Copo de 3: setembro 2015

29 setembro 2015

Os Amphora da Herdade do Rocim

Um sonho que se tornou desejo, uma vontade que se tornou realidade, é assim que surge, entre Vidigueira e Cuba, a Herdade do Rocim. Este produtor de vinho do Alentejo, conta com uma propriedade de 100ha, adquirida em 2000 pelo empresário de Leiria,José Ribeiro Vieira, a pedido de uma das suas filhas e também enóloga, Catarina Vieira.
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Adega do Rocim, Herdade do Rocim © Blend All About Wine, Lda
A herdade foi alvo de trabalhos de reestruturação e qualificação durante 6 longos anos, incluindo a plantação da maior parte da vinha que hoje totaliza 60ha, repartidos por 40ha de castas tintas e 20ha de castas brancas. O projecto teve como ponto alto a edificação de uma adega perfeitamente enquadrada na paisagem e onde se destaca o enoturismo e a sua capacidade para acolher as mais variadas iniciativas culturais.
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O interior © Blend All About Wine, Lda
Nos dias de hoje a  Herdade do Rocim afirma-se como um dos grandes produtores sediados no Alentejo, contando com uma equipa de três enólogos composta por Catarina VieiraPedro Ribeiro e Vânia Guibarra. Por ali nada é deixado ao acaso e fruto disso é o detalhe e o bom gosto que tomaram conta daquela Herdade situada bem perto da Vidigueira. Nota-se que em toda a gama de vinhos e produtos comercializados há um detalhe e um carinho que os envolve, até na maneira como são dados a conhecer, nada é deixado ao acaso, novamente um mundo de pequenos mimos dirigidos por uma mão feminina, a mão da produtora Catarina Vieira.
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A gama de vinhos © Blend All About Wine, Lda
A gama de vinhos tem vindo a crescer, os rótulos têm vindo a sofrer os necessários ajustes meramente estéticos, tal como os vinhos que têm vindo a sofrer as necessárias afinações de perfil mostrando-se melhores a cada colheita que passa. Dos brancos aos tintos, mostram-se acima de tudo com frescura, cativantes, com uma fruta nada pesada e sempre com um perfil a mostrar boa harmonia entre as suas componentes sendo também todos eles muito gastronómicos. Vinhos que mostram o quanto enganados andam aqueles que afirmam que no Alentejo os vinhos não têm frescura ou que não sabem perdurar no tempo. A Herdade do Rocim faz parte do lote de produtores que têm vindo a mostrar uma vontade e um saber desmistificar todas essas mentiras ditas vezes sem conta. E dessa mesma vontade têm surgido nos últimos tempos algumas novidades, como um Espumante ou mesmo o Touriga Nacional e o Alicante Bouschet em modo varietal. Poderia também enaltecer o Rosé da linha Mariana ou tecer rasgados elogios ao colossal topo de gama, Grande Rocim.
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Talhas © Blend All About Wine, Lda
Mas para mim os vinhos que mais me marcaram foram os Amphora, um branco e um tinto, nascidos e criados nas famosas talhas alentejanas. São vinhos único, que carregam a alma e a identidade de toda uma região. Estes vinhos são a imagem do seu criador, o Sr. Pedro, o feitor da Herdade do Rocim e que trata as talhas por tu. Certamente que as conhece desde menino e se viu crescer lado a lado com aquela arte. E foram estes dois vinhos que me catapultaram para um passado que já não volta, são afinal de contas estes vinhos de tão simples, que por vezes se tornam grandes e tão complexos. Naveguei nos aromas, nos cheiros que invocam recordações, naquela vontade que nos fica de servir e beber mais um copo sem causar cansaço algum e sempre com um sorriso na cara. O mesmo sorriso que vi na cara do Sr. Pedro enquanto conversávamos.
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Herdade do Rocim Amphora branco 2014 © Blend All About Wine, Lda
Amphora branco 2014, tal como o tinto, é feito da forma tradicional e não tem qualquer contacto com inox ou madeira. Feito a partir de Antão VazPerrumRabo de Ovelha e Manteúdo, a diferença começa pela tonalidade que lembra a cor do latão, depois é toda a panóplia aromática que com o tempo de copo faz toda a diferença. Num misto de resina e vegetal, a fruta madura aparece limpa e rodeada de flores, tudo fresco e convidativo, misterioso e cativante. Na boca conquista pela forma simples e refrescante como acaricia o palato, sabe impor-se mas ao mesmo tempo convida sempre a mais um trago.
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Herdade do Rocim Amphora tinto 2014 © Blend All About Wine, Lda
Amphora tinto 2014 leva no lote as castas AragonezTrincadeiraMoreto e Tinta Grossa. Uma tonalidade aberta de tom rubi com a fruta (frutos do bosque, morango, ameixa) muito presente envolta num fino véu de barro. Em pano de fundo alguma resina, toque fumado, cacau em pó. Muita frescura num perfil que não cansa, cativa pela simplicidade, pela alegria com que se manifesta e se dá a conhecer. Encerra nele a simplicidade de um povo e o abraço morno de uma terra. No palato é o sabor da fruta, termina com ligeira secura e aquele travo a barro seco ao mesmo tempo que pede por comida e que nos sentemos a falar com ele.

