No passado Sábado juntei aqui por casa, gente que estimo e que tenho o prazer de ter como amigos, para um Guisado de Javali e optei por acompanhar com uma mini série de tintos 2004 em que a única regra que tive na escolha dos meus vinhos foi que todos os exemplares em prova tivessem tido algures uma nota superior ou igual a 17 valores, os vinhos e a prova será debatida mais lá para a frente... ou seja, quando calhar. Por agora apenas quero falar sobre aquele que considerei sem qualquer dúvida como o melhor em prova, vinho que pelo aroma se destacou claramente de todos os restantes... confirmando-se depois na boca. Afinal a qualidade sente-se quando sentada no meio da mediania. Destaquei este vinho em prova cega como não sendo de produção nacional, havia algo naquele aroma que não é normal aparecer por cá, nem nos nossos melhores vinhos... o tempo que ganhou na garrafa de um dia para o outro só veio confirmar que precisava de uma boa e larga decantação.
O resultado final foi estarmos perante um Quinta Sardonia 2004, projecto da sociedade Viñas de la Vega del Duero, nascido à beira do rio Duero em Sardón de Duero na Granja Sardón corria o ano de 1998, de seguida entra Peter Sisseck como consultor e da sua mão veio Jerôme Bougnaud na responsabilidade de enólogo e trabalho na vinha onde foi desenvolver estudo dos vários solos que encontrou, depois escolheu as variedades que achou melhor para cada tipo de solo e plantou nessas mesmas parcelas 17 ha de vinhedo com as castas (tinto fino, cabernet sauvignon, merlot, syrah, petit verdot e malbec ) apoiado na Biodinâmica.
"No me interesa que la cabernet sepa a cabernet, sino que exprese el suelo calcáreo en el que se desarrolla, que sirva como vector de transmisión de su entorno" Jerôme Bougnaud
Esta colheita de 2004 com 15% Vol. que se mostraram perfeitamente integrados no perfil do vinho sem sequer se notarem durante a prova, resultou num lote final de 36% Tinto Fino, 30% Cabernet Sauvignon, 20% Merlot, 5% Syrah, 5% Cabernet Franc, 3% Malbec e 1% Petit Verdot com 16 meses de repouso em barricas de carvalho francês, novas (45%) e usadas (55%), clarificado com clara de ovo e ligeiramente filtrado.
É no nariz que o encanto começa, o conjunto é luxuoso, muito envolvente na complexidade e frescura que emana com fruta muito pura e fresca aliada a notas de licor de cassis, balsâmico fino, notas de torrefacção, bela amplitude aromática, dá um gozo tremendo cheirar este vinho... que continua a evoluir no copo, especiado, alfazema, cacau, baunilha e muita frescura com a barrica sempre no suporte, fazendo dele também um vinho cheio. Na boca, em perfeita sintonia com o nariz, é amplo e saboroso, com muita fruta fresca e limpa a fazer-se sentir, quase que as bagas e os frutos do bosque nos rebentam na língua, à mistura um leve travo adocicado numa passagem de grande nobreza, requinte e , complementado com uma bela acidez de conjunto com belíssima presença e passagem, profundo com harmonia plena da madeira no conjunto em final apimentado e bem prolongado. O preço faz com que seja acessível, bastante até pois ronda os 30-35€. Enorme no seu estilo. 95 pts
PS: Já me esquecia, a ligação com o Guisado de Javali foi perfeita...
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