Copo de 3: fevereiro 2013

27 fevereiro 2013

Pintia 2004


Dando um saltinho até Toro (Espanha), região onde o Grupo Vega Sicilia se instalou com as Bodegas Pintia de onde saiu este Pintia 2004, vinho 100% Tinta de Toro (30-50 anos de idade média das vinhas) com 14 meses de barrica nova maioritariamente Francesa e posterior estágio em garrafa até altura da comercialização. É juntamente com todos os outros vinhos deste prestigiado grupo, um vinho de gabarito, uma referência da zona onde nasce e um vinho de enorme categoria. Com quase dez anos de vida, esperava portanto um conjunto mais desenvolvido e comunicador, ao que parece este está amuado, precisa de tempo e mesmo assim pouco muda. Um vinho que quando nasce é poderoso e que a sua prova se torna uma verdadeira batalha, sente-se a energia que os grandes de Toro emanam.

Ora neste 2004 quase com dez anos de vida esperava algo diferente, menos amontoado e mais dialogante.  Mostra inicialmente um travo químico a lembrar tinta de caneta, depois a madeira (tosta e baunilha) seguida de frutos do bosque bem sumarentos e frescos, bombom de ginja com tabaco e couro, fundo com toque de grafite. Coeso, apertado na complexidade, profundidade de aromas mas é de tempo que parece precisarg. Na boca (melhor que no nariz) é frescura embrenhada num conjunto com boa presença e passagem agradável no palato, harmonia a fazer-se sentir, fruta vermelha que se trinca acompanhada de especiaria, o final é longo e persistente. O preço desde vinho ronda quase sempre os 30€, o conjunto é todo ele de muito bom nível, pessoalmente esperava mais e melhor, um vinho mais pecaminoso, mais ao nível do que a casa mãe me tem vindo a acostumar noutros lados. 90 pts

26 fevereiro 2013

Aalto 2001


Ora de volta às terras da Ribera del Duero (Espanha), onde em 1998 o mestre Mariano Garcia (Bodegas Mauro e ex Vega Sicilia) juntamente com Javier Zaccagnini (Bodegas Ossian) fundaram as Bodegas Aalto.
O vinho desde a sua primeira colheita que tem colhido enormes elogios da crítica, pessoalmente tem dias que gosto do que tenho no copo e tem dias que não lhe acho grande piada. Este Aalto 2001 é um vinho cheio, intenso, qual bolo de chocolate por camadas onde pelo meio ainda cabe uma boa porção de geleia de morango e framboesa. A frescura que tem evita que os danos colaterais ganhem outras proporções, mas o vinho em novo vem embrulhado em madeira, por vezes demasiadamente tostado (direi torrado) em demasia para o meu gosto e uma fruta quase sempre de grande qualidade mas submissa ao restante conjunto. Vem tudo atrelado, toques de licor com chocolate negro, depois leve nota química e bálsamo. A boca vai no mesmo caminho, o vinho nota-se cansado de suportar um conjunto tão "pesado" e de certo modo "cansativo", falta-lhe sustento e o sabor dá notas disso mesmo. Não terá sido vinho que me tenha deixado vontade de voltar a ele, a nota indica um vinho com qualidade que a tem, embora em claro declíneo pelo que se aconselha o seu consumo. 89pts

25 fevereiro 2013

Pelada 2003


Foi na passada sexta-feira que me juntei com um grupo de amigos no Restaurante A Tendinha, para um fantástico jantar onde o artista principal foi o Cabrito à Padeiro que ali se faz com enorme mestria. O desfile de vinhos foi grande e bem ritmado, com todos a merecerem tempo de copo, alguns mais que outros, decantação para os mais tímidos e todos os mimos necessários para que brilhassem ao mais alto nível. Um dos grandes vinhos da noite foi o Pelada 2003 (Álvaro de Castro), um vinho muito especial até porque não teve mais nenhuma colheita depois desta.

