São jovens ousados, irrequietos, divertidos e acima de tudo todos eles são enólogos, juntaram-se naquele que é o mais novo grupo de produtores em solo nacional, o
Young Winemakers of Portugal. O grupo é formado por
: João Maria Cabral - Camaleão;
Luis Patrão - Vadio; Rita Marques -
Conceito;
Diogo Campilho e Pedro Pinhão - Hobby; Pedro Barbosa - Clip (na foto entre Pedro Pinhão e Diogo Campilho) Todos eles produzem vinhos distintos, diferenciados e numa onda jovem e desinibida com qualidade bem acima da média. A apresentação foi Sábado, num jantar que decorreu no fantástico G-Spot em Sintra.
Ser YOUNG é um defeito de carácter que só o tempo cura. Já ser Winemaker supõe-se que é o tipo de virtude que melhora com cada vindima, cada trasfega, cada estágio, cada vinho provado. Somos 6 aventureiros que se cansaram de VADIAR sozinhos e talvez presos por CLIPS se concentraram num CONCEITO. O HOBBY de cada Winemaker é muitas vezes ser CAMALEÃO, transfigurando-se de Viticultor em Enólogo, de Provador em Vendedor, de Viajante em Marketeer, de Rotulador em Cobrador. Se parece cansativo e nós sabemos que realmente o é, há só uma explicação para fazermos esta vida: é gostarmos muito de vinho.
É desta maneira que se apresentaram... os vinhos depois disseram o resto. Em amena cavaqueira foram-se apresentando os vinhos e os convivas, o primeiro a saltar para o copo vinha da zona dos Vinhos Verdes, um Clip do Monte da Vaia Loureiro 2011, Clip Loureiro 2011 para os amigos. Pedro Barbosa apresentou-nos um Loureiro de boa expressão, fresco, direto e frutado, flores a dar um leve perfumado. Boca com secura, acidez algo contida mas harmonia plena de inicio ao fim, mineralidade sentida ao de leve em final de média persistência (88pts). Baixou-se até Lisboa (Alenquer) para se provar um inovador Camaleão Sauvignon Blanc 2011, inovação que começa no rótulo térmico que muda de verde para azul quando fica frio... medida inteligente que nos obriga a ter o vinho a temperatura de serviço correta. Dito isto e focando no vinho, é um Sauvignon puro e sem contorcionismos, muito bem feito, franco, apelativo e nada forçado, nota-se aquilo que é o que tem para dar. Gostei do envolvimento aromático, da frescura reinante, da pureza de uma fruta tropical muito bem equilibrada com espargos verdes e alguma mineralidade. A frescura perdura na boca, mineralidade, boa secura no final com rasto frutado, para brilhar mais alto precisava de um pouco mais de definição e de presença mas isso certamente vai ser conseguido em colheitas futuras... nasceu um dos melhores Sauvignon Blanc made in Portugal e deste eu gosto (90pts).
Pequena pausa para apresentação dos três brancos da Rita Marques, primeiro o
Contraste branco 2010, um bom vinho do Douro, a madeira deixa-se notar, tapa ao de leve a fruta e o conjunto, agita-se o copo e algum fermento, a fruta com citrinos vem depois com frescura, finesse e sensação de fina cremosidade. Na boca é gordinho e fresco, quase uma bolinha fresca de fruta e creme de avelã com baunilha, final ligeira mineralidade (90pts). O outro vinho da Rita, é o seu topo de gama e considerado um dos grandes vinhos brancos de Portugal, eu gosto bastante e o reencontro com o
Conceito branco 2010 foi como encontrar um amigo. Muito aprumo entre fruta, frescura e barrica, menos presença da madeira que no anterior, a complexidade aumenta e desdobra-se em vários apontamentos, finesse dos pés à cabeça. Na boca apenas confirma, amplitude controlada pela delicadeza da fruta limpa com amparo sedoso da barrica em fundo fresco e de lembrança mineral (93pts). Por último o
Conceito Nova Zelândia Sauvignon Blanc 2011, a nova colheita no mercado que se revelou na boa linha do
anterior, gostei mais do outro, aqui encontrei um vinho mais sério e detalhado, talvez pela prova tivesse sofrido em ter sido dos últimos a vir ao copo, embora tivesse sofrido ligeiras afinações tornando-o mais sério e detalhado (92pts)
A ronda dos brancos iria passar pelos dois Hobby branco, o primeiro um Alentejo 2010 da zona de Portel, um 100% Antão Vaz que para boa surpresa não se deixou cair em tentação e mostrou-se fresco e solto, está lá o ananás, a calda mas tudo com contenção, a madeira faz o seu trabalho e na boca peca apenas pela falta de empenho da casta no segundo plano, quebra na falta de acidez (87pts). O segundo Hobby (Tejo) é também de 2010 e composto por Fernão Pires e Chardonnay, direi que cria empatia ao primeiro contacto, guloso, envolvente cremosidade, tostinha, frescura das castas, fruta gorda da Chardonnay sem ser em demasia, barrica espalhada e polida, tudo muito bonito numa abordagem que nunca deixa o vinho cair no facilitismo e lhe confere alguma seriedade (89pts).
Os vinhos iam fluindo com naturalidade, Luis Patrão falou do seu projeto pessoal na Bairrada com os vinhos Vadio. Começou-se pelo Vadio branco 2010, Cercial e Bical, muito charmoso de aromas, destaca-se pela diferença, coloca um sorriso no rosto, epa gosto disto, cheira-se novamente, fresco e bem exuberante, mineralidade sentida, fruta de caroço em quantidade e qualidade, amparo da madeira, secura na boca com muito boa presença, médio corpo, saboroso e final médio. Num grande ponto de consumo mas a dar a dica que vai ganhar algo de bom com mais algum tempo em garrafa (92pts). Passagem pelo Vadio Espumante bruto, novidade, proporção inversa do branco que faz termos um espumante seco, fruta cristalina e madura mas muito mineral e secura, na boca complementa-se e convence, ligeira mousse com toque de bolo, seriedade e bom comprimento (91pts).
Já durante o jantar iriamos ter a oportunidade de acompanhar com alguns dos brancos já mencionados e com alguns tintos, o Vadio tinto 2007, uma enorme surpresa pela qualidade e refinamento que mostrou, um Baga cheio, arredondado com boa frescura, fruta bem limpa e suculenta, a madeira com leve chocolate, apenas o redondeou, tornou mais completo e complexo, cheio de delicadeza e energia suficiente para vadiar pelo copo uma noite inteira... belíssimo Baga (92pts). O segundo momento tinto foi o Hobby 2008, Alentejano também ele de Portel, apesar da frescura que mostra ter na boca, a suficiente, não esconde os calores de 2008, abana-se com regaliz, fruta docinha e fresca, é guloso de provar e de cheirar... sabe bem e gosta de estar na mesa e no copo, médio corpo com boa carga de taninos a pedir comida, afinal é isso que queremos e conta (90pts). O jantar iria terminar em grande convívio com um repasto de elevada qualidade com os vinhos a complementarem muito bem. Aos Young Winemakers of Portugal estão de parabéns, agradeço o convite e desejo muito sucesso para os seus projetos.