Copo de 3: abril 2011

29 abril 2011

Um Homem Bom...

David Lopes Ramos
(1948 - 2011)
Partiu o Senhor Gastronomia, como uma vez lhe chamei quando tive o privilégio de o conhecer pessoalmente em Estremoz num memorável almoço, de imediato corrigido para David, "chama-me David" disse com um sorriso. Sempre o vi como um Grande Homem, um Homem Bom... que eu tanto admirava, pela simpatia, pela humildade, pela maneira sublime como transmitia conhecimento na sua conversa e na sua escrita. Que descanse em paz.

Os meus sentimentos à família e amigos.

19 abril 2011

Grandes Quintas 2007


Tem fervilhado bastante o caldeirão dos caldos vínicos Portugueses, se antes fora no Alentejo que as novidades não paravam de surgir eis que o Douro lhe tomou a vez e tem lançado para o mercado novos produtores com respectivas marcas. Boas notícias para os consumidores que vêm por um lado o leque da oferta aumentar como também a uma maior competitividade nos preços a praticar pelos respectivos vinhos. Do leque das novidades destaco a Casa de Arrochella, com os vinhos Grandes Quintas, que faz parte da nova geração de produtores de vinhos DOC Douro e azeites DOP Trás-os-Montes. Descendente e Sucessor de Nicolau de Arrochella Moraes e Castro Pimentel, 1.º Conde de Arrochella, Bernardo de Arrochella Alegria é o grande impulsionador deste projecto que possui mais de 600ha no Douro Superior, com mais de 115ha de vinhas distribuídas por 5 quintas ( Peça, Cerval, Trigueiras, Nabo, Vale d´Arcos), e que procurou unir as ligações e a história dos importantes Vínculos da Casa de Arrochella na região de Trás-os-Montes e Alto Douro à sua paixão e entrega ao Douro, assumindo assim este projecto como um desafio também cultural no qual a Casa de Arrochella pretende valorizar a excelência e as potencialidades únicas da sua região duriense, como o seu legado para as futuras gerações. É, na sub-região do Douro Superior, entre Vila Nova de Foz Côa, Torre de Moncorvo e Vila Flor, nas margens dos Rios Douro e Tua, que todo o projecto de produção de vinhos e azeites se desenvolve. O seu primeiro vinho é o Grandes Quintas Colheita 2007, um vinho que provei no seu lançamento para o mercado mas porque o achei a precisar de tempo em garrafa, voltei a ele novamente neste momento, e o tempo que passou apenas lhe fez bem. 
O colheita é um vinho feito a partir de uvas da Quinta do Cerval, vinha nova com 4 anos, as castas utilizadas para este lote foram a Touriga Nacional (60%) e o Alicante Bouchet (40%), e do Vale de Canivens, vinha com cerca de 22 anos, entraram para o lote as castas Tinta Amarela, Tinta Roriz e Touriga Nacional, em que 60% do lote estagiou 4 meses em barricas de carvalho francês, com enologia a cargo de Luís Soares Duarte.

Nariz com boa expressão e mediana intensidade, bastante fruta vermelha ao lado de componente vegetal e flores da Nacional menos evidentes e mais discretas, num perfil pronto a beber, a barrica aqui ampara muito bem com toques de baunilha, cacau, coisas que o tornam arredondado e guloso, mas com o tal travo vegetal em fundo colado a alguma especiaria e frescura. Na boca um pouco mais agreste, frescura com fruta vermelha (cereja com caroço que se sente na boca, secura com toques de baunilha e a madeira a amparar o conjunto, conferindo bom balanço ao dito. Não dificulta a prova em nenhum momento, se bem que decantado com alguma antecedência se mostre melhor na altura de o bebermos. Passagem de boca firme, com mediana largura e boa persistência final, a mostrar-se bom para acompanhar comida temperada, num todo que com um preço atractivo que ronda os 8€ faz dele uma aposta séria para a mesa do fim de semana. Este casou lindamente com borrego e batatinha assados no forno e seus temperos. 89 pts

