Copo de 3: março 2009

26 março 2009

Covela Escolha Palhete 2007

Aproveitei este post para falar do tempo, coisa sem interesse e que muitos podem pensar... é para passar o tempo sem dizer nada que se aproveite, o que também não deixa de ser verdade.
Mas a verdade é que o tempo tem estado muito bom, o calor que se vai fazendo sentir, já convida à esplanada, já apela pelo vinho fresco e frutado, começamos a querer encostar os vinhos mais estruturados e pesados para outras alturas, outras estações... outros tempos.
Esta é uma fase de mudança nos gostos dos enófilos, começam a ficar esquecidas e guardadas aquelas garrafas que nesta altura entram na fase menos boa, quase que o vinho adivinha e se resguarda, é dar lugar aos novos dizem as garrafas mais velhas, e nós aceitamos o sábio conselho e procuramos aqueles vinhos que mais se adequam a um tempo descontraído, fresco mas ao mesmo tempo morno, a Primavera.
Com tudo isto quero falar de um Rosé que provei recentemente em muito boa companhia, a prova durante o almoço tinha sido longa e luxuosa, o tempo já dava horas e os minutos avisavam insistentemente que o jantar estava na mesa. Escolhi um vinho que já conhecia, um Regional Minho (que fica ali entre Douro e Minho) feito à base de Touriga Nacional, Cabernet Franc e Merlot. Dá pelo nome de Covelha Escolha Palhete 2007 e a prova que deu foi assim:

Covela Escolha Palhete 2007
Castas: Touriga Nacional, Cabernet Franc, Merlot - Estágio: estágio em cubas de aço inoxidável, a temperatura controlada - 13,5% Vol.

Tonalidade aproximada à romã madura.

Nariz de delicada complexidade a mostrar muita fruta vermelha, onde se destaca claramente o morango, aquele morango grande e rechonchudo, sumarento e cheiroso, ainda com o toque da rama verde e fresca. No segundo plano mostra que tem mais uns ligeiros retoques, mineral, fumo, embrulhando-se tudo numa bela dose de frescura.

Boca de entrada fresca e de imediato a dar uma sensação convincente de que temos aquilo que esperamos e tantas vezes fica por encontrar. Sabor de concentração moderada a recair novamente na fruta madura, sem qualquer ponta de doçura maçadora, antes pelo contrário o perfil é sóbrio, estruturado quanto baste, mantem-se em grande harmonia. É novamente o morango e um pouco de framboesa, boa espacialidade, passagem fresca com a tal rama do morango a ser trincada nas pontas, apimentado e em final de bela persistência.

Foi servido a 10ºC onde se mostrou um pouco fresco demais, deixando subir para os 12-13ºC onde me pareceu mostrar tudo aquilo que lhe ia na alma. Sente-se no seu todo um vinho fresco, muito ponderado na maneira como se manifesta mas que dá muito prazer durante a prova. Não é o perfil mais jovial, este é bem mais indicado para carnes ou peixes grelhados, e quem sabe uma pizza carbonara. Se o vir não o deixe escapar, é sem sombra de dúvida dos mais sérios rosés que temos em Portugal.
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Silverlake Sauvignon Blanc 2006

Após aquele instinto de cozinhar algo rápido para jantar, mas que ao mesmo tempo até se vai pensando com o que acompanhar dito prato, eis que dou por mim a vaguear no meio das garrafas para escolher um branco que se apresentasse com um mínimo aceitável de acidez, sem passagem por madeira e com perfil a recair mais nos ventos tropicais.
Encalhei num branco encalhado, pelo ano de colheita (2006) pensei eu que ''Já devias ter ido...'' mas dando o benefício da dúvida , como convém sempre dar, lá lhe saltou a tampa... modernices.
A bem dizer, até gosto da gulodice que alguns Sauvignon Blanc apresentam, mais os do novo mundo (este veio da Nova Zelândia) que se perdem em espampanantes aromas de espargos, xixi de gato e até mesmo aquela mousse irritante de manga madura que enjoa muita gente.
Este nem foi dos mais caros, custou cerca de 8€, o que é bom ao comparar com os exemplares Sauvignon Blanc made in Portugal que têm sempre mais de Blanc do que propriamente de Sauvignon.

Silverlake Sauvignon Blanc 2006
Castas: 100% Sauvignon Blanc - Estágio: n/d - 13% Vol.

