Copo de 3: El Nogal 2005

29 maio 2012

El Nogal 2005

Como em quase tudo na vida, também o vinho é capaz de despoletar as mais variadas emoções, nada melhor do que ter um grande vinho num copo e quando o cheiramos pela primeira vez largar um sorriso. São estes vinhos que colocam um sorriso no rosto que cada vez mais tento encontrar, procurando e vasculhando, porque um vinho que nos faz sorrir é meio caminho andado para a felicidade enófila. É preciso que cada um procure essa felicidade, embora muitos não a conheçam e sem saber do que falam acabam até por a ignorar, é este defeito que impera em muito consumidor, desconfiando quase sempre de tudo o que lhe foge ao conhecimento, outros apenas bebem porque supostamente alguém disse que era muito bom e muito poucos o abordam como aquilo que é. Durante a prova deste vinho chegou-se à conclusão que apesar da grande prova que dá ainda não está totalmente pronto, como disse um enólogo que o bebia comigo, tem aqui muita coisa para desembrulhar... e tem mesmo muita coisa, ainda lhe faltava mais tempo de garrafa, tempo que o produtor não lhe pode dar, tempo que cabe ao consumidor gastar na sua casa, infelizmente o consumidor não tem formação para saber esperar e entender que o vinho que tem à sua frente precisa de crescer, precisa de evoluir e só com tempo é que o consegue fazer, fala-se à boca cheia que deve ser o produtor a ter de guardar o vinho quando cabe ao consumidor essa mesma tarefa... o resultado é quase sempre o mesmo, compra-se e bebe-se sem ligar a guardas ou necessidades de envelhecimentos tantas vezes necessários. Entender o vinho é saber esperar pelo momento certo, não pela nossa vontade de o beber mas pela vontade do vinho se mostrar, e num mar enófilo esperar é coisa que cada vez menos se sabe fazer.

A abordagem foi cautelosa, como sempre, com dose de respeito por um daqueles rótulos que é muito bem capaz numa mesa deitar as outras garrafas ao chão apenas para estar ele na ribalta... e faz isso com toda a cagança que mostra e tem. Situando quem lê e gosta de saber estas coisas, é na vizinha Espanha mais propriamente na Ribera del Duero que se encontra o produtor Pago de los Capellanes, de onde sai este El Nogal 2005. É o chamado vino de pago, o pago é o nome que se dá a uma parcela de vinha, nestes casos a coisa tende sempre a ser ou reduzida ou de produção reduzida face ao terroir onde fica situada, neste caso temos a parcela de Tinto Fino (Tempranillo/Aragonês) de 6 hectares com enxertia proveniente do famoso  pago Picón com rendimento reduzido. 
O primeiro contacto é muito bom e cativante, apesar de um ligeiro aroma a tinta de caneta, talvez a precisar de uma decantação prévia, passa com as voltinhas em copo largo, emana fruta vermelha limpa e bem delineada com frescura a fazer-se sentir, sente-se muito boa estrutura por detrás, num conjunto sólido e amparado de forma excelente pela madeira que anda por lá mas disfarça muito bem, travo mineral, todo ele complexo e muito perfumado, cacau, tosta, baunilha, fina especiaria e regaliz. Muita elegância e frescura na boca, bem presente com sabores definidos, macio mas com nervo e a ocupar bem todo o palato. A fruta fresca e suculenta, fria e com doçura no ponto certo, a madeira ampara tudo de forma discreta sem sequer dizer uma palavra. O final é longo com recorte frutado e mineral.

É um vinho sério, com grande nível de detalhe, frescura e fruta bem delineada, dá um gozo tremendo beber agora mas que não vira cara a uns anos de cave... o preço rondará os 35/40€ que os vale e bem tendo em conta outras aberrações que por vezes nos assombram o copo pelos mesmos ou até mais euros. Não tão profundo como o Picón, não tão complexo ou cerrado, nem sequer com um detalhe tão minucioso e direi mesmo exagerado que tem o seu irmão, onde o preço dispara para mais de 100€. 93pts

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