Copo de 3: maio 2011

30 maio 2011

Navaherreros 2007

Mais um projecto em estreia no Copo de 3, mais um que me conquista desde a sua primeira edição, não foram muitas colheitas é certo e tudo começou com este Navaherreros 2007 das Bodegas e Viñedos Bernabeleva, da DO Vinos de Madrid. Aqui segue-se o caminho da biodinâmica, nos 30 hectares de vinha situada a uma altitude de 700-900 metros sobre o nível do mar, localizada em San Martin de Valdeiglesias, com cepas a variar entre os 40 e 80 anos de idade em que reina a Garnacha com enologia a cargo de Raúl Pérez e Marc Isart. Dentro dos vinhos lançados por esta adega, temos ainda um vinho branco 100% Albillo, casta autoctone da zona de Madrid, e ainda 3 vinhos de topo em que a Garnacha mostra o seu comportamento nas diferentes vinhas. Por agora fiquemos com o Navaherreros 2007, um 100% Garnacha daqueles que se provam, bebem e depois se quer ter mais... com um preço que ronda os 12.50€, ajuizado e muito tentador, demasiado até. Abri então a minha última garrafa, já tinha aberto uma recentemente com um grande amigo, disseram-se na altura maravilhas... a forma do vinho estava plena, mas com tanta vida pela frente que lhe decidi dar mais um tempo, o pior foi não conseguir resistir a abrir outra... por azar a minha última de 2007.

Então estamos perante um vinho completamente descomplexado, sem grande intensidade ou concentração é certo, aqui joga numa concentração mediana e é daqueles vinhos que é tiro e queda, a fruta bem fresca e de forma cheia mas cristalina, muito límpida, cheio de cereja, com toque de leve fumado e vegetal à mistura, chá preto, algum agreste do vegetal quase na toada do Pinot, mas tudo no seu canto sem colidir, permitindo cheirar cada um a sua vez, o que eu gosto quanto as coisas correm assim... o vinho continua a mostrar uma complexidade de belo refinamento, no final a mostrar-se com boa dose de mineralidade, todo ele com bela frescura de conjunto. Na boca conjuga tudo o que já foi dito de forma muito bem delineada, mais uma vez é de corpo mediano mas cheio, com a sua pujança quer em fruta quer em vegetal e mineral, mas a lembrar que de corpo mediano mas bem forrado, ombreado e profundo mineral, sempre presente com a cereja a dar vontade de trincar, vegetal e longo final. A madeira  mostra-se integrada, nada de vasilhame novo, devem ter sido de 2º e 3º ano, o tal aconchego sem chegar a marcar... agradeço, depois o problema do costume olho para a garrafa e acabou-se... é rodar o que tenho no copo e ir gozando os últimos tragos. 91 pts

28 maio 2011

Tons de Duorum branco 2010

É novidade é novidade... e bem fresquinha por sinal, esta nova tonalidade do Tons de Duorum que agora viu ser lançado por primeira vez em formato branco. Depois do Big Bang Vínico Nacional, o tal acontecimento que fez nascer o universo que todos os enófilos conhecem nos dias de hoje, a verdade é que nos últimos anos têm sido muito poucos os novos projectos que me captem a atenção... talvez defeito meu por não me compatibilizar com as filosofias praticadas e engarrafadas em determinadas garrafas. Mas depois de grandes nomes se terem vindo a afirmar e que todos nós vimos logo que dali ia sair coisa para seguir com muita atenção... parece que tudo acalmou, há projectos recentes que criem empatia junto de quem neles aposta ? Direi que sim, que este é um deles, daqueles que basta provar uma vez cada um dos seus lançamentos para entender que ali se constrói e fazem coisas com cabeça e a pensar não no imediato mas num crescimento e solidificação de uma marca, e isto tem que se lhe diga. É desta maneira que vejo os vinhos Duorum, vinhos que gosto e que cada vez mais preenchem espaços na minha garrafeira, sendo que este branco é desde hoje uma das minhas Escolhas de Verão 2011.

