Copo de 3: Quando o nosso lá fora é mais barato...

01 fevereiro 2007

Quando o nosso lá fora é mais barato...


Nos tempos que passam uma das palavras que se ouve é POUPAR, ou seja diz-se que as famílias deveriam despender com moderação, economizar, evitar grandes despesas sem a febre do consumismo e evitar endividamentos, coisas que hoje em dia é difícil não fazer, mas pronto sempre se vai dizendo que devemos poupar na água, luz e gás... com objectivo de gastar menos recursos naturais e ficar com mais dinheiro ao fim do mês.
Mas colocando em prática a palavra Poupar no campo do vinho e na visão do consumidor será isso possível ?

Como consumidor gosto sempre de comprar o vinho o mais barato possível, gosto de comprar vinho no produtor se bem que em alguns já não compensa, mesmo assim procuro sempre informar-me dos preços praticados nas garrafeiras ou nos hipers, onde posso comprar mais barato, afinal de contas o dinheiro não me cai da parede nem nasce no chão e se der para comprar mais barato não digo que não, visto que os vinhos raramente entram em Saldos, uma das melhores alturas para poupar é nas Feiras de Vinho das grandes superfícies comerciais, onde algumas marcas se encontram a preços bem mais convidativos do que durante o resto do ano, nesta altura vale a pena fazer uma comparação entre os vário catálogos pois as diferenças podem chegar a alguns euros.
Chegando a este ponto convém separar as coisas, primeiro temos os vinhos de baixo custo, aqueles que raramente encontramos nas garrafeiras e que encontramos nos Hipers... são vinhos que variam até aos 5€, onde simplesmente as diferenças nunca vão ser de grande destaque.
Surgem depois os vinhos que podem variar entre os 6€ e os 15€ onde aqui já podemos encontrar algumas diferenças entre garrafeira e hiper, as diferenças de guarda das garrafas podem inclinar a escolha para as lojas especializadas mas algumas que conheço de especializada apenas tem o nome pois o calor das luzes entre outras coisas deixa muito a desejar... e é algures entre este patamar e os próximos que eu começo a minha procura.
Digamos que por exemplo num vinho que eu considero uma grande compra, o Quinta dos Quatro Ventos das Caves Aliança, os preços podem oscilar entre os 8€ e os 15€ como já vi, e neste caso justifica ir ao primeiro sítio comprar.
O caso muda de figura quando os preços começam a ser mais altos e os nomes mais sonantes, sinceramente nunca estive de acordo com a diferença de preço com que o vinho sai do produtor e depois é vendido na garrafeira... alguém ganha e muito, e as garrafeiras (algumas) não são as culpadas, talvez quem vende o vinho a x ou a y seja diferente e as margens cobradas sejam outras mas infelizmente quem leva com tudo é o consumidor, relembro o exemplo do vinho Sirga que já se falou em 15€ e em 30€, sendo o mais barato que vi foi no WinePt a 17,90€, mesmo assim muito longe dos 30€.

A loucura dos preços está associada à fama de determinada região e a uma crítica melhor ou pior, sem esquecer o bom marketing que apoia, neste caso temos um Douro que está na moda, foi relançado com vinhos de altíssimo nível mas também de altíssimos preços.
Mas será que os preços praticados pelos vinhos em Portugal são os correctos ? Não estará o consumidor a pagar os devaneios de alguns ? Como se justifica a diferença de preços entre vários pontos de compra ?
Se todas estas diferenças que se podem encontrar em Portugal já dão que pensar, o caso muda de figura quando passamos a fronteira e entramos em Espanha, é aqui que sem tirar nem por os vinhos do Douro são mais baratos, atenção que nem todos mas talvez os vinhos que em Portugal estão na moda... em Espanha são mais baratos.
Uma vez uma produtora disse-me que vendiam os vinhos lá fora mais baratos devido à concorrência, pois com baixos preços era mais fácil conquistar lugar no mercado do que com um vinho caro, e tendo em conta que é uma marca desconhecida... penso que seja isto que faz por exemplo a Austrália, coloca vinhos mais baratos mas com boa qualidade.
Mas para se poder comparar e entender o que digo, deixo alguns preços de vinhos já com iva incluido que se podem encontrar em Espanha vindos do Douro de Portugal:

