Copo de 3: março 2010

30 março 2010

CHEVAL DES ANDES 2004

O vinho que se segue foi uma das melhores surpresas que tive nos últimos meses. O prazer da descoberta, do conhecer novos mundos, leva a momentos de partilha entre enófilos, momentos em que vão sendo colocados vinhos em prova e onde alguns se destacam mais que outros... como em tudo na vida há bons e maus momentos, mas também temos os momentos de plena satisfação, aquelas alturas em que tudo parece parar à nossa volta e ali estamos nós com um sorriso aparvalhado a olhar para o que seja, neste caso era para uma garrafa de vinho... e que vinho, um Cheval des Andes 2004.
A origem do vinho em prova, Cheval des Andes, nasce de uma parceria entre dois nomes de prestígio a nível mundial, o Château Cheval Blanc (St. Émilion - Bordéus) e Terrazas de Los Andes, com a enologia a cargo dos seus enólogos Pierre Lurton e Roberto de La Mota. Enquanto o nome Cheval Blanc dispensa apresentações, deixo um pequeno lamiré sobre as Terrazas de Los Andes, que nascem nos finais de 1950, quando o produtor Moët & Chandon estabelece em Mendoza a sua primeira filial fora de França, a Chandon Argentina (veremos mais tarde que também tem uma no Brasil). Foi apenas em 1990 que as Bodegas Chandon se voltaram para a produção de vinhos de alta qualidade fora da linha dos espumantes, sob a designação de Terrazas de Los Andes. Localizado na região do Vale do Uco, no sul de Mendoza, nos contrafortes da cordilheira dos Andes, onde a altitude dos solos varia entre os 1060 e os 980 metros, compostos essencialmente por areia e pedra. Dos 38 hectares, 16 ha são de Malbec plantado em 1929, 20 ha de Cabernet Sauvignon e 2 ha de Petit Verdot. Como nota curiosa, o cavalo surge no rótulo, agora é uma questão de o conseguir encontrar.

CHEVAL DES ANDES 2004
Castas: 55% Malbec, 43% Cabernet Sauvignon, and 2% Petit Verdot - Estágio: 16 meses barrica - 13,5% Vol.

Tonalidade granada escuro, limpo e de concentração média/alta.

Nariz a mostrar um vinho de requintada complexidade, aromas limpos e com boa profundidade a prometer bastante desde a primeira aproximação. Destaca-se a maneira como a fruta limpa, fresca e madura (groselha, amoras, cereja), se envolve com uma barrica muito bem integrada, desdobrando-se em aromas florais (violetas), tosta, baunilha a conferir sensação de cremosidade, tabaco de enrolar, camurça, chocolate de leite, aroma a lembrar bolo de passas com rum e canela. Um conjunto muito harmonioso, capaz de durar e durar, durante toda a prova e mesmo durante toda a refeição.

Boca com entrada equilibrada, harmoniosa, bem estruturada e de corpo médio. Sente-se força mas ao mesmo tempo elegância, num todo muito afinado em completa sintonia com a prova de nariz, e que dá muito prazer beber. Boa amplitude, fruta madura e sumarenta com perfeita integração com a madeira, num toque morno de aconchego que se esbate na frescura da fruta. Novamente a especiaria, a ligeira sensação de bolo de passas com rum, bálsamo vegetal ligeiro, taninos finos e presentes a darem garantia de uma boa longevidade num vinho com final de boca elegante e de persistência média/alta.

