Copo de 3: julho 2013

30 julho 2013

Cardeira branco Reserva 2012

Este é o branco topo de gama da Herdade da Cardeira, sente-se aqui uma clara diferença para melhor face ao colheita 2011 já provado, até ver é nos tintos que este produtor melhor se apresenta, já lá irei. Neste caso nota-se o aconchego das barricas de carvalho Francês onde descansou durante 6 meses, muito mais harmonia de conjunto num perfil menos bruto onde o álcool parece estar domado e integrado. Na prova sente-se frescura e "leveza" da Arinto a combinar com o peso da fruta da Antão Vaz, tudo envolto em leve baunilha, num conjunto bastante harmonioso. Sem ser tão agreste como o mano mais novo, revela mais finesse no trato, parece que na passada das colheitas se vai conseguindo afinar o perfil pretendido. Gostei bem mais deste vinho que do anterior, apesar do preço indicado que ronda os 10€ não mostrar uma boa relação preço/satisfação. Na boca mostra-se mediano com sabor frutado a destacar um toque citrino (lima, limão) com boa frescura no final. 89 pts 

Cardeira branco 2011

A Herdade da Cardeira situada na Orada (Borba) foi adquirida em 2010 pelo casal Suiço, Erika e Thomas Meier. Os vinhos são elaborados em estreita parceria com a bem conhecida Quinta do Zambujeiro. Nos dois brancos produzidos domina por completo o clássico duo do Alentejo, Antão Vaz e Arinto. Neste caso o vinho mostra um aroma sem grande exuberância ou definição, com fruta fresca (citrinos, tropical) madura e suave toque floral, num conjunto onde o álcool ainda que de forma algo dissimulada espreita o suficiente para distrair e até incomodar. Na boca tem frescura, mediano de copo, repete-se o encontrado anteriormente no nariz, leve amargo no final de boca com toque novamente de álcool a querer estragar a festa tirando-lhe grande parte do interesse durante a prova e a nota final reflete isso mesmo. 84 pts

Lima Mayer Rosé 2011


Sediado perto de Portalegre, mais propriamente em Monforte, o produtor Lima Mayer produz este rosé elaborado à base de Aragonez e Syrah, com enologia a cargo de Rui Reguinga. Este 2011 vem na senda dos melhores exemplares que nascem em solo Alentejano, frutos vermelhos (morango, framboesa) a rodos com toque de boa evolução, leve doce de morango presente tudo inserido numa matriz fresca e com bom nervo. Todo ele franco e com boa intensidade de aromas, rama de tomate (vegetal) misturado com leve especiaria, harmonioso e fresco. Boca bastante agradável, boa presença com final seco e médio de persistência. 

O vinho com preço a rondar os 7.50€ em loja da especialidade tem todo o perfil necessário que o aponta como amigo da mesa, com um sentido gastronómico muito apurado. Neste caso umas saladas à base de camarão, salmão ou mesmo frango grelhado será uma boa escolha, caso opte por canapés variados ou mesmo a solo como desbloqueador de conversa num convívio de amigos, é também aposta ganha. 90 pts

29 julho 2013

Olho de Mocho Rosé 2012

O vinho rosado ou rosé em solo nacional tem sido alvo de uma normal evolução ao longo dos últimos anos, muitos perderam aquele toque adocicado que os marcou nos primeiros lançamentos para agora seguirem caminhos onde a fruta suculenta se mistura com uma boa dose de secura no final, depois é mais ou menos corpo e mais ou menos intensidade e concentração de aromas ou sabores. Não deixa de ser engraçado que enquanto se vai falando dos novos sempre por cá tivemos um grande exemplar sem que ninguém lhe ligue patavina, um bastardo filho de um Deus menor que teima aos olhos dos tugas enófilos passar forçosamente como vinho menor, é óbvio que sabem do que estou a falar. Para baralhar um pouco mais as coisas alguns exemplares até têm o desplante de evoluírem nobremente na garrafa... um atrevimento.