Quinta do Vale Meão 2003 - 32€ em Espanha com um preço indicado no guia da RV de 45€ e 55€ numa garrafeira
CV 2003 - 32€ em Espanha com um preço indicado no guia da RV de 45€ e 50€ numa garrafeira
Quinta do Crasto Reserva 2003 - 14€ em Espanha com um preço indicado no guia da RV de 30€
Quinta do Crasto Touriga Nacional 2003 - 35€ em Espanha com um preço indicado no guia da RV de 50€
Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2003 - 52€ em Espanha com um preço indicado no guia da RV de 80€ e cerca de 110€ numa garrafeira.

Comparando estes preços com os preços praticados em Portugal não me deixam muitas dúvidas de onde devo ir comprar o vinho, a pergunta que se faz é se o nosso vinho lá fora tem estes preços, cá não tem porquê ?
Obviamente que não vou falar sobre preços de vinhos estrangeiros em Portugal porque sinceramente não vale a pena, os locais que valem a pena são conhecidos por todos e a pessoa em causa sabe de quem falo, quanto ao resto é chover no molhado.

Qual a vossa opinião ? Como consumidor custa-me aceitar que tenha de pagar mais por um vinho do Douro no meu país do que por exemplo em Espanha, curiosamente os vinhos do Alentejo e de outras zonas não encontro tanta diferença nos preços.
Neste momento dou comigo a pegar numa garrafa e pensar se o vinho vale mesmo aquele preço que me estão a pedir...

22 comentários:

prtbarata disse...

Excelente post!!! É totalmente verdade!!! A diferença de preços é inacreditável!!! E para ajudar e complementar a ideia, basta ver os preços dos vinhos nos Restaurantes... aí o escândalo ainda aumenta mais...

Assim não evoluímo não...

João de Carvalho disse...

Sim mas no caso dos Restaurantes entende-se melhor, ficam limitados aos preços que lhes são colocados à frente e obviamente tem de ter a sua margem de lucro, o que em alguns casos é uma roubalheira mas pronto.
Neste aspecto penso que já tivemos pior, a mentalidade vai sendo alterada com o tempo.

Mas falando nos vinhos lá fora, porquê os preços em Portugal mais altos ?

Anónimo disse...

Olá João Pedro.
Que grande texto, para reflectirmos sobre o preço dos vinhos!
Se queres saber a minha opinião, acho que devemos, tal como tu fazes, tentar ludibriar algumas estratégias de mercado e procurar os postos de venda mais baratos.
O pior é quando a qualidade do vinho não corresponde, minimamente, ao preço mais barato praticado.
Beijos,
Augusta.

Anónimo disse...

Caro João Pedro

Excelente tema que aqui levantas. Para o completar deverias em minha opinião colocar aqui os locais, moradas, e telefones onde vendem estes vinhos a estes preços para que todos possamos ter acesso aos mesmos. Talvez assim os preços começassem a baixar.

Um abc

Zé Tomaz

Pingas no Copo disse...

Pessoalmente também já fui confrontado com vinhos portugueses a serem vendidos "lá fora" a preços mais baixos ou iguais aos que se praticam "cá dentro".

Chapim disse...

Caros também eu já vi alguns exemplos deste fenómeno. E foi-me relatado outro fenómeno interessante. Uma garrafeira de Valença consegue ter vinhos do Douro com preços sensivelmente mais baixos que outras garrafeiras porque todos esses vinhos são comprados a distribuidores alemães e não directamente à casa mãe ou distribuidores nacionais. Mesmo metendo mais alguém pelo meio consegue pôr os vinhos a preços sensivelmente mais baixos.

Boas provas!!

NOG disse...

Até na cave do caro e luxuoso "Fortnum & Mason" (Londres) os preços dos vinhos referidos pelo Jean Pierre são mais ou menos esses! Espantoso, não é?

Contra factos como estes, os argumentos são parcos...

João de Carvalho disse...

E acham normal que nós como consumidores temos de pagar o nosso vinho mais caro cá do que lá fora ?

Eu vejo os preços dos vinhos de Espanha e são mais caros em Portugal do que em Espanha, ou mesmo os Franceses... porque é que nós temos de ser diferentes ?

Anónimo disse...

