Copo de 3: julho 2012

31 julho 2012

Suck my Cork... Wine Spectator

Quem anda mais embrenhado nisto dos vinhos sabe que há um pouco por cada lado as revistas que ditam as modas vínicas de cada lugar/País. Se por cá esta cantiga já foi chão que deu uvas no que diz respeito a revistas, pessoalmente deixei de as comprar vai para quase 2 anos e não sinto falta, leio calmamente na superfície comercial e muita  das vezes as "novidades" já as conheci ou no meu copo ou nos copos e pingas de outros. Tudo isto para dizer que recentemente saiu uma fornada de notas de prova de vinhos de Portugal da responsabilidade de uma das mais "importantes" revistas do meio a nível global, a Wine Spectator. Esta revista ou chamarei de Eno-pasquim, sediada no mesmo país onde moram "coisas" como a Moodys tem também a apetência natural e pedante de tentar governar o mundo com o que faz, diz e escreve. A sua maior tentativa é com a listinha de final de ano em que elege os melhores vinhos... consequente escalada da procura dos mesmos e dos respectivos preços. Porém as linhas não são direitas e por vezes sabendo-se lá porque motivos as coisas mudam, talvez porque as marionetas provadoras não estejam suficientemente bem preparadas para a nossa realidade, ou até mesmo porque um duvidoso gosto pessoal impera. Relembro que na Wine Spectator nos vinhos de Portugal prova Kim Marcus, relembro também que os vinhos de certas regiões no copo deste senhor nunca foram bafejados com scores à altura das suas qualidades, pergunto porque insistem os produtores dessas regiões em enviar amostras para verem constantemente os vinhos abaixo do registo normal da sua qualidade, registo também que por outro lado Mark Squires também reputado provador e tantas vezes acusado de ser demasiado comedido nas suas notas, consegue com as suas avaliações aproximar-se dos valores normais atribuídos um pouco por todo o lado.

Quem toma atenção às notas, quem prova muitos vinhos e vai reparando nestas coisas não consegue ficar indiferente quando olha para uma lista como esta e repara que por exemplo um Diálogo Niepoort se equipara com 87 pontos a um Pêra Manca tinto ou um Júlio Bastos Alicante Bouschet 2007 que curiosamente ficaram todos abaixo de um Quinta de Cabriz. Ou como é que se atribui os mesmos 90 pontos a um Quinta do Vale Dona Maria 2009 e um Crasto ou Vallado do mesmo ano. Em conversa com um amigo questionava-se que não será estranho que a CARM assim como não quer a coisa deixou de saber fazer bons vinhos ?

Tudo isto cheira mal, parece bater certo apenas para alguns e cheira a manobra de diversão barata. Por outro lado dá a entender que quem prova está encostado à sombra do gosto forçado e pessoal sem que consiga ver mais além. Numa altura em que se depende cada vez mais das exportações ou quando as mesmas têm um peso significativo nas economias de um produtor,  não se pode ficar quieto quando se olha e vê que "alguns" vinhos mais parece que foram provados de rajada como que atirados para um campo e massacrados ao som da metralha.Nos dias de hoje temos mais qualidade nos vinhos do que a lista quer mostrar, a realidade dos nossos vinhos está muito longe da realidade que Kim Marcus quer dar a entender... vou por isso estar  atento às notas do Mark Squires.

28 julho 2012

Pancas branco 2011

Branco de combate, de fácil acesso quer pelo preço que ronda os 3€ ou por estar nas grandes superfícies comerciais. O branco de combate é aquele vinho que se compra para se beber um copo à refeição, por norma é barato mas tentando sempre encontrar a melhor relação preço qualidade possível. É o que acontece com este Pancas branco, muito bem feito como começa a ser regra nos nossos brancos, a subida de qualidade é hoje em dia uma realidade e o chavão de que "nunca se bebeu tão bom e barato" cola aqui na perfeição. Quem o procura não quer saber de notas de prova mais ou menos complexas, quer que o vinho que abre para acompanhar um frango de tomatada lhe saiba bem... é o caso.

Quinta dos Carvalhais Encruzado 2010


Mas que belo Encruzado, desde a última vez que o tinha provado lá para inícios do ano, nem parece o mesmo, mostra-se agora melhor, de forma mais nítida e menos envergonhada. O vinho que antes deixou algo a desejar, foi desta vez o branco da noite, e que branco. Confirma-se  que muitas vezes o não saber esperar leva a que nem sempre se beba o vinho no seu melhor momento. O Quinta de Carvalhais Encruzado dispensará grandes apresentações, melhorou substancialmente em garrafa nestes últimos meses e a massada de bacalhau que o acompanhou, assentou-lhe que nem uma luva. É vinho feito para a mesa, pendor gastronómico bastante acentuado, que o vinho não é feito para se beber sozinho mas sim acompanhado.