Aneto branco 2009

Quanto custa nos dias de hoje um vinho branco acima da média, que se distinga e que transpire identidade e qualidade ? Que seja ao mesmo tempo uma referência mesmo que o seu historial enquanto marca apenas tenha surgido em 2002, produtor Sobredos, com o exemplar tinto e em 2007 com o seu primeiro branco da marca Aneto, ali em pleno coração do Douro, naqueles 7ha de vinha adulta em Sobradais e Malvêdos, na freguesia de Castedo do Douro, Concelho de Alijó com parcelas distintas e separadas por casta. As uvas brancas provêm das freguesia de Barrô e Penajóia, zona de transição para a regão dos vinhos verdes, com solos graníticos, clima fresco e Atlântico. A escolha recaiu em 25% Gouveio; 25% Malvasia Fina; 25% Rabigato e 25% Viosinho, 80% fermentou em inox e 20% do lote fermentou em barricas novas de carvalho francês com posterior agitação das borras, semanalmente. Engarrafado em Fevereiro de 2010, saiu com 13% Vol. e custa à volta dos 12€ a garrafa, com enologia a cargo de Franscisco Montenegro.
Um pouco abaixo daquilo que nos oferece o Aneto Reserva branco, este Aneto atinge o tal patamar de qualidade cujo preço é quase sempre o mesmo, a rondar os 12€, o que não sendo barato o empurra para aquele consumo para momentos um pouco mais especiais, talvez seja o tal vinho de fim de semana para abrir entre amigos enquanto nos esquecemos das marcas do dia a dia no fundo da garrafeira.

Aqui encontramos um vinho de perfil seco, mineral com acidez limonada, nariz com a fruta em destaque, limpa e cristalina, sente-se o toque da barrica (baunilha) lá mesmo no fundo, mas todo ele é frescura, com nervo, citrinos, pêra, melão, pimenta branca, tudo ele envolto em muita frescura. Na boca com entrada mineral e citrina, volta a acidez que lhe marca a passada, algum ainda que leve arredondamento no meio do palato, depois volta a si mesmo e torna-se novamente firme e hirto que nem uma barra de ferro, fresco, mineral, seco. Pelo meio de tudo isto há um toque de vegetal seco, alguma tisana mas leve, um limão e uma pêra, tudo suave que a mineralidade é profunda. Um belo vinho que acompanhou de forma magnífica um arroz de berbigão, a beber nos dois primeiros anos de vida para podermos usufruir de toda esta envolvente de um belo branco do Douro... e de Portugal. 16 - 90 pts

18 abril 2011

Arrayan Petit Verdot 2005

Se há coisa que enjoa é o cair sistematicamente na asneira de tentar fazer-se em Portugal aquilo que não se consegue fazer ou por natureza ou porque na adega tudo não passou de um alegre experimento enológico que o papalvo do consumidor bebe sem reclamar... grande parte nem sabe o que bebe, acontece porque lhe dizem que é muito bom quando não é. Neste punhado de vinhos mutantes pejados de distorções da realidade natural das coisas, encontramos essencialmente os Viognier, Sauvignon Blanc ou mesmo Petit Verdot made in Portugal, com algumas raras excepções, muito raras mesmo. Dizer que se fazem grandes vinhos extreme destas castas em Portugal, é o mesmo que dizer que o Sócrates fez um belíssimo trabalho enquanto Primeiro Ministro. Dito isto passo a falar de um varietal de uma casta que muito gosto a solo, Petit Verdot, e desta vez vem ali da zona de Toledo. O produtor já falei dele anteriormente, e o vinho em si nada tem que ver com os exemplares feitos em Portugal, talvez aquele que mais gostei até tenha sido o Dona Maria Petit Verdot e mesmo o que mais se aproxima do nível deste Arrayan. Neste caso tivemos direito a 12 meses em carvalho francês mais 12 meses em garrafa com preço a rondar os 15€, direi que mais que justo e de muito boa RPQ.