Um Grande vinho do Dão, um vinho cheio de aromas e sabores que remetem para aquilo que eu procuro e gosto de encontrar no que por ali é ou deveria ser feito, simplesmente fora de modas, direi que é um perfil clássico feito por um mestre daquela região, Álvaro de Castro. Resultou da procura de um perfil adulto de uma região que o parece ter vindo a perder, foi-se buscar a Touriga Nacional, as Vinhas Velhas (50%) e Tinta Roriz, depois estágio em barrica de carvalho francês e o resultado é este vinho fantástico. O Pelada 2003 é envolvente, elegante, feminino nos seus contornos e encantos, com tudo bem coeso e a mostrar um bouquet bastante bonito, caruma de pinheiro, perfume floral, depois um aconchego morno da barrica com chocolate de leite e baunilha. A fruta (frutos do bosque, bagas) aparece ainda com alguma frescura, para mim estará agora no seu auge e a dar uma prova de grande gabarito, na prova de boca é sedoso, corpo médio, frescura e enorme harmonia com uma boa persistência final. Vinho que encantou e deliciou todos os presentes, o tempo que brincou no copo apenas lhe fez bem e quando chegou o Cabrito à Padeiro, brilhou como poucos naquela noite o conseguiram. 
Quero mais vinhos do Dão assim... 92pts
Cabrito à Padeiro (Restaurante A Tendinha)

24 fevereiro 2013

Muxagat Os Xistos Altos Rabigato 2010


Desta vez vou evitar falar do produtor, da adega ou da zona onde o vinho é produzido, evitar falar da altura das vinhas ou da idade das mesmas, evitar falar da filosofia que envolve o projecto ou mesmo as características que podem marcar cada um dos seus vinhos. Centro-me apenas no vinho, na casta que lhe deu origem, a Rabigato. A casta que aprendi a conhecer pelas mãos de outro produtor, que com os seus vinhos me proporcionou momentos de enorme felicidade, mesmo nas suas colheitas mais antigas. Aqui e agora mora a mesma casta noutro rótulo, com outro nome e outro produtor, a passagem por madeira, amaciou-lhe o temperamento, curvou-lhe as vontades e arredondou-lhe o espírito. Este Muxagat Rabigato, Os Xistos Altos (as parcelas mais altas), colheita 2010 caiu-me no copo recentemente, já antes o havia provado ainda era um menino rabino em aulas de boas maneiras. O vinho que provei no ano passado pouco ou nada tem a ver com este, a graça e irreverência que tinha não a vislumbrei mais, terá sido condição de guarda deste garrafa que não foi a melhor ou a evolução é que foi precoce ? Vinho de aroma subtil, nota-se mineralidade suave em fundo com baunilha a meio caminho mas com pouco nervo, pouca vivacidade e algo afagado de aromas, o fruto (citrino) é limpo embora no seu todo mostra-se esbatido e sem muito que falar. Na boca onde esperava um melhor comportamento, tem acidez sem vincar demasiado o vinho mas também não lhe dá a energia suficiente, demasiado calmo o que o torna chato e aborrecido. Um vinho de boa qualidade, superior à média. 89 pts

21 fevereiro 2013

Dominique Cornin Pouilly-Fuissé 2008

A Borgonha cobre aproximadamente 175 km de Chablis no Norte até Beaujolais no Sul. Com excepção de Chablis, isolada do resto da região, as vinhas são quase contínuas. Há várias AOCs e é em Mâconnais mais especificamente na sua appellation Pouilly-Fuissé (a mais conhecida) que a conversa se vai centrar. O produtor é Dominique Cornin, a quarta geração de uma família desde sempre ligada à terra e ao vinho, cada uma das parcelas que possui contam a história da sua família, vinhas que foram plantadas entre 1909 e 1965, nos solos calcários da região. A intervenção é a menos possível, segue as leis da biodinâmica como tantos outros da região, pouca produção, respeito pelo solo, muito pouca madeira e quase sempre usada, com o inox e o cimento a fazerem parte da grande parte dos vinhos.

