Copo de 3: dezembro 2016

27 dezembro 2016

Blandy’s Verdelho 1887


Em 2011 foi identificado um Verdelho que estava colocado em demijohn de 50 litros, um Verdelho 1887 que acabaria por ser engarrafado em 2013. Destaca-se no imediato pela sua tonalidade com lindos rebordos verde-esmeralda, indicadores de uma idade de respeito. No aroma o vinho é festivo, começa por um toque de laca, depois serena e desperta para a sua plenitude, toque de madeira velha com bolo de fruta cristalizada, figo, tarte de maçã, um sem fim de aromas que o envolvem num turbilhão de emoções. Boca arrebatadora, largo, profundo, denso e misterioso. Uma frescura fantástica com presença de fruta ao nível do nariz, ainda limpa e fresca, estamos a falar de um vinho de 1887, complementa-se com notas de caramelo, raspas de casca de laranja, grão de café verde num misto que combina o toque ligeiramente doce e frutado para terminar seco e untuoso no final. Emocionante ao mesmo tempo que se torna inesquecível. 

26 dezembro 2016

Adega de Sabrosa, o Douro Cooperativo

Numa pesquisa recente que efectuei pelas Adegas Cooperativas que tenho como referência, faltava-me conhecer uma na região do Douro. Faz falta existir em cada região, pelo menos, uma Adega Cooperativa forte e bem implementada que sirva de referência para os consumidores de vinho nacional. Os exemplos noutras regiões são mais que conhecidos do consumidor, a imagem que algumas destas Adegas conseguiram conquistar deve-se à qualidade dos vinhos que colocam no mercado. Será por isso de fácil entendimento, que uma Cooperativa forte e com boa dinâmica de mercado será sempre benéfico para a região.

Dito isto, resolvi dar um pequeno passeio pelas várias regiões de Portugal, chegando à conclusão que me faltava uma referência na região do Douro no que a Adega Cooperativa diz respeito. Foi então que me foi apresentada a Adega de Sabrosa, fundada em 1958 por um pequeno grupo de viticultores. Fica localizada no concelho de Sabrosa, na sub-região de Cima Corgo e conta nos dias de hoje com 522 sócios. Reformularam recentemente a sua gama que passou a apresentar-se com a marca Fernão de Magalhães, que presta homenagem a Fernão de Magalhães, navegador português natural do Município de Sabrosa, que se notabilizou por ter organizado a primeira viagem de circum-navegação da Terra. A Adega de Sabrosa comercializa também um Moscatel do Douro e Vinho do Porto no qual sobressai o seu Porto 10 Anos.


A prova focou-se na marca Fernão de Magalhães Branco, Rosé, Tinto e o Reserva da Adega de Sabrosa, a enologia está a cargo da enóloga Celeste Marques. Vinhos que lá por fora têm sido bastante apreciados e ganho várias medalhas. O Fernão de Magalhães Branco da colheita de 2015 é um lote das castas Gouveio, Viosinho, Rabigato e Fernão Pires, com passagem por inox. Bem fresco com a fruta (citrinos, frutos de pomar) a saltar no aroma, muito limpo, directo, envolto em perfume floral. Na boca é comandado por uma boa frescura que embala a fruta de médio porte, num bom final. Sem falhas e mais que pronto a ir à mesa a acompanhar por exemplo um arroz de bacalhau.

O Rosé da colheita de 2015 nasce de um lote de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca, passagem por inox. Um rosé bem composto, muita fruta vermelha (morango, framboesa) madura e rechonchuda, boa frescura de conjunto que combina com nota de algum rebuçado em segundo plano. Todo ele muito franco e directo, boca com boa frescura onde a fruta se mostra redonda e roliça, com uma ainda que muito ligeira doçura no final, bom companheiro para uns carapaus fritos com arroz de tomate.

