Estar a escrever sobre um vinho da Tapada de Coelheiros é ao mesmo tempo estar a recordar com agrado os meus primeiros anos de enofilia e os primeiros grandes vinhos que me chegaram ao copo naquela altura. Foram vinhos como o Pêra Manca 1995 ou o Tapada Coelheiros Garrafeira 1996, os responsáveis por estar aqui hoje a escrever. Mas quem fala em tintos também fala em brancos sem esquecer aquele fantástico Chardonnay de planície que na altura tanto prazer me dava. A fama conquistada face à qualidade apresentada naqueles anos deram-lhe o peso e gabarito que ainda nos dias de hoje ostenta junto do consumidor Português. Aqui brilha ao mais alto nível a mão do enólogo, António Saramago, cujos vinhos apresentam um cunho meio bordalês que se vai refinando com alguns anos de garrafa. Na verdade nem todas as colheitas resultaram em vinhos brilhantes e passados alguns anos meio no limbo, a prova do Tapada Coelheiros 2004 mostrou que os altos e baixos acontecem a todos, volto agora com o Garrafeira 2007, vinho que enaltece o que de melhor se faz naquela casa e na planície Alentejana.
O lote é composto por Aragonez e Cabernet Sauvignon, 18 meses em casco de carvalho francês 100% novo e 18 meses em garrafa. Pelo que mostra, tanto se bebe agora com acompanhamento a condizer ou podemos guardar por mais uns tempos que ele não faz má cara. A prova é de grande categoria, cheio e vigoroso, ainda algo fechado, sente-se fruta negra bem redonda e opulenta, pimentão com pimenta, barrica já muito bem encostada, conjunto com algum peso e a pedir tempo. E com tempo vai aparecendo bálsamo vegetal com chocolate negro em fundo. Na boca é de grande amplitude, bom de corpo, enche o palato de fruta, um saber estar de grande nível ainda com taninos algo vigorosos, com frescura suficiente que percorre a boca, especiarias e toque de chocolate negro no longo e persistente final. Acompanhou com mestria um Cozido de Grão à Alentejana. 94pts