Vinho com nervo, seco, mineral a lembrar pederneira, com fruta madura e bem limpa apesar da forma delicada como se mostra cativa e mostra muita boa qualidade, pêra, citrinos com limão em destaque e leve melado. Na boca de cantos arredondados pela idade, suponho que em novo seria todo ele bem mais tenso, agora mais calmo e dialogante, com sabores bem delineados, aparece ananás maduro e mais uma vez a mineralidade marca e arrasta no palato até final. Numa mistura com bela acidez cítrica, é um vinho do qual não me importarei de voltar pois é na mesa que se mostrou mais à vontade. Só mostra que se pode beber um bom vinho da Borgonha sem ter de deitar a casa pela janela. Para o acompanhar fui buscar inspiração à Catalunha, optei por fazer um Romesco de Peix,  90 pts
Photo by Miguel Pereira

20 fevereiro 2013

Quinta da Levandeira do Roncão Reserva 2008

Vinho até à data desconhecido pela minha pessoa, apenas lhe tinha metido a vista em cima num qualquer evento mas com distracção pelo caminho acabou por não ter sido provado, destacou-se na altura a sua bonita roupagem, ainda hoje a mantém e já passaram uns anos. O vinho neste caso saiu o inverso do que esperava dele, uma pessoa olha para a garrafa e imagina um tipo de vinho que assente bem no rótulo, aqui a coisa saiu de maneira diferente, mais clássico, muito Douro na alma, muita fruta madura, robusto e vincado, madeira pouco ou nada se nota dando espaço para a fruta brincar e brilhar à sua vontade. É nessa fruta, num misto de bagas com frutos silvestres, cerejas, que se mistura um toque mais verde, mais vegetal, depois é o final com toque mineral. A boca vem a complementar o que já se escreveu, de corpo médio e sabor de concentração moderada, estrutura firme, alguns taninos por deitar, passagem equilibrada e harmoniosa num conjunto de boa persistência final. 89 pts

José de Sousa 2010

Nasceu para o mundo em Reguengos de Monsaraz, fruto da Casa Agrícola José de Sousa Rosado Fernandes, de nome Tinto Velho onde após a morte do dono os vinhos continuaram com a fama e o proveito, apelidavam-se entre os que os bebiam como os vinhos da Viúva José de Sousa, passou o tempo e nos finais dos anos 80  foi comprada pela José Maria da Fonseca, era até à data vinho feito à moda antiga. Depois a coisa ganhou novo rumo, a marca dividiu-se em duas e por um lado ficou-se com um pequeno José de Sousa, por outro com um pura raça Alentejano de nome José de Sousa Mayor (Garrafeira).O mais pequeno é a continuidade com retoques da nova enologia, mais apelativo e satisfaz plateia alargada, o Mayor é a tentativa de ir ao encontro dos grandes vinhos da antiga Casa Agrícola. Ambos têm no coração a bondade da Talha, do barro do Alentejo, da tradição e dos tempos que dificilmente vão voltar, a pitada que "levam" de talha não lhes chega para marcar a alma... serve neste caso como algo que faz parte de um processo e que fica esbatida no meio dele. O preço pedido ronda os 7,50€

O vinho que balanceia no copo é um Alentejano de gema, um "Zé de Sousa" 2010, perfeito vinho da petisqueira mais bravia ali mesmo antes da hora de jantar. Resulta de um lote de Grand Noir (45%), Trincadeira (35%), e Aragonez (20%) ainda se banha em madeira e tem aquele bafo da talha, de resto é vinho virado para o clássico, assente numa boa frescura (não mais do que aquela que a zona lhe permite) com fruta (ameixa) sumarenta e redonda, fino na complexidade, travo vegetal com folha de tabaco, especiaria e o aconchego leve da madeira. Na boca complementa-se com o nariz, assenta amarras na elegância de conjunto com fruta que se esmaga ao comprido, tudo isto sem nunca perder aquele toque de rusticidade que sempre lhe encontrei e gosto, bom de corpo (mediano) com travo apimentado e final médio. 89 pts

Fotografia by http://ratatuille.blogs.sapo.pt

19 fevereiro 2013

Los Boldos Amalia 2008

Para muita gente o simples pensar em verter um qualquer vinho estrangeiro no copo parece algo de pecaminoso, para outros tantos que batem com a mãozinha no peito o vinho estrangeiro apenas é um elemento decorativo do mundo enófilo, no entanto e para os mais distraídos da coisa aviso que há vida lá fora, que alarguem horizontes mesmo quando os têm toldados pelo limite imposto das montanhas, faz bem e recomenda-se mudar de ares e de sabores para que o bafio não nos tolde o pensamento, porque tal como na gastronomia, o mundo do vinho não acaba ali na fronteira. Do Chile grande parte do que tenho bebido enjoa-me, aromas e sabores demasiadamente adocicados e carregados de toques demasiadamente apelativos, quase sempre com um charme pouco natural, direi mesmo forçado. Os que me têm chamado a atenção, poucos, têm aqui vindo parar e o Los Boldos Amalia (Chateau Los Boldos, comprada pela Sogrape em 2008) é mais um desses que merece destaque pela qualidade que mostrou