Tonalidade amarelo limão com laivo esverdeado

Nariz de aroma a entrar no panorama claramente de frutos tropicais maduros e frescos, que deriva para mousse de manga naquela sua ligeira cremosidade, com fundo fresco de espargos verdes acabados de cortar. Tem uma ponta de mineralidade, tudo em conjunto arrumado, com mais exuberância que complexidade.

Boca com entrada fresca, a puxar novamente aos encantos da fruta, aqui já um pouco apagada, com o vegetal fresco (relva cortada) a manifestar-se de igual maneira. Está integro, com harmonia, e ainda mostra ares da sua graça.

Ora lá está, é isto que se espera de um branco acessível face ao preço, proveniente do novo mundo. Mostrando aquele toque de diferença, do que estamos acostumados, caindo depois na mediania entre iguais. Mostrou que deve ser bebido enquanto é novo e que o stock deve ser renovado ao fim de cada ano. É um daqueles casos que serve para mostrar aos amigos que se tem vinho de muito longe e que na Nova Zelândia até nem fazem mau vinho.
Por mim vale a pena ter um ou dois exemplares para acompanhar um prato de tendência mais oriental ou mesmo os devaneios mais condimentados.
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19 março 2009

Quinta do Francês 2006

Estive no vai não vai para colocar como título para este vinho, uma surpresa que veio do Sul, pois foi do soalheiro Algarve que me chegou este, Quinta do Francês 2006.
Um tinto que durante a prova revelou ser uma boa surpresa e que sinceramente não estava à espera face ao desempenho que outros tantos vinhos Algarvios já me tinham acostumado.
Ainda bem digo eu, pois este exemplar conseguiu algo que outros até aos dias de hoje ainda não conseguiram, o ficar com a vontade de o voltar a provar.
Este vinho Regional Algarve, vem de Odelouca River Valley, que não fica nos Estados Unidos e muito menos na Austrália, afinal de contas, tudo começou quando um médico francês, Patrick Agostini, decidiu converter uma encosta da Ribeira de Odelouca em paisagem vinhateira.
Foram 6,5 hectares que se tiveram de desmatar e drenar, para que naquele solo de xisto ácido, fosse plantada a vinha, composta apenas por castas tintas (Cabernet Sauvignon, Syrah, Trincadeira e Aragones). Em sete longos anos, só conseguiu uma produção experimental de 4.000 litros, porem esta ainda se encontra aquém das exigências de Patrick Agostini.
Em lançamento no mercado, encontra-se a colheita 2006 (aqui em prova), para dar lugar lá mais para Junho à colheita de 2007.

Quinta do Francês 2006
Castas: Cabernet Sauvignon, Syrah, Trincadeira e Aragones - Estágio: 16 meses em carvalho francês novo e 6 meses em garrafa - 13,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz a mostrar-se num pendolo que vagueia entre uma nuance de fruta madura (cereja, ameixa e alguma groselha) e o vegetal fresco (rama de tomate). O vinho parece andar num pequeno reboliço ou direi mesmo um pouco inconstante no que toca ao aroma, mostrando-se ao mesmo tempo algo delicado e sem grandes exuberâncias. Consegue transparecer um toque químico que se funde nos tiques da barrica, a baunilha ligeira e um floral (lavanda ?!?) que anda a brincar ao esconde-esconde. Tudo enrolado e muito bem encaminhado por uma frescura que aqui se mostra regada por especiarias (pimentas).

Boca de entrada fresca, dando as mesmas sensações que na prova de nariz, o herbáceo que não se mostra de forma exagerada, marca a sua presença ao lado de uma acidez que lhe confere frescura e percorre toda a boca de princípio a fim.
A tosta, o fumo, a harmonia que consegue mostrar sem um corpo desmesuradamente cheio ou pesado, com alguns taninos vivos a saltitar por ali. Final de bela persistência, com a frescura e o vegetal fresco a dizerem adeus.

