Não há desculpa nos dias de hoje para que um vinho vendido a baixo preço não tenha a capacidade de agradar ou mesmo de mostrar dentro da sua simplicidade algo muito importante, qualidade. Neste caso e tal como no branco, o tinto bem melhor, o conjunto que se apresenta é confuso e pouco ou nada esclarecido. Mostra-se no entanto com uma melhor vontade de querer agradar, a custo lá o consegue, mas no final não fica vontade alguma de voltar a ele nem mesmo porque o preço é baixo, recordo os 2,50€. Resta-me questionar o que leva uma marca do calibre da Cartuxa a colocar um produto destes no mercado ? Mas talvez as respostas sejam o motivo pelo qual virei costas aos seus vinhos. 84 pts
30 abril 2014
29 abril 2014
LA BOTA DE OLOROSO (nº 14) NO
Continuo na senda dos tesouros de Jerez, desta vez uma edição muito limitada de 600 garrafas de 37,5 cl provenientes de um dos nomes grandes da região, Bodegas Valdespino. Manda a tradição em Jerez que algumas "botas" contendo vinhos mais especiais sejam marcadas com um "NO" ficando desta forma intocáveis e imunes ao sistema das soleras e criaderas. Neste caso o vinho é um Oloroso muito velho proveniente apenas de uma das várias "botas" que moram na Casa Valdespino.
Esta em especial, pertence a um conjunto de 12 conhecida na adega como Colheita 1809 e que vai para longas décadas que não é comercializado, encontrando-se no catálogo das "Especialidades" da Valdespino ao lado de nomes tão grandes como Solera de Su Majestad, Moscatel Toneles, PX "Niños" ou Colheita 1820 e 1840.
Terá sido dos vinhos mais memoráveis que alguma vez tive a oportunidade de baloiçar no copo, será daqueles que mais gratas memórias invoca, que maiores sorrisos desperta e que dificilmente voltarei a ter oportunidade de tornar a encontrar. Arrebatador ao primeiro impacto, muito volátil de início com verniz, catapulta-nos para o meio das madeiras velhas e retorcidas das adegas, aquela salinidade tão marcante, complexo, profundo, com a untuosidade e concentração de um vinho que ali morou durante dois séculos, numa combinação perfeita entre aromas terciários, charutos, fruto seco, aqui mais passa, quase num tom guloso e desafiante. Mistura os amanteigados com os óleos dos frutos secos, prova de boca muito ampla, saboroso e de definição extrema, iodado, salinidade, bela frescura de um conjunto que rebola pelo palato. O final é largo e muito persistente com travo salgado e untuoso que perdura. É daqueles vinhos para beber nas calmas, abrir hoje e durar uma semana inteira porque a cada fim de noite a experiência que nos proporciona é diferente. Se tiver de comparar com o NPI achei que este NO apenas perde por ligeiríssima margem um pouco na definição, uma heresia perante monstros sagrados e o gosto pessoal a trabalhar. 99 pts
Esta em especial, pertence a um conjunto de 12 conhecida na adega como Colheita 1809 e que vai para longas décadas que não é comercializado, encontrando-se no catálogo das "Especialidades" da Valdespino ao lado de nomes tão grandes como Solera de Su Majestad, Moscatel Toneles, PX "Niños" ou Colheita 1820 e 1840.