Entrando nos tintos da Adega de Sabrosa, o Fernão de Magalhães 2014 resulta do lote das castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz. Por aqui dá-se lugar à expressão da fruta, pura e limpa, sem grandes entraves pelo meio ou aromas mais disto ou mais daquilo. Cheira e sabe a vinho do Douro, com aquela nota de esteva presente, leve fumado ao mesmo tempo que a fruta vermelha se mostra bem limpa e suculenta. Na boca é a fruta com boa acidez, mostra-se saborosa e acompanhada pelo travo vegetal também aqui a mostrar-se presente, com uma boa secura final. De perfil muito gastronómico, como é apanágio dos vinhos da região, liga bem com carnes na grelha.

O Fernão de Magalhães Reserva 2012 é o topo de gama da Adega de Sabrosa, um lote de Touriga Nacional e Tinta Roriz com passagem por madeira. Um pouco mais concentrado que o anterior, complexidade mediana onde a fruta surge mais fresca e com mais presença, a Touriga Nacional em evidência com bom recorte floral (violetas), especiaria e algum arredondamento com ligeiro cacau morno dado pela passagem por barrica. Boca de médio porte, fresco e com a fruta em bom plano, inicialmente mais macio e convidativo, embala num travo vegetal seco. Uma boa surpresa que fará boa companhia a um cabrito assado no forno.

22 dezembro 2016

16 dezembro 2016

Herdade do Rocim Amphora branco 2015



O vinho de talha tem renascido quase das cinzas em que o deixaram, um pó acumulado pelo tempo e pelo esquecimento dos produtores. A enologia dos tempos modernos chegou em força e as adegas artilhadas relegaram ao esquecimento as velhas talhas de barro e tantas outras histórias que haveria para contar. Mas centrando as atenções neste Amphora branco 2015 da Herdade do Rocim, preço a rondar os 10€, que se afirma como o melhor exemplar que se pode encontrar no mercado. Com toda a certeza, muitos podem ver nele um produto da moda, tem todos os tiques daquilo que muita gente anda à procura noutras paragens, noutros lugares, com a dita curtimenta que lhe acentua o sotaque, o engaço que lhe dá a firmeza suficiente para enfrentar o tempo e as rugas de uma oxidação natural neste tipo de vinho. As castas são cá das nossas (Antão Vaz, Rabo de Ovelha, Perrum e Manteúdo), o resto é o que um vinho de talha nos pode dar, uma ligeira resina, o travo vegetal fresco do engaço em fundo com o barro molhado, depois os toques de flores e as frutas de pomar bem maduras e cintilantes. Equilibrado, misterioso e com uma frescura que baralha as contas aos mais assertivos, sempre com um toque "salgado" no final do palato que nos mete a salivar e a pedir mais um copo. É vinho para se beber com comida e boa companhia por perto, não é vinho para ficar à espera até porque deste já não há mais. 92 pts

15 dezembro 2016

Dona Maria Colheita Tardia 2011


Uma "novidade" para muitos este Dona Maria Colheita Tardia 2011 com laivos de Sauternes, criado de raiz com as melhores uvas da casta Semillon ataca pelo fundo da podridão nobre. Passou um ano em barricas novas de carvalho francês de 400 litros e mais uma boa temporada em garrafa para serenar o espírito. Pouco ou nada puxado para as doçuras exageradas, é todo ele preciso tanto em aromas como sabores, envolto numa frescura suficiente para ter a vivacidade suficiente na boca e no nariz. Afinado e elegante, muito equilibrado, a botrytis sente-se ligeiramente em pano de fundo naquele toque extra à complexidade dominada pela fruta de caroço em calda. O preço atira-o para os 18-20€ sendo aposta ganha em noites de gala. 92 pts