Composto por um lote de 30% Viosinho, 30% Rabigato, 20% Verdelho e 10% Arinto, ufa não tem Viognier... de uvas situadas a uma cota elevada de 400-600m, tudo muito bem composto com um resultado final de 13% Vol. e um preço recomendado de 3.99€

Conquista desde logo a atenção pelo seu aroma fresco de boa intensidade e bem frutado, desde citrinos a fruta tropical, sente-se a fruta a escorrer, gulosa com toque delicadamente guloso e ao mesmo tempo acompanhado por flores, bom ramo de cheiro, onde o mineral lhe ampara todo o conjunto, fina complexidade e um aroma refrescante e direi... simpático, fácil de se gostar.
Na boca mostra-se com boa frescura, acidez que se faz notar em companhia da qualidade da fruta, delicadeza e bom volume, direi mediano, num vinho que se bebe com agrado, bastante agrado, tudo muito bem ligado e onde mais uma vez o mineral se faz notar no fundo. É disto que eu ando à procura, o preço torna-se um perigoso aliciante... no Verão com saladas de frango fruta e camarão vai de certeza brilhar.
16 - 90 pts

14 maio 2011

Meruge 2007

Para orientar quem lê convém dizer que as vinhas que compõem a Lavradores/de/feitoria estão por todo o Douro, seja Baixo e Cima Corgo ou o Douro Superior. Estas Vinhas detém algumas castas portuguesas que, no terroir duriense, têm a sua expressão mais forte. As 18 Quintas, 18 terroir distintos, 18 localizações no Douro, é um dos segredos da lavradores/de/feitoria. A multiplicidade de castas e exposições, as Vinhas de diferentes idades, as diferentes altitudes e a diversidade de solos, originam uma diversidade de terroir que em muito contribui para a complexidade e carácter dos Vinhos da lavradores/de/feitoria.
Conhecedor profundo das suas capacidades, o Enólogo Paulo Ruão e a Equipa de Enologia da lavradores/de/feitoria, utiliza essa matéria-prima de primeiríssima qualidade para produzir toda a gama de Vinhos que tem a seu cargo. Dentre Vinhas Velhas com mais de 80 anos, poderemos encontrar as seguintes castas: Touriga Nacional, Touriga Franca ou Touriga Francesa, Tinta Roriz , Tinta Barroca e Alvarelhão para os Tintos e Rosés e Viosinho, Códega e Sauvignon Blanc para os Brancos.
Os Vinhos de lote ostentam as marcas "Três Bagos", “Lavradores de Feitoria Douro” e “Gadiva”. Já o “Meruge” e o “Quinta da Costa” são Vinhos de Terroir lavradores/de/feitoria.

E é a partir dos 19,5ha da Quinta de Meruge (São João da Pesqueira), em que vinhas com 20 anos onde predominam as castas Touriga Nacional / Touriga Franca / Tinta Barroca / Tinta Roriz. É desta vinha que nasce o vinho de nome Meruge, onde a Tinta Roriz brilha com 80% do lote, sendo os restantes 20% de Vinhas Velhas... depois a vinificação ocorreu em lagares, bem como em cubas de inox, com remontagem automática e controlo de temperatura. Após suave esmagamento e sem desengace, a fermentação, decorreu com homogeneizações ligeiras e macerações muito controladas, conseguindo-se desta forma uma extracção fenólica e aromática desejada.De seguida, o lote estagiou em barricas novas de carvalho francês, mas sempre com o objectivo de preservar o carácter frutado, característico dos vinhos do Douro. Foi submetido a uma colagem e filtração antes do engarrafamento.

