No passado Sábado provou-se por A+B que o melhor Syrah até hoje feito em Portugal e que bate o pé a outros tantos lá de fora, é do Ribatejo, é Quinta do Alqueve e é de 2001.
Durante a prova fui pensando nos vinhos desta casta feitos em Portugal que anteriormente já tinham sido provados por mim, vinhos que conheci e conheço, que iam sendo recordados num jogo de comparações à medida que o líquido escorria copo acima e copo abaixo... no final nenhum desses nomes me deu prova tão satisfatória em algum momento como este que agora aqui falo. Foi no final da ordem de trabalhos que estava à minha frente um vinho que veio demonstrar a razão pela qual o produtor Paulo Saturnino Cunha aposta na casta Syrah, em conjunto com a Touriga Nacional e a Tinta Roriz.
Falo de um vinho de aroma limpo e nada atabalhoado, com fruta negra bem fresca e de respeitável vivacidade, um vinho onde a frescura ainda marca presença, onde a fragrância perfumada e quase feminina invade o copo. A complexidade, a inegável complexidade e profundidade, a firmeza que apresenta na boca, tudo isto num vinho que brilha passados 11 anos ao mais alto nível. Felizes pois aqueles que ainda o tenham, invejosos aqueles que o desejam agora encontrar e provar.
Foi uma prova às claras, limpa de segredos ou enredos, onde cada um dos presentes opinava de peito aberto sobre os vinhos que tinha no copo. A parada foi alta, sem medos, eu gosto de produtores que não receiam colocar os seus vinhos ao lado de nomes consagrados no planeta para que depois se prove e se opine lado a lado. Quando vi passar à minha frente nomes como Jamet, Jasmin e Torbreck, a tentação de ficar rendido à força dos rótulo foi imediata, durante a prova os vinhos do Paulo iriam conquistar pelo próprio pé o seu lugar por entre todos os outros. Olhei para o Paulo e vi um ar sereno, ao mesmo tempo o sorriso no rosto mostrava que estava feliz por todo aquele momento, eram os seus vinhos que se mostravam... e que bem se mostravam.
Dos vinhos em prova irei dar o merecido destaque isoladamente, a seu tempo e um a um, aqui e agora apenas farei um breve apanhado. Enquanto o Syrah Alqueve 2001 brilhava no copo, o reboliço era enorme, o Côte-Rôtie Domaine Jasmin 2001 passou despercebido e seria o que menos interesse despoletou em toda a prova. Saltando para a marca Quinta de São João onde o Syrah se instalou, provou-se o 2007, um vinho fechado, conciso, marcado por um novelo muito enrolado e apertado, sente-se que mora por ali matéria de qualidade para o fazer evoluir até ao nível do 2001, questão de aguentar as garrafas mais uns anos, por agora não é aquele que melhor brilha mas é inegável que o seu conjunto dá uma prova de grande gabarito. Ao seu lado um gigante Australiano das mãos do actual enólogo da casa, Torbreck Les Amis 2006, um puro Grenache que se mostrou num ponto alto de consumo, contrastou com excelente afinação, frescura, doçura no contra ponto... enorme vinho mas que para o meu gosto começava a desesperar após dois copos. Tenho convicção que já o Les Amis partiu e o 2007 São João estará pleno de saúde. No meio seria colocado o Quinta de São João Syrah 2008, para mim o que menos gostei, o mais guloso, rechonchudo, fruta em modo gordo e sumarento, tabaco, cacau, fumados, é de todos os que provei aquele que escolheria para abrir agora. Enquanto ainda rodopiava o 2008 já se falava na outra ponta da sala, dois gigantes, de um lado Quinta de São João Syrah 2009 (ainda não está no mercado mas muita cuidado com este menino) e do outro um colosso de nome Domaine Jamet da colheita 2009. Aqui a maldade do Paulo foi total, de um lado um vinho mais tradicional, direi mais rústico, muito tempo pela frente que suplica estar fechadinho em cave escura. O Jamet está duro, compacto, carga de taninos e pouca definição, abrutalhado mas de uma cagança de alto nível... e foi a vez de provar o Syrah Ribatejano, o Syrah que causa uma empatia imediata, mais cativante e de igual modo a pedir tempo, outro que não quer saltar já da garrafa, deixem-no dormir, fruta com bela definição e que ainda não conta tudo o que sabe, enologia com trabalho estrelado, o vinho convida a mais um copo, a frescura, os taninos, a boca cheia e com estrutura firme, longo e persistente. Caramba dizia eu, enquanto o rodopiava no copo e dava uma cheiradela no 2001 que tinha pousado na mesa, enquanto isso os últimos exemplares da prova eram apresentados. Se por um lado o 2Worlds Reserva 2009 é outro mundo, outra realidade, mais ready to drink e mais amigo do gosto fácil com toque do Ribatejo pelo meio. Seguia o 2Worlds Premium 2009 (este vinho foi provado como Quinta de São João Grande Reserva 2009 no ano passado), um vinho que ainda está cru, não gostei tanto desta vez, algum lácteo presente, muita concentração, muito que esperar a ver como se vai desenrolar este novelo. No final foi aberto o Quinta do Alqueve Special 2009, que repito mais uma vez o que sobre ele disse anteriormente, a qualidade, finesse e maneira como conjuga elegância com vigor, força e frescura mas ao mesmo tempo fácil de beber e no modo como se comporta à mesa, não cansa e convida sempre a mais um trago tamanha a qualidade com que nos presenteia. Depois disto foi fechar o caderno e preparar para almoçar. Nada mais a dizer,
Sem comentários:
Enviar um comentário