Antes de começar que se entenda que este Reserva 1996 é um puro Clássico, daqueles a sério e não apenas de nome, completamente imune a modas ou pressões de consumidores histéricos por beberem tudo quanto é novo e amantes de cheiro a borracha e shampoo barato. Claro que não é vinho para meninos, torna-se à partida complicado para muita gente entender que um vinho seja colocado no mercado passados 6 anos da sua colheita. É na sua essência e na essência de quem o faz, um vinho para gente que sabe ao que vai e sabe o que quer. Falar de Lopez Heredia (Rioja) é falar de um saber acumulado vai para mais de um século, começaram naqueles lados por volta do ano 1883, produzindo vinhos de características únicas, que seguem a tradição à risca e que conquistaram por direito próprio um lugar muito especial no panorama vínico mundial, tornando-se autênticos vinhos de culto. A produção deste Reserva Branco 1996 (Malvazia, Viura) ficou limitada a 20.000 unidades, preço a rondar os 20€ e digamos que interesse é o que não falta quando temos um branco como este no copo, um autêntico desafio e um despertar de sensações onde a fina complexidade própria de um grande vinho se deixa logo notar. A dizer que acima deste Reserva ainda vem o Gran Reserva que tem direito a 10 anos de estágio... uma autêntica provocação pois quando sai para o mercado já grande parte da vizinhança morreu de velha.
E o que podemos esperar encontrar num branco como este ? Antes de tudo quero destacar a garrafa, transparente e a mostrar com orgulho o que leva lá dentro. Quanto ao vinho, uma frescura deliciosa para a idade, com um bouquet característico onde o bailado após algumas voltas no copo começa a despontar fruta madura com algumas notas de geleia fina (citrinos, pêssego, nectarina), aroma envolvente com óleo de noz, flores brancas, baunilha, alguma resina e ramo de cheiros em fundo. Muita subtileza, nada de excessos num perfil muito bem conduzido com uma intensidade moderada. Na boca uma bela presença, acidez que lhe garante energia suficiente no palato, filigrana entre componentes, muito detalhado, travo ligeiro a mel, toque de limão e uma envolvente sensação de untuosidade, flores brancas novamente e uma profundidade muito boa com final de boca de boa persistência. Um branco com classe, vinho fino, com alma e que ainda vai durar e durar... foi bebido juntamente com uma garoupa de nobre porte assada no forno com tudo aquilo a que dito exemplar tinha direito. 93pts
3 comentários:
João, gostaria de saber se você pode me tirar algumas dúvidas a respeito de alguns Riojas.
Eu tenho navegado por vários enoblogs, e pedido a opinião de diversas pessoas; quanto mais gente puder opinar, melhor.
Tenho uma amiga espanhola que está morando no Brasil. Os pais dela vem pra cá em janeiro, e talvez possam me trazer 2 garrafas de vinho. Eu, como bom apaixonado pelos vinhos da Rioja, estou sofrendo com uma dúvida crudelíssima…Quais tintos escolher, afinal? Sempre ouço dizer que existem poucos riojas tradicionais no mercado (já ouvi até que os únicos vinhos REALMENTE clássicos são os Lopez de Heredia)…Mas existem riojas de perfil moderno que também são muito bons…Então, faço as seguintes perguntas:
1) Se você tivesse que escolher dois, quais vinhos vc escolheria entre Ardanza 2001 (ou 2004, que já saiu na Espanha), Tondonia Reserva 2001, CVNE Imperial Gran Reserva 2004 e CVNE Viña Real Gran Reserva 2004/2005?
2) Idem ao caso de cima, se tivesse que escolher dois vinhos entre Tondonia GRAN Reserva 1994, La Rioja Alta 904, La Rioja Alta 890 e Castillo Ygay 2001/2004?
3) Entre os produtores de perfil mais moderno, tem algum que você prefira? Artadi Pagos Viejos, Roda, Remires de Ganuza, Telmo Rodriguez, Contador, Baigorri? Algum outro?
4) De maneira geral, eu ainda prefiro vinhos tintos a brancos. Mas muita gente diz que os Tondonia brancos ofuscam completamente os Tondonia tintos; que os tintos podem ser até bons, mas que os brancos detonam geral. Você concorda?
Achei curioso que a Wine Advocate tenha pontuado os Tondonia tintos com notas altíssimas na última avaliação dos Rioja, notas tão altas quanto as dos brancos; isso, de certo modo, vai contra esse senso comum a respeito dos Tondonia; e também vai contra a tendência dos americanos de valorizar os vinhos mais concentrados e encorpadões…
5) Se a gente for considerar os melhores vinhos espanhóis na faixa de 30 a 60 euros, você escolheria entre um Ribera Del Duero ou um Rioja? (independente de ser um vinho “clássico” ou não) Você acha, por exemplo, que o Imperial Gran Reserva e o La R.A. 904 estão no mesmo nível do Alión, ou do Aalto?
Me perdoe por tantas perguntas, mas é que eu fico perdido com a vastidão desse universo…
Obrigado!
Rubão
1) Tondonia Reserva 2001 e CVNE Viña Real Gran Reserva 2004/2005
2) Tondonia GRAN Reserva 1994 e La Rioja Alta 890 Gran Reserva 1995
3) Artadi e Contador
4) Gosto de igual maneira dos dois, ou seja, muito. Os concentrados e encorpadões já tiveram os seus dias, a elegância, frescura e definição de fruta são desde sempre o paradigma dos grandes vinhos. E a finesse :)
5) Escolhia um de cada. Interessante comparação, Alion, 904, Imperial GR e Aalto seria a ordem da minha compra. Já agora, não deve faltar muito para que saia para o mercado fruto da parceria Benjamin de Rothschild & Vega- Sicilia na Rioja, o Macán e o Macán Clásico, ambos 2009.
Muito obrigado pela ajuda, João!
Abraço,
Rubão
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