Copo de 3: VINHO NONSENSE...

11 março 2012

VINHO NONSENSE...

O vinho de que falo não tem produtor, nome ou colheita, é um genérico que cumpre apenas e só como aquilo que é... vinho. Como tantos outros que não se destacam em nada, produzido numa qualquer região onde a única coisa que lhe retira o seu sentido de vida é a casta com que foi feito no local que foi feito... a mesma falta de sentido que torna equivalente um Alvarinho feito na Vidigueira a um Antão Vaz no Dão ou um Encruzado em Bucelas.
Quando cada vez mais o que se procura é identidade, um local, uma região dentro de um copo de vinho, produzem-se mutantes com falsos super poderes que em tirando a máscara passam indiferentes por entre a multidão, tristes, deprimidos e sem sentido. São estes heróis imaginários que têm surgido nos últimos tempos em Portugal, como o exemplo da casta Alvarinho fora do seu cantinho dourado (Monção/Melgaço), que passa um atestado de incompetência às castas brancas locais que sempre por lá andaram tendo em conta por exemplo o Alentejo e relembrar o Arinto, Antão Vaz, Roupeiro, Verdelho... Os que os fazem dizem que é o mercado e um tal de consumidor que pede estas coisas. Mas será que pede mesmo ? Que mercado é que opta por ter uma cópia barata em vez de um original que custa  muitas vezes a metade do preço ? Que consumidor é esse que gosta literalmente de ser enganado e compra gato por lebre ? Alto... o consumidor gosta de ser enganado ? É o "normal" consumidor que compra esses desvarios enológicos ? Uma região que não se especializa em coisa alguma como poderá ser alguma vez reconhecida por aquilo que faz ?

Não sou contra a experimentação desde que não passe disto mesmo, vendida e encarada como tal, de resto enquanto consumidor fujo de toda e qualquer manifestação de deslumbre enológico apenas e só porque o enólogo ou produtor gostavam de fazer um vinho à moda de outra zona de renome mundial. Tudo isto não passa de um freak show mediano que é esta realidade vivida em Portugal por alguns nos últimos tempos, o vale tudo que se tornou alguma produção de vinhos faz com que hoje em dia seja possível encontrar vinhos feitos com castas fora da zona que sempre as acolheu a serem vendidos como algo único e deslumbrante, sonhos enófilos apenas com sentido para aqueles que os tiveram e reproduzem, que depois para os enófilos se mostram autênticos pesadelos. Resta então perguntar até aos dias de hoje quantos destes "estranhos" se destacou da mediania ou ousou sequer poder ser comparado com os bons exemplos da casta no seu terreno natal ? afinal de contas se quero comprar um branco do Alentejo porque razão vou comprar um Alvarinho ? Se quero um branco do Tejo porque razão vou comprar um Sauvignon Blanc ? Nesta geração de heróis de chinelos o consumidor é enganado por vinhos que são luzes apagadas da casta que lhes deu origem, muitas das vezes feitos onde ainda se aprende a fazer vinho, onde defeitos são tapados com madeira a mais, onde tudo parece ser uma maravilha que afinal não é, onde quem manda parece não querer saber da identidade das regiões que regula e onde se produz cada vez mais com a carteira do que com o coração e o sentido de gosto apurado. No meio de tanto barulho e ruído enófilo, os verdadeiros Heróis Nacionais vão ficando esquecidos, encostados à parede sem conseguirem mostrar os seus verdadeiros dotes... sem poderem orgulhosamente mostrar que nasceram para nos salvar deste inferno da globalização.

3 comentários:

J Pires/C Soares disse...

Muito bom artigo!

Carlos Soares

João de Carvalho disse...

Obrigado.

Antonio Madeira disse...

Muito bom!
Concordo na integra!

 
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