Conquistou-me pelo aroma harmonioso e complexo, fresco, acertado e cativante. Dá um gozo tremendo beber, boa dose de mineralidade com pederneira, aromas limpos de citrinos, geleia, pêra, cremosidade sentida com leve baunilha. Cheio, torneado e com aquela acidez cortante que tanto gosto metida lá pelo meio, na boca repete o manifesto, bom no sabor a fruta, bom na passagem harmoniosa, untuoso e fresco, travo constante até ao final, alperce maduro, mineral em fundo. 

É um vinho obrigatório ter na garrafeira, que se beba agora ou durante todo o ano, que se guarde, mas essencialmente que se tenha e acompanhe a sua evolução em garrafa. O seu preço ronda os 14€ em garrafeira, pelo que mostrou vale o investimento, é um branco de prazer. 92 pts

27 julho 2012

Ninfa Escolha Sauvignon Blanc 2011

Inspira, expira, rodopia, olha, cheira, prova, escrevinha qualquer coisa do tipo: é um vinho engraçado, moderadamente feliz que gostei de conhecer mas que na sua essência acaba por não trazer nada de novo. Também não precisava, nem o tem de fazer... ou tem ? E se for daqueles vinhos descomplexados, que sabem bem, com boa qualidade e a beber sem ligar ao que se tem no copo, para as férias, abrir fresquinho e ir bebericando enquanto o peixe acaba de passar pelas brasas. A barrica por onde passou tira-lhe alguma graça nos aromas da casta, arredonda e faz-se notar dando algum volume a este branco que carrega uma boa dose de exotismo e frescura, não muita mas a suficiente num conjunto todo ele bastante moderado. Desconheço o preço e não foi enviado pelo produtor. 87 pts

24 julho 2012

Guru 2008


Caiu-me no copo de forma anónima, cheirei e não me cativou, não me prendeu a atenção, provei e mostrou-se algo acanhado, parco de emoções com uma boca onde falta nervo e energia. Apesar de alguma harmonia e substância de conteúdo, não consegue transmitir grande emoção, perde-se vontade e começamos a olhar para o copo do lado. O Miguel lá me ia espicaçando enquanto eu escrevinhava no caderno o que achava, perguntava-me se gostava e qual seria a zona de onde tinha vindo... Sei lá Miguel, sei lá, num rebuscar de sensações, momentos e conhecimentos, tentei encontrar um fio condutor capaz de me guiar naquele vinho meio mudo e meio surdo. Sem aquela nervura do Vinho Verde ou aquele travo Encruzado de um Dão que por acaso até tinha aos gritos no copo ao lado (já lá irei), Bairrada nem passou pelo pensamento, encurralado fiquei a apontar hipoteticamente para um Douro. E mesmo se fosse um Douro seria um sem a raça que outros da região (e lá enumerei uns quantos) me mostram durante a prova, talvez seja um Guru disse eu em tons de brincadeira. Na realidade o Guru sempre foi um branco que das vezes que tive oportunidade de provar, nunca me chegou a convencer.

Sempre gostei muito desta saudável galhofa enófila à volta de uma garrafa de vinho sem que a arte da adivinhação faça parte dos meus gostos, vejo-a como um mero momento de convívio que ajuda a desconstruir mitos formados sabe-se lá em cima de que joelhos, ajuda e muito a evitar cair em malabarismos rebuscados, muitos deles caducos, recorrentes e tantas vezes invocados por gente que vive agarrado a ladainhas repetidas uma e outra vez, porque uma mentira repetida muitas vezes tem o risco de se assumir como verdade. Enquanto riamos e íamos trocando impressões sobre os 3 brancos colocados encima da mesa, insisti mais uma vez neste copo de branco, vinho que seria por palavras do Miguel um topo de gama mas pelo que eu ia vendo de topo tinha e tem pouco. O problema não se mete no não gostar, gostar até gostei, aquilo que o vinho mostra é que não é suficiente para eu o considerar como o grande vinho que muitos descrevem. No nariz que é onde melhor se mostra e apesar da harmonia de conjunto, bom perfume, é todo ele muito contido, quase que aplainado e sem grande torneado de aromas, podem invocar que é harmonioso e delicado, é, mas também se torna acanhado e com aromas quase sacados a ferros. Na boca é mineral, mediano de corpo, citrino, alperce e pouco mais, desmorona-se na presença e sem grande lembrete final. O preço desta "maravilha" ronda os 25/30€ e mostrou mais uma vez a razão pela qual insisto em não o ter na minha garrafeira. 89 pts 