É um vinho que ganhou claramente com o tempo que passou no copo, a decantação foi benéfica seja dito. O vinho aparenta mostrar-se numa fase onde ainda se está a conhecer a si próprio, revelando arestas por limar aqui e ali, uns taninos mais rebeldes ou a mistura entre químico e vegetal, são exemplo disso mesmo. Será muito curioso ver como vai evoluir daqui para a frente. No que toca a gastronomia arriscaria sem receios num casamento com uma feijoada de búzios. Gostei.
15,5

18 março 2009

Redoma branco 2005

Em prova coloco um branco que considero como um valor seguro, fruto da boa consistência que consegue apresentar colheita após colheita, e que se junta ao lote dos brancos que mais prazer me deram a beber nos últimos dias.
Informa o site Niepoort, que o Redoma branco é produzido a partir de vinhas de pequenas parcelas, muito velhas com mais de 40 anos. Estas vinhas situam-se a altitudes que variam entre os 400 e os 700 metros, enquanto a maioria das vinhas clássicas do Douro estão plantadas a baixa altitude, entre os 80 a 300 metros. Nestas vinhas encontramos uma mistura de castas tradicionais nas quais predominam Rabigato, Codega, Viosinho e Arinto.
A colheita de 2005, deu e continua a dar grandes alegrias aos apreciadores, neste caso o tempo que o vinho passou em clausura só lhe fez bem, o que já de si era bom tornou-se ainda melhor.

Redoma branco 2005
Castas: Rabigato, Codega, Donzelinho,Viosinho, Arinto e outras - Estágio: fermentação em barricas novas e usadas de Carvalho Francês, permanecendo em contacto com as borras finas por um período de 8 meses, sem fermentação maloláctica, com batonnage quinzenal -

Tonalidade amarelo citrino de toque esverdeado.

Nariz a apresentar uma expressão aromática bem vivaça e de delicada complexidade, onde a fruta madura e fresca (citrinos, pêssego, melão) se entrelaça em suaves nuances de tosta, fumo e fruto seco que a passagem pela madeira lhe atribuiu. Complementam tudo isto as notas de vegetal fresco, finamente recortado que combinam com uma mineralidade que domina todo o plano de fundo, mostrando no seu todo um conjunto de grande finesse aromática, com um ligeiro toque petrolado em fundo.

Boca de entrada fresca, com a fruta a recair mais na componente citrina e bem apoiada pela componente mineral. Um vinho com uma belíssima presença de boca, apresentando uma boa espacialidade, com um bom arredondamento de conjunto (a madeira contribui muito neste sentido), completando-se ao nível do resto da prova de nariz, com toques vegetais bem frescos e um final de persistência mineral.

É um branco de grande qualidade, a mostrar uma belíssima harmonia, aqui tudo se conjuga para uma prova de grande finesse, com uma fruta presente ao lado de uma acidez bem doseada com toque fino e mineral, tudo pronto a dar muito prazer a quem nele aposte neste momento.
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13 março 2009

Covela Colheita Seleccionada branco 2005

Depois de já termos aqui falado do Covela Escolha, um branco de admirável pureza e frescura, é tempo de colocar no copo o Covela branco que teve passagem por madeira, o Colheita Seleccionada.
Muito sucintamente poderei dizer que vejo como este vinho em prova como a versão Outono/Inverno, mais contemplativo, bem mais sereno e a mostrar alguma frescura, com frutos secos e tosta, um ambiente mais acolhedor a quem se aproxima, enquanto que e o Escolha o encaro como a versão Primavera/Verão, muito mais extrovertido, fresco, belíssima dinâmica quer em nariz quer em boca, enérgico e arejado. São dois estilos cheios de classe e que apelam ao convívio de copos entre amigos.
Este 2005 aqui em prova mostrou-se um pouquinho introvertido no que respeita ao diálogo com a fruta, pelo que a não ser por esse ''pequeno'' detalhe a nota seria um pouco melhor.

Covela Colheita Seleccionada branco 2005
Castas: Avesso e Chardonnay - Estágio: Fermentação parcialmente feita em barricas, assim como estágio de 6 meses, com “batonnage” -13,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de nuance dourada.

Nariz onde se sente de imediato a discreta presença de madeira onde estagiou. De qualquer forma é baseado na presença da fruta (citrino, tropical) ainda com frescura, que o vinho mais se mostra. Intensidade um pouco mais contida neste Colheita Seleccionada, a mostrar um perfil mais redondo e com ligeira untuosidade, fruto seco, fruta cristalizada e algum que outro toque petrolado.

Boca que junta a frescura desafiante com um conjunto que se sente redondo e muito harmonioso, a fruta marca aqui igual posição à tomada na prova de nariz, acompanhada de perto com fruto seco e leve tosta. A mineralidade aparece meio difusa entre a complexidade que sem ser grande, confere uma prova rica em detalhes, num final de boca com persistência mediana.

