Copo de 3: Vinhos Dona Berta

14 março 2011

Vinhos Dona Berta

Vivemos num mundo cada vez mais igual onde somos dominados por padrões que imperam na sociedade moderna, fica difícil contornar tudo isso, a roupa, a música, a comida... A globalização é um fenómeno que pouco a pouco nos vai consumindo por dentro e por fora, e até mesmo no mundo dos vinhos as semelhanças são cada vez mais acentuadas entre vinhos da mesma região ou mesmo de regiões diferentes, a luta diária não de todos mas de alguns produtores faz com que se deixe de lado o coração e se pense com a carteira, o vinho industrializou-se e  acima de tudo interessa lançar no mercado um produto formatado ao gosto do consumidor. Com isto perde-se quase sempre a identidade de um vinho,  relegando claramente um perfil de uma região para apenas mostrar o chamado perfil internacional... nestes casos embora o vinho até possa ser de muito bom nível, tanto faz ser produzido cá como noutro ponto do planeta.
Felizmente nos dias que correm ainda há produtores que lutam contra essa corrente, quais Celtas a lutarem pelas suas terras,  pela sua identidade, tempos idos que nos dias de hoje se reflectem em produtos como os vinhos Dona Berta, propriedade do Eng.º Hernani Verdelho, uma figura ímpar do mundo enófilo que transpira amor pelos seus vinhos e pela sua terra, é ter a oportunidade de falar com este carismático produtor para saber do que falo. É nos 20 hectares da Quinta do Carrenho em Freixo de Numão (Douro Superior), que nascem vinhos distintos, de forte carácter e longa vida pela frente, onde as vinhas velhas são rainhas e senhoras, num resultado final que deixa livremente mostrar a região, sem desvirtuar, sem extracção ou prensagem exageradas, sem madeira que nunca se vai integrar e sem grau alcoólico disparatado, são no seu todo vinhos com identidade muito própria mas que acima de tudo respeitam a terra que os viu nascer.
Afinal de contas é um produtor que não vai em cantigas ou modas e fruto disso é todo o seu portfólio que nos mostra vinhos com um carácter muito próprio, talvez aquilo a que se chama muitas vezes de vinhos de Terroir, que por serem como são não se conseguem repetir em mais parte nenhuma, apenas ali naquele local. À primeira vista parecem não ser de fácil abordagem, mas antes pelo contrário conquistam ao primeiro contacto, apesar de que precisam que se dispense algum tempo com eles no copo para melhor mostrarem tudo o que têm para nos dar, como as boas amizades que se vão construindo ao longo dos anos, estes vinhos ganham exactamente com isso... com os anos, não muitos mas sim os suficientes. Bebam-se logo após serem colocados no mercado, ou guardem-se algumas garrafas para ir acompanhando a sua evolução pois são vinhos que com o tempo vão mostrando toda a sua nobreza.
Os brancos são dois, um 100% Rabigato (Dona Berta Reserva Rabigato Vinhas Velhas) e um vinho de lote feito de uma Vinha Centenária (Dona Berta Reserva Vinha Centenária), dois brancos onde o que os une é a frescura de conjunto, o primeiro a mostrar-se pleno de frescura, destaque para a limpidez do conjunto de aromas e sabores frutados, com maçã verde, flores e ervas do monte, sempre com um travo herbáceo em fundo mineral. O topo de gama dos brancos é o Vinha Centenária, onde o lote mostra a sua complexidade, refinado pela passagem por madeira, este vinho é um salto em frente em relação ao anterior, fino e refinado pelo amparo da barrica ganhando por isso também em complexidade, mantendo uma boa dose de frescura.
Nos tintos a escolha aumenta, desde o Reserva, no seu perfil de fruta limpa e fresca com travos herbáceos bem frescos a ligarem-se com madeira discreta mas que confere refinamento ao conjunto, bastante equilibrados e frescos, passagem de boca com alguns taninos a pedirem tempo de guarda mas que fazem destes vinhos companheiros vocacionados para a mesa. Destaque para um tinto 100% feito a partir da casta Sousão/Vinhão, o Reserva Especial, um vinho diferente mas muito curioso, sem ser vinoso ou carrascão como se poderia esperar de um Vinhão, este mostra-se mais senhorial e polido no trato, bela complexidade mostrando-se um vinho que agradará a todos, um pouco mais vegetal que frutado, tem tudo para ser um rei à mesa e é com a Lampreia que gosta de brilhar.
No seu todo são vinhos com forte pendor gastronómico, companheiros da boa mesa, de personalidade vincada e que merecem ser conhecidos e provados por todos os apreciadores de vinho.


texto publicado originalmente na revista Tribuna Douro nº80

4 comentários:

Sérgio Lopes disse...

João, provei na essência do vinho e apreciei bastante. Ficou combinado numa próxima ida a Foz Coa, visitar a adega e prová-los um pouco melhor.

João de Carvalho disse...

Sérgio, são vinhos muito especiais, talvez o que se pode chamar de vinhos de terroir, ali faz-se vinho como eu gosto, identidade, alma, paixão e que se dão lindamente à mesa.

Grapejuices disse...

Thanks for a intersting post. It seems like a very interesting series Dona Berta. I am quite a fan of the modernly produced wines using old traditional portuguese grapes. this should like a unique series. However, I have not come across the wines in garrafeiras in Lisbon.
May i ask where do they sell and current price level?
/ anders

João de Carvalho disse...

Hi Anders... try the Garrafeira Campo de Ourique.

Prices... start near 12€ to go near 25-30€ with the top wines.

 
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