
Um concurso de vinhos é essencialmente uma prova onde os provadores tentam provar o maior número possível de vinhos num tempo determinado que por norma é sempre limitado e reduzido. Ou seja, é quase uma corrida contra o tempo onde os vinhos vão sendo literalmente empurrados, espezinhados e esmagados uns contra os outros. Isto para não falar no provador e na saturação do mesmo após provar digamos, 25 vinhos de seguida.

Mas então quem fica a ganhar com isto ? Focando apenas nos brancos, tintos e rosés, apenas e só os vinhos de gatilho rápido, muitos deles feitos para este "negócio" das medalhas e prémios, que raramente mostram grandes dotes quando provados com muito mais tempo do que aquele que foram feitos para durar. Sim é exactamente a conversa do tornarem-se monótonos, chatos, repetitivos, cansativos...
A realidade é que todo e qualquer vinho que beneficie de uma prévia decantação, e todos sabemos que há vinhos que 30 minutos é pouco para dito efeito, acabam por ser claramente prejudicados nestas orgias do vinho, que são os famosos concursos.
Das vezes em que fui júri, sempre me fez confusão aquela roda viva que se monta no vai e vem de vinhos, acabando quase por os ditos cujos nem terem o tempo necessário para se mostrarem. É sempre invocado que há muito vinho para ser provado e como tal não se pode perder muito tempo... somos olhados de lado se dedicamos mais tempo a um vinho do que o necessário para a ocasião. Ali não interessa se determinado vinho vai ganhar algo com o tempo no copo, ali o que interessa são os números finais, o que nós achamos que aquele vinho que ainda mal "comunicou" connosco, vale. E mais uma vez a pergunta surge, quem tem a ganhar com isto ? Os tais vinhos de concurso, os vinhos que se escarrapacham todos no copo, bombas de fruta e madeira, mas que numa mesa a sério nos saturam ao segundo copo ou acabam por ficar sem conversa passado os tais minutos para que foram preparados.
Obviamente que os vinhos medalhados não são maus vinhos por Natureza, são apenas vinhos que despertam um interesse momentâneo, o que não chega a ser suficiente para chegar a outros níveis que uma medalha de ouro supostamente teria que premiar.
Hoje em dia as medalhas e os prémios atribuídos são cada vez mais, há vinhos que num desespero de causa chegam a ter colados 3 e 4 papelinhos a dizer olhem para mim que sou um campeão do gatilho rápido, perdendo-se um pouco aquela noção do que é a verdadeira noção de excelência. Hoje em dia por dá cá aquela palha, aparecem vinhos medalhados em tudo quanto é prateleira de hiper ou garrafeira, o consumidor menos prevenido compra porque tem medalha pensando que o tal Ouro premiou a excelência enquanto vinho, puro engano. Afinal quantos vinhos desses que ostentam medalhas são na realidade Grandes Vinhos ?
Portanto se procura vinhos que no imediato, digamos nos primeiros minutos depois de abertos, lhe causem boa impressão, mas que depois são mais do mesmo e que seguramente nunca vão chegar ao tal patamar de excelência, aposte em força nas medalhas de papel.
4 comentários:
Quantas vezes provamos um vinho medalhado e perguntamos como é que ele o conseguiu? Já aconteceu várias vezes. Basta prova-lo uns meses depois, quando perde o "aroma de prova".
Talvez o único concurso que eu tenha em consideração seja o levado a cabo pela Confraria Enófilos do Alentejo, sei que os vinhos após prova do jurado são escolhidos os melhores que vão ser novamente postos em prova pelo júri final, como que sendo uma deliberação final.
Não que seja tudo mau, mas por onde já andei, tempo é coisa que não se dá aos vinhos, e depois admiram-se que os "melhores" não chegam aos lugares cimeiros.
Caro,
No CNVE, também os melhores são isolados e provados em conjunto no último dia (é daí que saem as medalhas de excelência).
Enquanto enólogo pergunto-me muitas vezes se vale a pena ir nesse sentido, fazer vinhos para as medalhas. Se a resposta “de gatilho” é um redondo não, já a que aparece depois do arejamento é talvez! E porquê? Porque a maioria do consumidor português só consegue avaliar até um padrão médio de qualidade, acima disso já é trabalho perdido! Mais, quando um consumidor dá 7€ por um vinho, num SM é porque quer levar um valor seguro para aquele jantar em que terá em casa alguém que quer impressionar. Se tiver medalhas, ninguém se arriscará a dizer que o vinho não presta.
Eu pessoalmente, entendo que essa coisa das medalhas já teve melhores dias,…
João, mesmo qu e não dê direito a uma rótula de papel, também os vinhos nas Essências do Vinho têm dois "rounds"ao fim do primeiro já sairam muitos, muitos vinho e só no dia seguinte ou nos dias seguintes é que é feita a outra prova já com menos de três dezenas de vinhos (eu sei que pode parecer muito, mas tendo em conta a quantidade deles que entra a concurso até acabam por ser poucos, e noutros concursos haverá uma triagem ainda maior). Bom tudo isto para dizer que também depende do número de pessoas que estão a provar e de como é condzida a prova.
Eu acredito em pessoas isentas, mas que somos cada vez menos lá isso, somos....
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