 outubro 2009

Soalheiro Primeiras Vinhas 2008

Em prova a última colheita a entrar no mercado, 2008, do merecidamente aclamado Soalheiro Primeiras Vinhas.
Uma marca recente deste prestigiado produtor sediado na zona dos Vinhos Verdes, que desde a sua primeira colheita, tem vindo a mostrar um perfil algo irrequieto, talvez fruto das variações dos diferentes anos de colheita ou até mesmo de alguns detalhes que foram sido limados por quem o idealiza. Certo é, que o vinho tem vindo a arrumar o perfil colheita após colheita, e já vamos na terceira, sendo que para o meu gosto, terá sido o 2007 aquele que mais prazer me deu a quando das inúmeras vezes que me caiu no copo.
Se a colheita de 2006 tinha causado alguma euforia pela qualidade que então fora apresentada, apesar de um ano não tão bom, é na colheita 2007 que este vinho brilha no seu máximo esplendor atingindo um elevado nível de qualidade.
Já a nova colheita aqui em prova, mostra um vinho que perdeu um pouco a graça da fruta e encerrou o sorriso com a frieza da pedra nos toques minerais que lhe conferem alguma austeridade. Um vinho a mostrar-se com perfil um pouco mais sério do que o Soalheiro Alvarinho 2008, e só o tempo dirá qual dos dois irá ganhar a corrida contra o tempo.

Soalheiro Primeiras Vinhas 2008
Castas: 100% Alvarinho - Estágio: n/d - 13% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de concentração média/baixa

Nariz a mostrar-se fresco com fruta a marcar presença mas sem grande exaltação (mais citrinos e menos tropicalidade), envolvendo-se em segundo plano com vegetal fresco (erva verde e fresca). Conjunto coeso embora com alguma austeridade mineral a sentir-se durante toda a prova.

Boca a mostrar um conjunto bem estruturado onde a acidez se mostra um pouco mais soft que na anterior versão, conduzindo a passagem de boca sem sobressaltos. Sabores que alternam por entre os toques vigorosos da mineralidade e o sabor da fruta madura, com vegetal fresco também ele a dar um ar da sua graça. Final médio/alto com toque mineral.

Este vinho foi provado por três ocasiões distintas, sendo que a prova foi melhorando com o avançar do tempo, referindo-se esta nota à última vez que foi provado. Se da primeira vez, pouco tinha que contar, tal eram os nervosismos que iam dentro daquela garrafa, eis que na prova mais recente o vinho mostrou-se um pouco mais espevitado embora tenha continuado a ficar algo distante do que eu quereria encontrar, sim confesso que gostei mais da colheita de 2007, e pasmem-se os ofendidos, que não lhe encontro atributos suficientes para suplantar a versão dita "normal". Preço a rondar os 15€, se for menos ainda bem. 17

01 outubro 2009

Feiras de Vinho ou o degredo do espírito enófilo...

Para ganhar algum fôlego para colocar mais umas notas de prova aqui no Copo de 3, aproveito para (de)bater naquela que é mais uma vez motivo de conversa no momento entre os consumidores, enófilos, apreciadores de vinho ou lá como lhes queiram chamar.
A verdade é que as ditas Feiras cada vez são piores, cada vez são locais mais degradantes e por seu lado, tornam-se como que uma tentativa de despachar os "monos" que abundam pelos armazéns da distribuição. Senão vejamos, onde estão os vinhos com um interesse acima da média nestas ditas Feiras, aqueles vinhos que se olha e diz sim senhor é isto mesmo que está a um preço muito apetecível e que se comprar na garrafeira até fica mais caro.
O que encontramos é vezes sem conta mais do mesmo, e damos pelas pessoas a olhar para o folheto, e a olhar para as prateleiras com esperança de se encontrar algo de diferente... meus amigos, não há nada de diferente, é tudo igual ao que encontram durante o ano.
Não se encontram nestas Feiras aqueles vinhos que se mostram exclusivos durante apenas aquele tempo, nada disso, não vamos encontrar Raros e Preciosos, apenas vamos encontrar Comuns e Mais do Mesmo.

O engraçado no meio desta conversa toda é que na mesma altura em que recebo no correio o folheto da Feira de Vinhos do Continente, recebo a carta do Clube de Vinhos do Continente onde os vinhos apresentados são sempre melhores do que todos os que surgem na Feira de Vinhos... o que me leva a perguntar, e que tal colocaram alguns destes vinhos à disposição na Feira de Vinhos ainda que por poucas quantidades ? Era bem capaz de render mais do que ter os vinhos parados em stock sabe-se lá em que condições e durante quanto tempo, ou não ?
Quanto a mim, para o ano há mais... do mesmo.
 
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