É descrito como um Grand Cru do Novo Mundo, aliando toda a força e vigor do Novo com a elegância e requinte do Velho. É daqueles vinhos que é difícil não gostar, a boa complexidade que mostra ter, permite-lhe ir evoluindo durante a refeição, tornando-se um cesto de surpresa sempre que a ele voltamos para mais uma cheiradela. Tem muitos e bons modos, fruto da escola que frequentou pois claro, requerendo para ele alguma atenção pois é muito o que tem para dizer. Um daqueles vinhos que se vir à venda compre sem pensar duas vezes, o prazer está mais que assegurado. 17 - 93 pts

29 março 2010

Clos de los Siete 2004

É de Mendoza (Argentina) que chega o vinho em prova, fruto de um projecto chamado "Campo de Vista Flores" do qual Los Siete faz parte. Escolheu-se uma área de 850 hectares ao sul de Mendoza, solos de areia, barro, com calhau e onde apenas metade da área está plantada com domínio da casta Malbec com metade da plantação, Cabernet Sauvignon e Merlot arrebatam 17% cada uma e a Syrah 16%. A totalidade da área foi posteriormente dividida em sete parcelas, uma para cada um dos sócios (parece que já não são sete mas sim seis) com alta densidade no que a vinha diz respeito (5500 plantas por ha) sendo a vinha tratada com todos os mimos tal como se fosse em Bordéus. Cada um dos sócios tem a sua própria adega, vinha, e equipa enológica respectiva... mas é Michel Rolland que domina todo o conjunto e é também Michel Rolland que elabora o blend final utilizando vários lotes de cada um dos 7 produtores, uma maneira de aumentar a complexidade e individualidade a cada um dos vinhos em separado e que obviamente dá mais complexidade ao lote final.

Clos de los Siete 2004
Castas: 50% Malbec, 30% Merlot, 10% Cabernet Sauvignon, 10% Syrah - Estágio: 11 meses em carvalho Francês novo (2/3) e restante (1/3) em inox - 15,2% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração média/alta.

Nariz cativante e de boa concentração, direi até de agrado fácil tal a maneira descarada como se mostra, num conjunto arredondado com boa intensidade, dominado grande parte do tempo por notas de fruta negra e vermelha (cereja, amora, framboesa) bem madura, alguma ponta de sobre maturação com compota que lhe confere doçura moderada. Madeira presente, baunilha, envolvência com alguma cremosidade mas muito mais para o lado da geleia do que do batido de Mocha, bem embrenhada com a fruta, fina complexidade com torrado, pimenta preta, leve terroso/mineral em fundo. Pelo meio e quase como coluna central, tem uma aragem fresca que contrabalança com o peso/doçura da fruta.

Boca com boa amplitude, peca a meu ver na falta de um pouco mais de profundidade (de igual modo no nariz) e mesmo de uma estrutura suficiente para amparar tanta fruta que se mostra aqui na mesma forma concentrada que mostrou no nariz. Compotas, especiaria, novamente fruta e cacau, com taninos a conferirem ligeira secura final num vinho que fica a meio caminho entre o equilíbrio e a força bruta, em final de boa persistência. Apesar da frescura não deixa de ter um pendor mais "adocicado" para o meu gosto, com o álcool a passar completamente despercebido ou direi maquilhado ?!?

É um vinho muito bem feito, muito apetecível e de fácil agrado pela forma provocante como se manifesta durante toda a prova, tem aquele perfil que muitos chamam de jammy. Contudo não me cativou o suficiente, tornando-se ligeiramente repetitivo passado algum tempo dentro do copo... este é a meu ver o mal destes vinhos, não conseguem ter uma conversa que dure toda uma refeição, cativam apenas durante o início mas passado 15 minutos já ninguém os consegue aturar. Merece a pena ser conhecido, ser provado e discutido entre amigos, para vinhos made by Rolland fico sem sombra de dúvidas com Château Le Bon Pasteur. 16 - 90 pts