E porque gosto eu mais desde Arrayan Petit Verdot do que dos Petit Verdot feitos em Portugal ? A resposta torna-se simples quando neste vinho se sente acima de tudo a fruta fresca e uma intensidade com pureza associada, enjoado que estou de vinhos pesados e com excesso de frutose em destaque. E nem mesmo no meio do calor e da secura daquelas paragens o vinho se perde, ainda bem, nariz amplo, fresco e perfumado, com a fruta madura sem excessos, é madura e ponto, suculenta mas fresca com toque ao de leve de doçura, com fruta vermelha em destaque na ameixa, cereja e amora. Cativante com barrica no ponto harmonioso, toque especiaria com fumados da barrica ladeados pelos bálsamos vegetais e o toque de chá verde, aquele vegetal seco, tabaco, caruma, o tal toque verdot... Na boca entra de forma fresca e frutada, esmaga-se a fruta e entramos com essa sensação no restante conjunto, tudo isto com uma boa amplitude e intensidade, direi bastante sólido no que tem a dizer apesar da gentileza como o mostra, levemente arredondado nos cantos com ar fresco, cacau, especiaria e novamente a pimenta verde, o toque de vegetal em bálsamo, a caruma do pinheiro e uns taninos a dar secura... num final longo e persistente. A harmonia entre nariz e boca é muito boa, o vinho bebe-se sem dar conta e no final de uma refeição será certamente esta uma das garrafas que está no fim.  16,5 - 91 pts

Arrayan Premium 2004


Há um produtor perto de Toledo que faz as minhas delícias nos vinhos que produz, para mim tem alguns dos varietais que se tornaram autênticas referências em Espanha, falo do Domínio de Valdepusa do Marquês de Griñon, com o seu Syrah, o Cabernet Sauvignon e o fantástico Petit Verdot. Faz algum tempo que me contaram que haveria um novo produtor ali perto que se estava a começar a destacar pela qualidade dos seus vinhos, foi desta maneira que numa das minhas caminhadas pelo que de bom vai despontando lá fora, alguns projectos "recentes" vão-me chamando a atenção e um desses raios de sol que me bateu no copo foi o das Bodegas Arrayán na finca "La Verdosa" com os seus 600 ha em que 23 são de vinha, en Santa Cruz del Retamar, Toledo. Este projecto nasce com o empresário José Maria Entrecanales e Maria Marsans na Finca "La Verdosa", convidaram o australiano Richard Smart e em 1999 começou-se com plantação das variedades que habitam nos vinhos desta casa, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Petit Verdot. A primeira colheita seria comercializada no final de 2003 e até aos dias de hoje têm sabido impor-se de forma gradual com uma gama bastante consistente. O Rosado já aqui tinha sido provado na colheita de 200. , os varietais irei apresentar proximamente enquanto agora me foco no que era até pouco tempo o topo de gama desta casa, aqui na colheita de 2004, o Arrayán Premium.
O Premium é um lote das 4 castas tintas reinantes, aqui  com 55% Syrah, 20% Merlot, 15% Cabernet Sauvignon e 10 % Petit Verdot, com um estágio de 15 meses em barricas de carvalho francês mais 18 meses em garrafa antes de sair para o mercado, num preço que ronda os 30€.

Este Premium pertence à D.O. de Méntrida, tem uma bela intensidade no aroma com bastante fruta negra madura com toque doce, quase a babar-se mas com frescura suficiente em todo o conjunto, a complexidade sente-se e recomenda-se tal o prazer que nos dá andar a rodar e rodar o vinho dentro do copo, mostrando com tempo no copo toques de esteva e de bálsamo vegetal seguidos de especiarias, toque de compota pastosa e doce, algum lácteo que não incomoda mas ajuda à complexidade, depois a completar o ramalhete a barrica mostra-se em grande integração e apenas lhe dá notas de algum tabaco, cacau e tosta suave. Um vinho de puro prazer no nariz, em que os pilares são uma fruta fresca, limpa e gulosa mas ao mesmo tempo uma secura vegetal, tudo num conjunto que não se torna pesado em qualquer momento, mesmo os seus 14% mostram boa integração, sociáveis e prestáveis, vinho largo e profundo de aromas com uma boa percepção dos mesmos. Na boca temos frescura e ao mesmo tempo aquela secura vegetal, quase a fazer lembrar um chá preto, com especiaria num todo que se mostra harmonioso mas com garra e bem frutado. Muita cereja, bálsamo e tudo no reencontro do encontrado quando se cheirou... tem aquele toque de licor de ginja, arredondado o suficiente, mas com taninos a pedirem tempo, vai tão bem agora como daqui a um par de anos. Esta é a minha segunda garrafa, a primeira tinha sido aberta num enorme momento de enofília com dois grandes amigos, este por sua vez foi aberto num momento de celebração de uma união... foi um excelente Premium para acompanhar uns bifes de veado com vinagreta de frutos do bosque e batata sauté. 

