Copo de 3: setembro 2011

30 setembro 2011

Confiança...


Sorrio quando me dizem que sou esquisito, quando segundo eles aquele vinho que me deveria agradar afinal não agrada, na verdade dispenso cada vez mais os vinhos do chamado gosto fácil, vinhos de lugar comum e em nada diferenciados, puros trambolhos da enologia. Felizmente fui aprendendo com quem entende destas "cousas" do vinho, o saber diferenciar, o saber separar o que vale a pena daquilo que não passa de banal, tudo isto se foi construindo ao longo dos anos, cimentado com muitas provas, muita atenção prestada a sábios ensinamentos que iam sendo expostos por entre copos e garrafas vazias, é assim que se vai crescendo enquanto enófilo, construindo desta maneira um gosto pessoal cada vez mais apurado. Tudo isto faz também parte do meu Eu enófilo, um processo de eleição que faço questão de meter em prática na altura de comprar vinho para a minha garrafeira.
Tenho como toda a gente tem, vinhos e produtores de eleição, afinal quem não os tem, alguns são produtores que sempre acompanhei, outros produtores que me foram sendo apresentados pessoalmente ou à mesa em formato de garrafa... um desses produtores é Alonso del Yerro (Ribera del Duero).


Recentemente, compraram em Pagos de Miguel (Morales de Toro, Zamora) 8,80 ha de vinhedo com cepas plantadas entre 1930 e 1988. Este investimento deu frutos com a colheita de 2008 sendo o lançamento deste seu primeiro vinho de Toro a ser feito muito recentemente, dá pelo nome de Paydos e teve direito a todos os mimos que os seus primos da Ribera del Duero têm quando nascem. Tudo este paleio serve para mostrar que a confiança num produtor faz com que se fale num vinho "ás escuras" ,antes mesmo de o ter provado, mas certamente conhecendo a maneira como "ali" se trabalha estarei perante mais um belíssimo vinho. Se o virem não o deixem escapar, da colheita 2008 apenas foram produzidas 3.500 garrafas com preço a rondar os 20/25€... a qualidade bem acima da média está mais que assegurada. A respectiva nota de prova não deverá muito em ser colocada.

25 setembro 2011

Dona Berta Grande Escolha 2007

O tempo começa a pedir vinho tinto com um pouco mais de seriedade, aquele tipo de vinho com mais corpo e um pouco mais envolvente, que no Verão não apetece parar para pensar no que temos no copo nem o calor dá azo a que tal aconteça, mas direi que foi com este Grande Escolha e outros tantos vinhos junto de amigos que brindei a chegada do Outono.
Por entre o cheiro a fumeiro na mesa, daquele vindo de Lamego, coisa caseira feita pela família da minha mulher, os vinhos iam desfilando a bom ritmo, primeiro as "brincadeiras" para depois já com a comida a ser servida termos os vinhos certos para acompanhar os respectivos pratos... entretanto já tinha passado pela mesa um Quinta da Lixa Bruto que não me atrevo a descrever e muito menos a comprar, bom registo para um Arinto da Malhadinha a mostrar já a fruta com toque de geleia e a perder o vigor da juventude com que nos brindou no ano passado na altura do lançamento, sem dúvida que é vinho para usufruir assim que é colocado no mercado, deu-se seguimento ainda a um Altas Quintas Branco 2010, branco cheiroso com uma acidez empolgante na boca... a meu ver um pouco abaixo da anterior colheita, questão de gosto nada mais. No plano tinto um pré lançamento da AgriRoncão, o DR 2008 bem feito, algo espigado a precisar de um tempo em garrafa ou que alguém o meta no decanter uma meia hora antes de servir... preço atrativo num vinho que alia rusticidade e modernidade, mais um salto desta vez para um tinto da África do Sul da colheita 2000, vou-lhe dar mais atenção lá mais para a frente. A festa continuava, servido uma massada de bacalhau os vinhos foram tintos com boa acidez e estrutura mediana, o prato assim  pedia, mostrou-se melhor o primeiro vinho um Pinot Noir da Quinta de Sant´Ana, muito ao seu estilo um pouco mais carregado do que é normal, mas ligou muito bem e era isso que se pretendia, foi boa a surpresa cheio de fruta muito jovial e com toque de seriedade, a dar vontade de repetir certamente. O outro vinho que se colocou na mesa seria um valente enjoo, pessoalmente não gosto daquele estilo de vinho, ainda me fazem confusão os Pinot Noir super compotados que nascem no Douro, um vinho com tudo amontoado o Olho no Pé Pinot Noir. Já tínhamos deixado de brincadeiras, o arroz de pato estava na mesa (se repararem vou no segundo arroz de pato) até então nem um vinho tinha deixado saudade, aquela marca digna de registo ou motivo de celebração do que quer que fosse...