Neste caso o objecto de estudo é outro, é oriundo da Herdade do Rocim (Vidigueira), um rosado raçudo com aqueleto mais cheio e que por momentos se encosta a um tinto, direi que tem músculo a mais para rosado sem deixar de o ser. O seu sustento é a qualidade da fruta que leva no interior, fruta vermelha muito madura e a pingar qualidade, alia um leve toque de rama vegetal fresca com fundo a debitar ligeira secura. Não é rosado de subtilezas nem de falinhas mansas, num plano mais macho só lhe falta o bigode. Pelo sim pelo não optei por acompanhar com um bom naco de vitela no carvão, servido com todos os complementos necessários, desde as batatas, legumes na chapa até aos vários molhos. O vinho que anda na casa dos 8€ garrafa foi do agrado de todos, acompanhou bem os vários cortes de carne que ali foram sendo servidos, com mais ou menos gordura foi sendo sempre capaz porque aguenta o que outros da sua classe não são capazes por falta de calibre ou estrutura. 90 pts

28 julho 2013

Prunotto Barolo 2007

Por aqui continua-se a dar vela ao vento dos aromas e sabores, conhecer novos mundos que permitam dar boas novas aos que ficam deste lado. Viagens há em que nos reencontramos com determinados vinhos, exemplares que nessas mesmas ocasiões nunca nos deixaram defraudados. Este é daqueles casos onde uma e outra vez o prazer está assegurado, vem de Itália e é um Barolo (DOCG) que se mostra de uma forma diferente dos outros Barolo que conheço, aqui mais finesse e alguma prontidão, pelo menos dos que me rodopiaram no copo este é consistente nesse mesmo aspecto, outro ponto de salientar é a qualidade e a respectiva relação preço/satisfação que proporciona, independentemente de continuar a achar que são vinhos que precisam de uns bons dez anos de guarda. Aqui domina a casta Nebbiolo a 100% e o vinho é produzido pela casa Prunotto, encostou-se durante dois anos a madeira de carvalho francês de larga capacidade com posterior sesta de um ano em garrafa até ver a luz das prateleiras.  

Como já dito, o vinho mostra vontade de agradar mas não esconde a apetência para continuar mais algum tempo na garrafa, o que só lhe vai fazer bem. Ao saltar para o copo precisa de tempo, gosta do rodopio, ao início invoca o cheiro de alcatrão (químico) que dá lugar à fruta (bagas) negra e todo o conjunto de coisas boas (flores, tabaco seco, bálsamo, chocolate) que leva na alma ainda que colocadas em jogo muito calmamente, porque o novelo da complexidade está ainda algo apertado. Embrulhado numa estrutura coesa e fresca a mostrar notas de elegância e equilíbrio, indo a prova de boca ao encontro da prova de nariz. O final é prolongado com secura de taninos a notar-se de forma muito subtil. 93 pts

Osso Buco Milanese by Manuela Zangara

21 julho 2013

Marques de Riscal Reserva 1949


Corria o ano de 1949, a 4 de Abril era criada a Nato, inicia-se neste mesmo ano a produção industrial da pilha alcalina e é criada a República Popular da China. Na Rioja nascia este Reserva, filho da adega Marqués de Riscal fundada no ano de 1862, os seus primeiros vinhos foram pré-filoxéricos mas aquela que viria a ser considerada a primeira grande colheita apenas iria nascer no anos de 1936. No reboliço do tempo por volta de 1924 foram plantadas castas estrangeiras entre as quais se destaca a Cabernet Sauvignon, com os vinhos desse período a serem apelidados de Reserve Medoc. A partir de 1950 deu-se a mudança de perfil para o 100% Tempranillo, terminavam os Reserve Medoc, dando origem aos hoje chamados Riojas Clássicos.

Abrir um vinho destes é uma emoção, ao mesmo tempo uma enorme responsabilidade, olhos colocados na rolha, olhos colocados na garrafa, aquele momento em que se sustem a respiração na esperança que a rolha não se parta e o desejo que finalmente o vinho vertido no copo esteja com saúde e que se dê lugar à magia com todos os seus aromas e sabores a divagarem pela nossa memória.  Momentos antes tinha-se tentado a sorte com um Marqués de Riscal Reserva 1943, infelizmente saúde era coisa que o tempo já tinha levado, mas tudo se esqueceu com o saltar da rolha do 49, apesar do inicial aroma estar um pouco "preso" bastou rodopiar no copo para mostrar toda a sua classe e estampar um sorriso nos que estavam presentes.

