Copo de 3: Guru 2008

24 julho 2012

Guru 2008


Caiu-me no copo de forma anónima, cheirei e não me cativou, não me prendeu a atenção, provei e mostrou-se algo acanhado, parco de emoções com uma boca onde falta nervo e energia. Apesar de alguma harmonia e substância de conteúdo, não consegue transmitir grande emoção, perde-se vontade e começamos a olhar para o copo do lado. O Miguel lá me ia espicaçando enquanto eu escrevinhava no caderno o que achava, perguntava-me se gostava e qual seria a zona de onde tinha vindo... Sei lá Miguel, sei lá, num rebuscar de sensações, momentos e conhecimentos, tentei encontrar um fio condutor capaz de me guiar naquele vinho meio mudo e meio surdo. Sem aquela nervura do Vinho Verde ou aquele travo Encruzado de um Dão que por acaso até tinha aos gritos no copo ao lado (já lá irei), Bairrada nem passou pelo pensamento, encurralado fiquei a apontar hipoteticamente para um Douro. E mesmo se fosse um Douro seria um sem a raça que outros da região (e lá enumerei uns quantos) me mostram durante a prova, talvez seja um Guru disse eu em tons de brincadeira. Na realidade o Guru sempre foi um branco que das vezes que tive oportunidade de provar, nunca me chegou a convencer.

Sempre gostei muito desta saudável galhofa enófila à volta de uma garrafa de vinho sem que a arte da adivinhação faça parte dos meus gostos, vejo-a como um mero momento de convívio que ajuda a desconstruir mitos formados sabe-se lá em cima de que joelhos, ajuda e muito a evitar cair em malabarismos rebuscados, muitos deles caducos, recorrentes e tantas vezes invocados por gente que vive agarrado a ladainhas repetidas uma e outra vez, porque uma mentira repetida muitas vezes tem o risco de se assumir como verdade. Enquanto riamos e íamos trocando impressões sobre os 3 brancos colocados encima da mesa, insisti mais uma vez neste copo de branco, vinho que seria por palavras do Miguel um topo de gama mas pelo que eu ia vendo de topo tinha e tem pouco. O problema não se mete no não gostar, gostar até gostei, aquilo que o vinho mostra é que não é suficiente para eu o considerar como o grande vinho que muitos descrevem. No nariz que é onde melhor se mostra e apesar da harmonia de conjunto, bom perfume, é todo ele muito contido, quase que aplainado e sem grande torneado de aromas, podem invocar que é harmonioso e delicado, é, mas também se torna acanhado e com aromas quase sacados a ferros. Na boca é mineral, mediano de corpo, citrino, alperce e pouco mais, desmorona-se na presença e sem grande lembrete final. O preço desta "maravilha" ronda os 25/30€ e mostrou mais uma vez a razão pela qual insisto em não o ter na minha garrafeira. 89 pts 

1 comentário:

L. disse...

não provei este vinho. já o crooked vines bco 2010 provei e gostei... muito.

 
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