Um vinho de puro gozo na mesa, em plena forma e um pouco mais domesticado na boca do que no primeiro contacto que tive com ele faz algum tempo. Há aqui claramente uma diferença, uma vontade de ter algo diferente ainda que vocacionado para o consumidor moderno, talvez mesmo um misto em que se mistura alguma rusticidade com a nova maneira de ser dos vinhos dos tempos modernos. O resultado final é amplamente motivador, vinho virado para a partilha, para a mesa e também para a guarda... 17 - 93 pts

11 abril 2011

O novo copo de prova da Schott Zwiesel


A SCHOTT ZWIESEL apresentou recentemente um novo copo para provas, o Arômes (Aromas), que poderá vir a ser o substituto do já conhecido Din Sensus. 
Este copo foi desenvolvido em cooperação com o German Wine and Sommeliers School e um grupo de sommeliers  franceses, desenho sóbrio combina uma harmonia perfeita de componentes. Todo o seu desenho foi pensado em transformar este copo na derradeira arma de prova de vinhos. Quem sabe não o vá encontrar num próximo evento, irei fazer um teste comparativo entre os dois modelos em breve. Quanto ao preço, penso que não foge muito ao preço praticado no Sensus.

10 abril 2011

Terra a Terra Reserva

Apetece-me pegar em dois vinhos abaixo dos 10€ para beber ao almoço, um branco e um tinto, coisas que desconheça e que esperando eu me consigam trazer algo de novo, apelativo e essencialmente que os consiga beber de fio a pavio com um gozo danado. Com o tufão Pedro Dinis aqui em casa, as caixas de vinho foram colocadas a um canto, o vinho foi armazenado e perdi ligeiramente o rasto a alguns vinhos que já me andavam a piscar o olho faz algum tempo, nada de grave pois neste caso até agradeceram a soneca que lhes proporcionei. Dito e feito, rolhas fora e servidos a temperatura correcta, ambos feitos pela empresa duriense Quanta Terra, os Terra a Terra Reserva em versão branco da colheita 2009 e tinto de 2008.
Foram ambos vertidos em seu respectivo decanter, aviso à navegação que há para vinho branco e que por ventura o vinho até agradece, neste caso deu uma ajuda e entrou no copo já muito pronto ao diálogo, tal como o tinto. Dois vinhos directos para o Top10 abaixo de 10 euros, a mostrarem o vinco do Douro mas com uma incrível facilidade de prova, são daqueles que se vendem às caixas até porque pelo preço que ronda os 8€ são vinhos para beber sem pensar muito... obviamente que há vinhos mais sérios, mas não temos de andar sempre que provamos vinhos de fato e gravata. 


Terra a Terra Reserva branco 2009
Produzido a partir das castas Rabigato, Códega do Larinho, Gouveio e Viosinho, este vinho foi fermentado em barrica, saindo com 13,5% Vol. Aroma de boa intensidade, mostra-se com frescura, cativante, leve geleia de fruta, citrinos, tropical, polpa branca, fundo frio e mineral. Parece ter um toque mais arredondado a meio com uma leve baunilha. Boca com frescura, fruta presente com boa largura e persistência, barrica com acidez em boa sintonia, macio e arredondado a meio palato, termina com mineralidade e um rasgo de pêra verde. Um vinho que toda a gente gostou, um vinho de amigos, um vinho para que se converse de outras coisas... gosto de vinhos assim que nos deixam distrair com outros assuntos, mas ao mesmo tempo vão animando também eles a conversa. 16 - 90 pts