Caros Amigos, duas notas:
Só neste País... Isto é como o agricultor, ou o pescador, que andam de sol a sol na lavoura,ou no mar duramente, apesar do desenvolvimento tecnológico , como tractores, e máquinas agrícolas, ou barcos mais modernos com sondas e gps`s, mas as queixas são as mesmas os lucros vão sempre para os intermediários, e são margens brutais. Porque será??? Quando for grande quero ser intermediário para ficar podre de rico (quem é esta gente que não dá a cara?). Quanto a Espanha, nós já lá vamos buscar tudo mais barato, desde os combustíveis, passando pelas botijas de gás, os bens de primeira necessidade, até aos supérfulos, é quase tudo mais barato. Já agora porque não ir buscar o vinho, que ainda por cima é nosso??? (ironizar) abráço a todos.

Anónimo disse...

A mim não me surpreende, o mesmo se passa noutros sectores. Turismo por exemplo. É mais barato comprar uma estadia para o Algarve no Verão na Alemanha ou em Espanha do que aqui em Portugal.
A dimensão dos distribuidores e do próprio mercado, a quantidade, etc, tudo isso ajuda a que estas coisas acontecam.
Claro que depois nos casos mais exagerados, nos vinhos da moda, enytra em cena outro fenónomo, o da especulação dos retalhistas. E isso só não é feito em Espanha porque lá não é moda, mas em Espanha se calhar fazem o mesmo com outros vinhos. É a vida ! É um mercado livre, quem quer compra, quem não quer, que procure mais barato. Cabe ao consumidor selecionar o seu local de cmpra, e se achar um abuso, é não pôr os pés de novo em determinado local.

Anónimo disse...

Suponho que os vinhos sejam mais baratos pela escala de compra.
Suponho que comprem mais , até porque são mais habitantes , do que os que compram em Portugal.
A acrescentar isso , verifica-se uma situação que e jogar com a "fama" do vinho.Os nossos não gozam assim tanta "fama" lá fora , sendo por isso a sua margem de lucro masis pequeno.
Só em Portugal e que nos deixamos levar por essa dita " fama".

Luis Prata disse...

Quanto ao preço dos vinhos portugueses em Espanha não posso opinar porque não sei... mas pelo que dizes, é triste..

O que sei é que estive agora em Granada onde bebi vários vinhos espanhóis bastante bons e em conta, isto em restaurantes.

Lembro-me por exemplo de beber um Ondarre Reserva 2001 que num restaurante com preço médio de prato a 15€, custou apenas 16€.

Abraços

João de Carvalho disse...

Caro Luís Prata a isso eu chamo respeitar o vinho e o consumidor, preços sensatos que ajudam a promover de forma correcta o vinho.

Faz-me certa impressão como é que Portugal como um país produtor de vinho não tem a mesma cultura do mesmo como os Espanhóis, vinho a copo, bons preços...

Anónimo disse...

Quando os restaurantes / Lojas cobram preços elevados, é porque há compradores. É a lei da Oferta e da procura a funcionar ( vejam os preços no estrangeiro. Se são altos ninguem pega)
Enquanto houver procura suficiente
( se calhar ficam satisfeitos em vender 1 unidade em vez 5),
os preços, de certeza que vamos continuar a pagar bem caro.

Cmps

P

Anónimo disse...

Isto tem tudo que ver com a mentalidade dos nossos empresários. Basta lembrar o que aconteceu há meia-dúzia de anos com os vinhos alentejanos, em que todos eram estrelas. Nunca mais me esqueço do Francisco Nunes Garcia que o primeiro vinho que lançou no mercado foi a 25 €!!!. Agora já mudaram a agulha e nos últimos anos os preços têm baixado significativamente. Já há vinhos alentejanos a 4 e 5 euros que há pouco tempo custavam 10 ou mais.
Quanto aos do Douro, agora vivem da fama e também colocam preços obscenos. Eu gosto de ver as provas que os comparsas aqui vão apresentando, mas não alinho em vinhos de 30 e 40 euros como se vê muito por aqui. Uma vez por ano já não será mau, simplesmente porque não estou disposto, de todo, a gastar esse valor por 7,5 dl de líquido. Acima dos 15 € por garrafa só muito excepcionalmente e depois de pensar várias vezes. Mas enquanto houver quem vai atrás da moda, eles aproveitam para meter a unha.
Quanto aos restaurantes, o nível de preços praticado só tem uma palavra: escandaloso! Vejam o que encontrei no Orelhas, que refiro no úlitmo artigo nas Krónikas Vinícolas.