Publicado em Blend - All About Wine

25 setembro 2015

Paulo Laureano Bucelas branco 2014

Mais uma prova que nasce fruto da partilha que a amizade proporciona, neste caso fruto da boa surpresa dos amigos que vieram de longe até à minha terra natal. Um dos vinhos que foram abertos foi este branco que o enólogo Paulo Laureano cria na região de Bucelas, tal como faz no Chão do Prado, estágio em inox com Arinto/Esgana Cão e preço em garrafeira a rondar os 6€. Não é dos brancos que mais me entusiasmou, encontrei pouco Bucelas comparando com outros valores seguros que a região coloca no mercado, mas a ter em conta que o Bucelas precisa de tempo em garrafa para melhor se mostrar, é um vinho nervoso e que nos primeiros tempos gosta de ficar pensativo. 

Servido fresco foi-lhe dado todo o tempo do mundo e por mais que queiramos há coisas que não mudam, o vinho neste caso não mudou e ficou estático e linear tal como se mostrou no primeiro instante. Delicado com aromas de frutos citrinos frescos e folha de limoeiro, algum nervo e chispa mineral. Na boca domina a leveza e pouco mais que isto, quiçá os nervos ainda lhe tomem conta da alma mas no que mostrou pareceu-me algo acomodado e sem capacidade de cativar no imediato. 88 pts  

19 setembro 2015

Portugal : Wine & Lifestyle


Portugal : Wine & Lifestyle
(By the Book, 2015, 35€)

Foi recente o lançamento deste livro da autoria de António Homem Cardoso e Margarida de Magalhães Ramalho junto da editora By the Book. A concepção de todo este projecto foi de Rita Soares, a cara mais conhecida da Herdade da Malhadinha Nova. Na sua ideia o objectivo principal é oferecer Portugal como um dos melhores destinos de enoturismo do Mundo, para complementar a ideia criou-se um site e um programa de divulgação.

O livro apresenta-se em formato bilingue (Português/Inglês) pois apenas assim faria sentido e combina o conceito de lifestyle com o mundo do vinho, levando o leitor numa viagem de sonho recheada de grandes fotografias do reputado fotógrafo e também autor, António Homem Cardoso.

É em todos os aspectos um excelente cartão de visita internacional daquilo que Portugal tem para oferecer e arrisco a dizer que talvez seja por cá filho único neste seu conceito muito próprio que nos transporta sempre com muito charme e elegância por locais de muito bom gosto, entre o hotel e o restaurante, a adega e o spa. Das parcerias que foram estabelecidas resultaram cerca de 20 locais a conhecer e visitar como por exemplo a Quinta do Ameal, Aliança Underground Museum ou a Quinta de Sant´Ana. 

Quer o texto quer as fotografias são de encher o olho, dando a sensação que somos transportados para aqueles espaços, ficando no final a vontade de querer visitar para ficar a conhecer melhor todos aqueles locais. O livro encontra-se à venda em livrarias e no site da editora com preço a rondar os 35€.

