Ora se há vinhos que fazem parte das minhas paixões
enófilas, certamente serão os Colheitas nos seus mais variados perfis a
variar de cave para cave, afinal cada produtor imprime um cunho bem diferente
nos vinhos que produz. O Colheita é um estilo de Porto diferente do Vintage, no
Colheita (Tawny) o vinho estagia em pipas até ser engarrafado, sofrendo por
isso um processo de oxidação muito lenta durante os longos anos que vai estando
guardado, no caso dos Vintage (Ruby) o vinho passa por madeira mas acaba por
estagiar em garrafa, em ambiente redutor.
Optei por falar apenas nos Colheita da Burmester, vinhos que
merecem tal como todos os grandes vinhos, serem provados nem que seja uma vez
na vida, pois esse momento será recordado para todo o sempre, tal a quantidade
de emoções que nos conseguem transmitir. Mergulhar os sentidos num destes
memoráveis néctares é entrar num mundo de sensações luxuosas, onde os aromas de
especiarias, melados, charuto, fruta cristalizada, caramelo de leite, frutos
secos, iodo ou mesmo vinagrinho naqueles com idade avançada… autênticos
mananciais de emoções, cobertos de frescura que perdura na boca e no tempo. Do
mundo de sonhos engarrafados que é a Burmester, memoráveis colheitas foram
colocados em prova, na memória já levava o 40 Anos Tordiz, o Colheita 1955 e o
1937. O nível em todos estes vinhos é de classe mundial, o preço acompanha o
luxo e o nível destes inimitáveis néctares únicos no Mundo, claramente do melhor
que se pode beber numa vida, pensava eu que já tinha visto tudo quando durante
a prova foi servido um luxuoso e guloso 1960 e em crescendo encontrei-me com um
aristocrata de belos modos e enorme finesse, admirável complexidade e
frescura, interminável viajante e pecaminoso 1940 para ser completamente
ofuscado pela soberba e direi perfeição da exclusividade com que se mostrou o 1900.
Em todos eles as notas inconfundíveis de caramelo de leite, frutos secos, nos
mais velhos as tais notas de iodo com algum vinagrinho, em que as tonalidades se
desdobravam em reflexos esverdeados. Cada um destes vinhos deixou-me uma marca
bem profunda na minha memória, vinhos que como já tinha dito anteriormente despertam
emoções fortes, num misto de sorrisos, lágrimas, tristeza porque queríamos
partilhar tanta emoção com tantos que já partiram, alegria porque estamos ali
ao lado de amigos que sorriem para nós e que tão bem entendemos aquele sorriso,
por vezes estes vinhos são metas, são a derradeira fronteira para a felicidade…
e naquela manhã foi a felicidade que reinou na cara dos que tiveram a sorte de
ali estar e provar todos aqueles sonhos engarrafados.
Todas as caves de Vinho do Porto merecem uma visita muito
atenta, cada uma é por si só um arquivo de histórias para contar, e se alguma
vez tiver a oportunidade de poder provar um vinho deste calibre não hesite, é
tão bom sonhar acordado.
texto publicado originalmente na revista Tribuna Douro nº81
texto publicado originalmente na revista Tribuna Douro nº81
1 comentário:
Como eu gostava de participar numa experiencia dessas, enfim, não vou deixar de sonhar.
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