14 dezembro 2016

Blandy’s Bual 1920


É um vinho arrebatador a todos os níveis, complicado descrever tanta emoção enclausurada numa garrafa sempre que o tenho à minha frente, no copo ou na garrafa. Aqui o campeonato é o mais alto possível, este Bual 1920 tem a capacidade rara de nos conseguir calar. Podemos estar de conversa mas quando chega a vez deste 1920 as pessoas ficam caladas, olham, cheiram o copo… pausa, voltam a rodopiar cheiram novamente com um sorriso e depois começam a divagar. O bouquet é qualquer coisa de fantástico, concentrado, fresco, pecaminoso e novamente de enorme elegância, começa com toque de laca, abre e depois dá lugar à festa, toffee, nozes, caixa de charutos, aromas envoltos numa capa fresca e ligeiramente untuoso repleto de tâmaras, figos, fruta cristalizada. Tudo isto passa para o palato, entra cheio de vontade, untuoso, guloso para depois se mostrar com grande elegância, frescura e um final muito longo e persistente. Os actuais quase 700€ que custa uma garrafa limitam o acesso a este monumento, mas é sem dúvida alguma um daqueles vinhos que se deve beber pelo menos uma vez na vida. 100 pts

12 dezembro 2016

Herdade do Rocim 2013


Tem sido notável a evolução dos vinhos da Herdade do Rocim (Alentejo) e este é disso exemplo, fruto de um querer sempre mais e melhor que tem levado a que os vinhos sejam afinados colheita após colheita. O resultado apenas beneficia o consumidor que vai tendo a oportunidade de levar ao copo vinhos que sem virar costas ao Alentejo, mostram-se orgulhosamente frescos. É portanto um vinho que se bebe com muito prazer, no imediato ou daqui por uns anos pois tem estofo para tal. É fresco, a fruta está presente sem compotas em demasia, ligeiramente confitada mas esse toque morno da planície que lhe marca a alma em conjunto com a Alicante Bouschet que se faz notar. O preço que em muito local não passa dos 8€ torna-o acessível para quem com pouco procura ter um vinho com qualidade acima da média e a relação preço/satisfação é muito boa. É beber ou guardar, se a opção for a primeira então o prazer está mais que assegurado. 90 pts

Dominio del Bendito - La Cuesta de las Musas 2012


O projecto Dominio del Bendito fica situado em Zamora (Espanha) na denominação de Toro, onde Anthony Terryn tem a sua adega e cria os seus vinhos. Nascido em França, foi perto de Zamora que decidiu ficar e criar os seus vinhos. Desde 2003 até à data que tem sabido mostrar todo o potencial da região com vinhos de excelente qualidade. Um amigo de longa data que transpira emoção quando fala das suas criações, a mesma emoção com que nos serve um copo e nos vai dando a conhecer as novidades, ano após ano. Desta vez foi especial, na mensagem que me tinha enviado dizia que tinha algo de muito bonito que me queria mostrar, o encontro coincidiu como não podia deixar de ser, num encontro de amigos, à mesa onde os vinhos ganham vida.

A garrafa surge imponente, robusta e pesada, numa roupagem que mais parece servir para resguardar o precioso líquido que guarda e que dá pelo nome de La Cuesta de las Musas. Quem prova e conhece o poderio do Titan del Bendito já de si fica rendido. As vinhas que lhe dão origem estão em solo arenoso, em dois patamares, com o mais velho a passar dos cem anos enquanto que o mais novo dizia que rondará os sessenta. Do total de barricas produzidas, que não passou das dez, escolheu as quatro melhores onde deixou o vinho repousar durante 22 meses e foi depois engarrafado em Agosto de 2015. Quanto ao vinho, bem o vinho é um portento de elegância com muita energia, a fruta sempre em plano de destaque e muito bonita, limpa, airosa, carnuda e a explodir de sabor na boca. Eleva-se com o toque ligeiro de licor, depois é um tornado de sensações, naquele modelo super desportivo de linhas esbeltas e toda a raça no motor, é isto. A tonalidade já de si é linda, pouco concentrada e um pouco aberta até, a complexidade ganha formas com a passagem do tempo, de tão bom que é que deixamos o caderno de lado. 96 pts

