Copo de 3: Marias da Malhadinha 2004

11 março 2008

Marias da Malhadinha 2004

Um dos grandes da Albernoa(Alentejo) e de Portugal, a Herdada da Malhadinha Nova, produtor que em pouco tempo passou de revelação a confirmação e uma aposta bastante sólida quando toca a vinhos com personalidade e consistência colheita após colheita.
Mais uma vez a imagem transmitida pelos vinhos que aqui são produzidos, é uma imagem inovadora, bastante dinâmica e jovem. Tão jovem, que se apresentou no mercado com os rótulos dos respectivos vinhos a serem desenhados pela mais nova geração da família Soares, inspirando com os seus desenhos ou mesmo dando origem a nomes de vinhos como é o caso do Pequeno João. E para não fugir à regra, mais uma vez os petizes da família Soares, que entre ambos partilham o nome Maria, foram fonte de inspiração para mais um vinho, o Marias da Malhadinha 2004, que tem em vista prestar homenagem às Marias de Portugal, não fosse Portugal um país dedicado ao culto de Maria.
É uma novidade que segundo palavras do produtor, apareceu de forma muito natural, partindo da ideia de colocar de lado uma selecção das melhores barricas de 2004 com o objectivo de avaliar a evolução dos vinhos da casa, com algum tempo em barrica. A respectiva evolução mereceu que o vinho fosse engarrafado e comercializado, nascendo assim o topo de gama deste produtor, que passou 26 meses em barrica nova de carvalho francês e mais 10 meses em garrafa, até ter chegado o momento da sua comercialização.

Marias da Malhadinha 2004
Castas: Aragonês, Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional - Estágio: 26 meses barricas novas carvalho francês e 10 meses de garrafa - 14,5% Vol.

Tonalidade granada escuro e quase opaco de concentração.
Nariz a mostrar um vinho de aroma austero e muito concentrado, fruta dominada por todo um conjunto assente de momento nos derivados da passagem por madeira, com ligeiro toque lácteo pelo meio. Sente-se um tom morno nas variedades de chocolate preto, fumo, baunilha e café creme, rodopio de especiarias que liga a uma brisa de leve balsâmico com alguma resina no segundo plano. Tudo a sentir-se muito junto, compacto e de boa intensidade.
Boca a revelar um vinho não tão intenso como a prova de nariz nos poderia querer indicar, apresentando-se de estrutura sólida mas com corpo médio. A fruta parece tapada pelas notas de cacau, tosta, especiaria, tudo muito junto com sensação de adocicado, contando com brisa fresca que percorre todo conjunto. No segundo plano mostrou um travo amargo que recorda pinho verde, uma sensação pouco agradável que parece dar um ligeiro sabor azedo ao vinho, com o final a revelar-se de persistência média.

Um vinho que na altura da prova se mostrou algo fechado e com a madeira a querer ter, grande parte do protagonismo. A prova que dá tem o seu toque inegável de qualidade, mas ainda é cedo para se falar em equilíbrios ou harmonias, pois tempo é o que o vinho pede, para que tudo se possa interligar, harmonizar e amaciar. O toque acre que se sentiu na boca durante a prova, desde a temperatura inicial de 14ºC até aos 18ºC, deixa alguma preocupação e denota claramente uma passagem muito longa por madeira. Resta esperar que essa mesma sensação seja diluida com o tempo de garrafa, o que pode ou não acontecer, e nessa altura teremos de questionar os cerca de 60€ que este vinho custa em garrafeira.
16,5

17 comentários:

prtbarata disse...

Caro João, eu dei-lhe um poquinho mais... :)

Abraço!

Transparente disse...

Eu estou para comprar este vinho. Provei-o no EVS e também o achei algo fechado e marcado pela madeira. Pode ser que evolua no bom sentido.

Sou grande fã dos vinhos da Malhadinha.

O preço é que é puxadote.

João de Carvalho disse...

Eu também sempre gostei bastante dos vinhos da Malhadinha Nova.
Desde que apareceram no mercado tenho acompanhado os seus lançamentos,foram uma lufada de ar fresco que o consumidor apenas tem de agradecer.

Pessoalmente este Marias não me conquistou tanto como por exemplo o Malhadinha, Aragonês da Peceguina ou o Pequeno João.

Anónimo disse...

Ah carago, este 16,5 foi a pedido! Estava a ver que o senhor do blog só dava grandes notas às bombas caras.

Como ficou depois de ter dado os 60euros?

Couteiro-Mor Reserva, Adega Borba PT Reserva, Montes Claros... tanta coisa boa e barata...

Enfim, luxos...

Este marias pode ir para perto do outro maria... o do FNG.

João de Carvalho disse...

Caro CM

As minhas notas de prova não têm em conta nem o preço nem o rótulo do vinho em questão, quer seja caro ou barato. A nota final depende sempre da apreciação de alguns parâmetros que tenho em conta, durante a prova de um vinho.

Fiquei espantado quando soube o preço do vinho, curiosamente não fui eu que comprei, foi colocado em prova por um amigo.

