Copo de 3: fevereiro 2016

24 fevereiro 2016

Monte da Ravasqueira


Já por duas vezes tive oportunidade de visitar o Monte da Ravasqueira (Alentejo), ligado há várias gerações à família José de Mello, localizado no concelho de Arraiolos. Relembro-me dos seus primeiros vinhos e do ambicioso projecto que na altura tinha como meta proporcionar ao consumidor alguns dos melhores vinhos do Alentejo. Passados todos estes anos o projecto Monte da Ravasqueira consegue esse objectivo como muito mais, aliando todo uma oferta no âmbito do enoturismo que permite as mais variadas actividades ao ar livre, desde passeios pelas vinhas e cursos de vinhos, espaço de refeições  ou até a visita do fantástico Museu Particular de Arreios e Atrelagens, lembrando a coudelaria que existiu durante largos anos no Monte da Ravasqueira. Quanto aos vinhos o projecto tem vindo a ganhar consistência com os recentes topos de gama, como dos varietais que para além da diversidade permitem mostrar aos interessados novas abordagens das castas ali plantadas. Não se estranhe portanto de encontrar um Touriga Franca, um Alvarinho ou um Colheita Tardia, todos de bom recorte e a darem muito boa conta do recado à mesa com a gastronomia típica da região. Porém aquele que será o mais conhecido e que durante largos anos se apresentou como o topo de gama da casa, foi o Vinha das Romãs. A equipa de enologia de início contava com a presença do enólogo Rui Reguinga que a seu tempo deu lugar à dupla que tanto sucesso tem alcançado, falo de Pedro Pereira Gonçalves e Vasco Rosa Santos.


Mas para falar do Vinha das Romãs temos que recuar a 2002 ano em que se decidiu arrancar um conjunto de romãzeiras que ocupavam um área de cinco hectares para ali se plantar vinha, mais propriamente Syrah e Touriga Franca. Aquela vinha passou a chamar-se a Vinha das Romãs e cedo ganhou protagonismo pela qualidade destacada dos vinhos a que dá origem, revelando uma concentração e um nível de maturação único em toda a área de vinha do Monte da Ravasqueira. É por isso mesmo um “single vineyard”, “monopole”, “vino de pago”, onde o terroir imprime características diferenciadoras e únicas. Aqui o que se procura é o equilíbrio perfeito entre as duas castas, isolando a cada colheita as melhores zonas de cada casta que melhor transmitem a singularidade do local. Os vinhos falam por si, cada vez mais em crescendo no que à qualidade diz respeito, frescos e muito apelativos, o trabalho com a madeira tem vindo a ganhar notoriedade num perfil cada vez mais sério, amplo, profundo e acima de tudo apetecível.


Os topos de gama, em jeito de homenagem ao patriarca da família, são hoje em dia os vinhos da linhagem MR Premium que se encontram nas versões branco, tinto e rosado. Todos eles são do melhor que se pode ter à mesa, o refinamento é total e mostram-se com uma enorme classe. São vinhos que merecem ser conhecidos e bebidos em muito boa companhia, porque vinhos assim são feitos para isso mesmo, celebrar a vida.

23 fevereiro 2016

Quinta do Gradil, os novos vinhos e o novo restaurante


Faz relativamente pouco tempo visitei a Quinta do Gradil, no sopé da Serra de Montejunto. Segundo informação retirada do site do produtor, é considerada uma das mais antigas, senão a mais antiga, herdade do concelho do Cadaval, com uma forte tradição vitivinícola que se prolonga desde há séculos. Adquirida, nos finais dos anos 90, pelos netos de António Gomes Vieira, precursor da tradição de vinhos na família desde 1945. Os novos proprietários iniciaram, em 2000, o processo de reconversão de toda a área de vinha primando por castas de maior qualidade. Nos 120 hectares de vinha encontram-se plantadas variadíssimas castas brancas e tintas. Sauvignon Blanc, Arinto, Viosinho, Viognier, Chardonnay, Petit Manseng, Cabernet Sauvignon, Tinta Roriz, Touriga Nacional, Tannat, Petit Verdot, Syrah, são alguns exemplos. Esta rica paisagem de vinha é responsabilidade do Engº. Bento Rogado sendo todas estas uvas vinificadas na adega, coordenada pelo Eng.º Pedro Martins, sob a batuta atenta dos enólogos Vera Moreira e António Ventura.


O palacete e capela, em fase muito avançada de degradação aquando da aquisição da Quinta pelos novos proprietários, foram limpos e contam agora com um projecto ambicioso de recuperação. A adega sofreu melhoramentos, estando projectada uma reformulação profunda nos próximos 2 anos, e as cocheiras recuperadas deram lugar a uma sala de tertúlias. Foi no renovado restaurante da Quinta, a cozinha está a cargo do Chefe Daniel Sequeira, que fomos recebidos e onde tivemos oportunidade de provar e harmonizar algumas das novidades com pratos da nova carta. Um momento de boa disposição onde os vinhos mostraram um à vontade muito grande com a mesa e neste caso com as propostas do Chefe.