Terá sido dos vinhos mais memoráveis que alguma vez tive a oportunidade de baloiçar no copo, será daqueles que mais gratas memórias invoca, que maiores sorrisos desperta e que dificilmente voltarei a ter oportunidade de tornar a encontrar. Arrebatador ao primeiro impacto, muito volátil de início com verniz, catapulta-nos para o meio das madeiras velhas e retorcidas das adegas, aquela salinidade tão marcante, complexo, profundo, com a untuosidade e concentração de um vinho que ali morou durante dois séculos, numa combinação perfeita entre aromas terciários, charutos, fruto seco, aqui mais passa, quase num tom guloso e desafiante. Mistura os amanteigados com os óleos dos frutos secos, prova de boca muito ampla, saboroso e de definição extrema, iodado, salinidade, bela frescura de um conjunto que rebola pelo palato. O final é largo e muito persistente com travo salgado e untuoso que perdura. É daqueles vinhos para beber nas calmas, abrir hoje e durar uma semana inteira porque a cada fim de noite a experiência que nos proporciona é diferente. Se tiver de comparar com o NPI achei que este NO apenas perde por ligeiríssima margem um pouco na definição, uma heresia perante monstros sagrados e o gosto pessoal a trabalhar. 99 pts
Vinea Cartuxa branco 2013
É a nova marca da Adega da Cartuxa (Alentejo) e dá pelo nome de Vinea, saiu na colheita 2013 em formato tinto e branco de que agora falo. Tirando o pague 1 leve 2 em grande superfície já o encontrei a rondar os 2,5€ o que para a qualidade achei uma piada de mau gosto. Não sei se o vinho em causa, Antão Vaz/Roupeiro é parente pobre de um tal Cerca Nova travestido ou se é mesmo uma nova "invenção", pelo menos o rótulo cheira a novo. No que ao vinho diz respeito não cumpriu minimamente os requisitos para chegar a ser como dizem "a escolha ideal para ocasiões mais informais", a bem da verdade tive de mudar de vinho porque deste não acabei nem o primeiro copo. Curto, aromas pouco exclarecidos e demasiado engomado com falta de proporção entre componentes, uma boca sem alma, digamos que a desculpa do ser barato já perdeu a cola. Não merece nota nem os euros que custou.
28 abril 2014
Blend - All About Wine
Deu-se a conhecer no passado dia 21 de Abril um novo projecto chamado Blend - All About Wine que abraça o mundo do vinho Português numa perspectiva de o promover e colocar onde realmente merece estar, entre os melhores. Com essa vontade e criando uma máquina devoradora de sucesso, as duas fundadoras do projecto (Patricia Pais Leite e Olga Magalhães Cardoso) decidiram formar uma equipa capaz de levar a bom porto esse objectivo, juntaram-se dessa forma: Ilkka Sirén, Sarah Ahmed, José Silva e eu.
Deixo o vídeo que apresenta o projecto e visitem o site que todo o conteúdo estará à distância de um simples click.
16 abril 2014
Quinta do Junco Vintage 1995
A Quinta do Junco cuja história se perde no tempo, fica localizada bem perto da também conhecida Quinta de Terra Feita, perto do Pinhão (Douro). Foi comprada em 1906 pela Borges & Irmão e vendida à Taylor´s em 1997. Este Vintage foi lançado para o mercado como Quinta do Junco tendo sido relançado como Borges uma vez que o primeiro lançamento foi prejudicado pela respectiva venda da Quinta. Saiu em plano delicado, bouquet rendilhado, caixa de charuto, muita fruta em modo compota e passa muito fresca, tudo com bom realce embora sem exageradas concentrações, apimentado no travo em final mediano. 91 pts
14 abril 2014
LA BOTA DE AMONTILLADO VIEJÍSIMO (nº5) NPI
Na vida de enófilo há momentos únicos e que desejamos um dia poder repetir. Este é mais um desses casos, passados tantos anos do seu lançamento e da primeira vez que o bebi, eis que me volta a cair no copo. Como breve nota introdutória este é o vinho mais antigo da casa Sánchez Ayala, está dentro de uma velhíssima bota (barril) rotulada com as letras ''NPI''. Quando o penúltimo capataz da adega, reformado no início do séc. XXI, ali chegou nos anos 60 do passado século, já morava no seu interior um amontillado muito velho. Desde essa altura, praticamente ficou intacto, de facto a primeira saca que merece tal nome é a que a Equipa Navazos realizou em Janeiro de 2007, duzentas meias garrafas, quantidade equivalente a 15% do conteúdo da bota. O volume que se tirou foi reposto com outro amontillado muito velho a fim de assegurar a continuidade deste fantástico vinho, cuja idade média é difícil de estabelecer, devendo rondar os 100 anos. A sigla ''NPI'' não deixa de ser curiosa, a explicação dada por um dos históricos donos da adega é que na altura de estabelecer uma idade para o referido vinho, disse: Ni Puñetera Idea.