Um vinho fino de bonita e limpa tonalidade ruby, nada concentrado, a invocar fruta ainda fresca e limpa com toque de cereja negra, depois o bouquet de classe de um vinho já nobremente evoluído com  toda a patine de terciários de luxo que o tempo faz surgir nos grandes vinhos, passa de figo, caixa de especiarias, ramo de cheiros já seco...


Na boca uma surpresa, frescura presente, delicado embora com elegância e estrutura que o ampara sem sinais de grande desgaste, passagem marcante pelo palato com sabores entre fruta, especiaria, couro e algum travo de cacau, licorice, alguma secura que desponta no final e lhe retira um final em grande. Mesmo assim não deixa de ser aquilo que é, um grande vinho com os seus 64 anos de idade. 96 pts

18 julho 2013

Maximin Grünhauser Abtsberg Riesling Kabinett 2008

O seguinte vinho é produzido por um dos grandes produtores da Alemanha, falo de Maximin Grünhauser, propriedade da família Von Schubert. Este produtor tem na sua posse em regime de monopólio uma das mais importantes colinas e respectivas parcelas no que a qualidade diz respeito em toda a Alemanha. No total são cerca de 34 ha de vinhedo, dividido por três parcelas ligadas entre elas. Os vinhos na idade medieval eram distribuídos do menor para o melhor tendo em conta a importância do clero local, pelo que a menor parcela (Bruderberg) de apenas 1 ha destinava-se aos Irmãos/frades, destinados aos Mestres/Senhores da Abadia local estavam os 19 ha de Herrenberg, finalizando com o melhor local que destinava os seus vinhos ao Abade da Abadia de St. Maximin nos 14 ha que dão pelo nome de Abtsberg.

Focando apenas na Herrenberg e Abtsberg o que as diferencia acima de tudo é o tipo de solo, enquanto Abtsberg mostra ardósia azul, Herrenberg é dominada pela ardósia vermelha dando origem a vinhos mais suaves,  fruta mais presente e redonda com acidez menos presente do que os vinhos mais austeros e minerais nascidos na parcela vizinha de nome Abtsberg.

O vinho que decidi abrir entre amigos foi um Abstberg Kabinett 2008, aberto meia hora antes de ir à mesa foi servido fresco e fez as delícias de todos os presentes. É muito complicado não se gostar de um vinho destes, é quase impossível ficar-se indiferente quanto à nossa frente temos um vinho onde o detalhe é levado ao extremo, onde tudo parece estar de forma precisa onde deveria estar, um rendilhado fino e cristalino, muito fresco com tudo muito bonito de se cheirar, a evolução é muito boa tanto em copo como em garrafa. Uma fruta sumarenta (alperce, ameixa branca) embora delicada com algum melado, sem amontoados nem esmagamentos inoportunos, a mineralidade que vinca a passagem pelo palato embora consigo ceder espaço de manobra a uma colherada de creme de limão bem fresco. Um conjunto pleno de sabor onde se sente alguma austeridade que pede tempo de garrafa, muito boa frescura num vinho todo ele encantador. 93 pts

17 julho 2013

Quinta do Ameal Loureiro 2012

O vinho sobre o qual agora escrevo é um dos que preenche ano após ano um espaço muito seu na minha garrafeira de consumo a médio/longo prazo. Sim leu longo prazo, porque a longevidade e apetência para um nobre envelhecimento em garrafa está mais que comprovado da parte deste vinho. Só quem anda distraído é que passa completamente ao lado destes fantásticos vinhos que mostram que o salto qualitativo no que a brancos Nacionais diz respeito tem sido enorme, direi que foi superior ao dos tintos. Felizmente Portugal não é só Touriga Nacional, temos castas nacionais muito mais alegres e festivas que a dita Touriga e basta olhar para a região do Vinho Verde para encontrar as castas mais animadas cá do rectângulo. Falo pois do Quinta do Ameal Loureiro 2012, um vinho dotado da rara habilidade de conquistar no imediato pelo seu aroma em novo ou com uns bons dez anos de garrafa. Todo ele brilha, todo ele encanta e convida a mais um copo, o preço por garrafa ronda os 8€.