16 setembro 2015

António Madeira Vinhas Velhas branco 2013

aqui tinha falado acerca do António Madeira com o seu primeiro vinho, sendo agora motivo de interesse este seu primeiro branco, da colheita 2013, que resultou em pouco mais do que 600 garrafas fruto do trabalho de precisão e da vetusta idade das cepas cuja produção é bastante reduzida. António chama-lhe vinho de terroir, obviamente não poderia estar mais de acordo pois o vinho mostra um carácter tão diferenciador que apenas de aquele local poderia nascer um vinho assim. O António Madeira branco 2013 tem de delicado o que tem de profundo, denso e com uma bonita austeridade mineral que lhe domina os fundos. A fruta mostra-se limpa, pura, arrebitada e bonita, cheirosa com alguns ramalhetes de flores das giestas ali do campo. É daqueles vinhos que precisa de atenção, até de uma decantação prévia para que se mostre em condições, tal como no palato vincado pela força e austeridade do granito, muito boa acidez com a fruta a aconchegar. Sente-se alma e nervo, sente-se que temos aqui vinho para muitos anos, temos aqui um grande vinho do Dão. Perfeito a acompanhar peixes nobres de carne delicada ou simplesmente para apreciar em companhia de grandes amigos. 94 pts

14 setembro 2015

Vale dos Ares Alvarinho 2014


Oriundo da Região dos Vinhos Verdes produzido por Miguel Queimado (MQ Vinhos) com enologia de Gabriela Albuquerque. É um Alvarinho que não se deixa cair em tentações levianas, não peca nem pelo excesso de exotismo nem pela falta de afirmação, mora ali na rua do meio. Mas o morar na rua do meio não significa que seja descaracterizado, nada disso, é todo ele bem-apessoado, senhor do seu nariz, mostra-se sério e convincente envolto numa bonita e fresca fragrância. Elegante e harmonioso, fresco e convidativo, melhora com algum tempo de copo, com uma prova de boca fresca e marcada pela fruta, equilíbrio e uma estrutura firme embora flexível pelo que o vinho parece que se molda ao nosso palato, muito por causa da batonage a que foi sujeito. Nada a dizer pois claro a não ser como alguém disse à mesa… Deste já não há mais?  91 pts

11 setembro 2015

Marquês de Marialva Arinto Grande Reserva 2012

É o novo topo de gama branco da Adega de Cantanhede e apenas foi engarrafado em 2014. Escolha-se um copo largo que este é um branco que gosta de se espreguiçar enquanto desenvolve todos os seus encantos, criando empatia no imediato. A passagem por barrica não se faz disfarçar, mas é a fruta que nos conquista, cheirosa e bem fresca, muito bem delineada com apontamentos de limão, lima, laranja em geleia. Amplo, com muito boa complexidade a cativar a cada rodopio no copo com a casta sempre presente. Na boca é coeso, amplo e fresco, com ligeiro toque untuoso a embalar um conjunto que mistura a fruta fresca e sumarenta porem delicada com uma ligeira austeridade mineral de fundo. Um belo vinho com preço a rondar os 12€. 92 pts

Marquês de Marialva Reserva Arinto 2013


Sob a batuta do enólogo Osvaldo Amado surge este Arinto da Adega de Cantanhede que foi vencedor do 4.º Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada, onde 30% do lote fermentou em barrica nova. O resultado é um branco que nos cativa pela maneira como combina a frescura da fruta (lima, toranja) com leve vegetal, num perfil bem vincado e abraçado pela ligeira sensação de untuosidade que a madeira lhe confere. Fundo algo tenso e mineral, num vinho com passagem de boca prazenteira e saborosa. Mediano de corpo, não tão vigoroso como faria supor pela prova de nariz, mas com bastante frescura e um final seco. Um pouco acima da qualidade que a anterior colheita aqui se tinha mostrado. O preço ronda os 6,90€ em garrafeira. 90 pts 

10 setembro 2015

Quinta do Ortigão Reserva 2010

Um Regional Beira Atlântico criado na Quinta do Ortigão pelo enólogo Osvaldo Amado, o vinho estagiou 9 meses em barricas novas de carvalho Português. O resultado é um tinto muito apelativo, convidativo e fácil de se gostar. Com tudo muito bem arrumado nada destoa nem fica fora de contexto, fruta madura e saliente com toque de arredondamento conferido pela madeira. Na bonita complexidade que tem, acrescenta ainda um ligeiro travo vegetal na companhia de especiarias em fundo. Na boca o pendor gastronómico destaca-se ao primeiro sorvo, uma saudável e ligeira ponta de austeridade com fruta a explodir de sabor num final longo com boa dose de especiarias, onde a frescura está bem presente. Preço em garrafeira a rondar os 5,90€ 90 pts
 
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