E é nesta onda de mistério, tradição e exclusividade tão intimamente ligadas a Jerez, que este Amontillado literalmente nos esmaga com aquilo que mostra em prova.Um vinho que não é de fácil abordagem, precisa de tempo e dedicação, precisa que haja vontade de se querer entender o que nos tem para dizer, intrigante, fascinante e de uma complexidade enorme, um autêntico vinho de compêndio onde nada parece falhar ou ficar esquecido. De inicio há que dar tempo para as lacas e verniz saltarem borda fora, cesta de frutos secos com toque de iodo, toque muito salino a fazer lembrar a maresia, barrica velha, fruta cristalizada (laranja), cardamomo, anis estrelado... Na prova de boca é arrebatador, desafiante para o palato com inicio a mostrar aquele toque de fruto seco, ao mesmo tempo salgado num todo embrulhado pela untuosidade (nougat) adquirida ao longo das décadas de estágio, arredonda nos cantos com imposição total no palato, marcante, caramelo torrado, com uma frescura que lhe corre pela alma. Direi mesmo que não tem fim. São vinhos como este que me fazem sonhar, tudo fica parado à minha volta, silêncio, apenas eu e o copo. 100 pts
13 abril 2014
Grande Rocim Reserva 2009
Apresenta-se como o topo de gama da Herdade do Rocim (Alentejo), enverga uma pesada armadura que o envolve e torna majestoso, arrebatador e feito para perdurar no tempo. Apesar do peso que para alguns pode ser excessivo, alia o seu lado mais vigoroso com uma invejável elegância de movimentos. Tem na alma a essência da Alicante Bouschet, o ano e meio que passou pela madeira foi atenuado com mais um ano de garrafa até sair para o mercado. Todo o tempo extra que continuar em garrafa só lhe fará bem, está muito novo, embora com grande frescura de nariz, inicio com azeitona preta para dar lugar a fruta escura e sumarenta, ervas de cheio, cacau, coeso, profundo, ligeira nota de licor, fundo fresco com sensação de grafite. Boca de grande impacto com enorme presença, amplo, fresco, muito boa estrutura com fruta e especiaria em fundo, sumarento e muito persistente no final. Tudo com grande detalhe, limpo e fresco com uma enorme vida pela frente, paga-se por tudo isto coisa de 50€ com a garantia que se leva para casa um dos melhores tintos feitos no Alentejo e em Portugal. 95 pts
10 abril 2014
Quinta do Mouro 1998
Há quem diga e com razão, que o vinho é preenchido por memórias e este é disso exemplo. Ainda hoje me recordo a primeira vez que entrei na Quinta do Mouro (Estremoz) para comprar o seu vinho, na altura estava a sair para o mercado o Quinta do Mouro 1997. Os vinhos da Quinta do Mouro são temperamentais e únicos, gostam de contrariar tudo e todos, ora se o ano dizem não ser dos melhores sai um vinho arrebatador, exemplo disso este 1998 fruto de um dos piores anos que há memória por aqueles lados. Fruto desse temperamento tão especial que mora naquela adega, a aventura começa com a colheita de 1994 embora os vinhos tenham sido feitos até 1998 em adegas "emprestadas". Terá sido este que agora falo o primeiro a nascer em casa, na adega da Quinta do Mouro, um vinho do qual o seu proprietário afirma nunca ter gostado.
Salta para o copo qual besta negra, escuro e coeso, a chamar para lhe metermos o nariz encima num início dominado por alguma azeitona preta... deixar respirar, rodopiar o copo, ir tirar as Burras que estavam a assar no forno. Quando se chega à mesa e já servidos, o vinho está diferente, está repleto de fruta rica (cereja, bagas) e sumarenta, viva, limpa, sente-se Alicante Bouschet na alma. O vinho cresce no copo, desdobra-se, cedro, balsâmico, muita pimenta, couro ligeiro, folha de tabaco, bonita complexidade e profundidade. Na boca domina por completo o palato, grande estrutura, fruta compacta, especiaria e ligeiramente terroso, tudo sem descuido em grande harmonia com a frescura a tomar conta de toda a prova. Sem rugas, mas muito nervo e integridade. Vinho de gabarito em qualquer parte do mundo. 96 pts
09 abril 2014
Quinta dos Roques Garrafeira 2003