A madeira apesar de se mostrar suave, tirou-lhe parte da frescura e vivacidade que são por demais evidentes no Covela Escolha, apresentando-se como um vinho mais redondo, mais gordo e mais dengoso. Não o deixaria evoluir muito mais em garrafa, enquanto que o que apenas vê inox se adequa muito bem com marisco ou um peixe grelhado, este Colheita Seleccionada é um grande amigo de peixe no forno, com molhos onde a nata marca presença, como foi o caso.
15,5

11 março 2009

Guitian Fermentado em Barrica 2006

A familia Guitian, foi uma das pioneiras no que toca à aposta na casta Godello, uma casta que diga-se de passagem estava à beira do esquecimento, e que hoje em dia graças ao esforço de alguns produtores, brilha em mesas de todo o mundo.

É no município de Rubiá de Valdeorras (Ourense), que Ramón Guitian e José Hidalgo, compraram a Finca ''La Tapada'', situada a uns 550 metros de altitude sobre o nível do mar, e depois cultivaram em 1985, a variedade godello, após escolha criteriosa de um clone de maneira a obter a melhor qualidade possível. A adega é construída no mesmo local, em meados dos anos 90, e viria a dar o nome ao produtor, Bodegas La Tapada, embora seja mais conhecido como Guitian.

Situada na Denominação de Origem de Valdeorras que ocupa parte dos vales dos rios Sil e Jares, no Nordeste da província de Ourense, uma região menos húmida que o resto da Galiza, onde se combinam as influências Atlânticas com os ares Continentais, resultando um todo bastante propicio para o bom desempenho de duas das castas que mais alvoroço têm criado junto dos enófilos mais atentos, falo da branca Godello e da tinta Mencia.

Nos vinhos brancos deste produtor, a passagem por madeira é feita em carvalho americano do Missouri, com batonnage e um estágio aproximado de 6 meses. Na altura da vindima, pouco mais de 1 ha fica sem vindimar à espera do ataque da botrytis cinerea, do qual o mosto resultante integra o estágio em barrica, perfazendo aproximadamente 8 a 10% do total do lote final. Depois de fermentados, os vinhos são filtrados e estabilizados a frio. A colheita inicial foi em 1992, e desde então a fama tem rodeado todos os vinhos produzidos nesta casa, sendo este para muitos o grande branco de Valdeorras.

Guitian Fermentado em Barrica 2006
Castas: 100% Godello - Estágio: fermentação em barrica nova de carvalho americano e posterior estágio de 10 meses sur lie, e posterior envelhecimento em garrafa - 12% Vol.

Tonalidade amarelo palha dourado, de média intensidade com ligeiro esverdeado.

Nariz bem cheiroso, deita cá para fora muitas sensações de fruta fresca bem madura (pêssego, lima, limão, pêra, melão) ao lado de muita flor e erva aromática, quase que num clima primaveril. Imagine-se um campo em plena primavera, onde depois de um curto aguaceiro aparece o sol morno (aqui entra a baunilha e um ou outro torrado da madeira, o toque meloso e alguma calda da fruta que dele fazem parte, embora tudo isto muito bem entrosado com todo o conjunto) a despertar os aromas a flores e a ervas de cheiro, com aquele toque mineral em fundo, dado pelo solo molhado. A despedida é feita mais uma vez em redor da fruta, neste caso de um pêssego bem maduro a que damos uma valente dentada, enquanto o sol nos bate na cara.

Boca de corpo médio, boa acidez presente a conferir uma boa dose de frescura, passagem de boca com boa intensidade. Complementa-se muito bem com toda a prova de nariz, quer a nível da fruta, da frescura da mesma, da sensação de geleia a meio palato, da madeira bem integrada e que lhe confere um notável arredondamento, direi mesmo uma sensação de cremosidade suave que o torna fresco, roliço e sedutor. O final é mais uma vez dedicado à fruta bem madura e mais uma vez bem presente, numa bela persistência final.