O vinho tem nome da vila (Santa Amalia) onde se situam as vinhas e a adega que lhe dão origem, o lote é de inspiração Europeia como a grande maioria dos grandes vinhos que são aqui feitos, 60% Syrah, 30% Cabernet Sauvignon e 10% Carmenere. O vinho é escuro, carregado e profundo, bonito, com aroma coeso e apertado de aromas,  bastante especiado com notas de madeira a marcar o vinho, ainda balsâmico e algum toque mais vegetal. Fruta toda ela muito madura, em tons escuros, com as bagas a tomar conta da ocorrência, a frescura é muito boa e mistura-se com a brisa floral que percorre todos os cantos do copo, lavanda, alfazema e violetas. Na boca entra fresco, com volume, conquistador, arredondado com explosão de sabores, pimenta preta, hortelã e fruta gulosa, baunilha, no fundo ainda taninos por acomodar. Um vinho guloso mas sem exagerar, elegante, com bom balanço entre partes, complexo e empolgante, certamente diferente do que se está acostumado por cá. 92pts

Quinta do Corujão Grande Escolha 2004

O vinho que agora falo será porventura um dos últimos moicanos da região onde nasceu, o Dão. Tudo o que lhe deu origem mudou de mãos, mudou-se o carril de pensamento e a filosofia de todo o projecto, desde a adega até às cepas tudo vai levar um reajustamento... o suficiente para nada ser como dantes. Um vinho de saudade, castiço e distinto, que o fazia destacar em grosso modo do pelotão de vinhos da zona, um grande vinho com anos de vida pela frente, uma grande escolha no acto de compra caso se encontre alguma garrafa à nossa frente. 

Fruto de um lote composto por Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz e Tinta Amarela, é a sua tonalidade escura que se destaca mal cai no copo, depois é o esplendor aromático, fruta bem madura com frutos do bosque, bagas, pimentas, regaliz e leve floral, chocolate, balsâmico, folha de tabaco, tudo com frescura e boa concentração. Repleto e completo, harmonioso e equilibrado, no entanto nota-se alguma rusticidade. É na boca de boa estrutura, muita presença da fruta bem madura a explodir de sabor, bem balanceado e a complementar o que se apanhou no nariz, passagem no palato dominada por uma bela frescura, cheio de vigor e sabor com final apimentado e de boa persistência.

Feito para durar, para resistir ao tempo, feito para a mesa e para nos deliciar com os seus encantos, que são muitos. Dizem que não é um vinho das modas, que é vinho feito como já não se faz, vinho fora das cantigas modernas, curiosamente é vinho que virou moda falar-se dele, que de tantas vezes passar desapercebido passou a ser cobiçado. A vida tem destas coisas e deste já não há mais... 93 pts

18 fevereiro 2013

Schloss Vollrads Riesling Kabinett Trocken 1996

É mais um vá para fora cá dentro, leia-se no copo, fecho os olhos e estou na Alemanha rodeado de cepas velhas de Riesling. Desta vez aterrei na zona de Rheingau, uma das 13 zonas produtoras de vinho na Alemanha. Aqui os vinhos são mais masculinos em carácter que os vinhos da região Mosel, mostram estrutura e textura bem firme, suportada por uma vincada acidez, profundidade e força,enquanto Mosel nos deleita com a sua elegância, pose e direi um jeito mais feminino. No conjunto conseguem ser das melhores expressões no que a branco diz respeito a nível mundial. O produtor Schloss Vollrads é antigo, qualquer coisa como 800 anos a produzir vinho, e chamou-me de imediato a atenção pela pitoresca garrafa com que este vinho se apresenta. Neste caso o que temos no copo é um Kabinett (Reserva) com indicação Trocken (seco). 