O primeiro vinho a ser servido, o Quinta do Gradil Sauvigon Blanc e Arinto 2014 mostrou-se jovem e com boa frescura, boa ligação entre as castas a juntar o lado mais exótico e vegetal da Sauvignon com os citrinos e a frescura da Arinto. Uma boa combinação que resulta num vinho directo e bastante agradável à mesa com entradas de bom tempero como foi o caso da fotografia acima colocada. 88 pts

O Quinta do Gradil Chardonnay 2014 mostra um perfil mais anafado que o anterior com o vinho a mostrar ter mais algumas gorduras que lhe conferem untuosidade e peso. A fruta surge em formato de polpa branca com pêra e melão, tudo envolto em boa frescura, com o suave aconchego da barrica num conjunto bem equilibrado. 88 pts

Enquanto os varietais mostram o melhor de cada ano, os Reserva são os mais especiais da casa e apenas são criados quando a qualidade alcançada é de patamar superior. Assim sendo saiu este Quinta do Gradil Reserva branco 2013, um lote de Arinto e Chardonnay com passagem por madeira. Um vinho que se mostra bastante mais sério, coeso com boa complexidade, frescura e ligeira untuosidade a envolver toda a fruta, ligeira carga vegetal com ervas de cheiro. Boa amplitude na prova de boca num vinho com boa presença, saboroso e fresco. 90 pts

No plano dos tintos, foi apenas um o vinho provado e mostrou-se muito bem o Quinta do Gradil Syrah 2013. Guloso e com uma fruta que o torna muito apetecível, o ligeiro toque químico que desponta apenas de início no copo pouco ou nada incomoda, depois é um bazar de coisas boas a passarem à frente do nariz, desde os chocolates, especiarias, fruta com ligeira compota, boa frescura num vinho com harmonia mas que ainda mostra sinais que vai perdurar no tempo. 91 pts

Por último e em jeito de despedida foi provado o Quinta do Gradil Espumante Chardonnay e Arinto 2013, um vinho que agradou pela frescura e elegância da fruta. De bolha fina mostra um bom entendimento entre as duas castas, acidez presente num conjunto com ligeira untuosidade. Bastante agradável e festivo, pronto para umas entradas servidas no terraço. 89 pts

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22 fevereiro 2016

Malhadinha 2013

Dispensará grandes apresentações um vinho que é presença assídua na última década entre os melhores vinhos de todo o Alentejo. Falo obviamente do Malhadinha que nasce na Herdade da Malhadinha Nova, na Albernoa, bem perto de Beja. Esta é a mais recente colheita a entrar no mercado e mostra-se melhor que nunca, custa 34€ em garrafeira online. O vinho ainda muito novo a mostrar-se cheio de energia e vigor com muita fruta madura presente, estruturado e denso, muito boa frescura num conjunto complexo cheio de coisas boas. A barrica sente-se muito bem integrada, ligeira baunilha, especiarias, chocolate preto e balsâmico. Na boca conquista pela forma como se mostra cheio de garra, taninos a dar ligeira secura no final num conjunto fresco, amplo e com muito sabor e presença. Acompanhou com mestria uma barriga de porco assada no forno com batata corada, um belíssimo vinho com tudo para melhorar em garrafa. 94 pts

19 fevereiro 2016

Quinta das Bágeiras Velha Reserva Bruto Natural 1992

É sempre um privilégio poder provar vinhos cuja história nos é contada na primeira pessoa pelo próprio produtor, neste caso Mário Sérgio da Quinta das Bágeiras (Bairrada). Estamos perante um espumante Bruto Natural resultante do blend das castas Maria Gomes, Bical, Rabo de Ovelha e Cercial, cujo dégorgement foi feito em 2015 o que faz toda a diferença. Como foi dito, Mário Sérgio guarda na sua cave alguns espumantes que vai deixando envelhecer e lançando na passada do tempo, sendo este exemplo de uma curta tiragem que viu a luz do dia. Com 24 anos mostra-se vivo da silva com uma refinada complexidade que o faz crescer no copo, mostrando um bolha cheia de vivacidade que vai bailando com alegria. Ligeiro fruto seco num perfil que se mostra austero como os brancos que ali nascem, secura e mineralidade com fruta amarela em passa, ervas de cheiro. Conquista o palato entre sabores da fruta e ligeiro fruto seco, depois vem a austeridade mineral e uma apetecível secura de fundo que o faz brilhar sozinho ou acompanhado e se for à mesa ainda melhor. 94 pts