Embora seja um belíssimo vinho, não o encontrei tão bom como por exemplo o exemplar de 2003, como resultado óbvio a nota ser um pouco inferior. Um vinho que se pode beber agora ou pode deixar a dormir durante vários anos sem muito problema, tem argumentos suficientes para tal. Direi que dentro de mais dois anos estará a entrar no seu topo de forma. Ganha claramente com algum tempo de decantação, dei-lhe meia hora para se espreguiçar, acompanhando bem de perto o seu acordar. O preço ronda os 18€.
16,5

10 março 2009

Covela Escolha 2006

Desde o séc.XVI que, no vale do Douro, no limite da "zona granítica" (região dos V. Verdes) e na fronteira com a região dos Vinhos do Porto, se situa a Quinta de Covela: belo anfiteatro exposto a sul, a baixa altitude e sobranceiro ao rio Douro. Tem um pé em S.Tomé de Covelas e outro em Santa Cruz do Douro (Tormes), lindíssimas freguesias deste "Baixo Douro" (in "O DOURO ILLUSTRADO", Visconde de Villa Maior, 1876).

Esta é possívelmente uma boa forma de apresentar a Quinta da Covela, comprada à Ramos Pinto pelo seu actual proprietário, Nuno Araújo.

A Quinta da Covela é composta por 34 ha, dos quais 19 ha são de vinha, envoltos por um micro-clima muito específico, rodeado de sobreiros e medronheiros, e assentes num solo franco-arenoso granítico, com afloramentos argilosos. Mais uma vez a natureza calcária a ser ''mãe'' de bons filhos. As castas que podemos encontrar vão desde a Touriga Nacional, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot Noir e Sirah, nas tintas. E Avesso, Chardonnay, Chenin, Gewuerztraminer, Semillon e Viognier, nas brancas. De todas estas, a Avesso e a Touriga Nacional foram escolhidas como "traves-mestra" para os vinhos brancos e tintos. O objectivo de Nuno Araújo é:

«Produzir vinhos que tenham uma correcta expressão do terroir, sendo totalmente livres de químicos de síntese e assim privilegiando a protecção do ambiente, dos trabalhadores da Quinta e dos consumidores»

Desde o início, praticou-se na Quinta uma viticultura em regime de Protecção Integrada, posteriormente convertida para Agricultura Biológica (certificada ECOCERT); actualmente encontra-se em conversão para Bio-dinâmica. É fundador da Independent Winegrowers´Association, IWA e tem o mérito de ser o primeiro produtor português a ser aceite no prestigiado grupo ''Renaissance des Appellations'', liderado pelo guru da bio-dinâmica, Nicolas Joly.

Em 1992 foi engarrafado o primeiro branco Regional Rios do Minho, com marca Campo Novo (alterada para Quinta de Covela em 1994) e em 1994, engarrafado o primeiro COVELA tinto. Em prova o branco Covela Escolha 2006:

Covela Escolha 2006
Castas: Avesso, Chardonnay, Gewuerztraminer - Estágio: cubas de aço inoxidável - 13,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de ligeiro retoque dourado.

Nariz muito limpo de aromas, mostra uma grande pureza na fruta madura e sumarenta (citrinos, tropical, melão, alperce) com muita qualidade e expressividade, ao lado de um bouquet floral (malmequer, rosas) pequeno mas bem composto. Sente-se um conjunto fresco, besuntado ao de leve com fina geleia, num predomínio mineral de segundo plano.

Boca que se apresenta ao nível da prova de nariz, complementa-se, a fruta marca mais uma vez grande presença num conjunto com acidez revigorante, sabores limpos e frescos, onde a mineralidade marca boa presença. Harmonioso, redondo e de boa espacialidade, passagem viva em final de bela persistência, seco e de nuance ligeiramente vegetal fresco/mineral.

Foi a última garrafa que tinha deste 2006, no mercado já se encontra o Escolha 2007 e vontade não me falta para comprar umas garrafas. É um branco refrescante, com plena harmonia entre mineralidade e fruta, e um grande companheiro para a mesa. Já foi provado em Magnum com excelente companhia de amigos e umas belíssimas ameijoas, o resultado é sempre de aplaudir. Um dos grandes brancos nacionais sem qualquer margem de dúvida e que passa muitas vezes despercebido sem o merecer.
16,5

09 março 2009

Andamos satisfeitos com os vinhos que bebemos ?

Como em tudo na vida, nada melhor do que fazer-se aquilo que se gosta, aquilo com que se sonha e que um dia se torna realidade.
É o poder dizer-se que se tem o trabalho que sempre foi desejado, a esposa que é o amor de uma vida, o carro com que sempre sonhou ou a casa que sempre procurou, é a sensação de felicidade plena que passamos grande parte da vida a tenta atingir, e por vezes não chegamos a concluir.