11 julho 2012

Quinta do Infantado 2004

É um dos meus portos de abrigo no que a vinho tinto diz respeito, o Quinta do Infantado consegue mostrar-se como um Duriense de alma e coração, vinho feito com dedicação e esmero por um trio de gente fantástica como é o vigneron João Roseira e a equipa que o apoia Luís Soares Duarte e Fátima Ribas. Os vinhos do João são tal como ele vinhos temperamentais, no seu toque de irreverência mas sempre afinados e frescos, sem madeiras em força temos no copo vinhos que respiram o Douro que ele tanto gosta, é o Douro do João, sempre com aquela tendência gastronómica muito presente. É vinho que cheira e sabe ao que deve saber. A evolução em cave tem sido outro factor a ter em conta, os vinhos quando nascem dão boa conta de si, mas sabem contudo evoluir durante o sono da garrafa na nossa cave. Decidi no outro dia tirar o pó a um Quinta do Infantado 2004, mostrou-se em grande forma, afinado de aroma, fruta escura viva com ervas de cheiro, especiado qb com a madeira fina e integrada, debita algum chocolate de leite, boa frescura. Na boca iguala o nariz, em corpo mediano, passagem de boca prazenteira e saborosa, fresco com uma leve secura no final, centrado na fruta com madeira a amparar em final de boa persistência. Continua pois a dar uma bela prova... que se beba ou guarde-se ainda por um bom par de anos. 91 pts

Torre do Frade Reserva 2004

Desde a última vez que provei este vinho já passaram 4 anos, daquele conjunto raçudo e pujante o que se apresenta agora é um colossal amontoado de "coisas". O vinho que naquela altura já de si era pesado e abusava de uma madeira que tapava e ofuscava a fruta, surge agora com essa mesma fruta num plano pouco fresco, enfadonho e madurão com reminiscência para a compota. Com tudo isto a madeira ainda teima em andar por ali aos saltos com tostados que tornam o vinho pesado, chato e com pouca graça, apesar de um ligeiro bálsamo com especiarias ir surgindo e até consegue colocar ali alguma alegria (pouca) à prova. Depois o vinho começa a enrolar e a tornar-se repetitivo, pouco apelativo, na boca todo ele muito estruturado e compacto, amplo e redondo, com os 15% a tornarem-se pesados, sabor a tosta, já com arredondamento a fazer-se sentir, vigor e secura no final de boca que mostra ser longo. Um vinho que tinha tudo para ser feliz mas que acaba num final triste, enfadonho e igual a tantos outros... a fruta coitada não teve direito à frescura e à felicidade que devia, mas talvez nunca o tivesse sido e por isso foi preciso tapar o desgosto. 89 pts

10 julho 2012

Ilex Vinhos...

Fazendo uma breve incursão por terras do Gavião (Portalegre), mais propriamente Herdade da Margalha situada nos confins do Alto Alentejo, bem perto do rio Tejo. As vinhas são novas, seis anos de idade e a produção divide-se em 4 referências, irei falar de três delas:

 Margalha 2008: Lote de Syrah (45%), Aragonês (35%) e Touriga Nacional (20%), preço que ronda os 4,60€. Aroma de boa intensidade num vinho muito pronto a beber e bastante apelativo onde se destaca a fruta madura na companhia de especiarias, algum vegetal e a sensação de passagem por madeira Na boca tem boa presença, arredondado e macio, leve secura que o faz pedir comida por perto, todo ele centrado na fruta e com bom final. Bem arranjadinho e com algum peso, nada demais, correcto e pronto a beber. 86 pts

Pausa 2008Castas: Touriga Nacional (60%), Syrah (30%), Petit Verdot (5%), Tinta Barroca (5%), preço que ronda os 7,50€. O vinho é apelativo, muita fruta do bosque com leve bálsamo, tosta, flores e mineral de fundo, tudo com peso e gordura que lhe confere peso apesar da boa frescura que se faz sentir. Sente-se o salto qualitativo em relação ao anterior, num vinho que mostra alguma diferença e arrojo complementando-se à mesa. 88 pts
Pausa Reserva 2008: Castas: Petit Verdot (90%), Tinto Cão (10%), preço que ronda os 12€ e é o topo de gama do produtor. O vinho mostra-se diferente, provocador e cativa com um aroma fora do comum face ao lote que apresenta. Muito Petit Verdot maduro nos aromas, muita amora e mirtilo, muita compota fresca, travo de hortelã pimenta, gordo, com vigor e sensação de cremosidade. A barrica por onde passou faz-se notar levemente no aconchego do conjunto, longo, a saber a fruta e de boa persistência. Ainda vai durar, mas dá uma prova bastante interessante desde já. 90 pts

05 julho 2012

As Garnachas de Bernabeleva...