Paulo Pacheco disse...

Olá
Eu sou um intermediário.
(estou a dar a cara portanto)
as margens dos intermediários são normalmente de 20%.
façam um pouco de contas e digam-me como é que posso ficar rico (dá-va cá um jeitão)
para dar uma ajuda:
desta margem tenho que pagar funcionários, armazém, viaturas, seguros, transportes dos vinhos, etc etc. e ainda tenho que ouvir o dono do restaurante justificar a sua margem de 150% no vinho porque ele tem que comprar copos.
ok?
se tiverem dúvidas - força que esforçarei-me por responder.
Ahh.. já agora... nos vinhos mais caros as margens descem consideravelmente.
...
alentejano.. esse "Espanha" é um bocado vago não é?
É que na minha pesquisa por garrafeira online espanholas o "nosso" vinho está ao mesmo ou mais caro do que cá. Não terás encontrado uma excepção á regra?

PAULO SOUSA disse...

O tema é interessante,mas Espanha é um território muito vasto,onde é que encontrou estes vinhos aos preços a que referiu?

João de Carvalho disse...

A questão dos restaurantes é um pouco diferente mas também bem interessante, aqui penso que em muitos casos as margens são de outro mundo,e nos vinhos mais baratos as margens são bem maiores...

Caro Paulo Pacheco devo ter encontrado mesmo uma excepção à regra, tal como no que toca a intermediários nem todos devem ser como o Paulo.
E já vi um simples vinho ser vendido pelo dobro do preço com a passagem do preço do produtor para o intermediário... para não falar o preço que vai chegar à garrafeira e o final para o consumidor.

Paulo Pacheco disse...

Ora bem.... dobrar de preço é que deve ser mesmo uma exepção. ;)

De qualquer modo podemos fazer um conta simples: imaginemos um vinho vendido pelo produtor a 2€
a um distribuidor para o norte de portugal.
Este ganha em venda a um distribuidor local 10%, e o distribuidor local ganha 20
(ás vezes 5 / 25)
ou seja o vinho é vendido entre 2,7 a 3 euros.
Não é bem dobrar mas admito que possa parecer muito, a quem está de fora.
by the way. As garrafeiras já começam a ter preço de revenda. ou seja, se quiserem têm preço para poder vender aos restaurantes, tal qual um distribuidor local.

João de Carvalho disse...

Engraçado é um vinho ser vendido a 5€ para o distribuidor e 10€ para o consumidor na adega... mas pronto então como me explica a diferença no Crasto Reserva, digamos que vai para metade...

Obviamente que eu como consumidor quero comprar mais barato, faz impressão é como os preços destes vinhos cá chegam a esses valores.

Anónimo disse...

"Suponho que os vinhos sejam mais baratos pela escala de compra"????
"Suponho que comprem mais , até porque são mais habitantes , do que os que compram em Portugal."???
Então eu vou dar-lhe outro exemplo, a Dinamarca tem cerca da metade da população de Portugal, e nem por isso os vinhos são mais caros do que em Portugal, pela sua lógica o vinhos portugueses neste país deviam ser o dobro! Mas não são!

Anónimo disse...

Como pessoa do meio, passo a explicar o que se passa realmente com o preço de vinhos do DOURO no estrangeiro:

Estes vinhos estão, de facto, a preço inferior nos mercados estrangeiros, devido a uma estrategia dos Douro boys. Eles exportam o vinho a preço muito inferior ao preço que vendem aos destribuidores nacionais e chegam a pagar a exportadores para porem o vinho lá fora, para darem uma imagem de grandes vinhos internacionais. Apesar de por vezes essa estrategia dar-lhes pouco ou nenhum lucro. Mas com isso, tentam conquistar mercado estrangeiro e ao mesmo tempo criar uma imagem de vinho de alta qualidade. Porque so assim conseguem rivalizar com os vinhos alentejanos, que conseguen entrar em qualquer mercado com preço e qualidade.

 
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