A colheita 2012 mostra-se mágica, o vinho está cheio de frescura, muita vida pela frente com a fruta em grande plano, fresca, madura e muito bem delineada, perfume floral, toque de folha de louro verde, pimenta e mineralidade em fundo. A casta Loureiro em grande, boa concentração de aromas com fruta (citrinos) sumarenta bem presente e que não o deixam cair no esquecimento, tenso com tudo ainda muito fresco. Boca a condizer, com enorme acidez e boa secura, fruta a encher de sabor o palato embora o toque de folha de louro com rasto e mesmo austeridade mineral em fundo, repetindo aqui o que encontramos na prova de nariz. Um vinho que dá muito prazer, que servido bem fresco acompanha na perfeição desde marisco, saladas, peixes grelhados, cataplana, paella ou uma açorda de marisco com os coentros a fazerem maravilhas na ligação vinho/comida. 93 pts

Periquita Reserva 2010

Mais sério e apelativo que nunca, na realidade já mudou novamente de camisola, aparece com nova roupagem mas continua apelativo e a proporcionar prazer à descarada mesmo que sem pedir muito por isso ronda os 8€, um atrevimento total deste Reserva 2010. Alguns podem dizer que não apreciam tamanho atrevimento, que não gostam de tanto movimento no copo, que não apreciam este tipo de facilitismos que o vinho nos proporciona, mas a verdade é que tudo aquilo que mostra está no ponto certo e enquanto o carvão crepitava na grelha, a carne ia sendo servida a bom ritmo. 

No seu aroma moderno, coisa boa de cheirar com frescura, fruta redonda com toque de bálsamo, tarte de chocolate e amoras com aquele toque de madeira nova presente a embrulhar tudo. Tem harmonia que remete para a gulodice, no miolo o toque herbáceo comanda, especiaria doce com canela e bombom de cereja no final. Boca com frescura, fruta que rebenta de sabor, saboroso com bom corpo a mostrar presença sumarenta no palato, final longo com alguma secura. Um vinho para gente que gosta de festa, que gosta de se divertir e beber uns copos enquanto conversa e a carne vai saindo da grelha, para ser bebido a acompanhar o churrasco e uma generosa quantidade de molhos à escolha. 90 pts

15 julho 2013

Quinta dos Roques Encruzado 2012

Foi no passado dia 10 de Julho que se realizou mais uma prova anual do projecto Independent Winegrowers’ Association, composto por Casa de Cello, Domingos Alves de Sousa, Luís Pato, Quinta do Ameal e Quinta dos Roques. O vinho que agora falo é proveniente da Quinta dos Roques e afirma-se como um dos grandes brancos produzidos em Portugal, com um preço a rondar os 12€. Em prova estavam também da mesma colheita o Quinta dos Roques Verdelho e o Quinta dos Roques Malvasia Fina que irei abordar noutra altura.

No que diz respeito ao Encruzado dos Roques, é já um velho conhecido e direi que está melhor que nunca, recordo com alegria outras colheitas fantásticas mas este 2012 fez-me no imediato da prova lançar um sorriso, a qualidade que andava  teimosamente algo envergonhada nas últimas colheitas resolveu aqui fazer uma grande festa. O vinho está de se lamber o copo, um belíssimo Encruzado com boa intensidade e limpeza nos aromas, tudo no sítio, alia as notas e acidez cítrica com o toque ríspido do meio fundo mineral, pelo meio a barrica confere aquele arredondamento suave e que lhe fica tão bem. Prova de boca a condizer com o já comentado, fresco, envolvente e a espalhar magia pelo palato, final que mistura fruta com mineralidade. É daqueles vinhos que apetece ter, beber e guardar, porque como se mostra dá todos os sinais que a sua evolução promete ser bastante positiva. 93 pts

11 julho 2013

Quinta de SanJoanne 2012


A região dos Vinhos Verdes tem nas suas fileiras alguns dos melhores brancos produzidos em Portugal, brancos fora de modas que mostram com garbo a sua alma lusitana. Arrisco a dizer que mora ali como em mais nenhuma outra região de Portugal um enorme filão de autênticos pontas de lança que deviam (se já o fazem ainda bem) servir como chamariz ao consumidor estrangeiro. São na sua maioria vinhos genuínos e de inegável qualidade, vinhos que valem pela sua identidade muito própria, onde as castas autóctones brilham ao mais alto nível, vinhos cuja longevidade está mais que comprovada, cujo preço os torna mais acessíveis que outros grandes vinhos de outras partes do mundo, temos aqui um tesouro que tantas vezes deixamos de lado sem lhe dar o devido valor.