10 dezembro 2016

Brites Aguiar 2009


Vem do Douro e dá pelo nome da família, Brites de Aguiar, oriunda da pequena aldeia de Várzea de Trevões do concelho de S. João da Pesqueira . O nome da família exige o melhor vinho e só o melhor lote de algumas colheitas têm direito a essa distinção.O texto do rótulo, que difere de colheita para colheita, é trabalho da matriarca da família, Maria Fernanda Costa Brites, também assinado por Manuel António Pacheco Aguiar. Das uvas Touriga Franca, Tinta Roriz e Touriga Nacional sai o lote que estagia 18 meses em barrica até sair para o mercado a coisa de 30€ a garrafa. O vinho é imponente e carregado de fruta negra bem fresca e madura, a escorrer de sabor pelas paredes do copo. Embalada pelo toque mentolado de fundo, enche o copo de notas de baunilha, pimenta preta, floral e uma ligeira austeridade de fundo. Na boca é carregado de sabor, volumoso e estruturado, convidativo a mais um trago num perfil que pede pratos de bom tempero. 92 pts

09 dezembro 2016

VDG Espumante Bruto

A Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito (ACV) lançou no mercado o seu primeiro vinho espumante. O "VDG" apresenta-se como um Espumante bruto, foi espumantizado nas Caves da Montanha (Bairrada) num lote feito a partir das castas tradicionais da Vidigueira, onde se destaca a Antão Vaz. Com um preço na loja do produtor a rondar os 5,99€, é um espumante que se mostra simples e bastante directo nos aromas, boa frescura e presença da fruta de pomar, num conjunto que dá uma prova satisfatória e que por isso mesmo tem a capacidade de partilhar bons momentos à mesa. 88 pts

06 dezembro 2016

O Sossego da Herdade do Peso

Situada no Baixo Alentejo, em plena Vidigueira, a Herdade do Peso acaba de colocar no mercado as últimas novidades, de nome Sossego, que se apresentam no formato branco, rosado e tinto. Surgem assim, na Herdade do Peso, os novos vinhos que se situam no patamar imediato ao Vinha do Monte, como vinhos indicados para um consumo mais casual e diário, com uma qualidade interessante para o objectivo pretendido. E é neste sossego por mim tão desejado e que me tem mantido nestes últimos dias bem afastado do reboliço da cidade, que me vou deixando deliciar pelos aromas e sabores dos vinhos que me vão passando pelo copo.

Neste caso é a franqueza de aromas que os domina por inteiro, a frescura em conjunto sempre bem afinado, mostra-se ao lado da fruta (madura e fresca) de intensidade mediana tal como se mostram a nível de corpo. E mesmo neste sossego deseja-se e procura-se alguma irreverência ou mesmo aquele algo mais que faça despontar o interesse naquilo que temos pela frente. Apetecia pois um pouco mais, mas talvez isso fosse pedir o que não se pode dar, ou o que não faz parte da estratégia delineada. Resta-nos, pois, em sossego apreciar estas novas referências:


Sossego branco 2015: num lote tipicamente alentejano com 75% Antão Vaz, 20% Arinto e 5% Roupeiro, fruta fresca e madura de bom nível com exuberância de bom tom, ligeiro floral a fechar o conjunto, algo discreto com boa secura no fundo, mas pronto para a mesa.



Sossego Rosé 2015: feito exclusivamente de Touriga Nacional, bonito na cor e na candura dos aromas, frescos, ligeiros e apelativos, sendo direto na forma como se faz mostrar. Presença mediana no palato sendo a fruta novamente protagonista, calmo, sereno, ligeira secura de fundo num perfil que agrada.


Sossego tinto 2014: criado a partir de um lote de 75% Aragonez, 15% Syrah, 10% Touriga Nacional, com direito a estágio de 6 meses em barrica usada. Muita fruta madura em tom silvestre (amora, framboesa) com o aconchego da barrica, elegância num todo harmonioso. Boca num misto de fruta e frescura, corpo mediano com boa presença.
 
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