25 março 2010

DOW´S 10 Anos

Não é de estranhar junto dos meus amigos mais chegados que se tiver de escolher diante de um Porto Vintage e um Porto Colheita, a minha escolha recaia quase sempre para o estilo Tawny, ou seja, para o Colheita. Para muitos ao lerem isto pode parecer um sacrilégio, como é possível trocar um Vintage por um Colheita ? Simplesmente uma questão de gosto pessoal que me leva a comprar em número bastante superior este tipo de vinho do que propriamente LBV ou mesmo Vintage. O vinho que se segue é o resultado de mais uma das minhas deambulações pelas mais variadas garrafeiras à procura sabe-se lá... mas que sempre acabo por encontrar algo, e neste caso é um tawny datado, 10 anos, da Dow´s.
A família Symington, radicada no Porto desde 1882, possui várias firmas que, no seu conjunto, constituem um dos maiores grupos produtores e exportadores de Vinho do Porto (certamente o maior ainda sob o controlo e gestão familiares). Uma das mais importantes e prestigiadas firmas que constituem este grupo é, sem dúvida, a SILVA & COSENS, titular da marca DOW'S. Fundada em 1798, a Dow´s é integralmente gerida pela quarta geração da família Symington, produtores de Vinho do Porto desde o século XIX. Com uma experiência de mais de 100 anos, a família é responsável por todas as fases de produção dos vinhos, desde os vinhedos, vinificação, até à lotação final dos mesmos. A Dow´s é proprietária de duas das mais emblemáticas quintas do Douro - a Quinta do Bomfim e a Quinta da Senhora da Ribeira. Estas propriedades foram adquiridas em 1896 e 1890 tornando a Dow´s numa das primeiras empresas a investir em vinhedos de grande qualidade.

Dow´s 10 anos
Castas: n/d - Estágio: Lote com uma média de 10 anos - 20% Vol.

Tonalidade âmbar brilhante com rebordo latão.

Nariz inicial com alguma redução resultante dos anos de clausura em garrafa, neste caso foram 23. Desperta aromas de belo encanto, frutos secos, tabaco de enrolar, caramelo, bolo de noz, toffee, couro fino, ligeiro vinagrinho, especiaria, armário velho, cera de abelha, passa de figo, fruta cristalizada, sentindo-se uma boa frescura e sensação de rezina (esteva) que envolve todo o conjunto, bem harmonioso e de refinada complexidade.

Boca de entrada reveladora de um corpo mediano e bem balanceado pela boa dose de frescura presente, com suavidade, complexo e a mostrar alguma profundidade. Dá boas sensações, doçura moderada bem contrabalançada com acidez, num todo com qualidade e a dar bastante prazer, sente-se frutos secos (noz) com uma ligeira oleosidade/untuosidade a meio palato com mais amêndoa torrada, especiaria, passa de figo, tudo em sintonia com o encontrado no nariz. No final acaba ligeiramente seco e com uma longa persistência.

É um vinho que não esconde os seus encantos e sabores, um 10 Anos que me fez as delícias, ainda por mais sabendo que não tive de pagar muito por ele, custou-me 12€ e pena tive de na altura não ter comprado mais. Certamente que os novos 10 Anos da Dow´s não se vão mostrar como este se apresentou, não sei se com a idade vão chegar ao nível que este chegou, afinal de contas os lotes que deles fazem parte vão mudando. 17- 92 pts

CRASTO 2008

Crasto 2008
Castas: Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Franca e Touriga Nacional - 13,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz a indicar um vinho jovem, fresco e bastante aprumado, que transpira fruta vermelha e negra (cereja e bagas) bem madura e de boa qualidade. Harmonioso, com algumas notas de compota, especiaria e fumado que lhe confere um pouco mais de diálogo, sendo que a frescura a ele inerente é colmatada com boa dose de frescura.

Boca de entrada convidativa e prazenteira, redondo com taninos finos e presentes, bem frutado na sua passagem de boca, mediana espacialidade. Frescura associada com ligeiro travo a vegetal seco e com rasto especiado, em final de boca de persistência mediana.