18 fevereiro 2016

Caves São João

Blend-All-About-Wine-Caves Sao Joao-Logo caves são joão Frei João, a Bairrada das Caves São João Blend All About Wine Caves Sao Joao Logo

A história das Caves São João é longa e rica em detalhes, tudo começou com o nome Sociedade dos Vinhos Irmãos Unidos, fundada em 1920 por três irmãos viticultores da Bairrada: José, Manuel e Albano Ferreira da Costa. Durante largos anos prosperou a venda a granel, tendo sido apenas a partir de 1950 quando se juntou Caves São João à denominação da firma. Mas apenas em 1959, já com os descendentes de um dos fundadores, Alberto e Luís Costa nos comandos das Caves, iriam surgir as marcas que lançaram as Caves São João para o estrelato – o Frei João (Bairrada) e o Porta dos Cavaleiros (Dão). Alberto e Luís Costa eram exímios negociantes de vinho, sabiam como poucos escolher e comprar os melhores lotes, direi mesmo que souberam como poucos criar e educar grandes vinhos que ainda hoje perduram e mostram com galhardia toda a potencialidade das duas regiões que abraçaram, o Dão e a Bairrada.

O Dão - Porta dos Cavaleiros

Sem possuírem qualquer vinha no Dão, eram escolhidos e comprados os melhores lotes e na colheita de 1963 surgiram os primeiros Porta dos Cavaleiros, tanto o Colheita como o Reserva Seleccionada. Uma marca que tal como a sua congénere na Bairrada, teve o dom de quase “criar” um perfil a que hoje associamos de Clássico a cada uma das regiões. De notar que os Reserva Seleccionada mostram mais frescura que os Colheita, devido a que as uvas dos Reserva eram provenientes dos contrafortes da Serra da Estrela num perfil mais fresco a que se poderá apelidar de “Dão Serrano”, enquanto os Colheita as uvas eram provenientes de zonas mais baixas e porventura mais quentes. Sobre os Reserva Seleccionada sabe-se que o vinho passava quatro anos nos enormes depósitos de cimento e posteriormente mais um ano em garrafa. Vinhos sabiamente educados e de traçada clássica, sérios com toque acetinado tão característico que nos mostram aquilo que a região pode e deve fazer.

Visitar as Caves São João e ter o prazer de contemplar mais de um milhão de garrafas que resistiram à passagem do tempo é uma rara oportunidade para os apreciadores. Esta foi uma prova que ficou na memória, em tudo especial até pelo facto de alguns vinhos não se encontrarem já disponíveis para venda face ao reduzido número de garrafas existentes, estes vinhos em prova vão surgir posteriormente com post individual. O primeiro vinho foi o Porta dos Cavaleiros 1964, este branco com 51 anos é arrebatador em todos os sentidos. Notável a evolução no copo, claramente a precisar de decantação. Inicialmente algo preso e contido, a mostrar alguma rezina, desenvolvendo uma complexidade notável com destaque para a fantástica acidez que envolve e segura todo o conjunto. Profundo, floral com nota de cera, untuosidade com fruto seco e ainda alguma fruta madura de caroço. Boca com muita frescura, mostra garra e nervo, grande presença e profundidade, sério, educado, a untuosidade que mostra ter combina em grande com a frescura que refresca o palato terminado longo e persistente.

Dando entrada nos anos 70 onde curiosamente são poucos os vinhos das Caves São João que me têm ficado na memória, salvo erro o branco Reserva de 1973 em Magnum e o tinto também Reserva 1975. Este Porta dos Cavaleiros branco 1979 não fugiu à regra, cordial a mostrar-se com vida, fruta já em passa, mineralidade com alguma secura de final de boca. Nos brancos da década de 80 o melhor de todos é o Reserva 1985, este Porta dos Cavaleiros Reserva branco 1984 é um grande branco em idade adulta, mas se comparado peca pela falta de garra tanto na boca como no nariz onde mostra menos frescura e acutilância ou limpeza de aromas. De resto goza de uma belíssima harmonia de conjunto, conjugando a sensação de untuosidade com acidez e presença da fruta ainda vivaz e madura.

No campo dos tintos a entrada não poderia ser melhor, o Porta dos Cavaleiros Reserva 1966 é a meu ver o melhor de todos, afirmando-se como um dos melhores vinhos de sempre da região. Pura classe num vinho de compêndio, cheio de caruma e pinhal, muito bosque, frutos silvestres, cerejas, folha de tabaco, eucalipto, couro. Puro veludo num tom que combina austeridade com a gulodice de um vinho cheio de vida e frescura, longo e com final persistente. De passagem pelos anos 70 foi provado o Porta dos Cavaleiros Reserva 1974, novamente o que menos brilhou entre os tintos, com a região bem evidenciada no perfil e a dar uma prova de muito bom nível. Perdeu em poder de afirmação mostrando-se mais delgado e espaçado tanto em complexidade aromática como em presença de boca.