Exemplo de tudo o que escrevo são os Quinta de SanJoanne (Casa de Cello), neste caso abordo o vinho de entrada de gama, que ostenta no rótulo Terroir Mineral. A qualidade dos brancos disparou na última década, a cada colheita que passa os vinhos mostram-se melhores e 2012 teve o toque de Midas. O preço deste vinho ronda os 5€, como já disse noutra vez é um dos que saudavelmente se repetem aqui em casa. Surge nesta nova colheita mais sério que nunca, mineralidade com muita fruta sumarenta (citrinos) complementada por folha de louro ainda verde, muito coeso e até com algum ar de austeridade. Transporta-se tudo isto para a prova de boca, entra fresco com o sumo da fruta, toranja, largo no palato e com uma bela profundidade mineral, o fundo mostra secura, o vinho está cheio de vida e pleno de encanto. Beba-se agora com umas ostras na chapa e uma pinga de limão ou então que se guarde porque a evolução em garrafa está mais que garantida. 92 pts

10 julho 2013

Monte da Ravasqueira Reserva branco 2012

Continuo a gostar bastante dos brancos 2012 que me vão caindo no copo, uma e outra vez a delicadeza de aromas e a frescura saltam para fora do copo, este Reserva do Monte da Ravasqueira (Arraiolos) é novamente exemplo do que falo. Repare-se que o vinho "apenas" mostra 12,5% Vol. e está envolvido num turbilhão de frescura e qualidade. Neste caso o Reserva ganha claramente em frescura e afinação ao Monte da Ravasqueira branco 2012 o que se vai reflectir no preço final praticado a rondar os 12€.

O vinho destaca-se pela frescura e pela elegância que consegue transmitir durante a prova, muito cheiroso de fina complexidade, limpo com a fruta (alperce, citrinos) em plano de destaque acompanhada de travo mineral. A barrica onde apenas o Viognier passeou confere-lhe algum arredondamento, aquela harmonia e serenidade necessária e que aqui torna o vinho mais sério e menos brincalhão. Muito bem balanceado entre as suas componentes, com a prova de boca a ir ao encontro do já aqui descrito, entrada com uma boa frescura, fruta bem presente a preencher o palato que se complementa com recortes de mineralidade, sentindo-se pelo meio algum arredondamento derivado da battonage e da passagem por madeira. Termina com alguma secura e boa persistência. 92 pts

05 julho 2013

Quinta da Bica branco 2011

A corvina de bom porte acabou de sair do forno, assada com as respectivas batatas regadas com azeite, ficaram com aquele toque meio caramelizado que a cebola ajudou a dar... como eu gosto. Na mesa vai-se elogiando o branco, um Quinta da Bica (Dão), vinho que resulta do casamento Encruzado e Verdelho, sem passagem por madeira, poucas garrafas a rondar as 2.500 unidades com preço a rondar os 5€. Enquanto escrevo o peixe está já na mesa, carne branca delicada e suculenta, está no ponto e o vinho puxa pelo prato com um charme notável.

Gosto de brancos assim, aqui não encontro nem monotonia nem coisa semelhante a outros lados, não está passado a ferro de engomar e os aromas que debita são mais do que suficientes para captar a atenção do mais distraído. Nariz perfumado, encerra uma delicada complexidade que começa em flores brancas, passa por fruta (nectarina, citrino) madura e termina com toque de alecrim a perfumar. Pelo meio colherada de geleia que parece conferir-lhe sensação de algum volume. Na boca entra com fruta e flores no sentido do nariz, arredonda ligeiramente a meio palato onde não disfarça alguma untuosidade (a dar volume), final seco e muito longo com rasto mineral. 