Este Crasto repete a prova consistente que tem vindo a dar em colheitas anteriores, em que a harmonia entre nariz e boca é de salutar. Notei que nesta colheita o vinho mostrou um perfil ligeiramente diferente das anteriores versões, direi mais internacional, mais harmonioso, sem tanto daquele toque vegetal, mato, esteva, bem mais envolvente, guloso, charmoso... talvez até educada em demasia mas ainda com alguma secura no final. Um vinho bastante pronto a ser consumido desde já com 300.000 garrafas que entram no mercado nesta colheita de 2008, com um preço a rondar os 9€ que se mostra algo elevado para as credenciais por ele apresentadas. 15 - 88 pts

20 março 2010

Château Caillou 2005

O Château Caillou fica situado em Barsac, um dos 5 municípios que fazem parte da Appellation d´Origine Contrôlée abreviada por A.O.C. Sauternes (ao sul de Bordéus). Segundo a classificação de 1885 é um Grand Cru Classé, nesta perspectiva ainda temos acima os Premiers Crus e o Premier Cru Supérieur exclusividade do mítico Château d´Yquem.
A propriedade foi comprada por Joseph Ballan em 1909, hoje ainda se mantém na família, com os 13 hectares de vinha a manterem-se tal como tinham sido classificados em 1855, num total de 6600 plantas por hectare, distribuindo-se por 90% Sémillon e 10% Sauvignon Blanc em solos calcários. A produção varia entre as 22.000 e as 26.000 garrafas por ano.

Château Caillou Sauternes 2005
Castas: Semillon, Sauvignon Blanc - Estágio: fermentação em barricas novas com envelhecimento durante 24 a 30 meses. - 13,5% Vol.

Tonalidade amarelo dourado pálido de mediana intensidade.

Nariz com aromas de boa intensidade, frescos, limpos, delicados e a mostrar finura de trato. Citrinos em grande parte cristalizados (limão e tangerina), mel, ananás em calda, gengibre fresco, lemongrass com leve nota fumada em fundo.

Boca com corpo mediano/baixo, boa acidez a contrabalançar com uma doçura que se mostra suave, direi mediana, num todo delicado, subtil, com fruta fresca e alguma untuosidade/cremosidade a meio palato. Recortes ao nível do encontrado no nariz, citrinos frescos, gengibre fresco, em boa espacialidade com final de boca de persistência média.

Neste vinho o destaque vai para uma linha de elegância associada a uma delicadeza de conjunto, aquilo que mostra parece surgir de forma algo dissipada (não queria dizer apagada... mas talvez algo polida) sem perder qualidade mas ao mesmo tempo também não permite grandes entusiasmos à sua volta. Fora isto, torna-se bastante agradável de se beber, o problema é que a meu ver pelo preço pedido exige-se mais qualidade, aqui falamos num vinho que ronda os 42€ (preço da Wine Time) o que o torna obviamente um vinho caro para as sensações que nos oferece. Alguns colheita tardia nacionais em nada lhe ficam a dever, no que toca a qualidade, obviamente que o perfil é diferente mas por muito menos €€€€ o prazer que dão é muito mais compensador. 15,5 - 89 pts

17 março 2010

Chateau Caillou d´Arthus 2005

Mais um vinho proveniente de Bordéus, desta vez é um Saint-Émilion Grand Cru de nome Chateau Caillou d´Arthus 2005. Queria deixar uma não muito detalhada chamada de atenção, pois neste caso (Saint-Émilion) o simples facto de um vinho ostentar Grand Cru no rótulo no que a qualidade diz respeito pouco tem de relevante, podendo iludir por isso os menos esclarecidos no acto da compra. Os vinhos que realmente se destacam ou direi mesmo, aqueles que interessam nesta "appellation" são aqueles que são classificados (Classés) por uma espécie de comité que classifica os Domaines pelas visitas que faz e pelas provas realizadas das últimas 10 colheitas, neste caso a classificação de 2006 tem em conta as colheitas desde 1993 a 2002, que depois são divididos nos topo como os Premiers Grands Crus Classés A ou B, e Grands Crus Classés. O Grand Cru surge naqueles que não são sequer classificados, e a diferença entre um vinho que ostente Grand Cru com um que não tenha essa indicação é apenas devido à aplicação da lei da dita "appelation" que permite a um produtor colocar Grand Cru no rótulo apenas e só por detalhes da vindima, ter um mínimo de 11% Vol. e vindimar um máximo de 40hl/ha enquanto o que não tem Grand Cru no rótulo tem um máximo de 45hl/ha. Portanto um vinho pode ostentar Grand Cru que pouco significa no que a qualidade toca...

