Copo de 3: PROVA Alto Alentejo 2004

13 abril 2007

PROVA Alto Alentejo 2004

Faz alguns anos quando me dedicava à prática do BTT, era costume ouvir de outras pessoas que no Alentejo era tudo plano... diziam em tom de brincadeira que não tinhamos subidas, o pior era quando as tinham de fazer, nessa altura a cara de gozo era nossa ao ver as carinhas de esforço serra acima.
É nessas serras, nesses altos com as tais subidas em que as forças são quase sempre levadas ao nosso limite quando se vai de bicicleta, que no Alentejo de hoje se faz vinho.
É nesse Alentejo Alto, diga-se «em altitude» que essas mesmas vinhas estão situadas, por curiosidade os vinhos em prova são ambos do Alto Alentejo, talvez a zona Alentejana capaz de mais variações de estilo, digo eu...
Foi realizada uma prova cega, talvez uma prova de esguelha, pois dois dos vinhos já sabia que iam estar presentes, entretanto para animar a prova foi colocado um vinho mistério... obviamente que a ordem de serviço foi completamente aleatória após 30 minutos de decantação.
Seguem-se as respectivas notas de prova com uma breve conclusão sobre cada vinho, no final será colocada um conclusão geral do painel.

Altas Quintas 2004
Castas: Trincadeira, Aragonês e Alicante Bouschet - Estágio: barricas novas carvalho francês - 14% Vol.

Tonalidade granada escuro de bela concentração.
Nariz a apresentar-se completamente diferente do normal, de boa intensidade com fruta de boa qualidade em primeiro nível aliada a boa dose de frescura. As especiarias marcam boa presença em conjunto com toque vegetal (anis) e balsâmico (eucalipto) suave, tudo isto muito bem integrado com a madeira, baunilha, torrado, chocolate e café. Num segundo plano temos uma corrente de ar floral com um final mineral discreto.
Boca com entrada bem estruturada, muito afinado na prova de boca, redondo e fresco com boa integração da fruta com notas da madeira. Presença de torrados, compota e café, balsâmicos presentes,bela envolvência de conjunto com especiarias de fundo em final de persistência média.

Temos um vinho que se desmarca claramente pela diferença, um perfil que sai da norma talvez derivado ao facto das vinhas estarem a 600 metros de altitude. Tudo em grande sintonia, barrica em plena harmonia com fruta de bela qualidade e a mestria do enólogo Paulo Laureano fazem deste vinho um alvo muito apetecível. Podendo ser consumido agora ou guardado por mais um tempo, o único senão será o preço a que é vendido nas garrafeiras, que ronda os 22€.
16,5

Dão Álvaro de Castro 2004
Castas: Touriga Nacional e Alfrocheiro - Estágio: n/indicado - 13% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.
Nariz a prender de imediato a atenção, muita fruta madura (framboesa, amora, cereja) invade o copo com ligeira compota, frescura bem presente com toque floral de belo efeito. Num segundo plano surge baunilha ainda que leve com mineral e fumado em fundo com ligeiro vegetal. Tudo em grande harmonia.
Boca de estrutura média, frescura com fruta presente, tom balsâmico que se funde em ligeiro torrado da madeira, cacau em pó, mas tudo muito bem ensaiado sem desafinar, sem grandes complexidades dá uma boa prova de boca, em final de persistência média.

Um vinho que cativa claramente pela sua irreverência de nariz, apanhando desprevenido quem não esteja à espera. Mostra-se bem melhor na prova de nariz que na prova de boca, pela complexidade que apresenta não se antevê um vinho de grande guarda, podendo ganhar um pouco mais na garrafa... é beber no ano e esperar pelo próximo, com um preço a rondar os 8€.
16

Azamor 2004
Castas: Syrah, Merlot, Alicante Bouschet, Touriga Nacional... - Estágio: 15% Carvalho Francês, 15% Carvalho Americano e restante em inox - 13,5% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração média/alta.
Nariz a revelar uma boa intensidade, mostra um aroma inicialmente marcado pelo cariz vegetal, certo toque de esteva e caruma de pinheiro presente em harmonia com fruta madura de qualidade, leve compota. Uma brisa suave de balsâmico paira no copo, surgindo floral ligeiro com notas derivadas do estágio em barrica com baunilha, cacau, torrado e especiarias bem aconchegadas. Tudo isto num perfil fresco com toque de fumado no final, num conjunto de complexidade média com bastante envolvência.
Boca de estrutura mediana, fresco e de entrada suave, foge um pouco ao mostrado no nariz, mais fresco, redondo, torrado presente com fruta presente, tudo em plano equilibrado e de belo efeito, final com ligeiro travo vegetal. Final de boca de persistência média/alta.

É um vinho cujas vinhas estão situadas a 350 metros de altitude, vai na segunda edição com uma ligeira mudança de estilo e de lote em relação ao 2003. Este parece precisar de mais tempo em garrafa para afinar todos os seus componentes, mesmo assim mostra-se um tinto diferente do que estamos acostumados nos tintos Alentejanos. O preço ronda os 8€
16

Temos três vinhos de 2004 onde se pode encontrar um ponto comum, a frescura que nos conseguem transmitir durante a sua prova. Se no exemplar do Dão seria de esperar, nos dois Alentejanos o caso muda de figura e podem ser considerados atípicos para a zona que os vê nascer. De resto temos um conjunto de vinhos com perfil bastante diferente entre si, um Dão bastante irreverente e fresco, um Altas Quintas a jogar forte nas madeiras e aromas derivados, e um Azamor que destaca mais a fruta em prol de um estágio em madeira mais acentuado. O Alentejo a mostrar uma nova faceta nos seus vinhos, mostrando por isso mesmo uma boa versatilidade no perfil que pode apresentar nos seus vinhos, falta ainda um vinho ao pé da bacia do Alqueva. Se formos pelo preço final a coisa muda de figura e temos dois vinhos com a mesma nota e o mesmo preço, já o Altas Quintas apresenta-se mais caro mas com um pequeno acréscimo de qualidade, talvez um pouco caro para a qualidade apresentada, mas isso cabe ao consumidor decidir.

3 comentários:

Anónimo disse...

O Altas Quintas ainda não provei, mas quanto ao Álvaro Castro fiquei rendido. Provei o de 2004 e logo fui comprar outra garrafa. Entretanto ainda acabei por comprar uma de 2005. A minha prova fica aqui:

http://kronikasvinicolas.blogspot.com/2007/03/no-meu-copo-93-do-lvaro-castro-2004.html

Ah, e em feira de vinhos consegui-o por um euro a menos

Anónimo disse...

Esse vinho Azamor 2004 é bastante mau.

João de Carvalho disse...

Caro Asilva

Quer explicar melhor porque entende que o vinho é mau ?

É mau porque não gostou ou porque não tem qualidade no seu entender ?

 
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