O vinho de aroma delicado e misterioso embora cansado e afagado, talvez não seja um dos melhores exemplares destinado para guarda e o consumo em novo ou com 4 ou 5 anos talvez fosse o mais indicado. Nos seus toques melados com algum gás de isqueiro, flores amarelas e alguma geleia de pêssego e fruto seco. De pouca profundidade é delicado e pouco expressivo. Boca com alguma acidez, leve mineralidade a marcar a passagem de boca, fruto seco que lhe confere a leve sensação de untuosidade e alguma geleia. Vinho que precisou de algum tempo no copo, mas que não deixa grandes saudades após a prova. Foi aberto e provado antes de almoço, acompanhado apenas por algumas canapés à base de salmão fumado.

Esta não terá sido a primeira das várias más experiências (acontecem em todo o lado), ou direi que não foi tão boa quanto outras que tive, com vinhos desta casta provenientes da sua terra de origem, Alemanha. Irei pois continuar a falar deles, de outros produtores, de outras zonas e vinhedos.

14 fevereiro 2013

Quinta da Espinhosa Reserva 2000


Desencantado algures num leilão pouco concorrido na altura, vinho proveniente do Dão, zona com fama onde apenas os grandes nomes parecem ter direito a ser conhecidos, provados e nomeados, os mais pequenos morrem como nascem, na sombra de um esquecimento que nunca foi lembrado. Das duas uma, ou por sorte damos com alguns nomes ou nada feito, apenas nos resta ir ao local e procurar... talvez com sorte a coisa se encontre.

Ora Quinta da Espinhosa, desconhecia por completo, a curiosidade em conhecer o produto aliado aos anos que já tinha face ao preço de saldo a que saiu, levou-me à comprar duas caixas. Com o vinho já na mão resolve-se investigar mais um pouco, fica-se a saber que foi feito por um dos mestres da enologia do Dão, Magalhães Coelho, de igual modo que o vinho seria fruto de um blend de Touriga Nacional com Tinta Roriz. Recentemente dei com as novas colheitas, bastante interessante o branco, num registo exuberante e exótico, a sair do enclave aromático da região, quanto aos tintos foram uma agradável surpresa que irei voltar a falar deles.

Cativante desde o momento em que cai no copo, tem brilho próprio, alguns dirão que é o brilho da Serra, que é a austeridade da zona que lhe marca a alma, cujos aromas frescos e de frutos silvestre marcam toda a prova. Um vinho que cresce no copo, toque de caruma de pinheiro (bálsamo), flores roxas, bagos de pimenta e ramo de cheiros, algo terroso, fumo, cacau, tudo muito composto. Boca a complementar a prova, saboroso e fresco, amplo e com passagem calma, onde a secura ainda parece estar lá no fundo a pedir por comida bem temperada, qual pernil de porco no forno. É vinho que não cansa, que gosta de ser bebido e bem acompanhado, que tenho de impor a mim mesmo um travão para que consiga ir guardando algumas garrafas em casa. 91pts

13 fevereiro 2013

Quinta da Gaivosa 2008

Se há vinho do Douro que gosto bastante e que faço questão de ter guardado em casa, exemplo do que é um vinho de guarda, é o Quinta da Gaivosa. Este vinho com contornos de clássico é um dos grandes da região, são mais de 20 anos a mostrar a todos os que o provam, o melhor que o Douro nos pode dar. Quem não se lembra de colheitas como o 1994, 1995, 1997, 2003, 2005 e agora mais recentemente o 2008 que vem no seguimento dos grandes Gaivosa.

As vinhas velhas são a sua alma, vinho que nos pede tempo, cheio de carisma e complexidade, enorme estrutura ainda por refinar com uma belíssima frescura pelo meio. Fruta em grande quantidade e qualidade, madura, limpa, pura, sem detritos à sua volta, cativante pelo que já mostra, com travo a pinheiro (bálsamo). Madeira sabiamente talhada, sem excessos, apenas com conta peso e medida, quase que um trabalho de alfaiate. Na sua força e raça que agora mostra, é vinho que conquista pela fantástica prova de nariz e boca, pela complexidade que tem no nariz que sempre que cheiramos parece ter algo de novo, e pela sua presença na boca, quase que explodindo de sabor por todo o palato, com final longo e muito persistente.