Termino com o segundo melhor tinto, o Porta dos Cavaleiros Reserva 1985, que é um dos que mais prazer me tem dado nas últimas vezes que o tenho tido no copo. Literalmente é daqueles vinhos que está num momento muito alto da sua vida, conjuga toda a frescura da fruta com a complexidade que apenas o tempo consegue oferecer. Por entre os aromas a pinhal e bosque, cogumelos, terroso ligeiro, abre para fruta madura e suculenta, tudo embalado em enorme frescura, limpo com caixa de charutos, especiarias variadas. Na boca é acetinado e ao mesmo tempo vigoroso, com a fruta a explodir de sabor, muita personalidade com ampla presença, profundo e final persistente. Um grande vinho do Dão e do Mundo.

A Bairrada das Caves São João - Frei João


O vinho cujo perfil se poderá afirmar como o mais clássico de toda a Bairrada, o Frei João. Para tal convém reavivar a memória e recuar aos idos anos 50 onde a dupla, Luís e Alberto Costa decide começar a seleccionar, comprar e envelhecer vinhos de grande qualidade nas caves da empresa. É desses vinhos que surgiram marcas emblemáticas como os Porta dos Cavaleiros em 1963, ou em 1945 o primeiro Caves São João Reserva Particular. Em 1960 iria surgir o primeiro Bairrada, o Frei João cujo nome serve de homenagem ao frade carmelita Frei João Baptista (Convento de Santa Cruz do Buçaco) um dos primeiros a plantar vinha na região.

Os primeiros Frei João teriam como origem lotes comprados pelos dois irmãos, junto a produtores da região sendo as Adegas Cooperativas de Mogofres e Cantanhede dois dos principais fornecedores na altura. O Frei João Reserva, ainda em garrafa Borgonhesa, iria nascer na colheita de 1963 e teria o condão de afirmar o seu perfil como o mais clássico de toda a Bairrada. Factores como a tipicidade e a importante consistência geográfica dos lotes adquiridos ano após ano foram determinantes, tal como uma vinificação onde a fermentação com engaço era uma realidade contribuíram para a afirmação ao longo das décadas de um perfil clássico, representativo do melhor que se fazia em toda a região. Nos anos 70 de certo modo assistimos a uma revolução que se manifestou no perfil dos vinhos, na mudança de garrafa do Frei João para bordalesa ou até na própria região com a demarcação da Bairrada em 1979. Em 1972 é adquirida a propriedade Quinta do Poço do Lobo, que com produção própria começa a dar o seu contributo para os lotes aos quais se junta cada vez com maior presença lotes provenientes da zona de Vilarinho do Bairro.

Um passeio pela história de um ícone da Bairrada, apenas possível realizar nas Caves São João, um local mágico que nos dá este enorme privilégio de poder provar vinhos com mais de 40 anos em perfeito estado de conservação, que não mostram sinais de decadência ou cansaço e que a prova que dão proporciona verdadeiros momentos de glória com alguns dos melhores vinhos que se fizeram em Portugal e no mundo.

Frei João Branco 1966: A caminho do meio século de vida com uma complexidade fantástica, muito fechado e a pedir decantação, sério com frescura e profundidade, limpo com rezina, tom melado, vegetal, fruta branca, boa untuosidade com fruto seco a fazer-se notar. Boca com grande frescura a ligar com untuosidade ligeira a envolver o conjunto sempre muito coeso, tenso e com final a mostrar uma surpreendente austeridade mineral.Para durar. 95 pts

Frei João Branco 1974: Uma enorme surpresa, arrebatador a todos os níveis e fico com a sensação que terá sido dos melhores da Bairrada provados até à data. Aroma de enorme complexidade, flores amarelas, notas meladas, fósforo, vegetal, aqui o tom de frutos secos menos intenso e mais fino. Boca envolvente com a acidez muito viva, fruto de polpa branca presente e com vivacidade, longo e persistente, amplo, profundo a mostrar garra e a afirmar a sua presença. 96 pts

Frei João Branco 1990: À primeira impressão o que se pode dizer é que o tempo não passou por ele, tenso, nervoso, cheio de garra com notas de resina e esteva, fruta branca ainda presente. Muita energia, com uma acidez acutilante numa passagem de boca saborosa mas tensa, a mostrar-se ainda austero e com muita vida pela frente. 93 pts