E no que toca aos vinhos que bebemos, será que estamos satisfeitos ? será que esses mesmos vinhos nos complementam e ajudam a ser felizes ?

Visto as coisas nos tempos actuais, com a enorme proliferação de marcas no mercado e a constante compra de variados vinhos por parte dos consumidores, leva a crer que é difícil dizer-se que se está satisfeito, não fosse essa mesma mudança encarada como um claro sinal de insatisfação.
E todos aqueles vinhos que consideramos valores seguros e continuamos a comprar ano após anos, será que esses vinhos são aqueles que sempre procuramos e que nos conseguem satisfazer plenamente ?
Será que o principal motivo que nos leva a provar tanto vinho, é sem sombra de dúvidas a procura da tal satisfação que ainda não conseguimos encontrar ? e no dia em que a encontrarmos o que acontece ?

Andam satisfeitos com os vinhos que bebem ?

07 março 2009

Dona Matilde 2007

A Quinta Dona Matilde, é uma quinta familiar localizada nas margens do rio Douro, e está entre as mais antigas e famosas Quintas da região. Com uma superfície total de 93 hectares, a quinta conta com 28 hectares de vinha de alta qualidade, todas classificadas com letra A - a mais alta classificação da Região Demarcada Douro.
É um projecto de Manuel Ângelo Barros e dos seus filhos (Filipe e Nuno) para produzir e comercializar vinhos DOC do Douro e Vinho do Porto de alta qualidade.
A empresa actualmente produz uma quantidade limitada de vinhos tinto e branco DOC Douro que comercializa sob a marca Dona Matilde, marca registada que pertence à família de Manuel de Barros desde 1927, ano em que o seu avô, Manoel Moreira de Barros (fundador do grupo Barros) comprou a quinta e em honra da sua mulher mudou o nome da Quinta do Enxodreiro para Quinta Dona Matilde.
Em prova desta vez o tinto Dona Matilde da colheita 2007:

Dona Matilde 2007
Castas: Vinhas velhas - Estágio: aprox. 12 meses barrica - 13,5% Vol.


Tonalidade ruby escuro de concentração moderada.

Nariz a apresentar-se com uma bonita cesta repleta de fruta (cereja, groselha, framboesa) toda ela muito perfeita e bem madura, que se vai completar com aquele aroma resinoso característico das estevas em plena serra. Qual papel de parede, o toque de madeira por onde passou, é realçado com toque de baunilha e leve cacau morno.

Boca com presença da fruta ao nível da prova de nariz, que escorre sumarenta, surge também o mesmo vegetal a recordar esteva, com ligeiro apimentado à mistura. Mostra uma ligeira secura a meio da boca o que é obra de alguns taninos por acomodar no devido lugar. Média espacialidade, com sentida harmonia e desembaraço no trato, num conjunto onde a madeira se mostra discreta mas bem integrada, resultando no seu todo um Douro de boa estirpe.

Conjuga a sua boa dose de elegância com a frescura da fruta, num todo harmonioso e de identidade bem marcada. Um Douro bem apetecível com um preço que deverá rondar os 8€.
15,5