Por agora acompanha na perfeição pratos de bom tempero, com os anos vai acalmar e refinar os seus apetites. O preço ronda quase sempre os 30€, penso que é adequado face à qualidade e garantias que o vinho nos dá face aos anos em que o podemos desfrutar na plenitude das suas melhores capacidades... neste caso foi acompanhado por um cabrito assado no forno. 94pts

Quinta do Vale Meão 1999

Lembro como se fosse hoje a primeira vez que tive contacto com este vinho, na altura morava na Avenida de Roma e numa das lojas de vinho onde me costumava abastecer eis que certo dia me dizem que tinha acabado de chegar novo vinho do Douro, Quinta do Vale Meão, com muito bom aspecto, pelo menos a imagem era bonita dizia a senhora com um sorriso estampado no rosto. O preço foi durante alguns dias a rondar os 25€... apetecível para quem se costumava juntar com alguns amigos ao final da noite e dividindo custos bebia umas garrafas a acompanhar "umas familiares" da Telepizza. Lembro como se fosse hoje que das duas garrafas que comprámos na altura a primeira deixou-nos a todos com vontade de abrir a segunda, que sabe-se lá porque razão não estaria tão boa como a primeira, a variação de garrafa para garrafa foi quase norma nesta colheita. Depois a conversa é conhecida de todos nós, o vinho foi provado e colocado nos píncaros como o melhor da sua região naquele ano com 19 valores, o que o meteu aos preços que todos sabemos e dura até aos dias de hoje.

Acontece que nem sempre é a garrafa que prega a partida, nem sempre é a culpa da colheita inaugural que teve o fenómeno de duas garrafas a darem prova diferente com o vinho de uma melhor que o da outra... desta vez o que me calhou na rifa foi o normal problema da idade que já lhe pesa nos ombros, de um vinho que teve problemas na evolução sem ganhar elegância onde se nota uma clara perca de fruta e de pujança tão costumeira no início. Porque no nariz não o achei muito dialogante, a concentração que antes tinha ficou esbatida, agora cansado e com pouca vida, tudo sentado e arrumado sem vontade de bailar. Por mais que se agite o copo tudo na mesma, direi que está acomodado, vale ainda alguma fruta fresca que por lá rodopia, o resto é mossa feita pelo tempo. Na boca a condizer com o nariz, nunca deixando de ser quem é, postura e integridade, perde no conteúdo. O vinho continua a dar uma prova de qualidade mas muito longe da excelência que lhe meteram nos ombros, no essencial há que saber entender que vinhos que foram grandes também finam e acabam por morrer... e este vai a caminho. 89pts

06 fevereiro 2013

Aurius Quinta do Monte Doiro 2006

Para os lados de Alenquer, fica a Quinta do Monte d´Oiro, produtor de renome no panorama vínico nacional cujo proprietário José Bento dos Santos é a cara do projecto. Deixando as apresentações para mais tarde, foco-me apenas num vinho que ali foi produzido, o Aurius tinto 2006 elaborado a partir das castas Touriga Nacional, Syrah e Petit Verdot. Estagiou durante 15 meses em garrafa e entre 16 e 18 meses em barricas 100% novas de carvalho francês.

Não bebia este vinho desde a altura em que o seu rótulo era outro, lembro-me que naquela altura o bebia com muita satisfação, hoje estranhamente o vinho não de encontro ao que eu esperava dele, talvez culpa minha porque esperava mundos e fundos de um vinho que não foi talhado para tal. O problema mete-se quando o preço sobe quase ao patamar dos 20€ por garrafa, quando os aromas não se mostram frescos nem mora por ali uma frescura que venha salvar a honra do convento. Se o que tinha estava suspenso, então o que apresentou nada mais é que um amontoado de cheiros e sabores, desgastado, toque morno e sem grande vivacidade. Apesar de tudo, mostra-se melhor na prova de boca, um pouco mais de energia, talvez a última chama antes do adeus final. 