Frei João Reserva 1966 (magnum): Um vinho que é obrigatório conhecer e provar. Um tinto enorme que exala Bairrada por todos os cantos, dono de grande complexidade onde a fruta (cerejas, framboesas) ainda surge com ligeiro apontamento maduro acompanhada de licor… delicioso, cacau, caixa de charutos, chá preto a dar sensação de secura. Boca de luxo, amplitude, frescura, nervo, grande presença e passagem com frescura e fruta, muita classe em final longo e apimentado. 97 pts 

Frei João Reserva 1980: Um belíssimo tinto cheio de frescura e jovialidade, ampla complexidade marcada pela fruta redondinha e ácida (bagas silvestres, mirtilos) com toques caruma, caramelo, café, esteva, coeso, amplo e muito estruturado, cheio de vigor mas com grande finesse. Boca com sabores vincados, fabulosa acidez, longo final e quase que ficamos a mastigar a fruta. 94 pts

Antão Vaz da Peceguina 2014

Da Herdade da Malhadinha Nova chega este Antão Vaz inserido na gama de Monocastas da Peceguina que nos são colocados à disposição conforme o ano em questão. Neste caso o Antão Vaz da Peceguina 2014, um branco com boa exuberância carregado de fruta madura bastante presente onde a frescura é uma constante, notas tropicais com citrinos onde tudo surge bem delineado. Enche o palato de sabor, bem encorpado e a pedir pratos de peixe no forno, com a fruta a marcar num final de travo ligeiramente mineral e seco. O preço é de 10,95€ em garrafeira online. 90 pts

17 fevereiro 2016

Cartuxa 50 Anos tinto 2011

Cinquenta anos depois de Vasco Maria Eugénio de Almeida ter criado a Fundação Eugénio de Almeida, nasce este precioso néctar em jeito comemorativo. Um vinho arrebatador e do melhor que tive a oportunidade de beber no ano de 2015 tal a qualidade com que nos conquista mal cai no copo, naquele que é um dueto perfeito entre a Alicante Bouschet e a Syrah. Na verdade estes novos vinhos que têm sido lançados pela Adega da Cartuxa (Alentejo) têm atingido todos eles um patamar muito alto de qualidade. Este vinho, com preço a rondar os 40€, em tudo especial mostra-se denso, escuro, misterioso e com uma complexidade que se vai desenrolando no copo de forma fantástica. A fruta carnuda e sumarenta aparece fresca, bem delineada, um deleite para os sentidos, a explodir de sabor no palato em conjunto com algum herbáceo, cacau entre outros. Um verdadeiro colosso com anos de vida pela frente que fez as minhas delícias preenchendo os mais altos requisitos. Fantástico. 96 pts

Terrantez do Pico 2014

É pela mão da Azores Wine Company que nos chega este raro e precioso branco elaborado a partir de uma casta tão rara e quase extinta como é a Terrantez do Pico. Da última contagem a equipa de António Maçanita apenas deu conta de 100 plantas desta variedade, o que se vai reflectir numa pequeníssima produção que nesta colheita deu origem a 380 garrafas. Uma produção que o transforma num vinho não de garagem mas de armário, e se for climatizado melhor porque tem pernas para andar muitos e longos anos. Delicada e refinada complexidade que encerra o conjunto, muito preciso e de alta definição, apresenta notas citrinas bem variadas, das mais maduras às mais amargas, nuances de ligeira tropicalidade. Pouco ou nada exuberante, sente-se fechado e a precisar de tempo para se desenvolver, numa altura em que se encontra dominado pela austeridade mineral e o travo de maresia. O que tem de raro tem também de único, a qualidade faz o resto. 94 pts

16 fevereiro 2016

O Fugitivo Garrafeira branco 2013

Chega da Casa da Passarella (Dão), inserido na gama O Fugitivo, o Garrafeira branco 2013 com uma produção que não supera as 2000 garrafas. Este foi um dos brancos que mais me marcou no ano passado, um grande vinho que espelha de forma exemplar a terra que o viu nascer. Como foi dito pelo enólogo Paulo Nunes, é um vinho que conta histórias, que nos remete para um passado de glória e capaz de vinhos míticos que ainda hoje brilham à mesa dos mais exigentes enófilos. A reter que este Garrafeira branco é um vinho de estrondo, nada fácil e fora de modas, cheira a Dão de outros tempos, cheio de garra com taninos a marcarem o final cheio de secura, o vinho grita por descanso em garrafa. Eléctrico, nervoso, tudo ainda muito novo tanto no nariz como na boca, do melhor que a região me colocou no copo nos últimos anos. O preço de 20€ vale cada cêntimo e por todo o prazer que nos dá se aberto hoje com um cherne no forno ou daqui por uns valentes anos, ele merece e nós também. 95 pts