No vasto mundo do vinho, arriscamos sempre a encontrar melhor, pior ou até igual, tendo em conta a nossa avaliação... mas isso faz parte.

Cumprimentos

Pedro Sousa P.T. disse...

Infelizmente se depender de mim, nunca vou provar este vinho, pois os 60€ pedidos são uma obscenidade em relação ao Monte da Peceguina. Respeitando muinto os teus comentários espero, quem sabe um dia, como tu arranjar um "patrocinador" para poder prova-lo.
Um abraço.

NOG disse...

Nao consigo gostar, por agora, deste tinto. Tem muita publicidade, e muita gente fala dele mas poucos sao aqueles que falam que percebem de vinho. Concordo com a nota de prova.

João de Carvalho disse...

Nuno mas qual é o vinho que hoje em dia não tem muita publicidade agarrada ? Principalmente os vinhos mais caros e mais procurados são os alvos mais apetecíveis da publicidade o que se entende.

Abraço

Anónimo disse...

peço imensa desculpa mas não concordo nada com a descrição do vinho, a nota para mim é irrelevante, varia de provador para provador e seus limiares de percepção, que são tão importantes num provador!
Tenho a dizer que o toque lácteo não existe e o amanteigado também não, talvez tenha sido induzido em erro pelos aromas transmitidos pela madeira, a baunilha a torrefacção! e a resina? por amor de deus...a desgrição gostativa também é de todo mal personificada,o pinho verde e o ligeiro sabor a azedo...mas enfim fica a sua deixa para os consumidores, mas digo viemente a todos para provarem este vinho, pois realmente é do que melhor se tem feito no baixo alentejo, e um vinho com guarda asegurada..

João de Carvalho disse...

Cada pessoa está no seu pleno direito de não concordar com uma opinião diferente.

Visto que a prova de um vinho depende em muito das percepções e sensações dadas a cada provador no momento da prova, e que um mesmo vinho pode ter oscilações de garrafa para garrafa. É sabido que a interpretação de um mesmo vinho entre vários provadores pode variar.

No entanto não deixo de estranhar perante uma tamanha convicção do que existe e não existe... será que estamos perante a verdade suprema ? Pelo tom que coloca parece que se quer afirmar como tal.É pena que pela segurança com que afirma o que tem e deixa de ter (ainda procuro onde escrevi o amanteigado) se tenha esquecido de colocar o seu nome...

Quanto à nota de prova não vou comentar, basta ter atenção a outras notas de prova que já foram publicadas sobre este mesmo vinho, para me deixar descansado.

Anónimo disse...

Caro joão pedro passo muitas vezes aqui neste seu cantinho, para ver algumas das suas provas! Nesta em especifico, criou-se algum atrito, o que é de salutar, sendo que estanto o respeito sempre presente.
Não concordando por completo do comentário acima,(não seria o toque amanteigado mas amadeirizado talvez), devo dizer que depois de ver a sua prova, fiz questão de por duas vezes já fazer em prova cega com mais alguns amigos, mais entendidos que eu, as nossas notas de prova não foram ao encontro em nada da sua, a não ser um toque marcado pela madeira um pouco exceciso, mas explicado pelo pouco tempo em garrafa que este vinho tem!
por curiosidade ficamos todos espantados quando vimos que este Marias, em prova cega, remeteu para segundos planos, o Batuta e o Xisto, havendo uma luta renhida com o Vale Meão 2005!
Boas provas ate breve!
Manuel Cardoso

ps. na minha humilde opinião acho que poderia fazer uma nova prova deste vinho, pois a sua nota de prova, penso que tem pouca consunância com a descrição que faz do vinho.

João de Carvalho disse...

Caro Manuel Cardoso

Quando diz que as notas de prova não vão ao encontro da minha fico a pensar, será que o vinho não tem boa concentração de aromas ? não estamos perante um vinho com o toque de madeira mais presente e dominador que a da própria fruta ?
Não se notam os mesmos aromas derivados da passagem pela madeira ?

Ou apenas não se concorda onde faço referência ao toque lácteo e à resina que me foi sugerida pelo toque da madeira que tem ainda bem presente.

Estamos perante um vinho que já mostra todo o seu potencial ou ainda está fechado em si mesmo pedindo tempo para se mostrar ?

Será que o não concordar com a prova de boca é na parte onde digo que o travo amargo recorda pinho verde ? Será devido a esta presença de taninos da madeira que os tem presentes derivado do seu longo repouso em barricas novas, que não concorda ?

Penso que o debate será bem mais interessante se em vez de dizer que as notas de prova não coincidiram, ou que o vinho foi melhor que outros em prova cega... , apontar efectivamente para o que não concorda.