Abriu-se um Dona Berta Grande Escolha 2007, tenho vindo a seguir este carismático produtor desde os seus primeiros lançamentos, são vinhos que já aqui tive oportunidade de enaltecer mais do que uma vez, o factor Identidade a eles associado fazem com que sejam uma referência obrigatória na minha garrafeira. Nestas coisas dos vinhos, podendo estar melhores ou piores conforme o ano de colheita, nem sempre tudo corre como previsto os anos assim o determinam e o reflexo faz-se logo notar num branco com menor acidez... num tinto menos composto a nível de complexidade, variações que acontecem de forma natural sempre que se deixa falar mais a uva do que a mão do enólogo. Neste caso temos vinhos que arrisco chamar de Terroir, vinhos senhores do seu nariz, elegantes, com uma frescura muito própria daquela zona e com uma vontade muito própria... tudo isso se mostrou neste Grande Escolha 2007, um tinto de enorme categoria, frescura com a barrica em plena harmonia com a fruta de qualidade, ali mora algo de Douro, de rusticidade com travo vegetal mas que depois remete para algo mais arredondado e moderno. Um vinho que mostra uma nova faceta nos vinhos Dona Berta, pessoalmente gostei muito, quem o provou não lhe ficou indiferente e de todas as garrafas penso ter sido a única a ter sido bebida e não provada... é uma Grande Escolha e como tal merece ser procurado e comprado. 93 pts

18 setembro 2011

Lavradores Feitoria Grande Escolha 2007


O jantar estava marcado, desta vez deixei as facas a descansar e rumei a casa de mais um grande amigo... tinha escolhido uma garrafa de vinho para levar, fica sempre bem e esta já estava no cepo vai para longos meses, escolhi um Lavradores de Feitoria Grande Escolha da colheita de 2007, vinho exaltado e anunciado noutros lugares como Melhor do Ano. Dar importância a mais a estas coisas do Melhor lá do que seja é sempre causador de melindres na hora de provar o vinho, quase sempre as expectativas são colocadas mais altas daquelas a que o vinho realmente corresponde... não falha. O jantar seria Arroz de Pato no forno... prato delicioso que eu adoro, tanto fazer como comer, não dispenso os patos da Quinta da Marinha, para mim o melhor pato que se compra por aí... a gordura que larga durante a sua cozedura é a suficiente para depois passarmos à cozedura do respectivo arroz, sem falar nos aromas que podemos potenciar com o cravinho, algumas bolas de pimenta preta, meia cebola... coisas boas que fazem com que ligação com o vinho seja muito boa por sinal. Não esquecer que temos um Douro, boa frescura, esperada suficiente para combater a gordura do P(r)ato, estrutura para a carne com os aromas e sabores a combinar com os temperos, a nota artística vai-se buscar à cobertura de gema de ovo tostada com rodela de chouriço assado e a salsa fresca finamente picada, um cheirinho, a espalhar por entre a carne e o arroz, o tal lado vegetal impresso nos vinhos do Douro.