Vale da Mata branco 2014


Criado na região de Lisboa nas encostas da Serra de Aire, mais precisamente nas Cortes, com o crivo da Herdade do Rocim (Alentejo). O vinho junta as castas Arinto, Viosinho e Vital e tem passagem por madeira que dá ao conjunto uma ligeira tosta. Depois de uma primeira edição que me encheu as medidas, ver aqui, esta nova colheita mostrou-se ligeiramente abaixo daquilo que estava à espera. O conjunto mostra-se nesta nova versão um pouco mais contido e discreto, tudo embrulhado com os citrinos e floral em destaque com ligeiro mineral de fundo. Boca com frescura a confirmar boa vivacidade onde a fruta ganha mais protagonismo, pimenta branca, baunilha, final de boa persistência num branco que fará boa companhia a umas lapas grelhadas. 90 pts 

15 fevereiro 2016

Esmero 2013



A base deste vinho são as vinhas velhas da família de Rui Xavier Soares, situadas em Valdigem (Lamego), de onde são produzidos vinhos brancos e tintos com as marcas Esmero e Mimo. Neste caso o topo de gama com preço a rondar os 15€, teve um estágio de 18 meses em barrica e é produzido a partir de uma vinha com mais de 80 anos, mistura de castas a baixa altitude. O Esmero 2013 é dominado pela complexidade, frescura e qualidade de todo o conjunto, cheio de frutos silvestres, cereja, todos muito maduros e cheios de acidez, amplo, com muito caracter, pimenta preta, aconchego da barrica em fundo. Boca a mostrar um perfil encorpado, vigor, persistência, harmonia com a fruta e a barrica em plena harmonia num belíssimo vinho do Douro com anos de vida pela frente. 93 pts

Marquês de Marialva Grande Reserva 2010


A Bairrada andou afastada dos copos dos consumidores durante demasiado tempo, porém tem sido feito nos últimos anos um esforço para contrariar essa mesma tendência e os resultados têm sido, passo a passo, conseguidos. Este vinho é um muito bom motivo para reencontrar a Bairrada, o qual junta 50/50 de Baga com Touriga Nacional e que vem da Adega de Cantanhede com enologia de Osvaldo Amado. Um vinho muito apelativo, onde as duas castas se conjugam e nos mostram um vinho cheio de frescura e nervo, com a gulodice da fruta (ameixa, cereja, mirtilos) fresca e rechonchuda, envolta em suave perfume de violeta e tosta do estágio de 12 meses em barrica. Pelo meio mora um ligeiro toque de rusticidade a lembrar os velhos tempos, com uma passagem de boca saborosa e marcada pela fruta, onde nos mostra que ainda tem muito para durar. Um belo vinho com preço a rondar os 15€ e que é sucesso garantido à mesa com uma sela de borrego no forno por exemplo. 91 pts 

12 fevereiro 2016

Fernando de Castilla Antique Oloroso

As Bodegas Rey Fernando de Castilla, fundadas em 1837, são consideradas como uma das pequenas jóias do Vinho de Jerez e este Oloroso explica a razão. A linha Antique é exclusiva para os topos de gama da casa, os vinhos mais raros e cuja idade das Soleras se perde no tempo, são a alma que podemos encontrar dentro da garrafa. Um vinho com estágio superior a 20 anos que se mostra com muita classe, cheio de notas de fruto seco (avelã), tabaco, caramelo de leite, laranja cristalizada, madeira velha, frescura e sensação de untuosidade a envolver todo o conjunto. Na boca é untuoso, sabores muito bem delineados com excelente harmonia entre todo o conjunto, final de grande persistência com secura presente. 95 pts

André Clouet "Grande Réserve" Grand Cru Brut NV



Os Grand Cru de Bouzy e Ambonnay são o epicentro da casta Pinot Noir na região de Champagne, entre os dois a família Clouet dispõe de cerca de 8 hectares. Os vinhos repousam nas caves da família que desde o séc. XVII se dedica à produção de Champagne. Os Champagnes de André Clouet são um mundo à parte que tem passado ao lado dos mais distraídos que quase sempre se deixam levar pelas marcas mais sonantes. Mostram-se como aquilo que são, excelentes peças de ourivesaria com um refinamento fantástico desde o entrada de gama até ao topo da escada. Capta a atenção ao primeiro contacto com uma fresca sensação de mousse de limão, ameixa branca, limpo e de tremenda elegância. Sorrimos e voltamos a rodopiar o copo, mais fruta descascada a lembrar cereja amarela, concentrado de aromas e sabores, mais frescura, mineralidade a dominar o fundo. Boca com enorme elegância e frescura, faz-se sentir a fruta de forma limpa e saborosa, muita finesse com envolvente de mousse e final com boa secura e persistência. Um vinho que se compra online num patamar que ronda os 28€ muito longe da roubalheira que se verifica em Portugal. 92 pts