Anónimo disse...

caro paulo,
de todo queria ferir susceptibilidades com o meu comentário,e se o fiz foi sem intenção!
é um facto que o vinho está marcado pela madeira, mas depois de 30min de decantação, há uma boa envolvência da madeira, com a tal concentração de aromas de que fala, a fruta madura ameixa preta e groselhas pretas, com um toque a baulilha e chocolate preto! também lhe consegui retirar um equilibrio muito bom no que toca aos pimentos bem maduros, o que me sugere uma colheita feita na hora exacta para a casta cabernet. Pessoalmente e creio que para este perfil de vinhos a fruta não será o mais relevante, embora faça parte do todo, esta não poderia faltar, mas a sua acidez, cor e corpo para vinhos de guarda são para mim facotes determinates.
Sim realmente o toque lácteo não o interpreto de maneira diferente, para mim advém dos aromas a baunilha provenientes da madeira.
o pinho verde confeço também que não me pareceu, pois o vinho é muito "maduro" e bastante encorpado com taninos bem maduros(os taninos verdes,e os elágicos podem levar a esse pinho verde, o que não me parece neste vinho).

não denoto também o amargor ou o ligeiro sabor azedo ao vinho, penso sim que p vinho ainda está muito duro, muito robusto, falta-lhe ser "esculpido" que o será feito pela garrafa.
Quando digo que não me parece haver consunância é no facto de a leitura da sua prova em nada indicar a nota que lhe atribuiu nada mais.

já agora e perdoe-me mas pareceu-me que a sua resposta foi um pouco "amarga", apenas quis também dar o meu discordar de algumas passagens da sua prova, se não achar que é de bom tom a minha intervenção anterior, poderá se achar conveniente retirar o post.

Atenciosamente Manuel Cardoso

Anónimo disse...

a pouco disse:
Sim realmente o toque lácteo não o interpreto de maneira diferente, para mim advém dos aromas a baunilha provenientes da madeira.

tive um erro ortográfico que em tudo mudaria a minha afirmação1 seria então:

Sim realmente o toque lácteo interpreto-o de maneira diferente, para mim advém dos aromas a baunilha provenientes da madeira.

atenciosamente Manuel Cardoso

João de Carvalho disse...

Não feriu qualquer susceptibilidade, pelo que comentários como o seu até são muito bem vindos, permitindo discutir de maneira aberta as provas de cada um.

Quando digo toque lácteo deriva de uma sugestão que tive de iogurte de frutos silvestres, ainda que suave tal como foi dito no texto.
Quanto ao pinho, é um aroma que já tive oportunidade de encontrar em algumas provas de barrica e em vinhos muitos marcados pela madeira.

Na prova de boca o tal amargor e azedo, é uma sensação verdasca que me dá quando por exemplo trinco um pauzinho de gelado. Tudo isto parece ser fruto da longa estadia que teve nas barricas o que não implica que o vinho fique assim por muito tempo, pois espera-se que a evolução seja muito positiva, até pelo que mostrou durante a prova.

Em nada foi amarga a minha anterior resposta, apenas entendi que se deveria tentar tocar nos pontos chave deste debate e parece que tal aconteceu.

Já agora lendo a nota de prova com que nota estaria de acordo ? No seu entender deveria ter ficado com mais ou menos ?

Anónimo disse...

Caro Paulo,
fico contente com a sua resposta.
Pela nota de prova por si escrita, estaria a espera de uma nota inferior!
Se não tivesse provado o vinho e se por muitas vezes dada a tanta oferta do mercado tento me apoiar em notas de prova de outros ou de revistas ou mais recentemente através da internet, este vinho não me iria atrair a minha atenção, talvez pelo seu texto fazer pouca alusão ás grandes qualidades que este vinho tem!
Secalhar também fui um pouco imparcial em relação aos meus comentários, pois gosto muito deste vinho, e penso se o Malhadinha, pequeno joão e talvez o Aragonês da peceguina já eram provas dadas, penso que este Marias daqui a 3 4 anos será um vinho soberbo!
Já agora,daqui a quanto tempo pensa que este vinho estará no seu pique?
Não acha que em termos de marketing este vinho foi "mal tratado", no que respeita mesmo ao pouco tempo que ficou na garrafa! Não seria mais positivo para o vinho esperar mais um anito antes de entrar para o mercado?
Manuel Cardoso
Cumprimentos

João de Carvalho disse...

Um reparo, sou João e não Paulo.

O texto apenas reflecte o que eu achei do vinho na altura da prova. Obviamente que essa mesma opinião pode variar consoante o provador ou até mesmo conforme a altura em que se prove o vinho. Certamente que nos dias de hoje estará bem melhor do que em Fevereiro quando o provei.
A nota de prova complementa-se com o a nota atribuida no final.

Fazer previsões nos vinhos pode ser arriscado, jogando pelo seguro diria uns 4 anos para que se componha.

Não tenho problemas em afirmar que se a presença da madeira não fosse tão sentida, eventualmente a nota seria bem melhor.

Como o vinho já é de 2004, mais tempo nas caves do produtor seria uma jogada arriscada, pois com a sede de vinhos novos por parte dos consumidores lançar um vinho de uma colheita já com alguma idade poderia não ser um alvo apetecível, mas isto sou eu a dizer.

 
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