Terra a Terra Reserva tinto 2007, feito a partir das castas Touriga Nacional, Tinta Barroca, Touriga Franca e Sousão, estagiou 12 meses em barricas de carvalho francês de segundo ano. Fresco no aroma equilibrado e com fruta sumarenta e gulosa, compota fresca, barrica bem integrada com notas de cacau, baunilha, complexidade mediana com travo vegetal a meio. Envolvente com a barrica e a gulodice da fruta em travo vegetal metido pelo meio, na boca bom de estrutura, muito afinado, especiarias, arredondado e com boa concentração, a dar vontade de dar uma trincadela na fruta rechonchuda. O que aqui encontramos já não é novidade, lembra e muito os outros vinhos deste produtor, ainda guardo na memória o fantástico Quanta Terra 1999. Mas aqui a complexidade e a conversa é bem menos intensa e complexa, não deixando em algum momento de ser um belo vinho. 16 - 90 pts

08 abril 2011

Quinta do Couquinho 2006


A Quinta do Couquinho situa-se no Douro Superior, nome associado aos Lavradores de Feitoria no ano de 1999 com um vinho do mesmo nome que na altura tanto prazer me deu a beber. Nos dois anos seguintes as uvas foram direccionadas para o nascimento de uma nova marca e que para ela contribuíram durante duas colheitas, o Grande Escolha 2000 e 2001, depois os donos da Quinta do Couquinho entenderam que deveriam seguir os seus próprios passos com marca própria. Em 2004 tinham já a sua adega própria, contando com 12 ha de vinha, a enologia fica a cargo do enólogo João Brito e Cunha, assessorado por Vitor Rabaçal.

Assim de memória conto pelos dedos os vinhos de 2006 que gostei, a culpa foi de um ano vitícola em que elevadas temperaturas se fizeram sentir principalmente durante a maturação. Este 2006 cujo lote é composto por Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca, teve um estágio efecturado em barricas novas e usadas de carvalho francês de 225 litros durante 12 meses, terminando com 14,5% Vol.
O patamar deste vinho situa-se muito bem nivelado, tanto a nível de qualidade como de preço praticado, estes são os valores sólidos e consistentes, vinhos que não nos deixam pendurados antes pelo contrário, no final da refeição quando já não resta nem mais uma gota, pode-se dizer com satisfação... dever cumprido.

No aroma mostrou-se moderado na intensidade, fruta fresca com cerejas e ameixas levemente compotada e com toque morno a meio, algum cacau e pimenta preta, aqui a registar-se o toque quente da maturação da uva, com esteva em flor no segundo plano em que mostra boa frescura. Afinado, harmonioso com a madeira muito bem integrada com leve fumado em fundo, num Douro que se faz sentir embora de perfil mais moderno, mais imediato mas muito apetecível. Na boca entra com muita fruta, algo doce e arredondado, taninos finos com toque vegetal em boa espacialidade e final de boca em boa persistência.

Resulta portanto uma prova de muito bom nível, o vinho tem uma grande harmonia entre a prova de nariz e a prova de boca, algo arredondado e harmonioso, com boa evolução no copo ainda que sem grandes entusiasmos. O preço ronda os 12€ o que não fazendo dele um vinho barato confere com o habitual para este patamar de qualidade. 90 pts

06 abril 2011

Três Bagos 2007

Este não será propriamente um vinho para o dia a dia, até porque o preço já não lhe permite que assim seja... 6.50€ será um preço alto para um consumo diário, ainda por mais em tempos de crise, e deste produtor para esse propósito já temos o Lavradores de Feitoria tinto. Este é o vinho que vem a seguir, sobe um degrau na escala da qualidade e mostra-nos argumentos um pouco mais consistentes, um pouco mais sério e prazenteiro.
O lote é composto por Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca, depois do frio inox uma parte do lote teve direito a estagiar em barricas de carvalho francês, saindo com 13% Vol.

Em relação ao Lavradores de Feitoria tinto provado anteriormente nota-se uma notável melhoria, no nariz mais concentração de aromas, mais expressão, fruta vermelha e preta com ligeira compota num todo que se sente aconchegado ao de leve pela passagem que teve pela madeira, ligeiro cacau em pó, especiado, tudo bem mas algo contido. Na boca tem leve secura no palato com toque vegetal, fruta de caroço com ameixa e cereja pelo meio, fresco na passagem de boca com passagem prazenteira em final de boa persistência. Todo ele muito pronto a beber em conjunto de belo efeito.