11 fevereiro 2016

Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs 2013

É o mais recente lançamento do Vinha das Romãs (Monte da Ravasqueira) este 2013 que nos chega ao copo. Com as já habituais Syrah e Touriga Franca, preço a rondar os 15€, é vinho que não esconde o carácter Alentejano mas com aquele toque "especial" que caracteriza um vinho de uma só parcela. Um vinho que colheita após colheita nos convida a um festival de fruta fresca e suculenta, sempre com um toque de perfume e definição que o faz ser diferente.Boa complexidade com a barrica muito bem integrada como tem vindo a ser apanágio da casa, fruto do trabalho de precisão da dupla de enologia com Pedro Pereira Gonçalves e Vasco Rosa Santos. O vinho é todo ele harmonia, baunilha e muita fruta negra bem redonda e gulosa, regaliz, especiarias com uma energia muito positiva. Um belíssimo vinho do Alentejo, que sabe bem, que dá muito prazer ao ser bebido, corpo mediano com muita fruta a explodir de sabor, taninos a conferir algum nervo ao conjunto que se mostra muito envolvente, longo e prazenteiro.93 pts

Quinta das Bágeiras Pai Abel branco 2013


Este Pai Abel branco 2013 (Bairrada) é um branco que nasce de uma vinha com 20 anos de idade com as castas Maria Gomes e Bical. Na Quinta das Bágeiras o que interessa é a qualidade final do produto, por isso pouca produção, com a primeira passagem pela vinha a levar as uvas para os espumantes e a segunda passagem finalmente para o branco. Fermenta em barrica usada de pequena capacidade, o uso de tonel fica apenas para o Garrafeira, resultando um branco tenso e muito preciso, complexo de aromas firmes a mostrar a sua juventude e rasto mineral de fundo. Ao mesmo tempo a madeira a dar bom volume, fruta madura (maçã verde e citrinos) com tisanas, boca ampla com muita frescura, profundo e cheio de nervo com grande persistência num vinho com preço a rondar os 23€ que vai durar largos anos em garrafa. 95 pts

04 fevereiro 2016

José Maria da Fonseca Trilogia

A José Maria da Fonseca é o mais antigo produtor de Moscatel em Portugal sendo os vinhos desta casta um dos seus patrimónios mais raros e preciosos que remonta a 1834. Para celebrar a entrada neste século foi criado um vinho único e muito especial, o Trilogia, resultante de três das melhores colheitas do século XX, 1900, 1934 e 1965. Os vinhos que dele fazem parte envelheceram em pipas usadas de carvalho até à data de engarrafamento, foram cerca de 14.000 garrafas que se colocaram no mercado em Outubro de 1999. O preço tem vindo a subir , na loja online do produtor vende-se a 138€ uma vez que a quantidade disponível cada vez é mais reduzida. E o que podemos esperar de um vinho como este quando nos cai no copo ? Denso, untuoso, carregado de caramelo e notas de passas de fruta, melaço, frutos secos e a meio termo o toque de vinagrinho para espevitar o nariz, muita harmonia entre acidez/doçura que convidam a sempre mais um trago. A complexidade deste vinho é tremenda sendo capaz de um copo perfumar toda a sala de jantar, muito tabaco, terciários de luxo tal como a prova de boca com uma entrada cheia de força, untuosidade e quase que se mastiga num final interminável. É um vinho que nos faz esquecer do tempo e são poucos os que o conseguem fazer. 99 pts

Antonio J. da Silva Porto 1880

Se há vinhos que nos marcam pelo momento e pela qualidade que apresentam, este é sem dúvida alguma um desses vinhos. A sigla que ostenta em relevo indica AJS, invocando o nome do ilustre comerciante António José da Silva que em 1894 comprou a Quinta do Noval e foi o responsável pela replantação dos cento e quarenta hectares de vinha. Um vinho pré-filoxérico que nos bastidores é dito como produzido e engarrafado na própria Quinta do Noval. Impacto logo ao primeiro contacto, uma frescura de aromas de um perfil onde tudo aparece limpo, delicado e  muito preciso com um ligeiro toque inicial a fazer lembrar um Madeira muito velho. Serena com o tempo, inunda a sala com o fantástico bouquet que emana e parece perfeito e sem falhas. Sensual, extrema elegância, com ligeira nota de untuosidade a invocar frutos secos, folha de tabaco, passa de fruta (alperce, ameixa), especiaria, tudo num turbilhão de emoções. Neste momento toda a mesa está em reboliço com o vinho que lhes caiu no copo, na boca um fantástico equilíbrio e presença com toques de madeira velha, vinagrinho, passa de fruta, final longo num vinho inesquecível. 100 pts