Chateau Caillou d´Arthus 2005
Castas: n/d - Estágio: n/d - 14% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração média.

Nariz um pouco cerrado ou mesmo pouco comunicativo, sem grande intensidade, comedido, fruta escura com notas de groselha e cereja, tudo limpo e fresquinho. O vinho é todo ele fresco, talvez mais vegetal que frutado, com alguma especiaria presente, azeitona, barrica aporta alguns fumados, conjunto fino e com alguma harmonia.

Boca delicada, fruta presente com vegetal fresco (rama do tomate), alguma secura dada pelos taninos presentes, mediano de espacialidade, consegue agradar pela facilidade que mostra na prova, sem grandes complicações pelo meio, em final de boca de persistência média.

Um vinho que cresce ligeiramente no copo quando nos é servido, aguenta-se e começa lentamente a murchar, parece que perde força quando mais se precisa dele. Falando simples, é um vinho que se bebe bem mas que no final da garrafa esquecemos do que bebemos, não cria empatia, não é um daqueles vinhos que apetece comprar nem sequer é boa compra pelo preço indicado na Wine-Time, onde ronda os 20€. Não basta dizer Bordéus e ostentar Grand Cru no rótulo para ser garante de sucesso nem de alta qualidade, o preço esse é sempre puxado e o consumidor infelizmente cai na esparrela... há casos em que mais vale investir a sério €€€€€ do que ficar arrependido. Mais uma vez enalteço e destaco, há vinho Made in Portugal mais barato e melhor que este genérico... 15 - 87 pts

16 março 2010

Chateau Le Crock 2005

Pertence à família Cuvelier (Château Léoville-Poyferré) desde 1903, o Château Le Crock fica situado entre o Château Cos d’Estournel e o Château Montrose. Conta com 32,5 ha de vinhedo com 65% Cabernet Sauvignon, 25% Merlot, 2% Cabernet Franc e 8% Petit Verdot. Depois de 1994 entrou Michel Rolland dando consultadoria aos Domaines Cuvelier, resultando com isto em 1999 um grande investimento no que toca à qualidade dos vinhos produzidos, que resultaria em 2003 na atribuição do titulo de Cru Bourgeois Supérieur.
Para todos aqueles que perguntam o que é Cru Bourgeois, é uma classificação que surgiu nos vinhos na península de Médoc, para classificar os primos pobres dos parentes mais aristocratas (classificados em 1885) da zona. É apenas e só uma designação de qualidade, nada mais, e também uma maneira de promover os menos conhecidos, englobando 3 categorias, os Cru Bourgeois Exceptionnel, Cru Bourgeois Supérieur e Cru Bourgeois. O vinho em causa está classificado segundo a última classificação feita em 2003 (entretanto anulada) como um Cru Bourgeois Supérieur.

Chateau Le Crock (St. Estèphe) 2005
Castas: Cabernet Sauvignon 60%, Merlot 25%, Cabernet Franc 10%, Petit Verdot 5% - Estágio: 12 a 18 meses em barricas novas renovadas cada ano a 30% - 13,5% Vol.

Tonalidade ruby escuro de média/alta intensidade

Nariz com muita fruta vermelha bem madura e fresca (amora, groselha), pequeno apontamento de licor das mesmas, com chocolate e alguma geleia que dá um toque adocicado à fruta, num bouquet fino/delgado e de mediana intensidade. Alguma tosta da barrica, baunilha discreta, camurça, especiaria (pimenta preta) e toque vegetal seco em fundo.

Boca de entrada suave e fresca, corpo médio com a fruta a mostrar-se ao nível do nariz, chocolate e travo vegetal (eucalipto), sente-se fragilidade mas ao mesmo tempo segurança, um vinho simples mas bem feito, com taninos finos e presentes a darem ligeira secura ao conjunto, num vinho que parece ficar um pouco acanhado no seu todo em final de boca mediano.