Dito isto é um daqueles vinhos que não são peixe nem carne, com o preço que custa ficamos entre o vai não vai e na grande parte das vezes acaba mesmo por não ir. Não é mau vinho não senhor, mas há tanta marca no mercado que acaba por ficar esbatido no meio de tantos outros, alguns até mais baratos. Consegue ter uma notável consistência ano após ano, ou colheita após colheita, não vira a cara a um ou dois anos perdido na garrafeira... e em caso de não se saber o que escolher na carta do Restaurante, este é dos que cumprem e não costumam ser caros, por isso a minha aposta. 15 - 88 pts

03 abril 2011

Parados num atoleiro de copo na mão...

Não sei se é da agonizante crise que se instalou em Portugal, mas vejo esta "cousa" dos vinhos como cada vez mais um enorme atoleiro onde todos nós andamos de copo na mão sempre à espera que nos caia algum néctar precioso lá dentro mas que depois tudo não passa do mesmo sítio. Os movimentos ou tentativas dos mesmos que se vão fazendo para a coisa mudar um pouco que seja, são quase nulas... o consumidor, esse coitado, vive num marasmo de pobreza enófila a que juntamos a falta de iniciativas que o ajudem a sair desse estado tão precário em que parece gostar viver. No meio onde tudo parece estar mais inerte, estão aqueles que pensam tudo estar à sua volta e olham sobre todos os outros com um olhar paternal, cuidam do rebanho enófilo, lutam pelos seus gostos, lutam para que tenham direitos que vingaram faz muitos anos noutros lados... com as boas novas do vinho a copo, digno tratamento dos vinhos com copos a rigor e preços sensatos praticados nos restaurantes. Continuam a falar mas sem esforço algum para também eles saírem do seu atoleiro no qual estão instalados faz umas dezenas de anos, confortavelmente instalados tudo o que fazem é apenas mais e mais... do mesmo.
Limpando da vista a sujidade que por aí anda a verdade é que não passamos da cepa torta, o mundo do vinho em Portugal parece não caminhar para lado algum, ainda que por momentos as coisas parecem querer mudar... não mudam o suficiente, porque são gotas de água num imenso atoleiro que não resolve nada. As revistas que temos parecem estagnadas e resignadas ao que fazem, grande parte delas sem qualquer interesse, muito pouco se mostrou em termos de evolução, continua num mesmo formato de provas a repetirem-se anos atrás de anos... inovação é coisa que não se encontra por ali, nem mesmo no formato do seu site onde até hoje foram incapazes de colocar a revista em formato pdf gratuito passados uns meses após o seu lançamento, depois torna-se muito previsível saber as provas temáticas que são colocadas mensalmente e também dessa maneira os vinhos que nelas vão aparecer e os lugares que conquistam, salvo algo que corra mal na adega os lugares cimeiros acabam sempre para ir parar aos mesmos, dá a sensação que trabalham para uma parte do sector e não para todos os enófilos que a compram... e eu a pensar que ironicamente os blogs é que se tornavam chatos com o tempo. É aqui que a blogosfera nacional se soube mostrar como alternativa, mais não seja porque se instalou como uma alternativa ao chato papel do dobra deita fora, a tentativa do mesmo se instalar no modo digital tem corrido mal em muitos lados... os fóruns em Portugal são enfastiantes, entre o lameiro e a terra queimada onde impera tudo menos a vontade de falar do que realmente interessa, reina o corporativismo e normalmente quando o tema interessa ou incomoda de imediato surgem parasitas virtuais de nomes duvidosos com duas cabeças e gente que tudo faz para romper uma possível harmonia, é talvez este o motivo principal pelo qual um fórum de vinho em Portugal estará sempre inquinado e ferido de morte. Quem será o produtor de vinhos ou o chefe de cozinha que se vai querer sujeitar a ser enxovalhado em pleno fórum por um qualquer "anónimo" que actua com a autorização dos próprios responsáveis pelo dito espaço ? A pouca mobilização que esses mesmos espaços conseguem junto dos seus participantes é também aqui em Portugal um grande motivo de celebração por parte dos seus responsáveis...