O vinho lá foi aberto e decantado uma boa meia hora, fez-lhe bem, mostrou boa complexidade, desenvolveu durante o tempo em que esteve à espera, fino e elegante desde a barrica que se notava a suportar o conjunto, à fruta madura e especiarias... apesar disto esperava um pouco mais de presença aromática, mais e maior envolvimento na boca apesar de uma entrada com frescura e presença de frutos negros, o vinho mostra ligeireza (não foi a primeira vez tendo o que já disseram por estes lados) e alguma quebra no final... cai sem avisar... perde-se no palato, perdendo encanto e caso fosse , pontos. Estrutura mediana, final de boca mediano para o curto... e eu que esperava bem mais de um vinho como este. Atenção que o vinho não é mau, é muito bom, mas fora de qualquer loucura enófila à sua volta, o preço ronda os 30€ para mim caro para o que mostrou... Provando este vinho em novo dá para entender o que se encontra depois nele passado uns anos... confirma-se com o Grande Escolha 2001. Ainda se foram abrindo outros vinhos a modos de complementar o jantar, saudável e grata recordação de um Quinta do Além Tanha Vinhas Velhas 2002... surpresa das surpresas o vinho mostrou-se em muito boa forma, talvez um bocado doce na maneira como a fruta se mostrou... de resto uma belíssima prova de nariz e de boca muito bem, começa ou vai já numa fase descendente, fazemos adeus e começar a pensar no Vinhas Velhas 2004. Num breve tira teimas ainda se abriu um Conde de Vimioso Reserva 2005 que espreitava por lá a um canto, a manter o nível dos restantes, com a fruta mais desembaraçada e fresca que no anterior caso, evolução nobre e com pernas para andar, apostar neste vinho parece valer a pena se levarmos em conta o exemplo deste 2005... são 6 anos de vida com vontade de uns tantos mais.Voltei ao Grande Escolha, sem melhoras, estável durante uma noite inteira... a quebra na prova de boca mantinha-se na mesma, não é defeito é feitio e se não fosse assim a conversa seria outra. 91pts

15 setembro 2011

Uvas Chumbadas ou talvez não ?

Tenho sérias dúvidas que depois de visualizar a reportagem que deu na TVI (O veneno nosso de cada dia), alguém tenha ficado indiferente e não se tenha metido a pensar no que realmente lhe andam a meter no prato. Isso mesmo, a meter no prato, com uma oferta cada mais afunilada nos dias de hoje as opções que nos restam de comprar determinados produtos empurram o consumidor para uma obrigatoriedade em consumir apenas deste ou daquele hiper ou super, o ritmo urbano a isso implica... infelizmente.
A procura pela subsistência, sobrevivência de cada um, as menores posses e o impedimento de chegar a esses locais leva ao surgimento das hortas sociais, das hortas urbanas... daquelas hortas colocadas num cocktail venenoso qual 2ºCircular em Lisboa. Ao ver estas situações que já conhecia devido a trabalhos que realizei na área no passado, lembrei-me que não muito afastado no tempo certo Município (Pombal) tinha plantado uma vinha em plena rotunda... isto foi na altura noticia de algo inovador , giro e porreiro e que até despertava curiosidade para que vinho iria sair dali... pelo que parece tem saído vinho em produção reduzida e até tem nome... Bagos do Marquês.
Dá para perguntar se as uvas ali colocadas são imunes à poluição que a rodeia, pergunto também se quem teve a feliz ideia de realizar vinho de uvas dessas tem noção disso mesmo... afinal de contas penso que ninguém queira andar a ingerir venenos seja em alfaces, couves... ou vinho. Haverá análises feitas a estas e outras vinhas em igual circunstância ? Com isto começo a recordar-me de todas as vinhas que ficam à beira da estrada, estradas essas movimentadas durante um ano inteiro, basta ver as vinhas situadas em toda a estrada nacional ou mesmo pela auto-estrada que vai desde Elvas até Lisboa... começando em Palmela pelas vinhas coladas à auto-estrada, por todas aquelas vinhas situadas entre Estremoz e Borba ali à beira da estrada nacional, recordo que é uma das principais ligações de Portugal a Espanha... será que tudo isso não afecta as uvas ? Há estudos/análises feitos tanto aos solos como às uvas que mostrem que afinal está tudo bem e nada a temer ? Alguém já se lembrou de questionar isso ? A taxa de tumores cresceu em Portugal desde 1981 cerca de 735% ... não se deve apenas a isto ou aquilo, deve-se a um todo e quando toca à saúde do consumidor todos deveríamos questionar se o que ingerimos/bebemos está dentro dos parâmetros normais da lei. Se uma maçã ou alface ou até carne estiver contaminada com valores acima da legal... o produto é pura e simplesmente proibido de ser colocado à venda... será que no vinho ninguém se preocupa ?