Que é um vinho bem feito não há duvidas, tem a sua dose de interesse, mas sem grande complexidade ou mesmo presença quer de aromas ou de sabores, pede-se um pouco mais de presença a nível de nariz e de boca, mais intensidade, mais garra, mais volume... mais alma e a nota final seria outra. Tudo aqui me pareceu querer ficar num plano algo discreto, não destoa mas também não apaixona, direi que é dos que voa baixinho considerando alto o preço pedido pela Wine Time (cerca de 34€) para a qualidade apresentada e neste caso não precisamos de sair de Portugal para encontrar melhor e bem mais barato.
15,5
- 89 pts

12 março 2010

Arrayan Rosado 2008

Este foi um dos vinhos rosé ou rosados que mais gostei de provar até agora, a verdade é que não consumo muito vinho deste tipo optando quase sempre por um branco que pelo mesmo preço me costuma dar sempre melhor conta do recado, ou seja, é mais prazenteiro. Felizmente há vinhos rosados que gosto e faço sempre por ter algumas garrafas comigo, basta pesquisar por aqui que facilmente se encontram alguns dos meus favoritos, este Arrayan é um deles, um rosado sério e pleno de encantos, um vinho feito para a mesa, feito para acompanhar pratos e não para entradas ou aperitivos... é um rosé que enche, encanta e refresca. Vem da D.O. de Méntrida, o produtor são as Bodegas Arrayan de que falarei com mais detalhe quando apresentar os outros vinhos que produz, este é o seu rosado que vai no segundo ano de colheita. Um blend elaborado com as castas Syrah, Merlot, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot, tudo isto embrulhado nuns fantásticos 12% Vol. com um preço que ronda os 8€ em loja da especialidade, vulgo Garrafeira. Motivos mais que suficientes para se tornar apetecível em demasia e um alvo de tentação.

Nariz a mostrar um vinho bom de aromas, com bastante fruta fresca e bem limpa, sente-se madura e suculenta, num registo de boa intensidade. Componente vegetal, aporta complexidade com alguma secura e bravura pelo meio, hortelã, rama de tomate, com ligeira ponta doce em fundo (rebuçado de morango), num todo equilibrado, levemente especiado (pimenta), harmonioso e que dá gosto cheirar.

Boca de perfil limpo, fresco, arejado e muito bem arrumado, a saber a fruta com leve secura vegetal pelo meio, corpo bem estruturado, nada estreito e muito bem proporcionado. Sério no que mostra e como mostra, frescura presente do principio ao fim com toque a morango no final de boca.

Este é daqueles que se compra de olhos fechados, a qualidade está em todos os lados, rótulo cuidado, embrulhado em boa frescura e recheado de fruta de qualidade que se sente bem fresca. Um prazer para se beber à mesa num perfil todo ele gastronómico. 16,5 - 91 pts

11 março 2010

Monte da Peceguina 2008

Monte da Peceguina 2008
Castas: Aragonês, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Syrah e Cabernet Sauvignon - Estágio: parcial de 7 meses em carvalho francês - 14,5% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração mediana.

Nariz com boa intensidade, cheira a fruta (framboesa morango e ameixa) limpa e madura, com notas de compota num todo aconchegado pela madeira, conferindo sensação de suavidade. Aroma de vegetal fresco em segundo plano, com cacau e alguma especiaria. Atraente na maneira como se mostra, facilmente conquista pela fina complexidade que debita no copo.

Boca de boa estrutura com entrada frutada e a mostrar frescura, é um vinho guloso no sentido em que dá bastante prazer durante a sua prova, em grande sintonia com a prova de nariz. Passagem de boca afinada, elegante com toques ligeiros de cremosidade, finalizando com toque balsâmico em persistência mediana.