Procuro insistentemente pela elegância vínica, aquela fruta fresca bem delineada com a barrica bem enquadrada, sem toques a mais ou a menos, onde a boca é serena mas confiante, é a mesma que me permite desfrutar de uma garrafa de fio a pavio, a mesma que permite um vinho durar durante toda uma refeição, a mesma que surge quanto o vinho descansa e repousa para nobremente envelhecer uns anos na garrafeira. Ando farto de vinhos em que o álcool sempre a mais transborda pelas bordas do copo, farto de vinhos carregados de tudo e cheios de nada, vinhos que não se aguentam na garrafa 5 anos quando me custam 15€ 20€ e mais euros... vinhos que tentam ser aquilo que nunca vão conseguir ser na vida, enjoado das aventuras de adega de produtores que mudam constantemente o perfil de vinhos que se encaixam em tudo o que já disse mais atrás... procuro vinho, vinho para beber, vinho que se beba e que acima de tudo na altura de o provar me dê de imediato a vontade de ter mais na garrafeira. Foi o que me aconteceu com este Meruge 2007, o preço faz com que seja obrigatório ter mais disto em casa...

Um vinho cheio de fruta vermelha (Tinta Roriz) fresca e limpa, está lá e sabemos que está lá... embora não a veja a saltar como por exemplo noutras paragens mas não interessa, cativa, dá gozo, quero cheirar mais, evolução muito boa no copo, frescura que se gosta, elegante, na mesa alguém lhe chama de feminino, elas gostam e pedem mais. Algum floral, o perfume sensual com fundo mineral, veio o canteiro todo, a barrica enquadra-se muito bem... baunilha morna, cacau, café moído, coisas boas. Mais uma cheiradela antes de o levar à boca... e muito bom novamente com frescura, vigor, a fruta a sentir-se com bom comprimento e largura, frescura, tem taninos mas deixam a prova fluir... um o Ossobuco desfaz-se nessa harmonia com o vinho. É um vinho do Douro com perfil mais fora que dentro, ali ao lado outro Douro um Quinta de Roriz Reserva 2004, todo ele mais austero, mais químico, agreste mas de enorme potencial tal o desdobramento que foi mostrando no copo... um vinho para deixar estar, enquanto isso íamos sorrindo, falando e debulhando o resto do Meruge. 17 - 92 pts

Aneto 2008

Volto aos vinhos Aneto, desta vez com o seu colheita 2008, um tinto em que procurei o tal acompanhamento de fim de semana, a companhia para um prato um pouco mais requintado do que aqueles que se costumam confeccionar durante a semana atarefada. O preço ronda os 13€, um preço que se revela sempre complicado na hora da compra mas que o vinho em si nunca tem culpa, afinal de contas se custar menos de 10€ é uma bela compra mas se custar mais de 20€ já se compra porque estamos perante um suposto vinho de gama alta, os coitados que moram no meio destes dois patamares são quase sempre os que vivem no limbo das escolhas, naquele constante vai não vai que acaba por deixar as prateleiras cheias uma e outra vez. Lá está, neste caso se custasse mais de 20€ era alto para a qualidade, se o preço fosse de 8€ já se comprava mais facilmente e até em alguma quantidade. É complicado ser enófilo.

Ora este Aneto 2008 resulta de um lote de 30% Touriga Nacional; 30% Touriga Franca; 30% Tinta Roriz; 10% Tinto Cão com estágio posterior de um ano em barricas novas e usadas de carvalho francês. Engarrafado em Maio de 2009 com enologia de Francisco Montenegro.

Um vinho de fina complexidade, boa frescura com toque herbáceo e de bálsamo a juntarem-se num só, esteva, a fruta aparece aqui bem madura e cortada com sumo a escorrer ao lado de uma madeira da barrica que se mostra presente ao de leve mas a dar baunilha, chocolate preto e especiarias para o conjunto, de bela concentração aromática. Na boca tem entrada com fruta madura, mostra por outro lado um caminho seco, vegetal e ao mesmo tempo muito bem na sua espacialidade, um caminho amplo e profundo, amparado por fruta adocicada, a trincar com vontade, o toque de chocolate preto e alguma tosta da barrica acondiciona o restante conjunto. Tal como o Aneto branco é daqueles vinhos que se gosta de ter no copo, versátil com uma grande panóplia de pratos e que o tempo em garrafa não lhe vai fazer grande mossa. 16,5 - 91 pts
 
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