Esta prova mostra a casta Garnacha em 3 vinhas diferentes do mesmo produtor, Bodegas Bernabeleva (Madrid). São vinhos que requerem alguma atenção, calma e tempo, vinhos especiais e que espelham de alguma forma o lugar onde nasceram. Pessoalmente gosto bastante da maneira fácil com que se deixam beber, como se mostram e se dão a conhecer, por vezes algo complicados, outras algo mais descomplexados... são na sua essência vinhos temperamentais e com identidade própria. Os exemplares são todos de 2007, esperei por eles, mereciam que se esperasse, são o claro exemplo de vinho que se dá mal com gente apressada. Foram servidos lado a lado, Arroyo del Tórtolas, Carril del Rey e Garnacha de Viña Bonita. No final a conclusão de que a qualidade mora de forma diferenciada em cada um deles, não sendo vinhos baratos, preço entre os 22 e 30€ farão sempre as delícias dos apreciadores, como eu, de vinhos da casta em destaque. Destes já não há mais, resta agora apontar para os 2009 que já se encontram no mercado.


Bernabeleva Arroyo del Tórtolas 2007: Provém de uma vinha situada numa ladeira virada a norte, são 1,25 ha com 65 anos de idade em solo granítico com pouca profundidade na parte mais alta, aumentando na parte baixa ( mais fresca) o que implica em determinados anos vindima se faça em duas alturas. É das primeiras vinhas a entrar em plena maturação. Vinificação é feita em balseiro, com % de engaço que varia conforme o ano da colheita, passa a barrica com estágio superior a 11 meses, variante também conforme o ano. Mostrou-se o mais "fechado" de todos, debita boa intensidade em conjunto pujante com frescura e profundidade, ao mesmo tempo misterioso. Dá para cheirar uma fruta vermelha muito madura e defenida servida ao lado de toques tostados da madeira com especiaria doce. Na boca tem uma boa frescura, a madeira algo presente com a fruta opulenta a esmagar-se e prolongar-se até ao final de boca ligeiramente mineral. 91 pts
Bernabeleva Carril del Rey 2007: A vinha está orientada a sul com 75 anos de idade, são 2.5 ha de garnacha e 0,5 de Albillo. Solo de granito com pouca profundidade, é a vinha de maturação mais tardia.É mais espevitado que o anterior e menos vinho que o seguinte (para mim claramente o melhor), apesar de tudo é bem expressivo onde a fruta se deixa notar, bem madura e fresca, dos três é aquele onde a mineralidade sobressai mais em prova, a madeira não incomoda e dá tostado ligeiro, leve apontamento vegetal colado à fruta. Boca com muita presença da fruta redonda e gulosa, enche o palato com a sua presença, gordo, viscoso, leve folha de hortelã com fundo mineral. 92 pts



Bernabeleva Garnacha de Viña Bonita 2007: A vinha com 2.8 ha localizada na parte alta do monte, 700 metros de altitude e com granito algo mais compacto, idade da vinha a rondar os 80 anos. É a parcela que tem a mais longa maceração. Aroma complexo e conquistador, revela um vinho mais sério com uma enorme cortina de frescura que percorre toda a prova de nariz e boca. O bouquet de fino recorte também mostra diferença, nota-se café, nota-se aqui um travo mais acentuado de vegetal (mato rasteiro) com a fruta vermelha de enorme qualidade e definição. Boca com muita presença, fruta, mineral, especiaria e balsâmico, longo e largo, bela estrutura firme com taninos presentes a aportar apenas alguma secura no final, pelo meio é harmonia com poder e opulência. 93 pts

04 julho 2012

Paydos 2008


Rumando a Espanha, ali para os lados de Zamora, fica a zona de Toro onde pelos solos cobertos de calhau nascem cepas centenárias em pagos míticos. O casal María del Yerro e Javier Alonso (Viñedos Alonso del Yerro) depois da Ribera del Duero resolveram apostar em Toro, compraram em Pagos de Miguel (Morales de Toro, Zamora) 8,80 ha de vinhedo com cepas plantadas entre 1930 e 1988. Este investimento deu frutos com a colheita de 2008, de nome Paydos que resulta das iniciais do filho do casal, Pedro, com o seu número favorito, o 2. De resto o vinho teve 15 meses de barrica, resultantes 3500 garrafas de um vinho com 15% Vol. com preço a rondar os 30€ por garrafa.

