Um sonho que se tornou desejo, uma vontade que se tornou realidade, é assim que surge, entre Vidigueira e Cuba, a Herdade do Rocim. Este produtor de vinho do Alentejo, conta com uma propriedade de 100ha, adquirida em 2000 pelo empresário de Leiria,José Ribeiro Vieira, a pedido de uma das suas filhas e também enóloga, Catarina Vieira.
A herdade foi alvo de trabalhos de reestruturação e qualificação durante 6 longos anos, incluindo a plantação da maior parte da vinha que hoje totaliza 60ha, repartidos por 40ha de castas tintas e 20ha de castas brancas. O projecto teve como ponto alto a edificação de uma adega perfeitamente enquadrada na paisagem e onde se destaca o enoturismo e a sua capacidade para acolher as mais variadas iniciativas culturais.
Nos dias de hoje a Herdade do Rocim afirma-se como um dos grandes produtores sediados no Alentejo, contando com uma equipa de três enólogos composta por Catarina Vieira, Pedro Ribeiro e Vânia Guibarra. Por ali nada é deixado ao acaso e fruto disso é o detalhe e o bom gosto que tomaram conta daquela Herdade situada bem perto da Vidigueira. Nota-se que em toda a gama de vinhos e produtos comercializados há um detalhe e um carinho que os envolve, até na maneira como são dados a conhecer, nada é deixado ao acaso, novamente um mundo de pequenos mimos dirigidos por uma mão feminina, a mão da produtora Catarina Vieira.
A gama de vinhos tem vindo a crescer, os rótulos têm vindo a sofrer os necessários ajustes meramente estéticos, tal como os vinhos que têm vindo a sofrer as necessárias afinações de perfil mostrando-se melhores a cada colheita que passa. Dos brancos aos tintos, mostram-se acima de tudo com frescura, cativantes, com uma fruta nada pesada e sempre com um perfil a mostrar boa harmonia entre as suas componentes sendo também todos eles muito gastronómicos. Vinhos que mostram o quanto enganados andam aqueles que afirmam que no Alentejo os vinhos não têm frescura ou que não sabem perdurar no tempo. A Herdade do Rocim faz parte do lote de produtores que têm vindo a mostrar uma vontade e um saber desmistificar todas essas mentiras ditas vezes sem conta. E dessa mesma vontade têm surgido nos últimos tempos algumas novidades, como um Espumante ou mesmo o Touriga Nacional e o Alicante Bouschet em modo varietal. Poderia também enaltecer o Rosé da linha Mariana ou tecer rasgados elogios ao colossal topo de gama, Grande Rocim.
Mas para mim os vinhos que mais me marcaram foram os Amphora, um branco e um tinto, nascidos e criados nas famosas talhas alentejanas. São vinhos único, que carregam a alma e a identidade de toda uma região. Estes vinhos são a imagem do seu criador, o Sr. Pedro, o feitor da Herdade do Rocim e que trata as talhas por tu. Certamente que as conhece desde menino e se viu crescer lado a lado com aquela arte. E foram estes dois vinhos que me catapultaram para um passado que já não volta, são afinal de contas estes vinhos de tão simples, que por vezes se tornam grandes e tão complexos. Naveguei nos aromas, nos cheiros que invocam recordações, naquela vontade que nos fica de servir e beber mais um copo sem causar cansaço algum e sempre com um sorriso na cara. O mesmo sorriso que vi na cara do Sr. Pedro enquanto conversávamos.
O Amphora branco 2014, tal como o tinto, é feito da forma tradicional e não tem qualquer contacto com inox ou madeira. Feito a partir de Antão Vaz, Perrum, Rabo de Ovelha e Manteúdo, a diferença começa pela tonalidade que lembra a cor do latão, depois é toda a panóplia aromática que com o tempo de copo faz toda a diferença. Num misto de resina e vegetal, a fruta madura aparece limpa e rodeada de flores, tudo fresco e convidativo, misterioso e cativante. Na boca conquista pela forma simples e refrescante como acaricia o palato, sabe impor-se mas ao mesmo tempo convida sempre a mais um trago.
O Amphora tinto 2014 leva no lote as castas Aragonez, Trincadeira, Moreto e Tinta Grossa. Uma tonalidade aberta de tom rubi com a fruta (frutos do bosque, morango, ameixa) muito presente envolta num fino véu de barro. Em pano de fundo alguma resina, toque fumado, cacau em pó. Muita frescura num perfil que não cansa, cativa pela simplicidade, pela alegria com que se manifesta e se dá a conhecer. Encerra nele a simplicidade de um povo e o abraço morno de uma terra. No palato é o sabor da fruta, termina com ligeira secura e aquele travo a barro seco ao mesmo tempo que pede por comida e que nos sentemos a falar com ele.
Publicado em Blend - All About Wine
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