É daqueles vinhos muito bem feitos e acima de tudo com a capacidade de agradar a um alargado leque de consumidores. Direi mesmo que é difícil não se gostar deste tinto, cujo preço, a rondar os 8,50€ não permite um consumo diário mas para quem quer um vinho acima da média sem querer gastar muito €€€€ tem aqui uma óptima solução. Pessoalmente não o achei tão bom quanto a anterior colheita (2007), um pouquinho abaixo na prestação que se reflecte obviamente na nota final, questões de gosto pessoal nada mais. 15,5 - 89 pts

08 março 2010

Soalheiro 2009

Os anos vão passando mas a qualidade colheita após colheita, mantém-se no nível a que sempre acostumou os seus seguidores. Um padrão elevado que faz as delícias de todos, num branco de referência aqui ou em qualquer outra parte do mundo.

Soalheiro Alvarinho 2009
Castas: 100% Alvarinho - Estágio: n/d - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de laivo esverdeado

Nariz a mostrar uma bela intensidade, limpo e com notas de fruta sumarenta e de grande qualidade, em boa quantidade, variando pelos citrinos (lima, limão) que ganham algum destaque na cesta, acompanhadas por sensação de fruta tropical. Harmonia de conjunto, com vegetal fresco (relva, rama de tomate) a marcar presença ao lado de sensações fumadas com boa austeridade mineral em segundo plano.

Boca a mostrar um conjunto bastante elegante, com uma acidez vivaz a dar ao vinho uma bela frescura de conjunto, permitindo uma passagem muito refrescante, embalada na fruta bem madura aqui mais na vertente citrina (limão, lima). Boa espacialidade tal como boa profundidade de boca, com a componente mineral a tomar conta da segunda metade da viagem, com alguma austeridade, a interligar todos os detalhes que o vinho mostra ter, complementando-se com vegetal fresco, em final longo e de bela persistência.

Afirma-se ano após ano, como uma das grandes referências nacionais no que toca a vinhos brancos de grande qualidade. É um vinho que dá uma prova de grande nível enquanto novo, mas que não vira cara a uns anos de cave onde irá desenvolver outros níveis de complexidade. Com um preço excelente que ronda os 8€ numa grande superfície comercial, é um vinho a não perder. Para completo desfrute agora ou nos próximos anos. 17 - 93 pts

04 março 2010

Quinta do Couquinho Rosé 2008

O vinho em prova é o Quinta do Couquinho Rosé 2008, um Douro Superior, cujo nome da Quinta não estranhará a quem tenha seguido desde o inicio os vinhos Lavradores de Feitoria. A introdução ao produtor deixo para quando aqui falar dos seus tintos.
Nos dias que correm o vinho rosado já faz parte da mesa do consumidor, essencialmente no Verão já se vai comprando sem grandes preconceitos que durante algum tempo teimaram em existir sobre o vinho rosé. Afinal de contas, a qualidade tem vindo a ser aprimorada colheita após colheita e os resultados são cada vez mais animadores, resta apenas descobrir quais dos rosés Made in Portugal tem uma boa capacidade de guarda como por exemplo os famosos exemplares de Bandol (França)... mas enquanto isso não acontece, é melhor não dar mais que 1 ou 2 anos após a saída para o mercado, de maneira a aproveitar todo o seu encanto.
Ainda assim tem-se notado que ao principio os vinho rosé apresentavam uma leve queda para um travo com demasiada doçura (açúcar residual), alguns ainda mantém esse estilo, mas em grande parte nota-se que essa mesma doçura tem vindo a ser diminuída pelo que os vinhos se mostram agora menos gulosos e bem mais secos e sérios, direi mesmo, mais gastronómicos (amigos da mesa). O curioso disto tudo é que a tonalidade tem vindo a acentuar-se, perdendo muitos deles aquele ar ligeiro e refrescante, ficando escuros e próximos das tonalidades do vinho tinto. Para o meu gosto resta tirar um pouco menos na tonalidade, e manter ou melhorar o nível de frescura e limpidez da fruta em que sempre que possível acompanhado de alguma mineralidade. É caso para dizer que nunca em Portugal se bebeu tão bom vinho rosado.