O vinho mostra um Toro menos bruto e mais sociável, tem menos nervura que por exemplo o San Román apesar da força do seu conjunto estar presente, a fruta essa muito limpa e com boa maturação, o trabalho de barrica é exemplar como já nos tem acostumado o produtor. Alia força com frescura e ao mesmo tempo uma grande elegância de conjunto, a barrica tem a marca da casa, presente mas a caminho da completa integração e a saber dar lugar de destaque à fruta do bosque bem madura e com frescura, tostados da madeira, leve sensação de cremosidade conferida por baunilha, toque floral, folha de tabaco seco, especiaria com pimenta preta e cacau. Vinho raçudo mas a mostrar-se ágil como um mestre da esgrima, nada pesado, solto e com uma frescura que tão bem nos sabe. Mesmo com alguma ponta doce (regaliz) no nariz não chega para incomodar. Na boca o vinho desdobra-se, procura ocupar todo o espaço, a fruta mais uma vez bem presente, rebola pela língua, depois vêm os tostados em plano médio, boa sensação de cremosidade esbatida no final com taninos à procura de cadeira, bálsamo, todo ele concentrado e estruturado num final largo e persistenteVou esperar um pouco mais por ele a ver como evolui em garrafeira.

É um Toro de perfil mais moderno em que acima de tudo se mostra elegante, torna-se por isso mais apelativo no imediato e sem o risco de se aberto mais cedo do que se deve nos arrancar a língua. Todo ele pede comida, fiz-lhe a vontade e enquanto se espreguiçava no copo fui apurando um estufado de javali. A ligação foi mais que boa, a boa acidez do vinho juntamente com toda a sua força ligou em grande com os sabores do tempero e da própria carne. 93 pts

02 julho 2012

Vall Llach "Embruix" 2005


Por muito que se procure há sempre aquela altura em que à volta de um copo tudo fica quieto, sossegado... pensamos essencialmente no que temos naquele copo, pensamos nas coisas boas da vida, na família, nos amigos, nos bons momentos de partilha. O nome da adega responsável é de nomeada internacional, Vall Llach é sinónimo de Priorato, soube marcar um estilo e ajudou a projectar uma região, a sua procura e consequente custo já se sabe... é alto. Vai para alguns anos (1998) decidiram ajustar a oferta e lançar no mercado um entrada de gama das vinhas mais jovens, um vinho mais pronto e menos austero, mais acessível monetariamente e até mais pronto a beber num curto espaço de tempo. Rezam as crónicas que 2005 terá sido o grande ano para este vinho, o Embruix de Vall Llach, um tinto lascivo e pecaminoso, daqueles que se bebe com imenso prazer e que não queremos que acabe tão depressa.

Precisa de tempo para se mostrar, a razão é muito simples, foi aberto e provado, estava cerrado, duro, rabugento... foi preciso decantar durante quase 3 horas para lhe passar o amuo. O vinho impressiona, podia ser pelos seus 15,5% Vol. mas até estes estão muito bem integrados e não se dá por eles, de resto é escuro como o breu, num conjunto de porte e peso com bouquet rendilhado. Todo ele muito centrado no peso da fruta vermelha madura com toque doce, cereja, bagas, cassis, é a sua frescura e mineralidade que comandam a coluna central, depois a madeira, baunilha, chocolate, especiarias, algum bombom de ginja, leve balsâmico, tudo muito composto e cheiroso preenchem o resto do conjunto. Boca com explosão de sabores, com a fruta bem concentrada e saborosa, pura, limpa e fresca, quase que se trinca... é a frescura que comanda, muito boa harmonia com a prova de nariz, taninos doces e suaves aportam a sensação de cremosidade... bem feito diga-se. É daqueles vinhos que dá um gozo tremendo beber, quase que se cola ao palato, enche a boca de sabores, profundo com final prolongado e persistente, todo ele muita fruta, todo ele harmonia e excelente trato. Desapareceu rapidamente do copo e da garrafa, o preço costuma rondar os 18/20€ e é vinho que se dá muito bem em garrafeira. 93 pts
 
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