08 setembro 2011

Flor de Nelas Reserva 2008


Nesta procura do novo santo graal que é descobrir afinal de contas quem é o consumidor de vinho tantas vezes invocado por revistas, guias e produtores, dou comigo a pensar que o tal consumidor na dureza da palavra, será acima de tudo o povo... sim que o pedante enófilo não se mistura com a ralé nem compra vinho em hipermercado, compra a mulher que ele passa a vida nas provas nas garrafeiras da especialidade apesar de nunca comprar nada. Portanto é para o povo ao léu, para o consumidor normal, para todos aqueles que procuram beber bom e barato que este texto se destina... na verdade o vinho é vendido no LIDL, vinho que pela apresentação cativou-me mas aqui mais do que nunca o poster da promoção Compra 1 leva 2 foi o ultimato final para pegar em duas garrafas e dirigir-me à caixa. Pensava eu que um vinho que custava 3.99 e que assim ficou a custar 1.99 cada garrafa... como é possível ? Sim porque o vinho é um lote de Tinta Roriz, Alfrocheiro e Touriga Nacional e está bem apresentado, bonito rótulo, garrafa robusta, com um bocado de atenção ficamos a saber que teve direito a estágio em barricas de carvalho francês durante 6 meses e ainda mais 3 em garrafa... a rolha não é má... e custa 1.99€


Não resisti e abri uma garrafa mal cheguei a casa, mal o verti no copo fiquei a olhar, tinha bom aspecto o magano, na primeira cheiradela de imediato olhei para o rótulo e para o contra rótulo, tomei-lhe o peso... boa surpresa para o preço que paguei, esperava menos que isto, é um vinhito muito mas muito agradável, a passagem por madeira deu-lhe um toque extra de complexidade que se nota, ganha com tempo no copo, direi que é de mediano corpo, fresco, vinho do Dão ali de Nelas, mostra uma frutinha adocicada pelo meio... e sim é bem melhor que o Cabriz. Pelo preço revela-se uma obrigatoriedade para o consumo do dia a dia, penso que até seja bom demais para esse tipo de consumo... bom também para se deixar a marinar na garrafeira de casa por um anito que a coisa sempre melhora. Continuava a cheirar e a beber, dá gozo meter o nariz no copo, na boca passagem com alguns taninos no final, começou a pedir comida, os aromas a querer cativar sem grande alarido... gostei eu e gostaram todos lá em casa... cumpriu mais do que seria de esperar e é para isso mesmo que os vinhos são feitos.

05 setembro 2011

Cedro Mini Vinho Branco

Não faz muito tempo que foi lançada no mercado esta nova marca de vinho branco, o Cedro Mini, na realidade é uma ideia inovadora com toque de arrojo no conceito e também de alguma provocação, um puro branco de esplanada ligeiramente gaseificado (que vai saindo com o tempo de copo) e a preço mais do que convidativo. O objectivo parece ser o fazer com que se deixe de pedir uma imperial e venham para a mesa umas garrafitas deste branco, que simula o tamanho da Mini... da minha parte nada contra, uma vez que este branco sem ano de colheita, feito com Maria Gomes e Bical na Real Cave do Cedro (Anadia) com 11% Vol. não envergonha e até se mostra bem melhor do que alguns brancos com ano de colheita.
O que aqui temos é um vinho a beber fresco, muito fresco, em conversa ou sem ela, tornando-se um bom companheiro de esplanada, bebe-se descontraidamente, assenta na simplicidade e frescura de conjunto, tem lá o toque da fruta e do floral, todo ele agradável mas nada de mais... é o que é e a mais não é obrigado. E as pratadas de conquilhas agradeceram de que maneira esta nova companhia.
 
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