Quinta do Couquinho Rosé 2008
Castas: Touriga Franca e Touriga Nacional - Estágio: n/d - 13% Vol.

Tonalidade granada vivo de baixa concentração a lembrar sumo de romã.

Nariz
com aroma fresco e frutado de boa intensidade, marcado pela groselha e pela framboesa, aliado a notas de vegetal seco com sensação de adocicado muito suave em segundo plano. No fundo parece despontar um aroma de fumo que se combina com o restante conjunto.

Boca
com entrada a saber a fruta madura e com toque de ligeiro doce, em corpo mediano com boa frescura e espacialidade, delicado, equilibrado e harmonioso onde se dá lugar a uma secura que guia até ao final da boca.

É um rosé bastante agradável, embora uma pitada aqui e outra acolá e a nota final seria bem diferente, mas atenção que continua a ser do melhor que por cá se vai fazendo, seriedade e amizade com a mesa, ligou muito bem com uma Lasanha no forno. O preço ronda os 6€ e é uma aposta séria no campo dos rosés em Portugal.
15,5 - 89 pts

02 março 2010

Factor identidade

Quantas vezes ao provar um vinho com um grupo de amigos, se questionou entre todos qual a região de onde seria proveniente aquele vinho, e que no final até se acertou em cheio.

Em que nos baseamos para tirar essas conclusões senão num factor chamado identidade, que na sua essência se baseia num determinado conjunto de características dos vinhos produzidos em determinada região. É esse mesmo factor que tem vindo a ser colocado um pouco de parte nos dias que correm, ou pelo menos assim parece, e muitas vezes o que pensávamos ser produzido para os lados da Austrália, afinal de contas até é feito ali para os lados de Beja.

Encaremos então a identidade de um vinho como o seu sotaque, que não deve ser falseado ou adulterado, devendo ser fiel à região/local onde nasceu. Acontece que esse mesmo factor passa muitas vezes ao lado do consumidor, quando deveria fazer parte do lote de exigências, a par da qualidade, na altura da compra.

Não convém esquecer que são esses mesmos vinhos, dotados de uma identidade muito própria que os torna fiéis representantes de uma determinada região, que por sua vez se devem dar a conhecer dentro e fora de portas, utilizando esse mesmo factor como uma mais valia, e que num curto/médio prazo se irá transformar em alvo de uma procura cada vez mais acentuada.

O problema neste caso, é que muitos vinhos vão abdicando cada vez mais da sua identidade, deixando prevalecer um agradar fácil ao consumidor, tornando-se com isso mais idênticos entre si, enquadrando-se num perfil mais comercial e seguidor de uma fórmula que hoje em dia começa a ficar algo repetitiva.

Afinal de contas quantos de nós já abdicámos do sotaque tão característico da terra onde nascemos apenas e só, para melhor nos enquadrarmos nos círculos sociais de que fazemos parte? O mesmo tem vindo a acontecer com o vinho.

Em Portugal temos o exemplo da Touriga Nacional, que plantada de norte a sul e vista por alguns como a solução de todos os males, é utilizada em demasia nos mais variados lotes, conseguindo com isso marcar a sua posição em inúmeros vinhos, tornando grande parte deles bastante semelhantes entre si.

Poder encontrar hoje em dia um vinho cujo sotaque corresponde à zona/local onde nasceu, é cada vez mais uma lufada de ar fresco, e o saber apostar neste mesmo factor pode ser a solução para fugir da monotonia daqueles vinhos deja vu que no fim de se beberem chegamos à conclusão de já se ter provado algo parecido nos últimos tempos.

Vivemos numa sociedade cada vez mais marcada e ordenada por certo e determinado número de modas, direi mesmo de igualdades, pelo que de certa forma a identidade ainda é o que nos resta como garante de alguma diferenciação e afirmação, num mundo cada vez mais igual.


Texto da autoria de João Pedro de Carvalho publicado originalmente na Revista Divinum (Jornal Público) nº3 Julho 2009.

 
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