03 fevereiro 2016

Pêra Manca branco 2012

Foi durante largos anos, década de 90, uma presença na minha mesa e na minha garrafeira. Era um vinho que na altura se demarcava claramente da restante concorrência, facto que o elevou a um estatuto superior num ápice. Um vinho que apenas estagiava no frio inox com base na dupla Antão Vaz/Arinto e cuja evolução em garrafa era sempre uma agradável surpresa, mesmo para os mais cépticos. Depois vieram as mudanças, a enologia e a história já sabem. Este pouco ou mesmo nada tem a ver com o do passado, apenas mantém a dupla de castas pois de resto começou a passar por barrica. Quer-me parecer que ganhou nova alma, um perfil moderno e terrivelmente apelativo, fácil de se gostar e de se ficar com vontade de o repetir uma e outra vez, tal como me aconteceu com as primeiras colheitas. Este  Pêra Manca branco 2012 mostra uma muito boa exuberância com um certo arredondamento, muito elegante com fruta (citrinos, fruta de caroço) limpa e madura, especiaria, bonita evolução no copo. Harmonioso e envolvente, sério e a encher a boca de sabor e classe, frescura tem a suficiente que abraça todo o conjunto de forma equilibrada de maneira a que não temos por ali pontas soltas. O trabalho de madeira está nesta altura completamente integrado, um novo perfil que me agradou neste belíssimo branco da Adega da Cartuxa, cujo preço ronda os 22€. 94 pts

02 fevereiro 2016

Quinta de Soalheiro Alvarinho Reserva 2013


É um dos melhores vinhos brancos criados em Portugal. Não vale a pena rebuscar muito no pensamento quando estamos perante uma peça de alta relojoaria que nos mostra toda a sua engrenagem de forma limpa e sem nada esconder. Nele tudo funciona com o equilíbrio e harmonia necessária para que o conjunto marque a prova de forma precisa e inesquecível, delicado e ao mesmo tempo profundo, muito fresco com perfume floral e muitos citrinos. Este Quinta de Soalheiro Reserva é altivo, elegante, muito sério, a madeira confere-lhe a serenidade e clarividência, muito bem trabalhada com ligeiro fumado de fundo. Na prova de boca é a frescura aliada à fruta, amplo e conquistador até do mais céptico enófilo. Enorme finesse no trato, com nervo, mas muito envolvente e feito a pensar na mesa onde mostra a sua verdadeira razão de ser, acompanhe-o com uma garoupa no forno ou com uns camarões tigre grelhados na chapa com molho de manteiga. Dos 23€ que custa, vale cada euro se tivermos em conta o que nos dá agora e tudo aquilo que vai ganhar com tempo em garrafa. 96 pts

Rosé Vulcânico 2014


Proveniente dos Açores, este vinho criado pela Azores Wine Company cujos vinhos se dividem pelos Rare Grapes Collection e os Volcanic Series de onde nos sai este Rosé. Comum a todos eles a frescura proveniente da brisa marítima com uma inevitável e porque não o dizer, acidez que se faz sentido algo acentuada quem sabe fruto dos solos de origem vulcânica. Melhor exemplo do que acabo de escrever é este Rosé Vulcânico 2014, parco na tonalidade e ligeiro na graduação, mostra aromas de fruta vermelha bem limpa com boa presença e de fundo algumas notas de mar com a inevitável nota de iodo e salinidade presente. É este factor que pode causar admiração e mesmo ditar o afastamento de alguns apreciadores, o toque salino que se faz sentir no palato. De resto mostra-se com a intensidade suficiente para fazer um brilharete com comida de inspiração oriental, o preço por garrafa ronda os 12€. 89 pts

01 fevereiro 2016

Quinta do Vale da Raposa Sousão 2010

O produtor Alves de Sousa (Douro) dispensa grandes apresentações no meio enófilo, o seu icónico Quinta da Gaivosa faz parte da história dos grandes vinhos do Douro e de Portugal. Sempre muito terrenos e sem entrar em grandes devaneios enológicos os vinhos de Domingos Alves de Sousa têm mantido um perfil muito fiel às origens, autênticas peças de ourivesaria afinadas ao mínimo detalhe. Do Vale da Raposa têm saído os seus varietais, quem não se recorda do fantástico Touriga Nacional ou mesmo do Tinto Cão na década de 90. Este que aqui coloco é dos mais recentes, um Sousão de 2010 que mostrou uma bonita elegância tanto de nariz como de boca, fresco, algo terroso e agreste mas já muito domado pelo tempo que leva em garrafa e a transmitir aquilo que mais importa num vinho, prazer. Da fruta madura ao cacau, passando pela especiaria e pelo toque terroso, todo ele com boa complexidade, concentrado e a dar uma prova de boca cheia de sabor e frescura. Teve a acidez e a garra suficiente para não destoar na companhia de um Leitão Assado de Negrais. 91 pts

 
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