A solo mostra-se raçudo com acidez a marcar bem o final de boca tornando-se bem persistente e mineral. É um vinho feito para a mesa, não sendo um vinho pesado torna-se delicado o suficiente para se conseguir ligar com o peixe enquanto ao mesmo tempo toda a sua frescura contrabalança com a batata e a cebola naquele toque caramelizado mais envolvente. Alguém à mesa perguntou se podia perfumar as batatas com algum alecrim para ligar com o que tinha encontrado enquanto cheirava o vinho, feita a vontade é hora de ir comer. 91 pts

Domingos Soares Franco Colecçao Privada Grüner Veltliner, Rabigato e Viognier 2012

Com a calorina instalada vem a época dos vinhos mais frescos e ligeiros, pede-se baixa graduação com os aromas primários aos saltos a fazerem as nossas delícias. O palato pede frescura, limpeza de aromas, vinhos que sem nos bater muito nos deixem refrescados nem que seja por um mero instante. Neste caso abre-se a garrafa e vai à mesa, os olhos esbugalhados fitam o rótulo uma, duas, três, muitas vezes, aqueles nomes são desconhecidos, mora por ali algo de estranho. 

A culpa é do rocambolesco lote que compõe este vinho da Colecção Privada Domingos Soares Franco (José Maria da Fonseca). O vinho foi bebido com agrado embora não tenha deixado vontade de repetir, mostra-se tão delicado de aromas que quase parece uma fina rede de cristal, apertado e condensado com tudo bem juntinho, na verdade o vinho parece não ter ombros, manda a fruta (citrinos) com toque vegetal em fundo alargado ao mineral. Boca com boa acidez, algo vago e parece ter ligeira quebra a meio palato, de resto a mostrar-se como no nariz, no final é seco e de boa persistência. Pelo lote não lhe vi grande factor diferenciação e neste caso pelos quase 10€ que pedem por ele há alternativas muito superios no que a qualidade diz respeito. 88 pts

01 julho 2013

San Román 2005

O San Román (Bodegas Maurodos) faz parte do lote dos meus favoritos, é um dos vinhos que me têm acompanhado em alguns dos bons momentos da vida. Conheci-o ainda com o seu primeiro rótulo, uma altura em que andava na moda o Priorato e começava a emergir Toro no mapa com grandes nomes, hoje já confirmações. Mais tarde tive a oportunidade de visitar e perder-me na adega em muito boa companhia. Os vinhos desde sempre conquistaram pelo detalhe e cuidado com que se apresentam, a normal afinação do perfil veio com as colheitas e hoje está mais que reconhecida a sua qualidade, aliado a isso mora neles uma força bruta, rude e agreste que apenas o tempo consegue dominar, é preciso percorrer aquelas vinhas para perceber o que falo. É a frescura e limpeza da fruta negra que escorre pelo copo, aquela harmonia com excelente barrica que não fere nem o nariz nem a boca, taninos educados para o nobre envelhecimento.

Um vinho escuro, aroma carregado de fruta densa, madura e bem fresca, delineada o suficiente para se poder quase sentir peça a peça, é isto que faz a diferença entre grandes vinhos e os restantes. Por vezes chamam grande vinho a algo que não passa de um amontado de "coisas" onde se vasculha muitas vezes à procura do que ali não existe. Neste caso tudo parece estar bem delineado, fresco e fácil de descobrir, a complexidade essa sim é de grande classe, honras sejam feitas ao enólogo e mestre Mariano Garcia que tem o dom de facilitar aquilo que para outros é complicado alcançar. Ao conjunto que já de si é harmonioso e com muita vida pela frente, tem vigor, mostra-se uma barrica sabiamente trabalhada que se integra melhor a cada ano, no início marca ligeiramente a prova mas vinhos assim é para se beber com tempo e idade. Provem um Mauro VS e entendem aquilo que quero dizer. Pelo meio um toque floral, vai alargando no copo, notas de baunilha, bombom de cereja, mineralidade em fundo. O vinho tem um preço quase sempre a rondar os 25€ e certamente não poderia passar sem dizer que é compra obrigatória. 94 pts
 
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