Foi provado antes e servido depois com uma tajine de borrego e ervilhas, um prato tipicamente marroquino que alguns irão encontrar as normais semelhanças ao que por cá se costuma fazer, por exemplo pelo Alentejo. O vinho portou-se à altura e cumpriu o seu destino. 89 pts

Photo by http://soupurb.wordpress.com

O Chefe recomenda...

Segundo episódio da rubrica, que irei tentar ser mensal, inaugurada no mês passado aqui no Copo de 3. Nos mesmos moldes, a questão foi colocada a mais três chefes bem conhecidos, queria saber de três livros que de certa forma os tivessem influenciado, marcado ou simplesmente gostado. Ora nem mais, o Chefe recomenda...


João Sá

1 - Kitchen Mysteries do Hervé This porque me ajudou a esclarecer muitas dúvidas sobre a química alimentar e a lógica da química nas aplicações culinárias

2 - The Fat Duck Cookbook porque considero a maneira do Heston Blumenthal pensar a cozinha absolutamente brilhante e genial.

3 - A colecção de livros Eurodelices dos chefs europeus porque quando estava a tirar o curso na biblioteca da escola chamou-me atenção e acabei por ficar a conhecer a cozinha de grandes chefs europeus.


Nuno Manuel Diniz (Chefe Restaurante Tágide Lisboa)

1 - Ma Gastronomie, por Fernand Point
Uma lenda, uma vida curta vivida com excesso, apaixonado por tudo o que era bom e responsável por colocar visível a cozinha enquanto arte.

2 - La Cuisine Gourmande, por Michel Guerard
Um dos papas da nouvelle cuisine, avançadíssimo, visionário, modernista e chefe com continua a deixar uma escola genial sem ruído e espantosamente gentil.

3 - Alinea, por Grant Achatz
De longe o mais completo e erudito dos novos cozinheiros. Escola solidamente ancorada na grande tradição, numa visão que é resolutamente moderna.


Rui Paula (Chefe Restaurante Dop, Restaurante Doc)

1 - Le Grand Livre de Cuisine - Joel Robuchon - Quando entendi que tinha que me inserir na técnica Francesa no seu expoente máximo, foi nele que me revi.

2 - Nobu - Nobu Matsuhisa - Quando quis perceber o que é comida Asiática (e aqui não falamos só de Sushi e Sashimi) visitei os seus restaurantes e li os seus livros. Apresentação eximia e trabalha o peixe muito bem.

3 - Modernist Cuisine (5 volumes) - É uma obra muito interessante pois fala de vários Chefes que trabalham a comida Molecular. Explicam as técnicas para se chegar a um objectivo.  É um livro caro mas que eu aconselho. No meu caso não me dedico exclusivamente à comida molecular mas gosto de ter alguns apontamentos que combinem com a minha comida e que surpreendam o cliente.

Quinta da Covada branco 2011


Apetece-me continuar por aromas e sabores que gosto, por vinhos que faço questão de ter num cantinho especial junto a mim. Vinhos que bebo em boa companhia, com amigos ou apenas sozinho que por vezes gosto de ser acompanhado por um bom vinho. Escolhi falar de um branco do Douro, o Quinta da Covada branco 2011.

É vinho vincado pelo lote de Gouveio, Viosinho e Rabigato, parcialmente fermentado e estagiado em barrica de carvalho francês, com preço que ronda os 5/6€, o que o torna bastante atraente para a qualidade debitada no copo. De fruta grossa e com peso, fresco, mineral tenso, rasgo vegetal num todo coeso com leve toque de baunilha em pano de fundo. Boca com bom volume, boa frescura, fruta com polpa sumarenta a mostrar que tem corpo e algumas arestas por limar. O que não tem ainda em refinamento ganha claramente em raça e polivalência à mesa. 