O culminar de tudo isto são os eventos Made in Portugal que deixaram de lado a veia da paixão pelo mundo do vinho e se transformaram em puro negócio, eventos onde cada vez mais se tenta bater o recorde de visitantes a todo o custo, aquilo que se queria como um evento torna-se em poucas horas numa enorme Feira... gente a falar alto, as bancas com petiscos, o cheiro a fumeiro no ar, o copo de vinho na mão e a sandocha na outra, encontrões e gente aos magotes... é esta a imagem de um evento nacional de vinhos, mesmo que no final a organização venha radiante afirmar que o visitante cada vez mais sabe o que quer e que já sabe reconhecer o polyester do puro algodão.

Os mesmos eventos que batem recordes de assistências anos após ano, são os mesmos que deviam contribuir para um esclarecimento do consumidor, não de um consumidor já esclarecido mas do outro consumidor... e neste caso não se tem feito muito ou mesmo nada. A imensa minoria que gira à volta destes acontecimentos, destas revistas e destes fóruns acaba por ir ficando saturada com mais do mesmo... salvam-se as honras da casa com alguns eventos de cariz particular, mas não são esses que vão fazer com que algo mude. Afinal de contas, aqueles que lutam para que algo mude, que lutam por sair do tal atoleiro são os mesmos que são apontados de serem chatos pelos senhores que "mandam" no dito local.

Nós deiqui i bós daí
Sodes tantos cumo nós
Mataremos un carneiro
Ls cuornos são para bós

02 abril 2011

Ravasqueira Flavours Petit Verdot 2008

Não sei se será moda mas a proliferação de vinhos extreme Petit Verdot tem vindo a aumentar nos rótulos dos vinhos Alentejanos, só neste ano vi surgirem mais 3 exemplares querendo agora apenas destacar o Ravasqueira Flavours Petit Verdot 2008. Este novo vinho será produzido apenas em anos excepcionais, tendo fermentado em lagares de pisa automática e estagiado 16 meses em meias pipas novas de carvalho francês durante um ano, e posteriormente permaneceu em garrafa pelo período de nove meses. produção foi limitada a 2 654 garrafas.
Conheci esta casta à custa de um excelente vinho oriundo de Espanha, mais propriamente do Dominio de Valdepusa do Marquês de Grinon, em Toledo. O vinho da colheita 1999 era tão bom que na altura em respectiva revista surgiu com 19 valores... durante largos anos fui comprando esse Petit Verdot juntamente com os seus irmãos Cabernet Sauvignon e Syrah, todos eles são enormes referências e vinhos que se enobrecem com o tempo em garrafa, o Cabernet que aqui já coloquei assim o mostrou, o Syrah que costumo guardar para mim é talvez o melhor exemplar a ser feito em terras de Espanha. Dito isto e com a fasquia bem alta, vou dando por mim a provar Petit Verdot made in Portugal, o primeiro que tenho a dizer é que em alguns casos se perde a noção da casta e passamos a ter apenas um vinho em que se perde a cabeça e o valor sobe logo dos 20 e muitos euros para cima... cada um é livre de pedir o que bem entender pelos vinhos que comercializa, mas quando a qualidade não acompanha o preço pedido, penso que há aqui um problema a resolver... em último caso será o consumidor a julgar isso mesmo.

No nariz agradou, cativou o interesse de quem o cheirava, mostra-se novo e de aroma fresco com boa densidade e intensidade, ainda algo marcado pela barrica com tosta, canela, fumado, depois é a casta a trabalhar no toque verdasco com floral e fruta madurona com pingo de sumo e geleia, mostra uma boa evolução mas de momento ainda está um bocadinho encavalitado.

Na boca é bom na frescura, trinca-se a fruta opulenta mas com leve arredondamento da barrica, mistura-se com o toque de vegetal fresco, com a especiaria, pimenta verde... embora levemente seco no final do palato com final de boca de boa persistência.

Em tudo isto mostrou-se um belo vinho, talvez aqui neste caso não seja um daqueles Petit Verdot de caras, mostra-se algo encolhido e tapado pela gulodice da barrica que é pela boa combinação com a frescura apresentada que se torna mais atraente o que faz com que não nos fartemos nem sequer fique o copo por beber. É vinho para convívio, para se beber e gostar... para outros voos temos o Premium e o Romãs. O único senão é o preço, pois caso ronde os 20€ será um preço alto para a qualidade apresentada.  16 - 90 pts
 
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