Copo de 3: Clan Charco Las Animas Rosado 2008

27 janeiro 2010

Clan Charco Las Animas Rosado 2008

Em seguida falarei de um vinho rosado, vindo das terras de Castilla e León (Espanha), mais propriamente da zona dos Oteros (Gusendos e Grajal de Campos). Elaborado com uma casta autóctone dessa mesma zona, ocupa hoje em dia uma área aproximada dos 3.000 ha de vinhedo em toda a região. Produzido pelas Bodegas Estefania (Tilenus), este Charco Las Animas Rosado 2008 provem de vinhas situadas a 900 metros de altitude com 50% das uvas com idade compreendida entre os 70-90 anos e os outros 50% de vinha com 11 anos, durante a fermentação o vinho teve uma breve passagem por carvalho francês, terminando em inox, com uma produção final de 1300 garrafas.
A aposta firme e convicta nas variedades autóctones de cada zona, é cada vez mais frequente em Espanha. Basta dar um pouco de atenção para reparar que por detrás de um mar Tempranillo moram vinhos bastante interessantes, cheios de personalidade e feitos com uvas que praticamente passam desconhecidas para a grande parte dos consumidores. Já aqui tinha dado o exemplo de uma jovem adega que aposta fortemente na casta Mencia para elaborar os seus vinhos, os resultados desse esforço têm vindo a ser recompensados com o merecido reconhecimento por parte da crítica espanhola e estrangeira desde a primeira colheita. Nota-se portanto que há uma preocupação por parte de quem produz e de quem começa a produzir, apostar na qualidade mas ao mesmo tempo na diferença com as uvas "nativas" de cada região, mesmo que ajudadas em menores percentagens por outras castas.
Em Portugal cada vez mais andamos a ser abafados sempre pelas mesmas castas, as ditas cujas quase que se tornaram imigrantes e os vinhos vão perdendo a identidade a bem do negócio, trocando-se a paixão pelo negócio puro e duro, importa vender seja de que maneira for, mesmo que isso implique recorrer aos facilitismos... é quase que fazer pintura por números, criatividade é quase nula, mudando-se apenas as cores sem que a coisa fique a destoar muito. Entendendo que se pode e deve dar lugar ao vinho de lote, mas são poucos os produtores em Portugal que apostam fortemente numa vinificação a solo das castas "nativas" de cada região, embora o regozijo seja enorme quando se diz à boca cheia que temos um património muito vasto. Porque razão não temos mais vinhos 100% de Jaen, Tinta Grossa, Tinta Amarela, Tinto Cão, Vital... Ou poderei perguntar porque razão as castas ditas "desconhecidas" lá fora resultam e cá dentro nunca se pode falar em varietal sem que alguém venha a correr criticar e dizer que falta sempre qualquer coisa, acidez, volume, complexidade, intensidade... ?
O vinho que se segue foi sem dúvida alguma um dos Rosados/Rosés que mais prazer me deu no ano de 2009, a produção é reduzida mas a qualidade, a polivalência que mostrou para a mesa e acima de tudo a forma diferente e divertida como se mostra na prova que dá, são motivos muito fortes para não se ficar indiferente a um vinho como este.

Clan Charco Las Animas Rosado 2008
Castas: 100% Prieto Picudo - Estágio: Fermentação com passagem por carvalho francês e inox - 13% Vol.

Tonalidade granada vivo a lembrar a romã.

Nariz de bela intensidade, ou digamos a cheirar muito e bem, com aromas que variam entre o vegetal fresco (rama de tomate, esteva molhada) com fruta vermelha (groselha, framboesa, cereja) e alguma tangerina bem madura e limpa, com algumas flores pelo meio. Ramalhete a mostrar-se sério e bem composto, frescura e a desenvolver um ligeiro toque fumado devido à passagem por madeira, que não chega nem de perto nem de longe a dar sinais durante a prova do vinho. Dá vontade de cheirar e de beber.

Boca com entrada a mostrar-se fresco, seco e de enorme polivalência à mesa. Sabe a cereja, framboesa e groselha madura, com um leve apontamento vegetal pelo meio, como se tivéssemos trincado ao mesmo tempo a rama da framboesa. Envolvente, macio, tem identidade marcada e ao mesmo tempo tem garra, apesar da ligeira goma de fruta vermelha, sabe a vinho e não a doce, que o rosé não é para saber a doce, com o final de boca a mostrar uma bela persistência.

É um vinho que dá muito prazer beber, é vinho para a mesa, para beber com os amigos. Foi assim que este vinho foi partilhado e bebido, com os amigos, todos gostaram, elogiaram, pedem onde se arranja mais para ter em casa. Este está entre os melhores do lado de lá, é claramente diferente, tem identidade, foge do receituário a que estamos acostumados, é como em vez de xarope para a tosse passarmos a beber uma tisana ou um chá. Acompanha saladas, pizzas, pastas, as mais variadas entradas, marisco, e até serve para ser bebido sozinho a pensar que os cerca de 8€ que custa, a produção ronda as 1300 garrafas, envergonharem tanto rosé "mal" feito em Portugal. 16,5 - 91 pts

1 comentário:

Abílio Neto disse...

É um grande rosé. Juntamente com o do Bendito, mais o 04... dos meus melhores 5 rosés de 2009!

Boa nota João Pedro.

Abr.,

An

 
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