É produtor por quem tenho uma grande estima, produz uma gama de vinhos que são uma pequena lufada de ar fresco na região, em nada decadentes e bastante saudáveis na forma como se dão a conhecer. Gosto da simplicidade aliada a uma qualidade consistente. Aqui procura-se e consegue-se a candura da fruta com boa dose de frescura associada, nada de entraves nem empilhamentos desnecessários, eu como consumidor apenas tenho de dizer... obrigado João Lopes Pinto. 90pts

05 fevereiro 2013

Quinta do Carmo Garrafeira 1987

Escrever sobre este vinho é contar a história de um produtor, a Quinta Dona Maria (Quinta do Carmo) em Estremoz. Por mais volta que se queira dar ao texto, não se consegue, é facto consumado que se está perante um dos grandes vinhos feitos até hoje em Portugal. Foram estes vinhos que colocaram Estremoz no mapa do vinho, foi Júlio Bastos o seu mentor e a casta Alicante Bouschet a máxima responsável por tudo isto. A casta que veio morar para o Alentejo (Herdade do Mouchão) e que depois deu um saltinho até Estremoz uma vez que as duas famílias se cruzaram. 

Apesar dos mais de 130 anos que a Quinta Dona Maria leva a fazer vinho, foi apenas nos finais dos anos 80 quando João Portugal Ramos assumiu a enologia da casa. A aventura durou pouco, JPR saiu e depois foi altura do descalabro, em 1992 vendeu-se metade da empresa para os Domaines Barons de Rothschild, foi arrancada a vinha velha de Alicante Bouschet para plantar Cabernet Sauvignon. Dos então 80 ha de vinhedo velho nos dias de hoje apenas restam 2 ha que estão na posse de Júlio Bastos e dão origem ao Júlio B. Bastos, em homenagem ao seu pai Júlio Bandeira Bastos.

Sobre o vinho em causa, resulta do lote de Periquita, Trincadeira e Alicante Bouschet, a prova que dá é um claro exemplo de que alguns vinhos é com tempo que se sabem mostrar. Não quero dizer que em novos não se consigam beber, mas precisam de tempo, precisam de ficar esquecidos para quando abertos nos deixarem sem palavras. Este Garrafeira não mostrou sinais de cansaço, vinho adulto, maduro e muito sério, nobremente evoluído com um bouquet ultra refinado e complexo.
Notável balanço entre as componentes do vinho (acidez, taninos e álcool) em conjunto de grande limpeza aromática com terciários de grande qualidade. Na boca tem boa presença, volume e persistência, frescura e fruta que se faz sentir. Vinho de prazer, no meio mora aquele toque terroso, meio agreste que tão bem liga com carnes no forno. É vinho de culto, clássico de cima a baixo mas ao mesmo tempo é vinho para a mesa, que com a prova que dá neste momento é de se beber e chorar por mais... 96pts


01 fevereiro 2013

Simplesmente Vinho 2013


Dias 8 (18h-22h) e 9 (16h-23h) de Fevereiro 

simplesmente… Vinho 2013 é o primeiro salão off que se faz em Portugal.
Salão off?! Wtf? É muito simples. Ora vejam:
A Essência do Vinho comemora o décimo aniversário! Parabéns! É um sinal de maioridade, de prestígio acumulado. O que exige… sim, a criação de um salão off. Tal como todos os grandes eventos de vinhos do mundo.
O salão off é uma manifestação paralela, independente, reunindo, num local próximo do evento principal, um determinado nicho de produtores. O que define esse nicho pode ser uma determinada região, ou o enfoque numa forma de produção (biológico ou biodinâmico), ou etc e etc.
Os produtores do simplesmente… Vinho 2013 estão juntos por partilharem o respeito pela terra e os terroirs; por, independentemente da dimensão de cada um, gostarem de vinhos diferentes, com uma dose saudável de loucura; pela relação natural e orgância que têm com as vinhas e o vinho no seu dia-a-dia.
Nesta primeira edição, assumimos riscos e experiências, com a descontração de pessoas que simplesmente… vivem e adoram o vinho. Simplesmente… Vinho! Sempre, sempre, sempre.
Mas, igualmente, com a certeza da seriedade do que quem nos visitar poderá degustar.
E chega de conversa, tchim-tchim ao simplesmente… Vinho!

Afros - Quinta da Palmirinha - Anselmo Mendes
Muxagat - Conceito - Quinta do Infantado - Quinta de Covada - Quinta de Vale de Pios
Terras de Tavares - Lagar de Darei - Quinta da Pellada
Quinta das Bágeiras - Luis Pato Rebel
Casal Figueira
Quinta do Mouro/Alento - Dominó
Estrangeiros by Os Goliardos
 
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