05 março 2009

Château Rozier Grand Cru 2005

Recentemente no fórum da Revista de Vinhos, foi levantado um assunto que na sua essência questionava a qualidade dos vinhos estrangeiros que determinada superfície comercial escolhe, para vender como marca da casa, como por exemplo os Pingo Doce Dão ou Continente Alvarinho.
Desta vez foi a Tesco que escolheu (pelos visto não muito bem) um vinho oriundo de Portugal para vender com a sua marca, e que a ver pela prova do crítico britânico Jamie Goode, o vinho em causa é tudo menos representativo da qualidade dos vinhos que se fazem em Portugal. Neste caso falamos de um Touriga Nacional 2006 produzido pelo produtor DFJ Vinhos.
É óbvio que tal acontecimento não deve nem pode beliscar a imagem de um País produtor como é Portugal, deve sim penalizar apenas e só a imagem da cadeia Tesco pela má escolha que fez, e porventura penalizar o produtor em causa pelo desempenho menos bom do seu vinho.
Pessoalmente não me vejo a ir a uma qualquer superfície comercial em Espanha e comprar um Rioja Carrefour, quase que soa a vinho ''genérico'' tal como o ácido acetilsalicílico.
A questão pode também ela colocar-se noutros modos, qual a qualidade dos vinhos estrangeiros que podemos encontrar nas superfícies comerciais ?
Será que vale a pena apostar por exemplo num Château Rozier Grand Cru Saint-Émilion 2005, comprado nos 3 Mosqueteiros por 12€ ?
Falando um pouco da zona de onde este Rozier nos chega, é um vinho de Bordéus, mais propriamente de Saint-Émilion, onde a classificação é revista de 10 em 10 anos, sendo divididos em duas categorias, premier grand cru classe e grand cru classe.
Este Château Rozier foi fundado no séc 18 por Jean Saby, hoje em dia é gerido pela nona geração da família, os irmãos Jean-Christophe e Jean-Philippe Saby. São 23 ha de vinha com uma idade a rondar os 45 anos, espalhadas por 4 comunas da região, com solos onde predomina o calcário e argila, sendo o resultado final um blend de 90% Merlot e 10% Cabernet Franc.

Château Rozier Grand Cru 2005
Castas: Merlot 90% e Cabernet Franc 10% - Estágio: 12 meses em barrica (50% nova) - 13,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz de boa intensidade, onde surgem de imediato notas a lembrar frutos vermelhos (ameixa, cereja) e bagas, tudo muito fresco a ser acompanhado por um ligeiro aroma floral. Complementa-se com ligeira sensação de café expresso, baunilha e grão de pimenta preta em plano de fundo.

Boca a dar indicação de um vinho que sem ser denso ou muito estruturado, mostra uma boa amplitude. Confirma plenamente a prova de nariz no carácter frutado e na sintonia com a madeira, marcando mais uma vez presença a tosta e o travo apimentado. Conjunto bem balanceado, taninos bem integrados, fresco e a mostrar algum refinamento, em final de boca de persistência média.

Em jeito de conclusão sobre este vinho, poderia aqui discursar com uma daquelas certezas absolutas, tão em moda por outros lados, sobre o perfil de determinada região apenas e só, porque como não quer a coisa até provei umas quantas garrafas em casa de amigos e até achei o vinho semelhante em ligeiros detalhes. Poderia também falar com certezas baseadas naquilo que já li ou ouvi alguém dizer ao meu lado numa qualquer outra prova.
Optei apenas por me limitar a apreciar o vinho e a comentar independentemente da região de onde vem ou dos conhecimentos que tenha sobre a mesma. Penso que não se fica a conhecer (não confundir com ficar com uma vaga ideia de...) uma região nem um perfil da mesma, apenas por se provarem meia dúzia de vinhos. Fazem falta muitos anos e consequentes provas para que tal aconteça. Neste caso é essa falta de conhecimento que não me permite dizer se o vinho é dos melhores ou dos piores dentro da gama onde se enquadra, ou se é um fiel exemplo da appelattion de onde veio ou não.
Como vinho que é, deu prazer durante a sua presença no copo, harmonizou em grande estilo com um lombo de novilho assado com molho de cogumelos, e tendo em conta os 12€ que custou, só posso dizer que foi uma boa surpresa.
15,5

03 março 2009

Em cada enófilo mora um Dr. Victor Frankenstein.

Devido ao tempo que tenho dedicado a dois projectos que tenho em vista, foi notória alguma falta de actualização de conteúdos no Copo de 3, pedindo por isso as minhas desculpas a todos aqueles que lêem e participam aqui nesta casa.
Após este pequeno período sabático, estou de volta e pronto a dar mais corda do que já tinha antes, para breve está uma remodelação do espaço, mas a seu tempo irei dar notícias.
Poderia começar com um pequeno tratado de Pedologia acerca dos vários tipos de solos onde as vinhas se plantam, as suas diferenças, as suas características e até mesmo qual o contributo de cada um no produto final que é o vinho. Outro assunto possível seria o de dissecar até que ponto é que a Touriga Nacional como casta nobre de Portugal, se pode virar numa autêntica praga a fim de ''capar'' a identidade das regiões que usam e abusam dos seus serviços nos lotes finais.
Porventura nada destes temas me pareceu o suficientemente apetecível de abordar, ainda por mais quando nos dias que correm o que parece andar na moda são as coisas do passado, e como tal ficava lá muito sem muita graça falar de uma coisa actual.
Apetece-me falar do antigo, da velharia, da antiguidade, do vinho velho, daquele vinho que repentinamente ganhou destaque, parecendo que virou moda e anda a transformar tanto enófilo em autênticos Tomb Raiders nacionais.
Se alguém souber a partir de que idade é que um vinho começa a ser chamado de velho que me avise, enquanto isso dizia eu, os vinhos velhos despertam aquele lado da curiosidade mais mórbida que reside em cada um de nós. Não fosse a prova de vinhos velhos uma autêntica roda da sorte onde convenhamos que o factor sorte é preponderante na boa ou má garrafa que nos possa calhar, o que me leva a constatar que:

Em cada enófilo mora um Dr. Victor Frankenstein.

É uma comparação algo estranha, a de comparar um enófilo ao famoso Dr. que mora na obra de Mary Shelley, mas as vontades de um e de outros não deixam de coincidir.
Quantos de nós enófilos, não tentamos dar ou tentar encontrar vida num vinho que não a tinha ?
Imaginemos a cena em que um tal Dr. Frankenstein vai a uma garrafeira perto do seu castelo e vagueando por lá, resolve exumar umas quantas garrafas, sempre na esperança que dali consiga obter o seu máximo propósito... Vida.
Convida então os amigos, uns mais Doutores que outros, para presenciarem aquele memorável momento, afinal de contas são anos de dedicação à causa e que sem se esperar podem desmoronar-se num segundo.
Enquanto uns ficam incrédulos com os nomes daqueles espécimes que estão prestes a fazer parte do ritual, outros mais experientes reconhecem por entre feições enrugadas e degradadas pelo tempo, que afinal até já tiveram contacto com outras gerações dos ditos.
Igor o serviçal do castelo, prepara todo aquele festim com enorme regozijo, o seu amo e senhor pode brilhar naquela noite e nada pode falhar, pelo menos do que a ele lhe compete.
É logo à primeira tentativa que o primeiro oooooooooooooh se ouve na sala, a primeira descarga de energia teria sido o suficientemente forte como que para iluminar uma aldeia por uma semana inteira, apesar disso aquele espécime ficou tão inerte como chegou, nauseabundo e putrefacto, falou-se de imediato que o problema seria do mau estado de conservação.
A segunda tentativa seria bem mais animadora, desta vez a descarga de energia foi suficiente para que momentaneamente todos os presentes esboçassem um sorriso. Está vivo...
Aquele momento de jubilo colectivo estava espelhado no olhar comovido de Igor, afinal o seu amo e senhor, tinha conseguido o que muitos não esperavam.
Aqui e ali foram-se detectando pequenos sinais de vida, o suficiente para animar uns quantos convidados, mesmo os mais cépticos dos que estavam presentes reconheciam que naquele momento tal tinha sido possível. Mas tudo não passou de uns breves instantes, as vozes de euforia foram sendo caladas por um silêncio contagiante que invadiu a pequena sala, era mais que óbvio que algo tinha falhado no processo, tudo se estava a desmoronar... parecia que quanto mais aquele exemplar tentava respirar mais definhava, até que acabou por sucumbir no tempo.
Um dos convidados levantou-se e enquanto puxava de um cigarro perto da janela, explicava que o mal não seria do procedimento mas sim da família do exemplar, que outros por ele experimentados já tinham dados bons resultados e que seria apenas um problema do ano de nascimento.
Era a derradeira tentativa daquela noite fria e chuvosa, e quando já ninguém esperava um resultado positivo, eis que o milagre se deu para espanto de todos. Aquele que para muitos já estaria no eterno descanso vivia de novo, respirava e emanava suficiente frescura, a suficiente para que não fosse tropeçando à medida que se erguia no meio da sala, onde se aguentou firmemente durante todo aquele jantar.
No final todos os convidados falavam entusiasmados sobre aquele magnífico exemplar, que nunca iriam suspeitar que dali fosse possível tal coisa, e que o mais certo seria irem à procura de familiares.
Bem no final da noite enquanto Igor saltitando de jubilo, limpava o salão, o Dr. chamou Igor e sussurrou ao ouvido:
- Amanhã vais à garrafeira ao pé do castelo buscar os irmãos do terceiro exemplar, antes que os outros Doutores lá passem.
 
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