É um local fantástico onde reina uma acalmia reconfortante com a Real Tapada de Mafra em pano de fundo, os 10 hectares de vinha ondulam de forma graciosa na paisagem. No seu todo são vinhos marcados pela frescura, onde brilham castas como Riesling, Sauvignon Blanc ou Pinot Noir, num total de cinco brancos e cinco tintos, dos quais seis são monovarietais. Após explicação detalhada de solos, castas e modo de vinificação, teve lugar a prova vertical dos tintos ali produzidos.
Começou-se com o
Quinta de Sant'Ana Pinot Noir, direi que foi uma belíssima surpresa, encontrei aqui os melhores exemplares de Pinot tendo em conta aquilo que é costumeiro por terras de Portugal. Sente-se de imediato o Pinot no nariz, com muita frescura, deliciosa fruta com boa definição, tem aquele travo vegetal e a secura no palato que o remete para um nível muito interessante. Preço que ronda os 12€ num conjunto que vale a pena guardar um par de anos. Notou-se que o
2009 mais vegetal e a dar menos lugar à fruta, esta mais delgada e em tons de cereja. Ainda cheio de vida será para beber ou guardar. O
2010 dá mais lugar à fruta com toque vegetal, mais presença de boca, mais cheiroso, todo ele com bastante harmonia e os nervos de quem pede mais um pouco de tempo em garrafa, foi a meu ver um salto de qualidade em relação ao anterior, talvez fruto da afinação do perfil pretendido. Por último o
2011, mais moderno, com menos arestas e mais cheio, fruta gorda e sumarenta sempre com a frescura e a delicadeza de conjunto presente, barrica muito bem integrada. Aquele que melhor conjuga todos os componentes, com mais músculo, intensidade e postura da fruta.
Já no
Quinta de Sant'Ana Reserva, preço a rondar os 15/20€, provou-se a primeira colheita
2005 que é 100% Aragonez. Produção pequena que rondou as 2300 unidades, com boa frescura, mais cerrado com fruta e madeira em sintonia, hortelã-pimenta, na boca com boa densidade da fruta com um toque de gulodice envolvente com secura no final. A colheita
2006 (60% Touriga Nacional, 40% Aragonez) mais fácil, intenso e guloso, notas de barrica a puxarem pela fruta escura, densa e sumarenta, boa complexidade e final de boca de boa persistência. A colheita 2007 foi promovida a topo de gama pelo que se passou para o Reserva
2008, um vinho temperamental, menos fácil na sua abordagem, com algum café, pimenta, fruta sólida e delineada, vegetal, fresco, carnudo e cheio de vida. A pedir tempo, um vinho que gostei bastante.
Passagem pelo topo de gama da casa, o Homenagem*, primeiro na colheita 2007, entende-se a razão de ser o topo da casa. É resultado de um lote de Merlot a partes iguais com Touriga Nacional, a preço que ronda os 25€ num vinho complexo, charmoso e fresco. É naquela contagiante harmonia entre vegetal em versão ervas de cheiro com fruta madura e limpa que o vinho nos conquista, depois a madeira está em plena harmonia, contribui com aconchego de tons fumados, cacau... resulta um vinho de grande categoria que dá um gozo tremendo beber por estas alturas. Já a sua versão 2009 se mostrou mais madurão, apesar da harmonia de conjunto a fruta mais doce, menos coeso e mais espaçado, não será certamente um vinho no ponto de consumo, embora não o encontre ao nível do anterior. O 2010 vai de encontro ao 2007, desponta o Merlot, num todo apertado com muito por aparecer, fruta sólida com pimentas, vegetal e alguma barrica. Boca mais ampla que o 2009, fruta e carga vegetal a dar secura... precisa de tempo, para brilhar ao mais alto nível.
Durante a prova foi ainda apresentado o Quinta de Sant'Ana Touriga Nacional 2011, um vinho que promete dar que falar, aliando frescura com uma boa definição de conjunto, sem cair no mais do mesmo que muito varietal desta casta se transformou. Um vinho gingão, cheio de coisas boas para dar e mostrar... vamos ficar atentos. O objectivo fora cumprido, seria tempo de ir almoçar... a prova de brancos ficará para outra altura.