Nome maior em Portugal e referência obrigatória no que toca à região onde nasce, o Dão, a Quinta dos Roques será com toda a certeza dos mais consistentes produtores em solo nacional. Ao longo de mais de duas décadas a produzir vinhos fantásticos a Quinta dos Roques tem tido a capacidade de marcar o percurso enófilo de muita gente. Um dos grandes vinhos que ali é criado e o esplendor máximo no que a tintos diz respeito é o Garrafeira, surge nos anos noventa e aqui em prova na colheita 2003. Destaca-se desde logo a frescura e complexidade que debita no copo, simbiose perfeita entre o músculo mais moderno e a elegância mais clássica tão característica da região. Fruta muito limpa, cheio de vivacidade, boa compota, mato rasteiro, caruma de pinheiro, profundo e perfumado. Na boca é uma festa, cheio de harmonia, acidez a tomar conta do palato com muitas bagas silvestres bem sumarentas, especiaria, bergamota, amplo em grande estrutura, no caminho do acetinado em final muito longo. Um hino à região e um dos melhores pontas de lança que Portugal tem para oferecer. A beber até à última gota com um cabrito assado no forno. 96 pts
06 abril 2014
Casal Sta. Maria Ramisco Colares 2006
Enquanto se deambula pelas supostas virtudes de castas alheias em formato de novo messias, vai-se deixando de lado e esquecido todo um vasto património que de tão rico, leva gente importante lá de fora a dizer que Portugal é algo de fantástico e único. E enquanto "o meu é que é bom" e "a finesse mora lá fora" há zonas esquecidas em Portugal que lutam contra a pressão e sufoco dos tempos modernos. Haja pois gente com paixão, com vontade, pessoas que apostam em vinhas perdidas que se contorcem em terrenos de areia, tudo ali perdido no meio de luxuosas e recentes moradias na zona das Azenhas do Mar. E depois é toda uma lição, um ir contra regras que se pensam ser lei imposta pelo mercado e por um tal consumidor inventado por sabe-se lá quem, que supostamente sabe e manda em tudo.
Aqui o que nos salta à vista é um tinto 100% Ramisco de 2006 do Casal Sta. Maria (Colares), um vinho com oito anos que apenas agora é lançado no mercado, um atrevimento para alguns e continua pela tonalidade que mostra, longe das excessivas concentrações da dita "moda". Bouquet repenicado de coisas boas, madeira exótica, fruto vermelho muito limpo e ácido, cerejas e ameixas, complexo, húmus, travo verdasco em fundo e resultante do 30% engaço que levou. Acidez alta que lhe dá uma frescura de muito bom nível, a mesma que faz as delícias a acompanhar com pratos mais pesados, a fruta saboreia-se na boca, palato requintado e elegante com bom nervo a indicar que ainda tem muitos anos pela frente. Custa 25€ vendido em caixas de três garrafas. 93 pts
Aqui o que nos salta à vista é um tinto 100% Ramisco de 2006 do Casal Sta. Maria (Colares), um vinho com oito anos que apenas agora é lançado no mercado, um atrevimento para alguns e continua pela tonalidade que mostra, longe das excessivas concentrações da dita "moda". Bouquet repenicado de coisas boas, madeira exótica, fruto vermelho muito limpo e ácido, cerejas e ameixas, complexo, húmus, travo verdasco em fundo e resultante do 30% engaço que levou. Acidez alta que lhe dá uma frescura de muito bom nível, a mesma que faz as delícias a acompanhar com pratos mais pesados, a fruta saboreia-se na boca, palato requintado e elegante com bom nervo a indicar que ainda tem muitos anos pela frente. Custa 25€ vendido em caixas de três garrafas. 93 pts
Casal Sta. Maria Malvasia Colares 2011
Saúda-se o surgimento de mais um produtor a apostar na tão nossa e ao mesmo tão esquecida região de Colares, onde as vinhas em chão de areia são de uma beleza única. O produtor em causa é o Casal Sta. Maria e tem por detrás uma bonita história que será contada a seu devido tempo, por agora resta-me falar deste seu primeiro D.O.C. Colares Malvasia 2011. Um vinho que se destaca por uma abordagem mais moderna, nunca perdendo o fio condutor que a região imprime. É certo que se nota ali a barrica nova um pouquinho mais presente, bem integrada, nada que incomode e até aconchega a belíssima acidez e mineralidade reinante. Um vinho elegante, muita classe embora tenso e por se desenvolver na máxima plenitude, puré de maçã, muito citrino com erva cidreira (tisana), mineralidade. Na boca complementa-se com a prova de nariz, saboroso, secura em pano de fundo, equilibrado e amplo, apontamento de fruto seco e salgado em fundo com uma boa persistência final. Tal como no tinto, o preço é de 25€ a unidade. 91 pts
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